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História The Walking Dead: O Outro - O Tempo todo


Escrita por: Vinibrazuka98

Notas do Autor


Fala, pessoal! Queria aproveitar esse espaço aqui pra um comunicado interessante.
Essa semana eu tive a ideia de criar uma espécie de playlist pra essa fanfic. Basicamente, são músicas que eu ouço enquanto escrevo e que me inspiraram para criar esse novo clima da terceira parte da fanfic. Vou colocar a lista completa aqui pra vocês ouvirem na ordem que quiserem, quando quiserem e se quiserem (rsrs). Mas, de vez em quando, eu vou selecionar uma música específica para um certo capítulo por achar que ela combina mais com o seu conteúdo. Mesmo se preferirem ler os capítulos sem música, ainda recomendo que as ouçam quando puderem, porque são excelentes canções. E aqui vai a nossa playlist (vou colocar ela também no primeiro capítulo):
Mr. Tambourine Man - Bob Dylan (Essa pra mim seria o tema principal)
Hurt - Johnny Cash
White Winter Hymnal - Fleet Foxes
Holocene - Bon Iver
Ain't no grave - Johnny Cash (Boa pra quando se estiver enfrentando zumbis)
God's gonna cut you down - Johnny Cash
The One That Got Away - The Civil Wars

Capítulo 4 - O Tempo todo


Capítulo 4: O Tempo Todo

 

  -Por que?

  -Vince, eu...

  -Meu Deus, isso não é possível! Só pode ser um pesadelo!

  -Não, Vince, não é! Eu estou aqui, irmão!

  -Então trata de me explicar por que, durante mais de vinte anos, eu achei que o meu irmão estava morto!

  Jake ficara sem palavras. A expressão de dor e culpa estampada em seu rosto por si só já dizia a Vince que o irmão se arrependera de fosse lá o que houvesse feito. No entanto, ainda sentia muita raiva para conseguir ouvir.

  -Nós vimos o seu corpo. Nós vimos você morto, com um tiro na cabeça e...

  -Não, vocês não viram. – Jake o interrompeu

  Aproveitando a súbita mudez do irmão mais novo, ele resolveu falar:

  -Foi tudo uma farsa. Tudo. Aquela história do assalto que deu errado, do rosto destruído pelo tiro; tudo foi uma mentira... é melhor você se sentar. – E, desse jeito, sentou-se no chão, convidando Vince a fazer o mesmo. Porém, este o recusou – Você era muito novo e eu sempre tomei cuidado pra não deixar você saber das coisas que eu fazia. A nossa mãe sabia de tudo. Mas eu não queria que você seguisse o mesmo caminho que eu segui. – Deu uma pausa, respirou fundo e suspirou – O que vocês não sabiam era que as coisas estavam ficando muito feias pro meu lado. Veja, na época eu era membro de uma das maiores gangues de todo o sul do país. Nós vivíamos muito bem em Montgomery, até que os Hellbullets chegaram e começaram a acabar com a gente, um por um, sem mais nem menos. Correndo atrás dos nossos territórios no Alabama, só pode.

  -Eu me lembro disso. – Vince disse com um olhar perdido, sentando-se no chão – Eu via na tevê. Aquelas mortes que nunca eram solucionadas...

  -Isso mesmo. Acontece que o país inteiro viu aquilo. E quando os nossos aliados viram em rede nacional o quanto nós éramos fracos... eles resolveram apoiar os Hellbullets. – Jake esfregou o rosto com as mãos e alisou os cabelos curtos castanhos – Foi aí que a merda foi de uma vez só pro ventilador. Nossa gangue estava sendo extinta. Nós sabíamos que não tínhamos como vencer aquela luta, ainda mais depois que descobrimos que um grande cartel de drogas mexicano financiava aqueles filhos da puta. Não foi à toa ficaram conhecidos como os herdeiros de El Terror. Então eu reuni meus dois únicos homens de confiança que restavam e nós criamos um plano juntos. A gente sumiria do mapa por alguns anos. Mas tinha um problema. Pro Emilio e pro Spike aquilo seria fácil; nenhum dos dois tinha família ou qualquer um que se importasse se eles ainda estavam respirando ou não. Mas eu tinha.

  E você nos deixou... deixou a nossa mãe! – O mais novo protestou, se levantando do chão.

  -Vince, eu precisava! – Jake protestou, fazendo o irmão cruzar os braços em protesto – Eu nunca liguei pra que merda acontecia com a minha vida. Eu sempre fui um fodido, um cara que nunca teve uma direção, um objetivo pro futuro. Tudo o que eu sabia fazer era matar alguns imbecis e vender umas drogas. Eu não podia deixar vocês pagarem o preço pelas minhas decisões erradas. Então, eu pedi ajuda para dois policiais corruptos que simpatizavam com a nossa situação. Com um belo saco de dinheiro, é claro que aqueles cornos gananciosos iam querer participar da brincadeira. Foram quase duas semanas de planejamento. Nós fomos atrás de um dos fodões dos Hellbullets, um sujeito desprezível conhecido apenas pelo nome de Bruce Bricks. Escolhi ele porque tinha a maior semelhança física comigo. Um dia nós encurralamos ele na mercearia e os policiais meteram um tiro de espingarda na cara do sujeito. Colocamos a minha arma na mão dele e fingimos que tudo não passara de um assalto malsucedido. Por garantia, também pagamos e... meio que ameaçamos a família do balconista para que ele não dissesse nada. E, pelo visto, realmente não disse. Algumas horas depois eu já estava num caminhão, a poucos quilômetros de cruzar a fronteira com uma bolsa com um pouco de dinheiro e documentos falsos.

  Vince não conseguia esboçar nenhuma expressão. Ainda assim, o desconcerto era vibrante em seus olhos. Seu mundo havia caído. Tudo em que acreditara acerca do seu irmão estava indo por água abaixo bem diante de seus olhos.

  -Com o tiro de espingarda na cara, o caixão nem ficaria aberto para visitações no velório. Também não faria sentido um reconhecimento facial do corpo. Então, foi só os policiais falsificarem um exame de DNA e pronto: eu estava morto pro resto do mundo.

  -Durante mais de vinte anos, o tempo todo você... você estava no México!? – Vince berrou

  Jake abaixou a cabeça, tomado pela culpa. Sabia que o irmão tinha razão em ficar bravo daquele jeito. E isso era o que mais doía.

  -Cinco anos depois eu resolvi voltar para os Estados Unidos. Tentei primeiro Nova York. Mas eu não me saio bem em cidades grandes. Tentei Detroit, Washington D.C., mas em nenhum lugar eu conseguia recomeçar do zero. – Suspirou outra vez – Pra ser sincero, não houve um dia sequer em que eu não pensei em voltar pra casa. Pra você, pra nossa mãe, pra Montgomery... Mas como eu poderia explicar tudo o que aconteceu? Como eu poderia explicar pra nossa mãe que depois de cinco anos dado como morto, eu tinha reaparecido como quem estivesse voltando de férias? Simplesmente não dava. Além disso, eu tenho certeza de que a vida de vocês estaria melhor sem mim. Você era só um adolescente bobo; eu não podia ser uma má influência pra você. Eu nunca me perdoaria por isso.

  -Se isso tudo é verdade como você sabia quem eu sou? wComo diabos você me encontrou?  

  -Bem, a primeira é fácil: você nunca mudou o seu jeitinho marrento. E você ainda tem aquela cicatriz no braço direito que eu sempre disse que lembrava a forma de um pau.

  Vince puxou um pouco a manga do casaco que vestia e viu que, de fato, a marca continuava lá. Uma discreta, porém profunda cicatriz que carregava desde os seus catorze anos, quando entrou numa briga com alguns valentões do bairro e um dos imbecis usara um canivete para ensiná-lo uma lição.

  -Eu percorri uma grande parte do país ao longo desse tempo. No final, acabei decidindo que sentia muita falta do Sul e arranjei um emprego como entregador em Dallas. Daí veio a infecção, aquelas palhaçadas de abrigos militares e gente comendo carne humana por todos os lados. Eu fiquei quase um mês à deriva, nos arredores da cidade. Sobrevivendo com pouco, sem expectativas de que as coisas iriam mudar. O tempo foi passando. Eu sobrevivia com um pequeno grupo de pessoas que eu encontrei por lá. Até que... eu conheci Sebastian.

  Vince se sobressaltou ao ouvir aquele nome.

  -Você disse Sebastian!? O filho da puta que me...

  -Eu sei, eu sei. Eu vou chegar lá. – Jake o interrompeu – Na verdade, eu nunca conheci Sebastian pessoalmente, mas conheci os subordinados dele no Sul e conheci a sua causa. Alguns diziam que ele tinha a força de dez homens. Outros diziam que era o melhor estrategista militar que o nosso país já viu. Poucos o haviam visto de perto. Eu estava bastante cético no começo. Afinal, como eu poderia acreditar numa revolução liderada por alguém que eu nunca havia visto e que eu não fazia ideia se realmente existia? Aquela merda não fazia sentido nenhum. Mas eu estava tão fodido naquele lugar onde eu estava que eu pensei “ei, por que eu não dou uma chance a esses caras? Afinal, o que é um peido pra quem já tá cagado?” E foi o que eu fiz.

  -Você se juntou à Nova Nação. – Vince concluiu, inexpressivo.

  Jake respondeu acenando com a cabeça e tomou fôlego outra vez antes de voltar a falar:

  -Nos juntamos ao resto do grupo deles que já estava dentro de Dallas. Dentro de duas semanas nós retomamos a cidade. Mais gente foi parar lá com o passar do tempo. A comunidade cresceu rapidamente. Mas foi assim que os problemas começaram a aparecer. Sabe, o Texas é um verdadeiro deserto. Sem as pessoas ocupando as cidades, a areia foi tomando o lugar das casas e do asfalto. Era como olhar pra uma praia infinita; você nunca consegue ver o mar porque a areia nunca acaba. Nós ficamos rapidamente sem água. Algumas pessoas até chegaram a morrer por causa disso. Alguns meses atrás, um comboio da Nova Nação chegou de Atlanta. Eles trouxeram um pouco de água e comida, mas nada que fosse durar muito tempo por ali. Mas eles também trouxeram as notícias. E quando eles disseram que haviam capturado um sujeito chamado Vince e que pretendiam enforcá-lo, eu senti meu coração pular pela boca.

  Jake se interrompeu por alguns instantes para observar a reação de Vince. O irmão mais novo parecia perplexo demais para expressar qualquer reação. Seu olhar embasbacado e incrédulo, entretanto, conseguia dizer mais do que qualquer palavra que pudesse ser proferida naquele momento.

  -Eu sei, isso parece muito idiota e você provavelmente não acredita em mim. – Ele prosseguiu – Mas eu senti algo dentro de mim. Algo que dizia que, mesmo sendo quase impossível, eu tinha que tentar. Eu não queria morrer sem antes ver o rosto do meu irmãozinho outra vez. Além disso, o que eu tinha a perder em Dallas? Porra, aquele lugar era um abatedouro; mais alguns dias e eu ia morrer de sede. Então, eu separei algumas coisas, peguei um dos carros e me mandei sem ninguém perceber.

  -Você era um daqueles merdas. – Vince disse, tentando disfarçar a raiva latente em sua voz

  -Quando eu cheguei a Atlanta, tudo estava destruído. – Jake prosseguiu, inabalado - Você tinha ido embora. Mas eu não desisti. Eu encontrei o seu rastro e o segui por um bom tempo. Já faz algumas semanas que eu enfim consegui te encontrar e foi assim que eu te segui até aqui. Por favor entenda, eu não podia deixar que essa chance me escapasse. Se eu consegui te encontrar e te reconhecer, depois de todos esses anos, é porque foi isso que Deus quis. E eu não acho que o destino queira nos separar de novo.

  A cabeça de Vince latejava. Tudo o que estava ouvindo era surreal demais. Entretanto, seu coração ainda se esforçava para acreditar. Sentia vontade de perdoar o irmão, de abraçá-lo, de perguntar sobre as aventuras que ele vivera dentro e fora do país. Ainda assim, a raiva encrustada no âmago de seu ser falava mais forte.

  Os céus rapidamente se tornaram mais escuros. Segundos depois, uma chuva fina e fria começou a cair das nuvens lá no alto.

  -Você vai precisar de mais do que isso pra me fazer te perdoar. – O irmão mais novo disse, após alguns silenciosos segundos de reflexão.

  Jake abaixou a cabeça novamente e respondeu:

  -Eu entendo, irmão... de verdade. Quando eu te vi lá naquele chalé, eu já tinha a certeza de que eu não seria perdoado. Então eu fiquei apenas observando, como os anjos da guarda. Porra, eu queria ser seu anjo da guarda, afinal, eu já estava morto, não é? E então, depois de dias intermináveis, só observando você, sem poder falar com você, é que eu tive certeza de que era realmente o meu irmãozinho que eu estava seguindo. Agora, aqui estamos, nesse momento bem... bizarro nosso.

  Vince sacudiu a cabeça de um lado para o outro por alguns instantes, como quem negasse tudo o que acabara de ouvir. Acreditando ou não naquela história, Jake havia apenas feito com que a mãe deles sofresse. Nada consertaria aquilo, nada fora capaz de tirar Margareth da depressão em que afundara, e que acabaria por deixá-la doente e, consequentemente, matá-la anos depois.

  -Você tem ideia do que você fez com a gente? – Vince questionou, incisivo – Do que você fez com a nossa mãe? Ela chorou por todas as noites desde que você foi dado como morto. Você era o filho favorito e ela não fazia o menor esforço pra esconder isso, sabia?! Eu tive que cuidar dela sozinho por quase dez anos. Você é igual ao nosso pai; quando mais precisamos de você, você desaparece!

  -Vince, eu sinto muito. – Jake se levantou e se aproximou do irmão. Uma lágrima percorria o seu rosto, sua voz soava chorosa.

  -Isso não interessa. – Vince o cortou – Eu não quero saber dos seus motivos pra fingir a própria morte e vir até aqui achando que eu ia dizer “ei cara, que bom que você tá vivo! Achei que o meu irmão tivesse sido assassinado, mas que bom que ele tá aqui!” Tudo isso é uma grande babaquice!

  -Por favor Vince, eu imploro. Você tem que acreditar em mim. – O choro de Jake definitivamente era verdadeiro.

  A chuva se intensificara rapidamente, como se os céus despejassem toda aquela enxurrada de sentimentos que estavam sendo entornados ao longo da conversa.

  -O melhor que temos a fazer agora é nos abrigarmos aqui na estação. Vamos esperar o tempo melhorar para encontrarmos o caminho de volta pro chalé.

  Jake, sem saber o que dizer, limitou-se a concordar com a cabeça. Deram as costas lentamente às árvores da floresta e seguiram em direção às grades metálicas escancaradas. Não sabiam o que poderia estar os aguardando, mas definitivamente sabiam que, enquanto a chuva não passasse, eles não encontrariam o caminho de volta para casa.   



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