1. Spirit Fanfics >
  2. The Whisper >
  3. Capítulo 3

História The Whisper - Capítulo 3


Escrita por: tokyooir e _EryMenezes_

Notas do Autor


GENTEEE Sorry Pela Demora
Era Pra Eu Ter Postado Antes....Mais Estou Meio Ocupada
Com Uns Trabalhos Escolares (Sabe Comé Né? kkk)
Enfim Vamos Ao Capítulo ^^

Capítulo 3 - Capítulo 3


Fanfic / Fanfiction The Whisper - Capítulo 3

O técnico Iruka  estava postado diante do quadro-negro no meio de uma lenga-lenga infinita sobre algum assunto, mas minha mente vagava bem distante das complexidades da ciência.

Eu estava ocupada em reunir motivos que justificassem por que Sasuke e eu não deveríamos mais nos sentar juntos e os anotava em uma lista no verso de um antigo questionário. Assim que a aula acabasse, eu apresentaria meus argumentos ao técnico. Não coopera para a realização dos deveres, escrevi. Demonstra pouco interesse no trabalho de grupo.

Mas eram as razões que não tinham sido listadas as que mais me incomodavam. Achei o local da marca de nascença de Sasuke assustador e estava apavorada com o incidente da janela na noite anterior. Não estava tão certa de que Sasuke estivesse me espionando, mas não podia deixar de ignorar a coincidência. Tinha praticamente certeza de que alguém ficara olhando pela minha janela apenas algumas horas depois de termos nos encontrado.

Ao pensar na possibilidade de Sasuke andar me espionando, retirei dois comprimidos de suplemento de ferro de um fiasco dentro do bolso da frente de minha mochila e os engoli a seco. Eles ficaram presos na garganta por um momento, mas acabaram descendo.

Pelo canto do olho, percebi que Sasuke erguia as sobrancelhas.

Cogitei explicar a ele que eu era anêmica e que tinha de tomar comprimidos à base de ferro algumas vezes ao dia, especialmente quando estava sob pressão, mas mudei de ideia. A anemia não representava uma ameaça à minha vida... desde que eu tomasse doses regulares do remédio. Não estava tão paranoica a ponto de achar que Sasuke queria me fazer mal, mas, de qualquer forma, meu problema de saúde era uma vulnerabilidade e me pareceu melhor mantê- lo em segredo.

— Sakura?

O técnico estava na frente da sala, com a mão estendida em um gesto que demonstrava que ele esperava alguma coisa: minha resposta. Senti o rosto lentamente começar a queimar.

— O senhor poderia repetir a pergunta? — pedi.

A turma caiu na gargalhada.

— Que qualidades atraem você em um possível parceiro? — disse o técnico, ligeiramente irritado.

— Possível parceiro?

— Vamos logo, não temos a tarde toda.

Eu podia ouvir Ino dando gargalhadas atrás de mim.

— O senhor quer que eu faça uma lista de características de um...? — Minha garganta pareceu se fechar.

— Possível parceiro, sim, ajudaria muito.

Sem querer, olhei para o lado, na direção de Sasuke. Ele estava recostado na cadeira, quase jogado, estudando-me com ar de satisfação. Abriu aquele sorriso de cafajeste e balbuciou: Estamos esperando.

Coloquei as mãos sobre a mesa, na esperança de parecer mais sob controle do que realmente estava.

— Nunca parei para pensar no assunto.

— Então pense rápido.

— Será que você poderia ouvir primeiro outra pessoa?

O técnico fez gestos impacientes para a minha esquerda.

— Você, Sasuke. Ao contrário de mim, Sasuke falou com confiança. Na posição em que estava, seu corpo ficava ligeiramente virado na minha direção, nossos joelhos separados por apenas alguns centímetros.

— Inteligente. Atraente. Vulnerável.

O técnico ocupou-se em escrever os adjetivos no quadro.

— Vulnerável? — perguntou. — Por quê?

— Isso tem relação com a matéria? — interrompeu Ino. — Porque não consigo encontrar nada sobre as qualidades desejadas em um parceiro em nosso livro.

O técnico parou de escrever um instante, só para olhar por cima do ombro.

— Todos os animais do planeta atraem parceiros com o objetivo de se reproduzir. O corpo dos sapos incha. Os gorilas machos batem no peito. Já viu o macho da lagosta levantar nas pontas das patas e estalar as garras para atrair a atenção da fêmea? A atração é o primeiro elemento de toda a reprodução animal, inclusive da humana. Por que não nos apresenta sua lista, srta. Yamanaka?

Ino mostrou os cinco dedos da mão.

— Deslumbrante, rico, generoso, altamente protetor e só um pouquinho perigoso. — A cada adjetivo, ela descia um dedo. Sasuke soltou uma risada.

— O problema com a atração humana é você não saber se será correspondido.

— Muito bem pensado — disse o técnico.

— Os seres humanos são vulneráveis — prosseguiu Sasuke —, porque são capazes de sofrer.

Nesse momento, o joelho de Sasuke esbarrou no meu. Afastei-me, sem ousar pensar no que ele queria dizer com esse gesto. O técnico assentiu com a cabeça.

— A complexidade da atração entre os seres humanos e da reprodução é uma das características que nos distinguem das outras espécies.

Pensei ter ouvido Sasuke bufar, mas foi tão baixo que não tive certeza.

— Desde a aurora dos tempos — prosseguiu o técnico —, as mulheres sentem atração por parceiros com mais habilidades ligadas à sobrevivência, como inteligência e força física, porque homens com tais qualidades têm mais chances de trazer comida para casa no final do dia. — Ele apontou os polegares para o alto e sorriu. — Comida é o mesmo que sobrevivência, equipe.

Ninguém riu.

— Da mesma forma — continuou —, os homens se sentem atraídos pela beleza porque é um indicativo de saúde e de juventude. Não há sentido em acasalar com uma mulher doente que talvez mais tarde não esteja por perto para cuidar das crianças.

O técnico colocou os óculos na ponta do nariz e deu uma risadinha.

— Isso é tão machista — protestou Ino. — Diga algo que tenha a ver com uma mulher do século XXI.

— Se você abordar a reprodução sob a ótica da ciência, srta. Yamanaka, verá que a prole é fundamental para a sobrevivência da espécie. E quanto mais filhos tiver, maior será a contribuição para o pool genético.

Eu podia praticamente ouvir Ino revirando os olhos:

— Acho que finalmente chegamos perto do assunto do dia. Sexo.

— Quase — disse o técnico, erguendo um dedo. — Antes do sexo vem a atração, mas antes da atração vem a linguagem corporal. É preciso comunicar ao possível parceiro que existe interesse sem usar palavras.

O técnico apontou para o meu lado.

— Muito bem, Sasuke. Digamos que você esteja numa festa. O lugar está cheio de garotas de todas as formas e tamanhos. Você encontra louras, morenas, ruivas algumas meninas com cabelo preto. Umas são tagarelas, outras aparentam ser tímidas. Você encontrou uma garota que se encaixa em seu perfil: atraente, inteligente e vulnerável. Como mostra a ela que está interessado?

— Eu a escolho. Vou falar com ela.

— Muito bem. Agora é a hora da pergunta importante: como é que você sabe se ela está a fim ou se quer que você dê o fora?

— Eu a observo — disse Sasuke. — Descubro o que está pensando e sentindo. Ela não vai ser direta e me dizer, por isso preciso prestar atenção. Ela vira o corpo na minha direção? Olha nos meus olhos e então desvia o olhar? Morde o lábio e brinca com o cabelo, como Sakura está fazendo bem agora?

A gargalhada tomou conta da sala. Deixei minhas mãos caírem no colo.

— Se é assim, está no papo — disse Sasuke, esbarrando de novo na minha perna. E eu ainda fiquei vermelha.

— Muito bom! Muito bom! — disse o técnico, com a voz animada, muito satisfeito com a atenção.

— Os vasos capilares do rosto de Sakura estão se dilatando e a pele dela se aquece — disse Sasuke. — Ela sabe que está sendo avaliada. Gosta da atenção, mas não sabe muito bem como lidar com isso.

— Não estou corando.

— Está nervosa — disse Sasuke. — Passa a mão no braço a fim de desviar a atenção de seu rosto para o corpo, ou talvez para sua pele, ambos bastante atrativos.

Quase engasguei. Ele está de gozação, disse a mim mesma. Não, ele é doido. Eu não tinha experiência alguma em lidar com lunáticos, e isso estava na cara. Minha sensação era de que eu passava a maior parte do tempo olhando para Sasuke estarrecida e de boca aberta. Precisava de uma nova abordagem se queria manter qualquer ilusão de poder colocá-lo em seu lugar.

Apoiei as mãos na mesa, levantei o queixo e tentei demonstrar que ainda possuía alguma dignidade.

— Que ridículo!

Com muita dissimulação, Sasuke esticou o braço para as costas da minha cadeira. Tive a estranha sensação de que era uma ameaça dirigida apenas a mim e que ele não consciência ou se lixava para a forma como a turma encararia aquilo. Todos riram, mas ele não pareceu ouvir, prendendo meu olhar ao dele com tanta intensidade que eu quase acreditei que ele havia construído um pequeno mundo particular para nós dois, ao qual ninguém mais teria acesso.

Vulnerável, ele fez com os lábios.

Prendi meus tornozelos nos pés da cadeira e me inclinei para a frente, sentindo peso do braço dele despencar no encosto. Eu não era vulnerável.

— E aí está! — exclamou o técnico. — A biologia em ação.

— Será que podemos falar sobre sexo agora? — perguntou Ino.

— Amanhã. Leiam o capítulo sete e estejam prontos para debater o assunto.

O sinal tocou e Sasuke empurrou a cadeira para trás.

— Foi divertido. Vamos repetir a dose um dia desses.

Antes que eu pudesse pensar em uma resposta mais contundente do que simplesmente Não, obrigada, ele se esgueirou por trás de mim e desapareceu porta afora.

— Vou passar um abaixo-assinado pedindo a demissão do técnico — disse Ino, aproximando-se da minha mesa. — O que aconteceu na aula de hoje? Foi quase pornografia. Ele praticamente colocou você e Sasuke sobre a mesa do laboratório, na horizontal, sem roupas, fazendo aquilo...

Lancei-lhe um olhar que dizia: Não precisa me lembrar disso.

— O.k. o.k. — disse Ino, dando um passo para trás.

— Preciso falar com o técnico. Encontro você em frente ao seu armário daqui a dez minutos.

— Tudo bem.

Fui até a mesa do técnico, que estava sentado, debruçado sobre um livro de jogadas de basquete. À primeira vista, todos aqueles "X" e "O" marcados no papel faziam parecer que ele estava brincando de jogo da velha.

— Olá, Sakura — disse ele, sem levantar o olhar. — Em que posso ajudá-la?

— Vim lhe dizer que a mudança de lugares e seu plano de aulas estão me deixando constrangida.

O técnico inclinou-se para trás e cruzou as mãos por trás da cabeça.

— Gosto da mudança de lugares. Quase tanto quanto gosto da nova tática homem a homem que aplicarei no jogo de sábado.

Coloquei uma cópia do regulamento escolar e dos direitos dos alunos sobre o livro.

— Pela lei, nenhum estudante deve se sentir ameaçado enquanto estiver nas dependências da escola.

— Você se sente ameaçada?

— Eu me sinto constrangida. E gostaria de propor uma solução. — Como o técnico não me interrompeu, respirei fundo, confiante. — Eu me ofereço para monitorar qualquer aluno de qualquer uma de suas turmas de biologia... se deixar que eu volte a me sentar com a Ino.

— Sasuke bem que precisa de um monitor. Resisti à vontade de ranger os dentes.

— Isso vai contra o que estou lhe pedindo.

— Você viu hoje? Ele participou da discussão. Passei o ano inteiro sem ouvi-lo dizer uma palavra, mas bastou colocá-lo ao seu lado e... Bingo! A nota dele vai melhorar.

— E a de Ino vai cair.

— É o que acontece quando não dá para olhar para o lado e copiar a resposta certa — disse ele secamente.

— O problema de Ino é a falta de dedicação. Eu posso monitorá-la.

— Nada disso — ele disse, olhando para o relógio. — Estou atrasado para uma reunião. Já acabamos?

Queimei o cérebro tentando encontrar mais um argumento, mas aparentemente eu estava sem inspiração.

— Vamos ver como ficam as mudanças daqui a algumas semanas. Ah, e eu estava falando sério sobre o fato de Sasuke precisar de um reforço. Conto com você.

O técnico não esperou resposta. Começou a assobiar e saiu.

Às sete da noite, o céu já se tingira de um azul muito escuro. Fechei o zíper do casaco para me proteger do frio. Ino e eu nos dirigíamos ao estacionamento do cinema, depois de assistir a O Sacrifício. Eu estava encarregada de fazer resenhas de filmes para o eZine e como já havia visto tudo o que estava em cartaz, precisamos nos conformar em assistir ao mais novo filme de terror urbano.

— Esse foi o filme mais esquisito que eu já vi — disse Ino. — Vamos combinar que não devemos ver mais nada que lembre de longe um filme de terror.

Por mim, tudo bem. Considere que alguém andou espreitando a janela do meu quarto na noite anterior. Some a isso o fato de que acabamos de assistir à historia de um maníaco perseguidor no cinema. Não era de espantar que eu estivesse começando a me sentir um pouco paranóica .

— Dá para imaginar? — disse Ino. — Passar a vida inteira sem ter noção de que você só continua viva para ser oferecida em sacrifício.

Nós duas trememos.

— E aquele altar? — prosseguiu ela, perturbadoramente alheia ao fato de que eu feria falar sobre o ciclo de vida dos fungos a discutir o filme. — Por que o vilão esquenta a pedra no fogo antes de amarrar a garota? Eu cheguei a ouvir o chiado da carne queimando.

— O.K.! praticamente gritei. — Para onde vamos?

— E, caramba, se algum dia um sujeito me beijar daquela forma, vou vomitar. Chamar aquela boca de repugnante é pouco. Era maquiagem, não era? Sério: ninguém tem uma boca daquelas na vida real...

— Preciso entregar a resenha até a meia-noite — interrompi.

— Ah. Certo. Vamos para a biblioteca, então? — Ino destrancou as portas de seu carro, um Dodge Neon 1995 roxo. — Você anda muito nervosinha, sabia? Deslizei para o assento do carona.

— A culpa é do filme.

A culpa era do tarado que estava à minha janela na noite anterior.

— Não estou falando só de hoje. Eu percebi — disse ela, com um sorrisinho malicioso — que nos últimos dois dias você tem ficado bem rabugenta depois das aulas de biologia.

— Fácil. A culpa é do Sasuke.

O olhar de Ino se dirigiu ao espelho retrovisor. Ela o ajustou para poder olhar melhor a boca, passou a língua nos dentes e deu um sorriso ensaiado.

— Preciso admitir: o lado negro dele me atrai.

Não tinha desejo algum de admitir, mas Ino não era a única. Eu sentia uma atração por Sasuke que nunca havia sentido por ninguém. Havia um magnetismo sombrio entre nós. Perto dele, eu me sentia seduzida pelo perigo. A qualquer momento, parecia que ele poderia me fazer passar dos limites.

— Depois dessa, fiquei com vontade de...

Fiz uma pausa, tentando pensar exatamente o que eu me sentia tentada a fazer mesmo diante de nossa atração por Sasuke. Seria algo desagradável.

— Vai me dizer que não acha ele bonito? — provocou Ino. — Se disser, prometo nunca mais tocar no nome dele.

Liguei o radio. Devia haver alguma coisa melhor a fazer com a nossa noite do que estragá-la convidando Sasuke, mesmo que virtualmente, a participar dela. Sentar ao lado dele durante uma hora por dia, cinco dias por semana, era bem mais do que eu podia suportar. Não ia dedicar a ele também as minhas noites.

— E aí? — insistiu Ino.

— Ele pode até ser bonito, mas eu seria a última saber. Meu julgamento não é imparcial. Sinto muito.

— O que você está querendo dizer?

— É que a personalidade dele me incomoda tanto que beleza alguma pode compensar.

— Não estamos falando de beleza. Ele é... agressivo. Sexy.. Revirei os olhos.

Ino buzinou e pisou no freio quando um carro cortou sua frente.

— O quê? Não concorda? Ou rude-e-rústico não é o seu tipo?

— Não tenho um tipo — disse. — Não sou uma pessoa tão limitada.

Ino caiu na gargalhada.

— Você, meu bem, é muito mais do que limitada: é presa. Travada. Seu leque de possibilidades é tão amplo quanto um daqueles micro-organismos do técnico. São pouquíssimos os meninos da escola para quem você daria mole. Se é que existe algum.

— Não é verdade — pronunciei as palavras de forma instintiva. Só depois de dizê-las me questionei quanto seriam verdadeiras. Nunca tinha me interessado seriamente por alguém. Isso é assim tão bizarro? — Não tem a ver com os caras. É o... amor. Ainda não encontrei.

— Não estamos falando de amor — disse Ino. — Estamos falando de diversão.

Levantei as sobrancelhas, em dúvida.

— Beijar um cara que eu não conheço, por quem não sinto nada, isso é diversão?

— Você não prestou atenção às aulas de biologia? É muito mais do que beijar.

— Ah — disse com um tom cheio de sabedoria. — O pool genético já está bem desvirtuado sem a minha contribuição.

— Quer saber quem eu acho que deve ser gostoso de verdade?

— Gostoso?

— Gostoso — repetiu ela com um sorriso indecente.

— Acho que não.

— Seu parceiro.

— Não chame ele assim — disse. — "Parceiro" tem uma conotação positiva. Ino espremeu o carro em uma vaga perto da entrada da biblioteca e desligou o motor.

— Você nunca imaginou como seria dar um beijo nele? Nunca deu uma olhada para o lado e imaginou se jogar nos braços de Sasuke e encostar sua boca na dele?

Encarei-a com um olhar que eu esperava que transmitisse quanto estava horrorizada.

— Você já?

Ino sorriu.

Tentei imaginar o que Sasuke faria se soubesse disso. Por menos que o conhecesse, percebia a aversão que nutria por Ino como algo tão concreto que poderia ser tocado.

— Ele não é bom o bastante para você — disse eu.

— Cuidado — ela gemeu. — Assim vou querer mais ainda.

Na biblioteca, escolhemos uma mesa no andar principal, perto das obras de ficção para adultos. Abri o laptop e digitei: O Sacrifício, duas estrelas e meia. Duas estrelas e meia era provavelmente uma nota um tanto baixa. Mas eu estava com a cabeça cheia demais e não me sentia particularmente justa.

Ino abriu um saco com chips de maçã desidratada.

— Quer?

— Não, obrigada.

Ela olhou dentro do saco.

— Se você não quiser, vou ter que comer. Eu realmente não queria fazer isso.

Ino estava fazendo a dieta das frutas, baseada em um quadro de cores. Três frutas vermelhas por dia. Duas roxas. Um punhado de verdes...

Ela pegou um chip de maçã e começou a examiná-lo.

— Qual é a cor? — perguntei.

— Verde asqueroso, eu acho.

Naquele momento, Karin Uzumaki — a única aluna da segunda série do ensino médio na história de Coldwater High a entrar para uma equipe universitária principal de líderes de torcida — sentou-se numa cadeira na beirada da nossa mesa. O cabelo ruivo estava arrumado em tranças finas e, como sempre, a pele escondida embaixo de meio vidro de base. Eu estava bem certa sobre a quantidade porque não havia sinal das sardas. Não via as sardas de Karin desde a sétima série, o mesmo ano em que ela descobrira a maquiagem. Havia só um centímetro de saia cobrindo sua calcinha... se é que ela estava usando calcinha.

— Oi, Tamanho GG — disse Karin para Ino.

— Oi, Sardenta Maluca — respondeu Ino.

Mamãe está procurando modelos para trabalhar neste fim de semana. Paga nove dólares por hora. Achei que você poderia ter interesse.

A mãe de Karin é gerente da loja de departamentos CPenney na região e nos fins de semana coloca Karin e as outras líderes de torcida usando biquínis nas vitrines que ficam de frente para a rua.

— Ela tem muita dificuldade de encontrar modelos para lingerie tamanho grande — disse Karin.

— Tem comida nos seus dentes — disse Ino para Karin. — Entre os dois dentes da frente. Parece aquele chocolate laxante...

Karin passou a língua nos dentes e saiu de fininho. Enquanto ela se afastava rebolando, Ino colocou um dedo na boca, fazendo de conta que estava vomitando.

— Ela tem sorte de estarmos na biblioteca — falou Ino. — Tem sorte de a gente não ter esbarrado em algum beco escuro. Ultima chance: quer maçã?

— Dispenso.

Ino levantou-se para jogar fora o petisco. Minutos depois, voltou com um romance. Sentou-se ao meu lado, mostrou a capa e disse:

— Nós vamos ser como essa daí um dia desses. Violentadas por vaqueiros seminus. Como deve ser beijar lábios queimados pelo sol e cobertos de poeira?

— Uma sujeira — murmurei, sem parar de digitar.

— Por falar em sujeira... — o tom da voz dela subiu inesperadamente. — Olhe ali nosso homem.

Parei de digitar apenas pelo tempo suficiente para olhar por cima da tela do laptop. Meu coração deu um pulo. Sasuke estava do outro lado da sala, na fila de saída. Como se percebesse meu olhar, ele se virou. Ficamos nos encarando por um, dois, três segundos. Fui a primeira a desviar os olhos, não antes de receber um sorriso preguiçoso.

Meu coração batia descompassado e disse a mim mesma que precisava assumir o controle da situação. Eu não ia cair naquela. Não com Sasuke. A menos que eu estivesse ficando maluca.

— Vamos embora — falei para Ino.

Fechei o laptop e o coloquei na pasta. Joguei meus livros dentro da mochila, mas alguns acabaram caindo no chão.

— Estou tentando ler o título do livro que ele está segurando... — disse Ino. — Pera aí... Como perseguir pessoas.

— Ele não está pegando emprestado um livro com esse título. — Mas eu não estava tão certa assim.

— É esse ou então Como ser sexy sem fazer força.

— Shh!

— Fique fria, ele não pode nos ouvir. Está falando com a bibliotecária. Está finalizando o empréstimo.

Ao confirmar a informação com uma olhadela rápida, percebi que se saíssemos naquele momento provavelmente o encontraríamos na porta. E então eu teria de falar com ele. Retornei para a cadeira e comecei uma busca cuidadosa (por nada) nos bolsos da mochila, enquanto ele terminava de acertar o empréstimo.

— Você não acha esquisito que ele esteja aqui na mesma hora que a gente? — perguntou Ino.

— Você acha?

— Acho que ele está seguindo você.

— Acho que é coincidência.

Isso não era inteiramente verdade. Se precisasse fazer uma lista dos dez lugares mais prováveis para encontrar Sasuke numa noite qualquer, a biblioteca pública não estaria entre eles. Não estaria nem entre os cem primeiros. Então, o que ele estava fazendo ali?

A pergunta era particularmente perturbadora depois do que tinha acontecido na noite anterior. Não contei para Ino porque esperava que tudo perdesse a importância e desaparecesse da minha memória como se simplesmente não tivesse acontecido. Ponto final.

— Sasuke! — Ino fez de conta que estava sussurrando. — Você está perseguindo a Sakura?

Tampei com a mão a boca de Ino.

— Pare com isso. Estou falando sério. — E fiz cara de zangada.

— Aposto que ele a está seguindo — disse Ino, afastando minha mão. — Aposto também que ele tem histórico de perseguir garotas. Aposto que está cumprindo alguma medida cautelar de afastamento. Poderíamos bisbilhotar na secretaria. Vamos encontrar tudo na ficha dele.

— Não vamos bisbilhotar na secretaria.

— Eu poderia desviar a atenção. Sou boa em chamar atenção. Ninguém veria você entrar. Poderíamos agir como espiãs.

— Não somos espiãs.

— Você sabe o sobrenome dele? — perguntou Ino.

— Não.

— Você sabe alguma coisa sobre ele?

— Não. E prefiro assim.

— Qual é? Você adora uma boa história de mistério, e não existem muitas histórias de mistério melhores por aí.

— As melhores histórias de mistério costumam incluir um cadáver. Não temos um cadáver.

— Não temos ainda! — Ino soltou um gritinho.

Peguei dois comprimidos de suplemento de ferro do fiasco que estava na minha mochila e os engoli de uma só vez.

Ino parou o Neon na entrada da casa dela pouco depois das 21h30. Desligou o motor e balançou as chaves na minha cara.

— Você não vai me levar para casa? — perguntei. Desperdício de fôlego, porque eu sabia a resposta.

— Muita neblina.

— Em algumas Sas....partes do caminho. Ino sorriu.

— Puxa vida. Você não tira ele da cabeça. Não a culpo, claro. Pessoalmente, espero sonhar com ele esta noite.

Eu, hein.

— E a neblina sempre piora perto da sua casa — prosseguiu Ino. — Fico apavorada lá depois que escurece.

Peguei as chaves.

— Muito obrigada.

— Não ponha a culpa em mim. Diga a sua mãe que se mude para mais perto. Diga a ela que existe um novo clube chamado civilização e que vocês duas deveriam se associar.

— Imagino que queira que eu passe para pegar você amanhã antes da escola?

— Sete e meia seria uma boa hora. O café da manhã é por minha conta.

— É melhor que seja um ótimo café da manhã.

— Seja boazinha com meu carrinho. — Ela deu tapinhas no carro. — Mas não tão boazinha. Não quero que ele pense que pode ter vida melhor em outro lugar.

No caminho para casa, permiti que meus pensamentos fizessem uma breve viagem até Sasuke. Ino estava certa: alguma coisa nele era extremamente atraente. E extremamente assustadora. Quanto mais pensava, mais me convencia de que havia algo nele... de errado. O fato de que ele gostava de me contrariar não era exatamente uma novidade, mas havia diferença entre implicar comigo na aula e talvez se dar o trabalho de me seguir até a biblioteca para levar a implicância adiante. Pouca gente faria isso... a não ser que tivesse bons motivos.

Na metade do caminho, começou a cair uma chuva fina das poucas nuvens de neblina que pairavam sobre a estrada. Dividindo a atenção entre a estrada e o controle do volante, tentei encontrar o comando dos limpadores de para-brisa.

A luz dos postes piscava lá no alto, e fiquei imaginando se uma tempestade estava se aproximando. Ali tão perto do oceano o clima mudava constantemente, e uma garoa podia rapidamente se transformar em uma enxurrada. Pisei no acelerador do Neon.

As lâmpadas vacilaram mais uma vez. Senti um calafrio na nuca e os pelos dos meus braços se eriçaram. Meu sexto sentido entrou em alerta máximo. Perguntei a mim mesma se achava que estava sendo seguida. Não havia faróis no espelho retrovisor. Nem carros adiante. Eu estava sozinha. Não era um pensamento lá muito reconfortante. Acelerei até os 70 quilômetros por hora.

Encontrei o comando dos limpadores do para-brisa, mas mesmo na velocidade máxima eles não conseguiam dar conta da chuva forte. O sinal ficou amarelo, então diminuí até parar, verifiquei se vinha outro carro e atravessei o cruzamento.

Ouvi o impacto antes de registrar que um vulto negro deslizava pelo capô do carro.

Gritei e pisei fundo no freio. O vulto bateu contra o para-brisa e ouvi um barulho de vidro quebrado.

Por impulso, virei o volante para a direita. O Neon saiu de traseira e girou no cruzamento. O vulto rolou e desapareceu por trás do capô.

Prendendo a respiração e agarrada ao volante com tanta força que as duas mãos estavam quase dormentes, tirei os pés dos pedais. O carro deu um tranco e parou.

Ele estava agachado a alguns metros, observando-me. Não parecia nem um pouco... machucado.

Estava todo vestido de negro e se confundia com a noite, o que tornava difícil dizer qual era a sua aparência. A princípio não consegui distinguir os traços de seu rosto, mas então percebi que ele usava uma máscara de esquiador.

Ele ficou de pé e se aproximou. Espalmou as mãos contra a janela do lado do motorista. Nossos olhos se encontraram pelo orifício da máscara. Um sorriso letal parecia brotar de seus olhos.

Deu outro golpe. O vidro vibrava entre nós.

Liguei o carro. Tentei sincronizar as ações de passar a primeira marcha, pisar no acelerador e soltar a embreagem. O motor ligou, no entanto o carro mais uma vez deu um solavanco e morreu.

Dei a partida de novo, mas me distraí com um estranho ruído metálico. Observei aterrorizada que a porta começava a ceder. Ele a estava... arrancando.

Engatei a primeira marcha. Meus sapatos escorregavam nos pedais. O motor roncou, enquanto o conta-giros no painel avançava para a zona vermelha.

O punho atravessou a janela com uma explosão de cacos de vidro. A mão tateou meu ombro e segurou meu braço. Dei um grito rouco, pisei fundo no acelerador e soltei a embreagem. O Neon cantou pneus ao entrar em movimento. Ele continuou pendurado, segurando meu braço, correndo ao lado do carro por muitos metros antes de me largar.

A adrenalina me fez avançar a toda a velocidade. Verifiquei o espelho retrovisor para ter certeza de que ele não estava me perseguindo e então afastei o espelho para o outro lado. Tive que apertar os lábios para não cair no choro. 


Notas Finais


É Isso Espero Que Tenham Gostado
Kiss (*3*)


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...