História The truth about me - Welcome, Nathaniel!

É junho, nesta época o calor começa a se manifestar na imponente Madrid, capital da Espanha. Camryn está impaciente, anda de um lado para o outro em seu quarto pensando em planos mirabolantes para fazer a mãe soltar qualquer detalhe sobre o passado. A jovem caminha devagar por seu quarto até um espelho, desliza as mãos pela pele branca e encara sua fisionomia. Coça os grandes olhos acinzentados, joga os fios do cabelo curto e preto de um lado para o outro e encara a porta retrato com a foto da mãe e do irmão. Camryn sempre soube que seu irmão era adotado, mas ao longo de seus 16 anos de vida, sempre quis descobrir quem era seu pai. Melissa, sua mãe, fazia questão de mudar de assunto toda vez que a garota tocava no assunto. Nem mesmo sua avó, Lúcia se atrevia a mencionar as facetas de sua filha na adolescência.

— De hoje não passa, você precisa pensar em algo convincente, Camryn. Pense! - A morena batia com os dedos na testa até ser surpreendida por seu irmão mais novo.

— Vai acabar queimando os miolos de tanto pensar, Cam. O que está cabecinha maquiavélica está planejando? - O jovem de pele cor de jambo e olhos verdes como esmeraldas questionou a irmã mais velha um pouco antes de se esparramar no king size.

— Agora não, Armin. Preciso arranjar um jeito de fazer mamãe mencionar qualquer pista do passado dela. - A jovem se irritou com a cara de deboche que o irmão apresentava. Para Armin, a origem dos pais nunca importou. Sua vida havia começado no momento que fora adotado por Melissa, a mãe que sempre lhe dedicou todo amor do mundo e isso bastava.

— Cam, para com isso. Nós temos uma vida boa, uma mãe incrível e vários parentes amorosos. Além do mais, você sabe que ela vai se irritar se você tocar neste assunto de novo! - O jovem gamer sabia que o passado era um assunto que deixava a mãe completamente perturbada e triste.

— Armin, vai jogar aquelas porcarias que você adora e me deixa pensar. Droga, você quer que o passado se foda, afinal, foi abandonado ao Deus dará. Mas eu quero e mereço saber sobre minhas raízes - A morena se arrependeu do que acabava de falar antes de tomar consciência. As lágrimas brotaram nos olhos do irmão quase que instantaneamente.

— Vai se ferrar, Camryn! - O rapaz esbravejou ao jogar o console que tinha nas mãos na parede lilás do quarto da mais velha.

— Armin, eu não quis… Me desculpe, você sabe que eu te amo e… - A mais velha não pode conter a raiva do irmão que saiu aos prantos pelo corredor do sobrado que morava.

— Eu te odeio, não fala mais comigo! - O mais novo gritava aos prantos enquanto a irmã tentava o alcançar na escadaria. Ambos cessaram a briga quando a campainha tocou. A voz experiente de sua avó Lúcia perguntou quem estava a porta, mas Camryn tratou de lidar com a situação.

— Eu atendo, vó. Deve ser o carteiro ou algo assim! - A mais velha sabia que se a avó percebesse que o irmão estava chorando, iria querer saber a origem da confusão. Sinalizou com os dedos para Armin que apenas se limitou a erguer o dedo do meio e ofender a garota com sussurros. Ao abrir a porta, Camryn deu de cara com uma grata surpresa. Era seu padrinho Nathaniel que apareceu para uma visita surpresa.

— Tio Nath! - A morena se jogou no pescoço do loiro que a abraçou com muito carinho.

— Como vai a minha afilhada? Você estava brigando com seu irmão, Cam? - Nathaniel ouviu muito bem os murmúrios da mais jovem antes de abrir a porta.

— Não era nada, Armin é muito sensível e não aguenta algumas brincadeiras que fiz com ele. Um tolo sentimental. - A jovem balançou os cabelos curtos e abriu um largo sorriso que não enganou em nada o padrinho experiente.

— Posso saber que tipo de brincadeira você fez com seu irmão? - A voz imponente de Melissa invadiu os ouvidos de Camryn assustando a mais nova.

— Nada demais, mãe. A idiota da Camryn diz as coisas sem pensar. Mas eu aguento tamanha chatice. - Armin se manifestou ao se aproximar da porta para receber a mãe.

— Vocês são irmãos e precisam se entender. Não é tão difícil, por favor! – Irritada, Melissa demorou a notar a presença do padrinho de sua filha na porta.

— Linda e geniosa como sempre, não é? Como vai, Mel? – Ao se dar conta da presença do loiro, Melissa arrumou os cabelos e o abraçou forte.

— Entre Nath, vou fazer um jantar bem gostoso para acompanhar sua surpresa. O que o traz ao lado quente da Europa? – Melissa lançou um olhar que fez a filha se remexer de desconforto, pegar as sacolas que a mãe carregava e caminhar até a cozinha insatisfeita.

— O trabalho e a saudade de Camryn, sem falar que em 2 dias ela estará completando seus 17 anos. Bons tempos, não é? – O loiro caminhou até a cozinha, se acomodando na enorme mesa de jantar da casa.

— Ótimos tempos, nos divertimos tanto em Sweet Amoris. Confesso que sinto uma pontinha de saudade. – Camryn observava a conversa em silêncio, mas sua cabeça estava a mil. A morena estava determinada a arrancar informações sobre a mãe e ninguém melhor que seu padrinho para fazer isso.

— Já sei o que eu quero de presente, padrinho! – A jovem ardilosa tinha uma proposta irrecusável e totalmente imune a desconfiança implacável de sua mãe.

— Pode propor, querida. Vim aqui para rever sua mãe e lhe dar um presente. – O inocente Nathaniel não foi capaz de negar um pedido a Camryn, a menina era a filha que ele nunca pode ter. Ao fundo, Melissa com ajuda de Armin se desdobrava com panelas e pratos do jantar.

— Quero viajar para cidade onde cresceram e conhecer a tal Sweet Amoris. – Sem titubear, a jovem mandou a proposta fazendo com que sua mãe derrubasse um prato de porcelana da louça.

— Mãe, está tudo bem? - Armin gritou antes de encarar a irmã irritado.

— Foi apenas um descuido filho, está tudo bem. Vocês dois podem subir? Preciso conversar com o padrinho de vocês a sós. - Melissa parecia tensa e aquilo despertou a curiosidade de Camryn.

— Meu padrinho acabou de chegar, não quero ir! - A filha mais velha da matriarca retrucou.

— Agora, Camryn. Quero os dois no andar de cima com sua avó em 3...2..1! - Irritados, os dois subiram sob protesto.

— Isso é culpa, porque fazer isso com mamãe? - Armin questionou a irmã.

— Cala a boca, Armin! - Sem outra alternativa, a jovem subiu até o quarto de sua avó para que Melissa pudesse falar com Nathaniel.

                                                                      ***

— Você deu um baita vacilo ao derrubar o prato, Mel! - Nathaniel resmungava ao juntar os pedaços de porcelana espalhados por todo o perímetro da cozinha. 

— O que você queria que eu fizesse, Nath? Camryn não pode pisar naquela cidade. Você sabe muito bem quem mora lá.

— Nunca revelei seu paradeiro e prometo que serei cuidadoso. Vou acompanhar os passos da pequena de perto. - O loiro apertou a bochecha de Melissa que parecia muito nervosa.

— Tem certeza? Camryn me questiona o tempo todo sobre o pai e não posso correr risco de ela descobrir. Nath, faz tanto tempo que isso aconteceu.

— Eu me lembro como se fosse hoje de você me ligando do Novo México em trabalho de parto. Apavorado, tinha acabado de iniciar o curso de medicina e nem imaginava fazer partos.

— Me lembro bem, mas não mude de assunto. Não posso me dar ao luxo de correr este risco. Castiel é um passado enterrado em minha vida. - Melissa ainda abalada, se apoiou na bancada de granito atônita.

— Enterrado? Você nunca mais se envolveu com homem algum. Nem ao menos um namorado, Mel. E acho errado você esconder de Camryn algo assim. É direito dela.

— Não me diga como criar minha filha, Nathaniel. É melhor você ir embora.

— Ao menos pense na possibilidade, sua filha vai amar conhecer um pouco de sua história e da cidade que passou a adolescência. Diga que eu volto amanhã. Tente se acalmar. - O loiro beijou a testa da morena e caminhou lentamente até a porta.

Melissa encarou o espaço vazio por algum tempo, sua cabeça estava cheia de dúvidas. Confiava em Nathaniel, mas também não podia subestimar a curiosidade natural de Camryn. Será que havia chegado a hora de revelar a Camryn um pouco sobre sua origem?