História The things I wanna say but I don't have the guts - Stars just like you

Cheguei em nosso apartamento escancarando a porta de felicidade. Precisava contar pra ela.

- MÃE! – gritei- mãe cheguei, cadê você? – gritei pela casa inteira mas ela não estava la. Passei direto pelo quarto de minha irmã, ela devia estar treinando.

Lá vamos nós de novo.

Juntei o resto do dinheiro do almoço e peguei um taxi para a casa de tia Kong. Eu mal havia chegado do Instituto e já teria que sair de novo.

O Instituto de Artes de Seul era um centro cultural (muito prestigiado por sinal) que oferecia um curso gratuito de férias para jovens musicistas. Hoje de manhã na troca de aulas o coordenador do instituto me chamou para uma conversa em particular em seu escritório .

- Senhorita Yoo sente-se por favor- foi a primeira coisa que o coordenador Jung disse quando entrei em sua sala. Puxei uma das poltronas de couro a sua frente e me sentei desconfortável. Não era muito comum conversar com o senhor Jung, ele era um homem muito reservado.

- Deve estar se perguntando o porquê de estar aqui- ele começou- imagino que você conheça o nosso concerto de férias, correto?

Balancei prontamente a cabeça, aquele era um concerto muito importante para os melhores alunos mostrarem seus talentos e todos estavam comentando sobre ele essas semanas, seria meio impossível não saber sobre.

- Bom, houve um imprevisto com uma das alunas e ela infelizmente não poderá se apresentar no dia- ele deu a volta na mesa e se apoiou sobre ela - fiquei sabendo pela sua professora que você é a melhor violinista da sua classe

- Oh sim, ela pode exagerar às vezes mas mesmo assim agradeço pelo elogio sunbaenim - disse corada

- Você tem muito talento senhorita Yoo, o que me leva a pensar se não gostaria de substituir a aluna nesse concerto. É claro que será difícil já que o concerto é nesse final de semana mas acho q você consegue... você aceita?

Depois disso vocês devem ter imaginado o quanto eu pirei. Eu estudava violino há anos e aquela seria a minha primeira chance de mostrar verdadeiramente meu anos de pratica. Esse era o começo para o meu sonho de violinista

- TIA KONG!- escancarei igualmente a porta de seu apartamento

- Ta achando que isso aqui é filme de terror pra você querer me matar de susto desse jeito garota?- ela me olhou indignada enquanto mexia em seu computador- pelo menos bate na porta antes maluquinha

- Tia onde está minha mãe?- ela abaixou o olhar pro computador e engoliu em seco. Ela nem precisava responder

Sai de lá batendo a porta. Minha tia nem corria atrás de mim como antes, ela sabia que não tinha mais solução.

Porque minha mãe sempre faz isso? Parece até que ela foge de mim, mas sinceramente nem sei mais porque eu me surpreendo com essa situação.

Quando eu nem era nascida ainda, minha irmã Seungyeon, já treinava ginástica artística. Naquela época meu pai ajudava minha irmã nos treinamentos e nas competições, enquanto minha mãe era assistente pessoal da estilista Sra. Im, mãe da Nayeon (foi assim que nos conhecemos, pelas nossas mães). Mas quando meu pai foi embora todas essas responsabilidades caíram sobre minha mãe, e ela jamais deixaria Seungyeon desistir de seu sonho. Então minha mãe largou o emprego e abriu uma loja online com minha tia, assim ela poderia trabalhar mesmo enquanto acompanhava minha irmã mundo a fora. O problema é que eu nunca fui incluída nesses planos.

Como minha mãe sempre esteve fora de casa a maior parte do tempo, eu morava com minha tia quando não estava em Yeoljeong. O único tempo que eu tinha para vê-la era durante as férias, mas como vocês viram ela nem sempre estava presente.

Eu nunca culparia minha irmã por isso. Eu a amo e ela esta apenas seguindo seu sonho...mas devo admitir que ter uma família faz falta.

Quer saber? não pensaria mais nelas ou nos momentos tão importantes pra mim que elas iriam perder. Eu arrasaria naquele concerto sozinha como sempre estive. Eu ficaria bem.

No final das contas foi isso que aconteceu. Eu subi naquele palco, super nervosa por sinal, mas dei o meu melhor.  

Algumas dezenas de rostos, alguns apoiadores outros julgadores, me encaravam com expectativa enquanto eu posicionava o velho violino do meu pai nos ombros.

Ele havia abandonado minha família quando eu tinha apenas seis anos e tinha deixado apenas seu violino preferido pra minha mãe. Eu o odiava por todo o mal que ele nos causou mas conseguia deixar de sentir sua falta. Falta de quando ele tocava para eu dormir ou falta de quando eu o via entalhar mais uma peça do violino com suas ferramentas. Hoje em dia ele já é todo desenhado.

Naquela noite eu toquei uma peça simples e melódica. Foi a primeira musica que minha professora havia me ensinado, ela era tão bonita mesmo sendo tão simples, minha preferida.

O som de meu instrumento ecoava pelas paredes do teatro, sendo a única coisa auditivel em meio ao silencio.

Era a melhor sensação do mundo.

Quando eu toquei a ultima nota ela foi a primeira a me aplaudir de pé. Nayeon. Ela tinha sido a única a ir me ver.

Quando eu contei pra ela sobre tudo ela não tentou me consolar ou me dar algum conselho, ela apenas veio pra minha casa e passamos a noite conversando sobre como seria incrível minha experiência no concerto. Ela sabia como eu me sentia em relação a minha mãe e como isso me deixava irritada então tentou apenas me deixar feliz e me distrair. Isso era só mais uma das um milhão de coisas que eu amava nela.

Peguei minhas coisas na coxia e subi as escadas até o terraço do teatro. Era possível ver as pessoas passando na calçada mas eu estava mais interessada em olhar pro alto. Olhar para as estrelas.

Deitei-me no chão de pedrinhas e fechei os olhos por um instante, eu precisava fazer meu coração se acalmar. Quando ouvi passos e senti alguém deitando ao meu lado esse sentimento logo foi embora. Mantemos-nos assim caladas por alguns longos minutos até que ela resolveu quebrar o silêncio.

- As estrelas estão bonitas hoje não é mesmo?

- Não tão bonitas quanto já estiveram um dia- Ela se sentou e eu abri os olhos

- Você foi uma estrela hoje Jeon, não as critique tanto

Na verdade a grande estrela da noite era ela, como sempre deslumbrante em qualquer coisa que vestisse mas especialmente hoje, com seus brincos de lua que realçavam seus olhos negros. Eu poderia passar a eternidade só á olhando.

- Estou apenas sendo sincera- me contentei em dizer e me sentei também

- Estou falando sério, você foi ótima hoje, tenho certeza que vai receber vários convites para apresentações depois disso

- Não é pra tanto Nay

- Já estou até pensando como deve ser ter uma amiga famosa, você provavelmente vai até me esquecer

- Você fala como se fosse possível te esquecer

- Agora você quem está exagerando- ela ri e remeche a sacola, que eu ainda nem tinha reparado, me dando um suco de caixinha

- O meu preferido, uva- digo abrindo

- Eu tenho que aproveitar enquanto você ainda não esta ocupada demais dando atenção ao seus fãs pra falar comigo

- Porque está dizendo essas coisas ein?- dou-lhe uma cotovelada- eu nunca te abandonaria Im Nayeon, jamais, nem que essas estrelas caíssem e nos matassem agora mesmo.

- Fico feliz em ouvir isso Yoo Jeongyeon

Ficamos caladas, apenas com o som dos carros passando e de nossos canudinhos. Nayeon me pergunta tão baixinho que quase não ouvi.

- Você está bem?

Quebro o espaço entre nos e deito minha cabeça em seu ombro

- Por que não estaria?- ela aconchega a cabeça em mim também

Nayeon sempre estava comigo não importava a situação. Ela me conhecia como se fossemos a mesma pessoa. Ela sabia que tudo estava uma perfeita bagunça e que perguntar “você esta bem” era algo extremamente vago e comum. Ninguém quer realmente saber como você esta quando te perguntam. Mas ela queria.

 Na cabeça de Nayeon. Na brilhante cabeça de Im Nayeon. Eu e como eu estava eram coisas importantes a ponto dela passar a noite gelada comigo no terraço de um teatro tomando suco de caixinha e vendo as estrelas porque ela sabia que aquilo era importante pra mim.

 E aquilo era ainda melhor do que nos meus sonhos.