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História The Walking Dead: O Outro - Encruzilhadas


Escrita por: Vinibrazuka98

Notas do Autor


Olha o último capítulo do ano chegando!
Queria agradecer a todos os que têm acompanhado meu trabalho aqui no site. Vocês realmente são um suporte incrível, e são a única razão de eu estar continuando a postar. Neste ano, eu ganhei vários leitores novos e podem ter certeza de que sou extremamente grato pela dedicação de cada um deles. Acima de tudo, deixo pra vocês um grande abraço e o mais sincero desejo de um feliz ano novo.
Boa leitura!

Capítulo 10 - Encruzilhadas


Capítulo 10: Encruzilhadas

 

  -James! Leva o Harry pro ponto de extração e me encontra lá!

  -Como se eu tivesse escolha!

  Vince sequer hesitou ao começar a correr pelo beco escuro. Precisava encontrar Samantha no estacionamento, e tinham pouquíssimo tempo. No entanto, algo o impediu.

  Podia ouvir uma voz dentro de sua cabeça. O som não estava claro, não conseguia entender as palavras que eram ditas, mas, ainda assim, definitivamente era uma voz. A cabeça de Vince subitamente começou a doer, como se estivesse sendo esmagada pelos pneus de um caminhão.

  A voz era aguda, incisiva, o acertava em cheio, como um raio, a cada som indecifrável. Vince não conseguia suportá-la. A dor lhe dobrou os joelhos e logo ele se viu caído no chão. Tentava, com todo o seu esforço, seguir em frente, em direção ao estacionamento. No entanto, aquilo parecia impossível.

  Então, ele girou o corpo lenta e dolorosamente para a direção contrária, para aquela de onde viera. Pôde ver James e Harry passando por um sufoco. Pensou em tudo o que eles haviam passado para chegar ali, e se lembrou...

  “Meu Deus, eu me lembro... todos eles vão morrer!”

  Com uma renovada determinação, Vince respirou fundo usou de toda a sua força para se levantar. Agarrava as têmporas com os dedos, tapava os ouvidos com as mãos, mas nada parecia calar aquela voz infernal em sua mente.

  E foi andando, cambaleante, até James. Um ou outro tiro zunia perto do seu corpo. Mas tentava ignorá-los. Se sentisse medo, jamais conseguiria sair daquele lugar e ajudar seus amigos. E então, miraculosamente, a voz começou a perder intensidade. Foi enfraquecendo à medida que Vince se aproximava de James. Já conseguia andar normalmente outra vez. Sentia apenas uma forte enxaqueca quando saiu do beco. Pela hora em que chegou ao companheiro, a voz e, consequentemente, a dor já haviam desaparecido por completo.

  -Ei, você voltou! – James exclamou ao olhar para o lado e ver seu amigo de volta.

  -Algo me pareceu errado. Isso tudo tá muito estranho.

  -Nem me fala! – James disse ao abaixar a cabeça, com as costas apoiadas contra a base do cadafalso de madeira. - Precisamos tirar o Harry logo dali! Os tiros podem acabar acertando nele!

  Vince ergueu um pouco a cabeça para enxergar melhor a situação. Harry ainda tinha uma corda presa ao pescoço e parecia estar inconsciente. Edward, o caçador de Lone Hill, trocava tiros sozinho contra, no mínimo, cinco guardas da Nova Nação. E mais ao lado, pôde ver:

  -Ei, vocês dois! – Athena disse após cambalear para a traseira do cadafalso – Já iam ficar com a diversão toda pra vocês?

  A ex-policial mantinha um sorriso de satisfação enquanto recarregava sua pistola. Ela havia lutado muito para encontrar os melhores amigos. Seu esforço parecia, enfim, ter sido recompensado.

  -James, você corta a corda do Harry, eu e Vince te damos cobertura! – Athena tentava se fazer ouvida em meio a todas aquelas balas zunindo sobre sua cabeça.

  Os três não hesitaram ao agir. Vince e Athena abriram fogo contra os inimigos e James se levantou para buscar Harry, que estava a pouquíssimos metros, preso ao topo do cadafalso.

  -Vamos lá garotão. – O rapaz disse enquanto soltava as amarras do amigo e o pegava em seus braços – Até que você é levinho!

  James conseguiu tirar Harry do cadafalso e deitou seu corpo no chão, já atrás de cobertura. Seus olhos estavam fechados, mas definitivamente estava respirando. James olhou para os companheiros e perguntou:

  -E agora? O que fazemos?

  -Nós precisamos voltar! – Athena respondeu – Temos uma rota de fuga, mas precisamos contornar essa avenida pra chegar lá!

  Os dois rapazes se entreolharam e concordaram em silêncio. Athena assentiu também e se levantou para escolher o melhor caminho a seguir. James fez o mesmo, tomando a retaguarda da parceira. No entanto, quando Vince se levantou, algo pareceu cutucar seu ombro.

  Por reflexo, Vince se virou rapidamente para ver o que era, e logo foi violentamente jogado para trás com um soco. Num primeiro momento, não conseguia entender nada do que estava acontecendo. Sua cabeça doía, sua visão estava embaçada. Porém, tudo foi ficando mais claro aos poucos. Teve certeza do que estava vendo quando viu o corpo largo e forte de Trent se aproximando por trás de Athena e James.

  Vince, caído no chão, tentou chama-los, mas sua voz não soava, seu corpo não se movia. Estava completamente dormente, imóvel. Pôde ver aquele homem desprezível atacando:

  -Surpresa! – Ele exclamou

  Os dois companheiros se viraram no exato momento em que Trent os agarrou pelo pescoço, um com cada mão. Com uma força surreal, ergueu ambos no ar.

  -Agora vocês morrem. – Ele disse

  E, sem piedade alguma, arremessou James e Athena com força contra a parede do prédio mais próximo, abrindo dois grandes amassados na estrutura. Vince não conseguia acreditar no que estava vendo. Aquilo era surreal demais para que fosse verdade.

  Trent girou o corpo lentamente, caminhou até Vince e o pegou pelo pescoço também. 

  -Não adianta querer mudar o passado. – Ele disse, calmamente – Você vai aprender que algumas coisas simplesmente... têm que acontecer.

  Nisso, Trent fechou o punho e desferiu o golpe. Vince apenas conseguiu fechar os olhos e gritar:

  -Não!

  Mas o soco não viera. Também não sentia mais o aperto da mão de Trent em sua garganta. Sentiu medo de abrir os olhos por alguns instantes. Queria antes ter certeza de que finalmente havia acordado do pesadelo.

  “Acho que... acho que acabou”, pensou.

  No entanto, logo sentiu um tipo de calor intenso cercando seu corpo. Ouvia o estalar de fogo ao seu redor. Sentia um grande peso em seus braços, como se segurasse algo. E quando abriu os olhos, pôde, enfim, ver:

  -Não, não... de novo não!

  Era o mesmo sonho que atormentava quase todas as suas noites. Sua amada esposa, Mary, estava jogada nos seus braços, completamente fria, completamente morta. De volta ao estacionamento onde perdera sua família, ele olhou para frente e pôde ver o vulto do homem que destruíra sua vida anos atrás correndo para outra direção, desaparecendo em meio às sombras entre os carros daquele lugar escuro.

  -Ei, você! – Vince berrou – Volta aqui, seu filho-da-puta!

  Vince deixou cuidadosamente o corpo de Mary no chão e correu na direção do homem, cujo nome ninguém sabia. Todos o conheciam apenas por sua característica mais peculiar: seu terno branco.

  -Não! Volta aqui agora! – O rapaz continuava a berrar, enquanto corria

  Também podia ver, ao lado do criminoso, um outro vulto menor. Não conseguia ver o rosto, mas sabia bem quem era.

  -Beth! – Chamou – Não deixa ele te levar!

  No entanto, a mesma dor de cabeça que sentira momentos antes tornou a atormentá-lo. Estava completamente imobilizado. Sua visão foi escurecendo até que a imagem de sua filha não passasse de um vulto distante. E então, aquela mesma voz aguda e incompreensível que falava em sua mente retornou. Porém, dessa vez, Vince entendia perfeitamente as palavras.

  -Amor? Amor?

  Era a voz de Mary que o chamava. Ele apertava os olhos com força, agarrava as têmporas com as mãos, berrava, fazia de tudo para que aquela tortura parasse.

  -Relaxe, meu amor. Isso já está quase acabando.

  Mas Vince não queria dar ouvidos. De alguma forma, sabia que nada daquilo era real. Certamente estava preso dentro de um sonho, e tudo o que ele precisava fazer para escapar era acordar.

  No entanto, ele subitamente sentiu algo tocar sua testa. E, logo depois... nada.

  -O que... – Ele tentou murmurar, mas sentiu suas forças indo embora.

  Todo aquele caos, aquele barulho, aquela dor, aquele incêndio... tudo havia sumido. Vince sentia apenas paz ao redor dele. Resolveu abrir lentamente os olhos.

  -Meu Deus... – Ele deixou escapar.

  A visão era de tirar o seu fôlego. Estava de volta à sua casa em Atlanta, aquela que comprara logo depois de se casar com Mary. Estava deitado em sua cama. Podia ver a pequena televisão sobre o móvel de madeira, o armário branco, as paredes encardidas, as janelas, as cortinas rasgadas. Lá de fora não vinha luz alguma, o que o fez deduzir que já era de noite. O quarto estava iluminado apenas por um abajur na mesa de cabeceira.

  -Amor?

  A mesma voz de antes o chamava. Ele olhou para a direita e seu coração disparou ao ver que Mary estava deitada ao seu lado. Seus cabelos loiros estavam presos num rabo-de-cavalo. Usava seus óculos de leitura, enquanto segurava nas mãos um daqueles seus livros de romance de que tanto gostava.

  -Quando vamos nos mudar? – Ela disse.

  -Eu não sei, meu amor. – Vince respondeu, automaticamente.

  -Você sabe que não estamos mais seguros aqui.

  -Eu sei...

  -Você disse que íamos nos mudar pra algum chalé nas montanhas, no interior. Só eu, você e a nossa filha.

  -Eu sei, eu sei... mas agora eu não posso. Nós não temos o dinheiro pra isso, ninguém quer comprar essa casa... e eu ainda tenho muitos serviços pra fazer.

  -Você prometeu que ia parar.

  -Mas eu não posso parar agora! – Vince levantou a voz. – Alguém precisa sustentar essa família. Como você espera que a gente comece uma nova vida, em outro lugar, se não tivermos dinheiro?

  -Então por que você não arranja um emprego de verdade! – Mary gritou de volta – Já pensou que a qualquer momento a polícia pode vir atrás de você? Já pensou que ela podia tirar você de nós?

  Uma lágrima começou a escorrer pelo rosto de Mary. Ela a limpou com as costas da mão e virou o corpo para o outro lado, dando as costas a Vince.

  O rapaz pensou no que dissera por alguns instantes. Como poderia ter sido tão insensível? Sabia que a situação era extremamente delicada naquele momento. Queria sair de Atlanta o mais rápido possível. Mas ainda não tinha condições para isso. Sua situação na organização não estava boa, vide alguns boatos que corriam acerca de sua saída do ramo. O mais esperto a fazer seria esperar a poeira baixar e, então, contatar o chefe para negociar sua saída.

  -Ei, Mary. – Vince chamou-a suavemente, abraçando-a – A gente vai sair daqui. Logo, logo, vai ser só eu, você e a nossa filha naquele chalé nas montanhas com que sempre sonhamos. Tudo isso aqui vai ficar pra trás. Eu prometo.

  Mary apenas concordou com a cabeça e fechou os olhos. Vince esticou o braço e apagou o abajur na mesa de cabeceira.

  -Boa noite, minha querida. – Ele sussurrou no ouvido de Mary e beijou sua nuca.

  Fechou os olhos e dormiu durante o que pareceram horas. Não sabia ao certo se o tempo realmente estava passando, apenas tinha essa sensação estranha. Quando acordou, sentiu-se decepcionado.

  -É... de volta ao mundo real. – Ele murmurou

  Estava de volta ao chalé. A luz bruxuleante do luar entrava por uma estreita abertura entre as cortinas, iluminando parcialmente a sala de estar. Vince apenas encarava o teto, refletindo sobre as coisas que havia acabado de ver.

  Primeiro, o confronto em Atlanta; depois, a morte da sua esposa; e o mais estranho, uma conversa que tivera com Mary anos atrás. Nada daquilo fazia sentido para ele. Afinal, o que aqueles estavam querendo dizer?

  Mas seus pensamentos foram interrompidos quando ele ouviu um som vindo de algum canto à sua esquerda. Estava escuro demais para enxergar direito, mas Vince podia jurar que vira a porta de um dos quartos sendo aberta e depois fechada.

  Subitamente, sentiu alguém subindo no sofá. Quando voltou sua visão de volta à sua frente, lá estava ela: Victoria, ajoelhada sobre ele, seus olhos completamente arregalados com algum tipo de raiva ensandecida. Em suas mãos havia um grande facão. Vince não conseguia se mexer; algo dentro de si o impedia. Sentia apenas medo; o puro e irracional medo da morte.

  -Morra! – Ela exclamou

  E mergulhou o facão na direção do peito de Vince, que fechou os olhos, esperando o golpe.

  -Aaaaaah! – Ele gritou

  Mas estava completamente sozinho. Quando se deu conta, estava sentado no sofá. Victoria não estava mais lá. Também não havia nenhuma faca por perto, nenhum tipo de perigo.

  Ao contrário do que havia pensado antes, finalmente havia acordado do pesadelo. A sala ainda estava escura. Provavelmente acordara no meio da madrugada. Seu coração batia acelerado, sua respiração era intensa e descompassada. Ainda se sentia como se Victoria estivesse sobre ele, subjugando-o, prestes a cravar um facão em seu peito.

  Estava atordoado demais com toda aquela sequência de sonhos bizarros. Não conseguia pensar direito. Tentou, por alguns segundos, acalmar a respiração e, por fim, tornou a se deitar.

  Era a primeira vez em muito tempo que conseguia sonhar com sua esposa viva. Antes, tudo o que conseguia era vê-la morta em seus braços ou ter breves deslumbres de quando a conhecera, na adolescência. Não, daquela vez havia sido completamente diferente. Conseguira se lembrar de uma conversa inteira com ela, palavra por palavra.

  Também pensou em James e Athena. Coincidentemente, era também a primeira vez que sonhara com eles. Aqueles últimos acontecimentos em Atlanta, na noite em que escapara das garras da Nova Nação, haviam perturbado a mente de Vince até aquele momento.

  De certa forma, mesmo sem saber se Athena e James haviam sobrevivido ou não, sentia-se culpado. Não devia tê-los deixado. E se eles tiverem morrido? E se eles estiverem vivos e procurando por ele naquele exato momento, como Athena fizera antes?

  Mas não conseguiu pensar naquilo por muito tempo. Seus pensamentos voltavam, irremediavelmente, para Mary. Somente com aquele sonho, percebera que sentia muita falta dela.

  Vince jamais amara uma pessoa como amou Mary. Ela era seu porto seguro, seu farol, seu limite. Ela era a linha que o impedia de se tornar por completo numa má pessoa. E era por ela que ele pretendia largar o crime, mesmo após ter construído uma carreira de sucesso em cima dele.

  -Você se foi... – Ele choramingou baixinho para não ser ouvido, deixando algumas lágrimas caírem dos olhos – Você se foi pra sempre... e é tudo culpa minha!

  Ele se virou de lado e apertou uma almofada com força contra o seu rosto. Ele gritava e gemia de sofrimento e tristeza, usando a almofada para abafar sua voz. Queria sufocar seus sentimentos, da mesma forma que sufocava o ar que saía de sua boca.

  E assim passou o resto da noite, chorando a morte de sua esposa. Nada e nem ninguém naquele mundo seria capaz de remendar a ferida que Mary deixara no coração de Vince.    



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