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História The Walking Dead: O Outro - Na Superfície


Escrita por: Vinibrazuka98

Notas do Autor


Olá pessoal, tudo bem com vocês? Queria começar pedindo desculpas pela demora na postagem desse capítulo. A faculdade tá me tomando bastante tempo rsrs.
Espero que estejam gostando. Quero que vocês continuem comentando, me mandando a opiniões e sugestões, que são partes essenciais da minha história.
Abração a todo!

Capítulo 5 - Na Superfície


Capítulo 5: Na Superfície

 

  Os finos portões de metal da estação de energia abandonada estavam completamente escancarados e abertos. As partes do chão que não estavam cobertas de neve estavam repletas de imundície e terra, que rapidamente se convertia em lama por devido à chuva.

  Algumas de suas grades sequer estavam mais de pé. Todas as paredes e máquinas estavam pichadas com desenhos caricatos e letras quase ilegíveis. O lugar tinha uma aparência ao mesmo tempo macabra e melancólica. Conseguia parecer simultaneamente um ambiente abandonado, mal-assombrado e algum tipo de monumento nostálgico, construído pela antiga civilização, esquecido pelo tempo.

  As máquinas e engrenagens eram espalhadas por uma área aberta e cercada pouco maior do que uma quadra de basquete profissional. Alguns dos aparelhos eram mais altos, quase tocando a fiação suspensa alguns metros acima da cabeça de Vince. No lado oposto à entrada, havia uma porta que levava a algum tipo de área interna. Poderia não passar de uma cabine de comando, mas não dava para saber ao certo sua profundidade.

  Os dois irmãos adentraram no pátio aberto, com olhos bem abertos para o menor sinal de perigo. Caminharam em direção à porta no lado oposto sem dizer uma palavra sequer. Para Vince, aquilo tudo ainda era estranho demais. Como diabos seu irmão poderia ter sobrevivido e o encontrado naquele fim de mundo? Quais eram as chances? Mas Vince se contentou com a ideia de que não importava o quanto a vida podia ser estranha, ela sempre conseguiria encontrar um jeito de nos surpreender.

  -Deixa isso comigo. – Jake disse ao chegarem à porta – Fica atrás de mim que eu...

  Mas logo parou de falar quando Vince tomou a dianteira e, com um chute certeiro, escancarou a porta, que já estava enferrujada e corroída pelo tempo. Jake ergueu as mãos como em um sinal de rendição e adentrou no recinto, cabisbaixo, atrás de Vince.

  -Isso aqui tá um breu. – O irmão mais novo disse, contraindo as sobrancelhas ao se lembrar de algo.

  Vasculhou o bolso da calça com a mão e de lá tirou um isqueiro cinza. Acionou-o e, assim, fez-se a luz. O ambiente pareceu maior do que haviam imaginado. Com a fraca iluminação do isqueiro, Vince pôde notar um painel com alguns botões e monitores no canto esquerdo, virado para a direção da entrada da estação. Mais à frente, havia um par de mesas e cadeiras metálicas, um sofá velho, uma televisão suspensa na parede e uma porta indicando o banheiro.

  À primeira vista, a sala parecia ter um formato retangular. Porém, apertando os olhos e mirando a luz do isqueiro, Vince pôde ver que o caminho seguia para a direita, para onde o ângulo pelo qual observava não o permitia enxergar.

  Sem dizer uma palavra, Vince tomou a dianteira e caminhou lentamente à frente. Jake, ainda que um tanto relutante em relação à raiva do irmão, resolveu segui-lo. Quando chegou à quina da sala, o irmão mais novo pôs as costas contra a parede. Com o isqueiro na mão esquerda e o machadinho na direita, ele respirou fundo e fez a curva agilmente.

  Jake correu logo atrás, temendo que o irmão encontrasse algum perigo. No entanto, apenas encontrou Vince encarando fixamente uma porta.

  A segunda parte da sala era ainda menor que a primeira, e tudo o que possuía era um pequeno gaveteiro metálico num canto e uma discreta porta cinza ao final.

  -Tem certeza de que é uma boa ideia entrar aí? – Jake perguntou, sem jeito.

  -Prefere esperar pra ver se um monstro sai de lá do nada? – Vince retrucou, seco.

  Nisso, se aproximou da porta e virou a maçaneta. Estava trancada. Então, tomou distância da porta e a chutou bem no meio, com bastante força.

  -Porra! – Ele grunhiu

  A porta apenas rangera. Então, tentou outra vez, com mais força ainda. E a porta continuou fechada. E chutou novamente, e depois, e depois...

  -Por que... você... não abre... filha... de uma... puta! – Vince berrava cada palavra entre um chute e outro.

  Seu estado era frenético. Sem saber, estava descontando toda a raiva que sentia da situação do irmão naquela porta. Estava cego de fúria e orgulho. Sua visão havia se estreitado, só conseguia enxergar seu pé acertando vez após outra aquela porta.

  -Ei, ei, ei! – Jake chamou-o, pondo a mão em seu ombro.

  Vince então parou de chutar a porta e se virou bruscamente ara Jake.

  -O que... você quer... de mim? – Perguntou pausadamente, acentuando a raiva em cada uma das sílabas

  Mas Jake respondeu apenas com seu olhar terno e arrependido. Os olhos de Vince estavam marejados, como se estivessem prestes a chorar; coisa que não fazia há muito tempo.

  -Vamos abrir isso juntos. – Jake disse por fim, embalando suas palavras na calma de seu tom.

  Os dois se viraram para a porta e, ao som da voz de Jake contando até três, chutaram-na ao mesmo tempo. O resultado não poderia ter sido outro; a porta foi arremessada para trás em alta velocidade, quase se desprendendo do eixo.

  E à frente, os dois viram uma estreita e longa escadaria que se estendia até a escuridão infinita abaixo deles.

  -Isso deve dar em algum tipo de porão. – Vince comentou, baixinho.

  -Nem parece filme de terror, não é? – O mais velho retrucou.

  Dito isso, Jake tomou a dianteira e começou a descer pelas escadas. Vince queria protestar, mas sentiu que já era tarde demais para isso. Relutante, seguiu o irmão naquele ambiente escuro e macabro, fazendo o possível para iluminar o caminho com a fraca luz do isqueiro cinza.   

  Chegando ao final da escada, os dois se depararam com outra porta, metálica, cinzenta.

  -Mas que porra... – Jake deixou escapar.

  Havia algo escrito na parede. Eram palavras escritas em tinta preta e péssima caligrafia, que ocupavam quase a extensão inteira da porta. Vince pôs-se a ler em voz alta, com alguma dificuldade:

  “Não entre! Siga pelo rio que secou até o elo entre o mundo de lá e o de cá.”

  -Quem é que se preocupa em fazer charadas em pleno apocalipse zumbi?! – Jake questionou – Não, aqui a gente resolve pelo meu jeito!

  O irmão mais velho se afastou e tomou distância. Mesmo com um golpe de ombro forte e veloz, sequer conseguira fazer a porta tremer. Algo a estava prendendo pelo lado de dentro, como se estivesse presa à uma parede feita de cimento.

  -O filho da puta deu um jeito nisso aqui. – Jake comentou – E agora, brother? 

  -Não me chama de brother.

  -Tá bem, brother.

  Bufando, Vince deu as costas e tornou a subir as escadas. Outra vez no andar de cima, ele foi até a porta e observou o tempo lá fora. Tudo havia escurecido; nuvens cinzentas tomavam conta dos céus. A chuva não dava trégua, apenas apertava, transformando a paisagem pacífica das árvores cobertas de neve em um caos lamacento e impenetrável.

  -Com essa lama toda vai ser difícil voltar ao chalé. – Vince comentou, como se estivesse pensando alto.

  -Pelo menos os monstros também não vão conseguir chegar até aqui. Porra, o que eu não daria pra ver um deles encalhado na neve! - Jake respondeu, rindo.

  Mas Vince mantinha a expressão cerrada, ainda que sentisse vontade de rir no fundo. Seu orgulho parecia falar mais alto o tempo todo. Parte de si sabia que aquela raiva do irmão jamais desapareceria enquanto não conversasse de verdade com ele. No entanto, outra parte dizia que aquilo não faria a menor diferença, já que nunca conseguiria perdoá-lo pelo que fizera. Mas Jake insistiu:

  -Sério, imagina só aquele bichinho escroto – Ele dizia enquanto ria e gesticulava a situação usando os dedos da mão – com as perninhas de palito presas na lama. Será que se ele caísse pra frente elas quebrariam?

  E Vince não aguentou. Precisou rir, mesmo que de forma contida e brevíssima. Mas não breve o suficiente para que Jake não notasse e respondesse com um largo sorriso de satisfação.

         ...

  Os dois se acomodaram no chão e no sofá da sala de controles, à luz de uma fogueira improvisada que montaram usando alguns papéis que encontraram e uma lixeira de metal. Relaxaram ao som dos pingos de chuva, que tocavam o solo da floresta como um pianista tocando suas teclas durante a execução da mais bela sonata.

  -E aí? – Jake, deitado no sofá, quebrou o silêncio desconfortável que havia se instalado na sala – Por que não me conta um pouco mais de você?

  -Eu não sei se eu quero falar disso. – Vince retrucou, seco, deitado no chão com o pescoço apoiado contra o pé de uma cadeira.

  -Qual é, irmão? – Jake se ajeitou e sentou no sofá – Eu sei que eu pisei na bola, eu sei que as minhas escolhas ferraram muito com você e com a nossa mãe. Mas eu cruzei mais de três estados inteiros só pela chance de encontrar você, meu irmãozinho. E agora eu tô fazendo de tudo pra consertar o pouco que eu ainda posso consertar.

  E encarou Vince por alguns instantes, esperando uma reação, algum sinal que indicasse que ele havia mudado de ideia. Podia ver que ele estava em algum tipo de conflito interno. Ainda que o rosto fosse inexpressível, a dor da dúvida e do orgulho eram marcantes em seus olhos.

  -Por favor, Vince. Eu só quero saber o que aconteceu com o meu irmãozinho mais novo durante os vinte e dois anos que eu passei com vergonha demais pra voltar pra casa. Só isso.

  Vince pareceu hesitar por alguns instantes, mas por fim deu de ombros:

  -Quando você mo... sumiu, nossa mãe resolveu adiar a nossa mudança pra Atlanta. Mas ela não aguentava mais aquela casa. Tudo lá lembrava você. Ela se desesperou, vendeu a casa e comprou um trailer pra morarmos em Atlanta.

  -Então, ela vendeu a nossa casa? – Jake perguntou, profundamente decepcionado.

  Vince respondeu com um leve aceno de cabeça.

  -Meu Deus, eu adorava aquele lugar. – O mais velho suspirou – Prossiga.

  -Ela faleceu alguns anos depois... de pneumonia. E eu só tive dinheiro pra comprar uma flor velha pra ela no dia do enterro.

  -Que Deus tenha a nossa mãezinha... – Jake disse com os dedos das mãos entrelaçados e a cabeça erguida, como se olhasse para os céus.

  -Deus... – Vince repetiu num tom de deboche, rindo sarcasticamente – Você não tá muito velho pra acreditar nessas coisas não?

  Jake deu de ombros. Desde jovem, Vince fora cético. Não era capaz de acreditar que depois dessa existia algum tipo de paraíso ou de inferno onde as almas deveriam passar toda eternidade. Aquilo eram contos de fada, histórias para assustar as crianças, desculpas esfarrapadas para hipócritas; tudo menos a verdade.

  -Não vou te criticar, meu irmão. – O mais velho falou – Mas o meu Deus não gosta de gente que não acredita nele.

  Nisso, Vince se levantou, furioso, e disparou com palavras contra o irmão:

  -Ele provavelmente também não gosta de gente que foge da família, não é?! Que faz o mundo inteiro pensar que você tá morto e na verdade só tá resolvendo as merdas que fez com um bando de traficantes! O seu Deus gosta disso?! Então, manda ele tomar no cu!

  E nisso, Vince saiu da sala a passos largos, voltando para o mundo lá fora. Jake, ainda perplexo, precisou de alguns segundos para compreender os fatos que haviam acabado de se desenrolar. Afinal, o que havia acontecido? Tudo parecia estar bem num momento, e então, do nada... não estava mais. Pegou o pequeno machado que estava sobre a mesa de metal e seguiu o irmão.

  Foi como se houvessem entrado num outro mundo; denso, ameaçador, úmido. As nuvens quase negras bloqueavam a maior parte dos raios solares, fazendo aquela manhã mais parecer uma verdadeira noite de tormenta.

  -Vince! – O irmão chamava, ofegante pela corrida – Vince, espera!

  Mas Vince não queria ouvir. Continuava andando a passos largos, quase correndo, na direção contrária à do irmão. Já havia passado pelos portões derrubados e resolvera virar à direita.

  -Vince! – Jake insistia em chamar, começando a diminuir a distância.

  O mais velho começou a criar o pressentimento de que não o alcançaria quando seus pés começaram a ser tragados com ainda mais força pelo chão lamacento. Sentia dificuldade de andar. No auge dos quarenta anos, suas pernas não funcionavam mais como na época em que vendia drogas e assustava bandidos em Montgomery.

  Mas então, já contornando a estação, Vince foi diminuindo o passo até parar. Num último esforço, Jake conseguiu alcançá-lo.

  -Irmão, você... – Jake tentou dizer, ofegante, mas se calou ao ver que o irmão mais novo chorava.

  -Sabe... – Vince disse, escondendo o rosto – Eu devia estar feliz por você estar vivo. Eu queria estar feliz por você ter voltado. Mas eu... eu...

  -Você não se sente assim. – Jake concluiu, a decepção marcando cada sílaba que pronunciava.

  -Eu só consigo sentir raiva... agonia...

  -Eu entendo, irmão... eu mereço tudo isso. Não fui nada do que um irmão mais velho deveria ser. Eu...

  Mas então, um som alto e agudo o cortou. Os dois irmãos ergueram a cabeça para escutar. Era um grito de mulher. Um grito desesperado, aterrorizante, que ecoava pelas árvores daquela floresta alagada.

  -Você ouviu isso? – Vince disse, com o tom de voz subitamente normalizado

  -Não veio de longe. – Jake retrucou.

  -Por aqui!

  Nisso, Vince pôs-se a andar na direção do grito, que era a mesma pela qual seguia antes. Jake tomou fôlego e o seguiu na mesma velocidade. O grito não cessava, ele apenas ecoava, se repetia, o tempo inteiro, como se guiasse os dois irmãos até a sua origem.



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