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História The Very Thought of You - Sasuke


Escrita por: Xokiihs

Notas do Autor


- Naruto não me pertence, mas o plot da história sim.
Espero que gostem.
Boa leitura.

Capítulo 1 - Sasuke


     As ruas de Nova Iorque estavam pouco movimentadas quando Sasuke saiu de seu velho prédio, tirando do bolso da jaqueta cinza um cigarro e colocando-o na boca. O vento frio de outono soprava, fazendo os cabelos negros e longos caírem sobre o rosto branco como papel, irritando-o; as vezes detestava os cabelos, mas deixava-os longos por preguiça de cortar. Poderia ir ao barbeiro, mas não tinha dinheiro sobrando, e, além disso, os cabelos lhe conferiam um ar de mistério e o faziam desaparecer.

Conforme ia andando, soltando a fumaça branca do cigarro pelas narinas, sentia-se mais apreensivo. A cada passo que dava, parecia mais próximo de um destino inevitável, mas ao qual nunca pedira; seus dedos flexionavam nervosamente, uma mania que tinha adquirido quando entrara no colegial, uma das épocas mais escuras de sua vida. Fez uma careta ao lembrar-se.

Tinha acabado de mudar-se de Boston, sua cidade natal, para Nova Iorque, depois que seu pai resolvera cometer suicídio, sem suportar a normalidade da vida pós- guerra. Sua mãe, desolada por perder o amor de sua vida, e não aguentando viver no mesmo lugar onde vivera com ele momentos felizes, resolvera mudar-se. “Procurar novos ares e aventuras”, ela tinha dito a ele e seu irmão mais velho, Itachi. Embora nenhum dos dois tenha gostado da ideia de deixar o local onde tinham vivido por tanto tempo, resolveram ir em apoio a sua mãe; ela estava frágil, desesperada. Eles também, mas não demonstravam.

Foram para a cidade dos Yankees, indo morar no condado de Queens. O lugar não era muito diferente de Boston, mas ainda assim não era sua casa; as ruas de Nova Iorque eram movimentadas, dia e noite, as pessoas eram das mais diversas etnias, e o lugar era repleto de bares e danceterias. O bairro que sua mãe escolhera, no entanto, não era tão movimentado quanto o centro da cidade, sendo principalmente um bairro residencial. Ainda assim, era possível ver bares, restaurantes e até mesmo alguns parques – um dos locais preferidos de Sasuke na infância. Lá, a pequena família se estabeleceu em um prédio antigo, quase caindo aos pedaços, com apenas dois quartos, uma cozinha/ sala e um banheiro.

Sasuke nunca iria se esquecer dos maus bocados que passaram ali, tendo que viver apenas com o salário de governanta de sua mãe e do trabalho como operário de seu irmão; por ser criança, ele não podia trabalhar, mas frequentemente ajudava o jornal local a distribuir jornais pelas casas. Foram tempos difíceis, com pouca comida e muita colaboração. Nessa época, Sasuke odiou seu pai por ter sido covarde e cometido suicídio, deixando sua família na miséria.

Por ser pobre, Sasuke usava roupas velhas, que antes pertenciam a seu irmão, e sapatos gastos. Sequer tinha uma mochila para ir à escola, tendo que levar seus livros dentro de uma sacola preta. E, para completar, era de Boston. Não demorou nem um segundo para que as demais crianças da escola começassem a chama-lo de pobretão e esquisito. No início, não se importava, era quieto, soturno, preferia não responder as provocações. No entanto, depois de um tempo, as agressões passaram a ser físicas, e logo Sasuke passou a chegar em casa cheio de machucados, aos quais escondia de sua mãe, para que ela não se preocupasse.

Ele não podia fazer nada para mudar sua sorte; ainda era pequeno, franzino pela falta de nutrientes necessários para seu crescimento, enquanto os demais garotos eram grandes e fortes. Além disso, sua confiança era zero. Tinha medo, apanhava e não dizia uma palavra. Aguentou por um bom tempo, antes de um dia sua vida mudar.

Lembrava-se claramente daquele dia, e sempre que a memória passava em sua mente, sorria com ternura. E foi o que fez, enquanto atravessava a rua e jogava o toco de cigarro no lixo.

Um dia, Sasuke estava indo embora quando Rock, Gaara e Kankuro o pararam no meio da calçada.

— Ei, magricela! Onde pensa que vai? – O líder da cambada, um ruivo sardento chamado Gaara, gritou, fazendo com que Sasuke respirasse fundo e apertasse o passo.

Eles não desistiriam, claro. E sua casa ainda estava muito longe para que conseguisse escapar. Já sabia o que aconteceria, era inevitável. Ainda assim, não parou de andar.

— Olha as pernas finas dele. – Soltou o outro, Rock, um menino que lutava karatê e que, diziam os boatos, tinha batido em um menino até que ele entrasse em coma.

— Parece até as perninhas de um sabiá. Pena que não tem asas para voar, não é mesmo? – E, por fim, Kankuro, o maior e mais troncudo dos três, disse, rindo logo após com seus amigos.

Sasuke não entendia porque eles gostavam tanto de implicar consigo. Já não bastava ter que passar dificuldades em casa, tinha que passar na escola, também? Não era justo!

— Sa-su-keeee... SA-SU-KEEE! – Os três cantarolavam, se aproximando ainda mais. Sasuke passou a desejar que fosse realmente um sabiá, para que voasse o mais rápido possível dali.

— Magricela!

— Pobretão!

— Esquisito!

Eles não paravam, e Sasuke também não. Começou a lacrimejar e se odiou por isso; o que adiantava chorar? Não mudaria nada, e só pioraria sua situação. Tinha que aguentar. Ser forte.

Estava tão absorto em pensamentos que mal percebeu quando uma sombra apareceu a sua frente. Era Rock, e ele dava aquele sorriso de escarnio, os dentes tortos aparecendo, e as sobrancelhas grossas fazendo uma sobra estranha sobre seus olhos escuros. Sasuke tremeu.

O primeiro golpe que sentiu foi o empurrão, que o fez cair de bunda no chão. Nem tentou se erguer, apenas olhou para os três e esperou pelo que viria depois. O pé de Gaara, o punho de Kankuro, a risada de Rock. Sentia cada golpe em seu pequeno corpo, as lagrimas descendo livremente, enquanto ele se sentia imprestável, ridículo, ainda menor do que era. Insignificante.

O sol de verão brilhava sobre suas cabeças, sem se importar com a cena que acontecia abaixo de si, tal como ninguém mais se importava. Pessoas passavam, olhavam, mas não davam a mínima. Continuavam com suas vidas, sem ligar para o menino minúsculo que apanhava sem misericórdia de uns brutamontes.

Sasuke sentiu o sangue descer por seu nariz, após um soco de Rock, e seus olhos jorraram ainda mais, de dor e tristeza. Estava quase soluçando, quando alguém resolveu que aquela não era uma briga justa.

— Ei! O que pensam que estão fazendo? – Era uma voz infantil, fina, estridente, mas que foi suficiente para atrair a atenção dos três moleques.

— Sai daqui, esquisita. Ninguém te chamou para a festa. – Kankuro respondeu a pessoa, que não deu a mínima e continuou a falar.

— Cala a boca, espinhento. – A vozinha rosnou, se aproximando ainda mais da cena. Os olhos de Sasuke estavam inchados e cheios de lagrimas, mas ainda assim conseguiram ver a silhueta de uma menina magricela, pequena, que tinha as mãos brancas fechadas em punhos, e mais coragem do que ele jamais teria.

— Garota, se não sair daqui, vai sobrar para você. – Gaara deu um passo em sua direção, ficando frente a frente com ela, mas ela sequer se mexeu. Apenas levantou a cabeça na direção do ruivo, as sobrancelhas franzidas e os lábios comprimidos.

— E você vai fazer o que, cabeça de fósforo? Se encostar em mim, chamo meu irmão para bater em você!

Sasuke engoliu em seco, temendo pela vida daquela pequena garotinha, que era tão pequena e insignificante quanto ele. A diferença é que ela tinha coragem.

— E você acha que eu tenho medo do seu irmão, idiota? – Gaara a empurrou, e ela deu uns passos para atrás, desiquilibrada.

Ainda assim, ela não se importou, nem ficou com medo.

— Meu irmão é o Naruto, da classe 2. Conhece, cabeça de fósforo? – Sasuke não conhecia esse tal de Naruto, mas os três garotos pareciam conhecer, já que se entreolharam, antes de voltarem para a menina.

— Tsc, sai da frente, pirralha. – Disse, por fim, Gaara. — Não vamos perder nosso tempo com duas baratas fedidas e minúsculas.

E então os três foram embora, sem sequer olhar para trás. E ele ficou lá, estático, sem entender muito bem o que tinha acontecido. Em um momento, estava apanhando, e, em outro, fora salvo por uma menina menor que ele ainda – e ele já era pequeno. A menina se aproximou dele, e ele pode vê-la melhor. Tinha cabelos curtos, na altura do queixo, lisos e de uma cor a qual Sasuke nunca tinha visto antes - à luz do sol, parecia um róseo bem claro, quase imperceptível; ela também tinha olhos verdes, grandes e amendoados, que brilharam ao olhar para ele. Seu rosto era oval, rechonchudo, apesar de ser magra, e suas bochechas estavam rosadas por causa do calor do sol. Para completar, ela vestia um vestido azul claro, rodado, com meias brancas e sapatilhas pretas. Parecia uma boneca daquelas que sua mãe tinha guardadas em casa, lembranças de sua infância.

Ela se abaixou e pegou todo o material que tinha caído no chão, colocando-o de volta na sacola preta. Depois, estendeu uma mão para ajudá-lo a se levantar. 

— Ei, meu nome é Sakura. – Ela ofereceu, com um sorriso grande que deixou amostra seus dentes de leite. — Você ‘tá bem machucado, hein.

Sasuke, já de pé, passou a mão pelas roupas amarrotadas e sujas, envergonhado.

— Qual seu nome? – Ele continuou mudo, olhando para ela rapidamente antes de olhar para o chão. — Você não fala? É por isso que eles estavam batendo em você? Tudo bem, não precisa ter medo de mim. Eu sou legal.

Silêncio. Sakura piscou algumas vezes, olhando-o, analisando-o. Ele usava roupas gastas e sujas, seu nariz sangrava, mas ele pareceu não perceber. Seu rosto estava marcado por lágrimas, e os olhos negros estavam inchados. Sentiu pena.

— Olha, onde você mora? – Tentou novamente, mas ele ainda não respondia. Suspirou. — Ok. Vou te chamar de... narizinho. Por causa do nariz. – Ela riu, o que fez com que Sasuke olhasse-a. Ela era encantadora.

— Eu tenho um lenço, vamos até aquele banco e eu limpo esse sangue para você. Se sua mãe vir você assim, provavelmente vai brigar muito com você. – Ela pegou a mão dele sem pedir licença, e levou-o até um banco que tinha por ali. Sua mão pequena era macia e estava suada. Sentaram-se, e, assim como prometido, ela tirou do bolso do vestido um lenço também azul claro, bordado nas pontas com renda branca.

— Se doer, me avise, ok? – Ela pediu, antes de passar o lenço delicadamente sobre o sangue que saia do nariz dele. Sasuke só pode encara-la enquanto ela fazia isso, observando que dentro dos olhos verdes tinham pequenos riscos de azul, e que as sobrancelhas dela eram finas e claras, quase imperceptíveis. Além disso, ela tinha uma pinta no meio da testa, que parecia um tipo de triângulo, e que estava parcialmente coberta por sua franja reta.

Quando ela terminou de tirar o excesso, ele ainda a encarava com profunda atenção. E ao perceber isso, ela sorriu, o que o deixou bem sem graça.

— Bem, eu fiz o que pude. Quando chegar em casa, passe um pouco de água gelada, ou coloque um pacote de ervilhas congeladas.

— C-como sabe tudo isso? – Sasuke finalmente resolveu falar, ainda tímido e gaguejando. Ela, no entanto, não se importou.

— Meu irmão mais velho vive arrumando confusão por aí... eu que sempre ajudo ele, antes dos nossos pais descobrirem. – Ela se virou e pegou sua bolsa de escola das costas, abrindo-a e tirando um embrulho colorido de lá. — Tome, é um pirulito. Vai te deixar feliz.

Sasuke encarou o embrulho, que era realmente um pirulito grande e colorido, e ficou sem saber o que dizer. Sakura, percebendo a hesitação dele, pegou sua mão pequena e colocou o pirulito nela.

— Obrigado. – Foi o que ele murmurou, olhando para o colo. Levantou o olhar ao ouvir a risada dela.

— De nada. Você estuda na Corleone também, não é? – Sasuke assentiu. — Vamos ser amigos, então. Se você for meu amigo, ninguém vai fazer nada para te machucar.

Sasuke nunca ia esquecer o sentimento ao ouvir suas palavras; ele não tinha amigos na escola, tendo entrado no meio do semestre, quando os grupinhos já estavam formados e não havia espaço para ele em nenhum, e ele sentia falta de ter alguém com quem brincar e se divertir. Ou só ter alguém. Portanto, imaginar ser amigo daquela menina doce e gentil, que tinha uma cor estranha nos cabelos e olhos incrivelmente verdes, lhe dava alegria. Por isso, sem pensar duas vezes, respondeu.

-— Meu nome é Sasuke.

Depois daquele dia, como prometido, eles viraram amigos. Infelizmente, Sakura estudava em outra sala e era um ano mais nova – apesar de aparentar ter a mesma idade que Sasuke -, por isso os dois só ficavam juntos nos intervalos e quando iam embora. Tamanha foi a surpresa de Sasuke ao descobrir que ela não tinha muitos amigos, e que frequentemente andava com seu irmão mais velho, Naruto. Por intermédio dela, ele também conheceu o loiro maluco que vivia arranjando confusão. Naruto era dois anos mais velho que Sakura, e um ano mais velho que Sasuke, mas tinha reprovado um ano na escola, ficando no mesmo nível que Sasuke.

Por ser mais velho, ele tinha o respeito dos demais colegas de classe, inclusive Rock, Gaara e Kankuro. Ele também era mais alto e mais forte que a maioria dos meninos – resultado do trabalho que ele fazia com seu pai em construções -, e adorava arrumar problema por qualquer motivo. Tinha o pavio curto, a boca suja e grande demais. Contudo, era uma das melhores pessoas que Sasuke já tivera o prazer de conhecer, e protegia Sakura com unhas e dentes – não que ela precisasse, já que ela podia cuidar de si mesma muito bem.

Por falar em Sakura, Sasuke tinha um sentimento especial por ela; via-a como um anjo, puro e imaculado, linda, gentil, amável. Amava-a com todo o coração. Era ela que sempre o motivara, que o empurrava para frente quando ele achava que não era capaz de dar um passo sem cair, segurava sua mão e dizia que ele podia fazer o que quisesse, bastava ter vontade. Sakura sempre o protegera, sempre estivera consigo, e por isso ele sempre seria grato a ela. Todavia, sentia que não fizera o suficiente por ela; nunca fora bom o bastante. Queria fazer mais, queria retribuir todo o amor que ela sempre devotou a si.

E, por essa razão, resolvera tomar seu destino em suas próprias mãos. O destino que agora o fitava de frente, com seus enormes portões escancarados e o cheiro forte de fumaça. O quartel general do Queens, apesar do horário, já estava lotado de pessoas. Filas e filas de homens das mais variadas idades adentravam os portões de ferro, e Sasuke logo foi para o fim de uma.

Apesar da multidão de pessoas, o local estava quieto. Ouviam-se os sons da cidade acordando, o burburinho baixo de pessoas conversando, e o grito que o responsável pela organização das filas dava, chamando “Próximo”. Olhando para o rosto de todos aqueles homens, Sasuke via uma mistura de emoções, mas todos estavam irremediavelmente sérios. Aquele era o efeito da guerra, do medo, da desilusão. O efeito de ter o destino escrito por uma eventualidade, sem ter a opção de muda-lo.

Suspirando, Sasuke ajeitou a postura e fitou por cima da cabeça do homem que estava a sua frente, para ver se ainda faltava muito. De fato, pelo menos trinta pessoas estavam a sua frente, e a fila continuava atrás de si. Ficaria ali praticamente a manhã inteira.

~

Quando finalmente voltou para casa, segurando uma sacola marrom em mãos, e outro cigarro na boca, já era hora do almoço. Estava mental e fisicamente cansado, sua cabeça doía, além do frio ter aumentado e seu aquecedor não estar funcionando. No entanto, nada disso importava, já que seus pensamentos estavam longe. Mais precisamente, em outro continente, para onde iria num futuro próximo.

Ainda com o cigarro na boca, largou-se no sofá minúsculo e velho da sua sala, e ficou olhando para o teto. Pensou seriamente em dormir, aproveitar que ainda tinha uma cama quente e confortável, um luxo que daqui a uns meses não teria mais. Todavia, batidas incessantes em sua porta o fizeram desistir da ideia. Arrastando os pés até lá, murmurando um “já vai”. Ao abrir a porta, um raio loiro passou por si, quase derrubando-o.

— Ei, idiota, por que demorou tanto para atender? – Naruto perguntou, se largando no sofá como se aquela fosse sua própria casa. Sasuke suspirou, fechando a porta e passando a mão pelos cabelos.

— Eu não demorei nem um minuto, imprestável. – Revirou os olhos, indo se sentar em uma poltrona, já que Naruto tinha ocupado todo o sofá. — O que está fazendo aqui?

— Se esqueceu que nós vamos almoçar juntos hoje? Eu, você e Sakura. – Sasuke, ao ouvir o nome dela, olhou com mais atenção para o amigo.

— Quando foi que combinamos isso?

Dessa vez, quem revirou os olhos foi Naruto. — Eu te disse isso anteontem, no bar. Estava tão bêbado que não se lembra?

Sasuke bufou, cruzando os braços. Realmente tinha se embebedado mais do que o normal com Naruto, uma forma inútil e temporária de tentar diminuir suas ansiedades. Funcionara por algumas horas, mas o efeito contrário ao acordar certamente não fazia estas horas valerem a pena.

— Onde vamos?

— Aonde você acha? No Jerry’s, claro. Hoje é o dia de folga de Sakura antes dela ir buscar as ordens dela. – Naruto respirou fundo, olhando para o teto. — Ainda não acredito que, depois de todos esses anos protegendo aquela idiota, ela resolve ir direto para a guerra.

— Tsc, você nunca precisou protege-la. Ninguém nunca precisou. – Sasuke respondeu, lembrando-se de todas as vezes que Sakura salvara os dois, não o contrário. — Ela já disse aos seus pais?

— Acho que não. – Naruto deu de ombros. — Se ela tivesse dito, minha mãe teria me ligado e me mandado tranca-la dentro de casa, para que ela não saísse.

Sasuke assentiu, lembrando-se bem de Kushina Uzumaki, a mãe de seus melhores amigos, e sua segunda mãe. A ruiva era uma mãe feroz, protetora, e sempre incentivara seus filhos a seguirem as carreiras que eles quisessem. No entanto, ela nunca imaginou que os dois resolvessem se envolver com a guerra. Naruto como soldado e Sakura como enfermeira. Quando ela descobrisse de Sakura, certamente seria o inferno na terra.

— Ei, idiota. Você foi pegar suas ordens hoje, não é? – Naruto olhava-o agora, esperando que ele dissesse sua posição.

— Sargento do 130º batalhão.

— Sargento? Eles são imbecis de colocar você como Sargento!

Sasuke revirou os olhos. — Eles são imbecis de deixar um burro como você ser Tenente.

Os dois se encararam, antes de começar a rir. Quando pararam, os dois pareciam mais felizes do que estavam há poucos minutos.

— Parabéns, cara. Você vai morrer com condecorações.

Sasuke sorriu, assentindo. Um silêncio confortável caiu entre os dois amigos, cada um em seu próprio mundo. Apesar das piadas, os dois estavam preocupados e ansiosos. Sasuke ainda mais que Naruto, que já fazia parte do exército há algum tempo; quando ele não tinha dado certo com os negócios do pai, resolvera se alistar. Pouco tempo depois do ataque a Pearl Harbor pelos japoneses, e antes da entrada oficial dos Estados Unidos na guerra que acontecia na Europa. Naruto dera sorte e azar ao mesmo tempo. Sakura e Sasuke diziam que a culpa era dele que eles tinham entrado na guerra.

Era um momento delicado no país. Tinha sido uma entrada imprevisível, já que, depois da primeira guerra, ninguém esperava mais uma pouco tempo depois. Sasuke se lembrava bem de quando seu pai dissera que aquela certamente tinha sido a última guerra; o mundo tinha entendido os efeitos que algo daquela dimensão trazia para todos. Contudo, seu pai estivera errado. O mundo nunca entendera. E lá estavam eles, praticamente assinando seu contrato com a morte, no auge da juventude. Era deprimente.

— Sasuke.

— Hm?

— Você vai falar com a Sakura?

Sasuke prendeu a respiração por alguns segundos, seus olhos negros encontrando os azuis brilhantes de Naruto. O loiro tinha olhos extremamente expressivos, e através deles era capaz de ser lido como um livro aberto. No momento, Sasuke via desafio.

— Irei. – falou, por fim, fazendo o amigo sorrir.

— E então o covarde ganha colhões.

~

Sasuke e Naruto saíram de casa ao meio dia, e, graças aos céus, o clima tinha ficado mais ameno. Estava nublado, mas ainda era possível ver o sol brilhando por entre as nuvens, e, de quando em vez, sua luz escapava. As ruas do Queens estavam lotadas agora, pessoas correndo de um lado ao outro cumprindo seus afazeres. Sasuke pode ver alguns jovens vestidos com o uniforme recém recebido do exército, exibindo-se com orgulho pelas ruas. Eles atraiam a atenção das pessoas, que os olhavam com respeito e, às vezes, com tristeza. Os jovens não se importavam, no entanto. Estavam absortos demais no próprio orgulho e patriotismo para perceberem que aquela simples roupa significava uma mudança terrível em suas vidas.

Ao chegarem ao Jerry’s, um pequeno restaurante local ao qual Sasuke, Sakura e Naruto frequentaram praticamente a vida toda, encontraram com a única menina de seu pequeno grupo, vestida com um vestido rodado e florido, que abraçava nos locais certos, e lhe conferia uma leveza e frescor primaveril, um contraste com o clima outonal. Os olhos de Sasuke brilharam ao vê-la; seus cabelos, com aquela cor única, estavam perfeitamente ondulados, moldurando seu rosto redondo. Os olhos verdes estavam pintados com o delineador preto que ela sempre usava, que os destacava e os deixava ainda mais brilhantes; seus lábios carnudos estavam pintados de rosa claro, que combinava com a leveza de todo o seu outfit.

Estava linda, como sempre. Sasuke podia sentir seu ar comprimir no pulmão apenas ao olha-la, seu coração acelerando algumas batidas que só aumentaram quando ela sorriu.

— Até que enfim as damas chegaram. – ela exclamou, caminhando na direção deles. — Por que demoraram tanto?

— A culpa é desse imbecil que esqueceu do compromisso. – Naruto passou a culpa para Sasuke, como sempre, antes de passar o braço pelo ombro magro coberto com um casaco bege da irmã. — Como vai, pirralha?

Sakura beliscou Naruto, odiando o apelido de infância, mas sorrindo quando Naruto soltou um muxoxo. — Estou bem, feioso. Cansada e faminta, já que as princesas decidiram demorar uma eternidade.

— Não demoramos nem vinte minutos. – Sasuke resolveu falar, como se aquilo fosse perfeitamente normal. Sakura o encarou seriamente, antes de responder.

— Nunca deixe uma dama esperando.

— Dama? Onde? – Naruto recebeu outro beliscão no braço, o que deliciou Sasuke. Adorava quando ele apanhava da irmã.

— Enfim, vamos entrar? Está frio aqui fora e eu quero comer.

Os dois assentiram, e então, finalmente, entraram no restaurante parcialmente cheio. Foram em direção a mesa em que geralmente se sentavam. Naruto se sentou de um lado, abrindo as pernas o máximo que podia, não deixando espaço para ninguém, o que obrigava Sasuke e Sakura a se sentarem juntos do outro lado; ele sempre fazia aquilo, não que nenhum dos dois se importasse. Sasuke deu espaço para Sakura passar, sentindo seu perfume quando ela passou por si.

Uma garçonete, Betsy, se aproximou da mesa deles, a caderneta já em mãos.

— Bom dia, gente. Como posso ajuda-los hoje?

— Olá, Betsy. – Naruto sorriu, abrindo os braços e colocando ao redor do banco. — Como vai hoje, boneca?

Betsy revirou os olhos, e Sakura deu um chute na canela de Naruto, que nem se importou.

— Bem, Betsy, eu vou querer o usual. – A menina falou, sabendo que Betsy não gostava muito de Naruto. Os dois já tinham namorado por um tempo, antes dela terminar com Naruto por não aguentar as excentricidades do loiro.

Besty sorriu para Sakura, anotando o pedido que já sabia de cor. Quando terminou, virou para Sasuke, e seus olhos castanhos brilharam enquanto suas bochechas ficavam coradas.

— E você, Sasuke?

O moreno, incomodado com o olhar da moça que, segundo Sakura, tinha uma queda por ele, falou seu pedido rapidamente, e então foi a vez de Naruto.

— Já volto. Gostariam de beber algo?

— Um milk-shake e duas cocas. – Sakura pediu, sabendo o que os amigos queriam. Betsy anotou e saiu, deixando-os sozinhos.

— Sakura, Sasuke tem uma novidade. – Naruto falou, como quem não queria nada, sorrindo ao ver Sasuke atirando facas através do olhar.

Os olhos verdes de Sakura, tão lindos, o encararam, curiosos.

Sasuke limpou a garganta antes de falar. — Recebi minhas ordens hoje. Sargento do 130º.

Um silêncio pairou entre os três. Sakura piscou algumas vezes, tentando assimilar o que ele lhe dissera. Olhou de relance para Naruto, antes de engolir em seco e voltar a olhar para Sasuke. Ela sorriu, mas o sorriso não chegava ao seu olhar.

— Oh, parabéns. Não sabia que você ia pegar hoje. – Sua mão pequena e macia pegou a sua, grande e áspera, por baixo da mesa, apertando-a. — Sargento, hm? As meninas vão ficar loucas.

Naruto soltou uma risada pelo nariz, mas Sasuke sequer o olhou. Estava muito focado na menina-mulher a sua frente. Os olhos verdes, o sorriso pequeno. Sentiu-se triste.

Durante os anos que passara com os irmãos, aprendera a lê-los muito bem. Os dois eram muito parecidos e diferentes ao mesmo tempo. Naruto era pura emoção, raramente pensava nas consequências das coisas, agia por instinto. Já Sakura, apesar de ser o lado racional dos irmãos, também tinha seu lado emocional. Sasuke, que pensava na menina como um forte, a força que nenhum dos dois meninos tinha, só foi perceber o quão vulnerável ela era quando Naruto sofrera um acidente e fora hospitalizado. No momento em que Sakura descobrira, estivera com Sasuke, e o moreno, que era ótimo em ler pessoas, viu como seu mundo tinha caído no momento que ouvira as notícias sobre o irmão. Contudo, por fora ela continuava firme e forte, e não derramara sequer uma lagrima. Mas seus olhos não mentiam tão bem quanto suas ações. Ali ele percebeu que ela era um forte, sim, mas em sua parede alta e firme, pequenos buracos e rachaduras estavam presentes.

Sua mão apertou a sua, seus olhos negros invadiram os verdes. Ficará tudo bem, ele disse. Você não sabe disso, ela respondeu. E, então, Naruto quebrara o momento com um pigarro.

— Vocês vão ficar se encarando aí até quando? – Os dois ficaram vermelhos e quebraram o contato, mas as mãos continuaram unidas.

— Já sabe quando irá partir? – Sakura erguera a parede em volta de si novamente.

— Não. Mas não vai demorar muito.

— Verdade. – Naruto continuou. — Dizem que as coisas estão feias na Europa. A Inglaterra está desesperada, não demorará para que o presidente comece a mandar nossas tropas para lá.

— Entendo. – Sakura suspirou, ajeitando uma mexa de seu cabelo. — Bem, eu só receberei minhas ordens mês que vem.

— Como vai o treinamento? – Sasuke perguntou, tentando tirar sua atenção do fato que os dois logo partiriam para lugares diferentes, assim como ela.

Sakura bufou. — Difícil. Minha supervisora, Tsunade, é uma casca grossa. Fica em cima da gente o tempo todo, nos mandando fazer qualquer coisa, desde atender os milhares de homens que aparecem para se alistar todos os dias, até limpar as cabines. Nós não temos um segundo de paz.

— Parece chato. – Naruto resmungou, apoiando a cabeça na mão.

— É cansativo, mas não é chato. Eu entendo porque ela nos faz trabalhar incansavelmente, afinal nós estamos sendo preparadas para uma droga de guerra. Com certeza nós não vamos ter tempo para deitar num divã e ler Hemingway, enquanto soldados e mais soldados morrem nas linhas de frente.

— Pff, vocês vão estar tranquilas nos barracões, enquanto a gente salva o país. – Naruto sorriu com escarnio, implicando com a irmã, recebendo outro chute na canela como castigo. — Aí!

— Eu sei que você está só de brincadeira, e que está odiando que sua irmãzinha vai para o meio da guerra. – Ela rebateu, com um sorriso triunfante.

Estava absolutamente certa, os dois estavam morrendo de medo do que poderia acontecer com ela. Contudo, apoiavam-na; ela também tinha direito de lutar pelo seu país da forma como podia. Infelizmente, ela não podia ir para as linhas de frente, mas, se pudesse, iria. Ela era mais corajosa do que Naruto e Sasuke juntos.

— Tsc, não fique se achando, testuda.

— É a mais pura verdade. Não é, Sasuke?

Sasuke sorriu, assentindo. Nunca discordaria dela.

— Traidor. – Dessa vez, Naruto deu um chute na canela de Sasuke, que retribuiu com outro. Ficaram nessa até que Sakura parasse os dois, chamando-os de bebezões. — Ei, pirralha, você avisou a mamãe que ao invés de casar com o genro dos sonhos dela, você vai para a Europa?

Sakura respirou fundo, e Sasuke novamente percebeu uma mudança ligeira em seu olhar.

— Ainda não. Ela me ligou ontem, perguntando como estavam as coisas. Eu ia falar, mas ela começou a falar do clube de debutantes dela, e como ela sentia minha falta... enfim, ela falou, falou e não me deu oportunidade.

— O tempo está passando...

— Eu sei, Naruto. – Ela resmungou, cruzando os braços. — Vou tentar falar com ela hoje.

— Ah, eu gostaria muito de ver isso. Ela vai ficar vermelha como um tomate, e vai perguntar qual o seu problema e por que você não pode ser uma filha normal.

Sakura riu, assentindo. — Vai ficar tão nervosa quanto papai ficou quando você disse que se alistou.

Dessa vez, Naruto bufou. — Pais.

Os amigos continuaram conversando amigavelmente, antes de Betsy chegar com seus pedidos e eles se calarem para comer. A comida do Jerry’s era a melhor de toda Queens.

                                                          ~        

Depois de se empanturrarem com comida gordurosa e deliciosa, Sakura deu a ideia de irem ao parque; o sol tinha aparecido, deixando o tempo mais quente e confortável. A ideia foi descartada por Naruto, que disseram que tinha que ir para casa fazer algo importante – uma mentira, eles sabiam -, deixando Sasuke e Sakura sozinhos. Eles não se importaram nem um pouco. Amavam a companhia um do outro.

Caminharam lentamente pela calçada, Sakura abraçada ao braço de Sasuke, aproveitando ao máximo o tempo a sós que tinham.

— Eu fiz duas amigas na ala de esterilização. – Sakura comentava alegremente, e Sasuke ouvia com a mesma alegria. — Elas se chamam Ino e Temari. Ino é do Brooklyn, ela teve que vir para cá porque estava lotado lá, e Temari mora em Astoria¹. Você não vai acreditar de quem ela é irmã.

— Quem?

— Ninguém menos do que Gaara. Lembra, aquele ruivinho que adorava implicar com você?

— Sei. – Sasuke franziu o cenho, as más lembranças do ruivo ressurgindo.

— Eu disse que conhecia ele, e que ele era um idiota e ela concordou. Mas ela me contou uma história bem interessante sobre ele. Disse que ele era metido a bad boy, mas que morria de medo dela. — Sakura riu, fazendo Sasuke sorrir. — Eu até entendo ele, Temari é bem assustadora quando quer.

— Parece alguém que eu conheço...

Sakura o olhou com a boca aberta, colocando uma mão no peito. — Espero muito, querido Sasuke, que esse alguém não seja eu.

Ele riu. — Sinto desaponta-la, princesa, mas é você.

Ela ficou levemente corada com o apelido, e Sasuke se deliciou ao perceber que tinha causado aquela reação.

— Desde quando sou assustadora? Olhe para mim, tenho cara de anjo.

— Bem, com isso eu concordo. – O rosto dela ficou bem vermelho agora. — Porém, você só tem o rosto de anjo. Por dentro, é uma força da natureza.

— Ah é? Que tipo de força da natureza?

Sasuke sorriu de canto, seus olhos brilhando travessos. Adorava flertar com Sakura; ela não era tímida, apesar de corar, e sempre respondia a altura.

— Eu diria que você é aquela tempestade que aparece de vez em quando, após um dia quente de primavera. Momentânea e inesperada, mas tão forte quanto qualquer outra tempestade, e vem para nos lembrar de que, apesar de delicada, a primavera é uma estação tão poderosa quanto as outras.

— Muito poético, senhor Uchiha. – ela riu, e seus olhos brilharam. — Você deveria seguir a carreira de escritor, quando toda essa confusão acabar. Talvez se torne o próximo Fitzgerald e escreva sobre a beleza que é viver em nossa época, pós-guerra.

— Serei o próximo Fitzgerald, se você for a próxima Zelda².

Dessa vez, Sakura ficou vermelha como um tomate, e Sasuke riu, o que lhe rendeu um tapa fraco no braço. Quando a olhou, ela também sorria e sua mão tinha se apertado ao redor de seu braço. Os dois se olharam momentaneamente, dividindo secretamente aquilo que não tinham coragem de falar um para o outro, ainda. Sasuke sentiu seu coração acelerar, e teve que respirar fundo para não a puxar e dar-lhe um beijo de cinema em meio a todos.

Ao chegarem no parque, procuraram um banco para sentarem; o parque não estava cheio, por causa do clima, portanto logo encontraram o lugar perfeito.

— Sentirei falta daqui. – Sakura falou, repentinamente. Seus olhos estavam fechados, o rosto virado para cima, aproveitando ao máximo a pouca luz que o sol decidira presenteá-los naquele dia nublado e frio.

A luz batia em todo o seu rosto alvo, deixando aquelas poucas sardas que tinha sobre o nariz evidentes. Sakura as odiava, mas Sasuke achava que as pintas a complementavam, assim como tudo nela. Para ele, ela era perfeita, mesmo com suas imperfeições.

— Também irei.

Ela sorriu, abrindo os olhos e o fitando profundamente; verdes nos negros. Um contraste tão grande quanto eles mesmos.

— Ora, ora. Finalmente o garoto de Boston se rende aos encantos de Nova Iorque.

— Não me rendi. Ainda considero Boston o melhor lugar do mundo. — Era uma mentira. Para ele, o melhor lugar do mundo era onde quer que Sakura estivesse.  

— Você certamente tem um gosto duvidoso. – Havia uma dubiedade em sua frase que não passou despercebida.

— Sinto que ache isso, princesa. No entanto, discordo veementemente. Sou um homem exemplar ao que se refere a gostos; só consigo gostar do que é especial e belo. – como você, estava implícito. Ela sabia, ele sabia.

— Bem, eu discordo da sua discordância. – Eles riram. Um vento frio soprou por entre as árvores do parque, fazendo Sakura se arrepiar; usava apenas um casaco e meias-calças finas.

Sasuke, percebendo, tirou o próprio casaco e colocou sobre os ombros dela, recebendo um sorriso de agradecimento. Sakura se aconchegou mais sob seu braço estendido atrás do banco, encostando a cabeça em seu ombro. Aquele era um lugar conhecido para si.

— Está com medo? – A voz dela estava baixa, mas ele ouviu perfeitamente.

Absorveu a pergunta, antes de pensar em uma resposta.

— Sim. E você?

Ela se virou para ele. — Sim.

Ficaram em silêncio, e Sasuke desejou poder ler mentes como aquele super-herói famoso dos quadrinhos de domingo, apenas para saber o que ela estava pensando.

— Essa é a primeira vez que vamos nos separar em doze anos.

Sim, ele sabia. Já tinha pensado naquilo muitas vezes. Desde que se tornaram amigos, os três viviam juntos um com o outro. Até mesmo quando um deles estava doente, eles estavam juntos. E, agora, cada um ia para um canto diferente do mundo, sem saber se voltaria para casa.

— Deveríamos aproveitar nossos últimos meses juntos. Vamos tentar nos ver todos os dias, como nos velhos tempos.

A ideia era boa, mas Sasuke sabia que não seria possível. Primeiro, porque ele e Naruto logo iriam para os campos de treinamento, segundo porque ela vivia em plantões, e raramente tinha uma folga.

Ainda assim, ele respondeu. — Definitivamente. Podemos ir ao Gulliver, comprar ingressos para a montanha-russa e ver Naruto vomitando depois.

— Ótima ideia. – Ela riu, mas o sorriso não chegou aos seus olhos. Sasuke sabia o porquê; ela também entendia que eles não teriam a oportunidade. A vida não era tão fácil assim.

— Você trabalha que horas amanhã?

— Começo meu turno depois do almoço. Por que?

Ele tinha uma ideia. — Vamos ao Ballzz hoje à noite. Eu, você e Naruto, como nos velhos tempos.

Os olhos dela brilharam e ela assentiu, animada.

— Oh, nem tinha pensado nisso! Adoraria dançar um pouco.

Ele sorriu, sabendo que ela adorava dançar. Ele também, com ela. — Podemos ir às sete, o que acha?

— Perfeito! Ah, Sasuke, será tão divertido! As meninas no Hospital vão morrer de inveja de mim. Nós falávamos de ir algum dia, quando tivéssemos folga, mas a Tsunade nunca deixa todas nós folgarmos no mesmo dia.

— Vamos dançar a noite inteira, então. Assim você poderá contar o quão divertido eu sou para suas amigas.

— E modesto, não é? – Ela riu, deitando a cabeça em seu ombro novamente, apenas para levantar abruptamente. — Ah, caramba! Preciso de um vestido novo. Faz tanto tempo que não vou a um clube que todas as minhas roupas estão velhas.

— Por que não usa aquele seu azul marinho? – Adorava aquele vestido e a forma como destacava tudo em Sakura, de seus cabelos claros até o formato curvilíneo de seu corpo. Ela, no entanto, parecia discordar de suas ideias, já que o olhou indignada.

— Aquele vestido tem dois anos, Sasuke! Já usei tanto ele que ele já está desfiando. Não. É uma noite especial, pode ser nossa última noite juntos, então preciso de uma roupa especial.

Ela já estava se levantando, deixando o espaço onde antes estivera vazio. Sasuke queria puxa-la de volta.

— Você avisa a Naruto, e eu vou ligar para Karin. Nós não nos vemos há muito tempo, mas ela sempre aceita sair para fazer compras comigo.

Ela nem lhe deu uma chance de responder, já estava se virando para partir.

— Até a noite, Sasuke! – Foi a última coisa que ela disse, antes de sorrir e sair rapidamente do parque. Foi tudo tão repentino que Sasuke mal teve a chance de pedir para leva-la em casa.

Ele ficou parado no banco, vendo a silhueta dela sumir rua abaixo, sorrindo como um bobo.

Eles iriam sair juntos, para dançar. Aquela noite.

Era a oportunidade perfeita para finalmente admitir o que estava entalado há anos, mas que tinha sido medroso demais para dizer.

Iria se declarar para Sakura.

Iria dizer que a amava.

 

 

 

 

 

  

 

 

 


Notas Finais


1- Astoria: Bairro do Queens;
2- Zelda Fitzgerald, escritora americana e mulher do escritor F. Scott Fitzgerald.


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