História The World Between Us - Twenty Five: The Nine Tailed Fox

…A Raposa de Nove Caudas…

“There's just too much that time cannot erase”

Assim que Miiko se acalmou, Kero, Nevra e Valkyon trataram de explicar toda a história nos mínimos detalhes para ela. O quarteto se encontrava na Biblioteca, ambos sentados de frente um para o outro e extremamente aliviados.

–Vocês deviam ter me contado antes –dissera a kitsune.

–Acha mesmo que você iria nos escutar? –Kero perguntou, recebendo o silêncio como resposta, sorrindo. –O que importa é que tudo deu certo no fim.

–Nem tudo –completou Valkyon. –Leiftan está solto por aí e, se o que Alajéa disse é verdade, temos que tomar cuidado. Acho difícil ela estar mentindo, até porque estava furiosa.

–Mais importante de tudo: onde Annie e Ezarel estão?

–Eu mandei uma mensagem para eles, provavelmente já estão voltando para o QG –disse Kero.

–Estou tão envergonhada –Miiko levou as mãos ao rosto, cobrindo-o. –Como pude desconfiar da Annie desse modo...?

–Ela deve estar furiosa conosco –Nevra assentiu tristemente. –E com motivos. Não precisa ficar assim, todos nós temos uma parcela de culpa, Miiko.

A Líder da Guarda Reluzente sorriu de modo triste, acenando com a cabeça. Tinha que ficar firme, por Eel.

–Não consigo acreditar que o Leiftan seja o Mascarado, por quais motivos?

Roze. Miiko engoliu seco. Sabia muito bem os motivos que levara Leiftan a fazer isso, mas não era hora de falar sobre o passado. A kitsune admitiu internamente que errou e agiu como um monstro no passado, o loiro tinha motivos de sobra para lhe odiar. Mas querer a destruição do QG? Isso não aceitaria. Balançando a cabeça para os lados e ficando de pé, ela dissera:

–Vamos nos preparar para o pior.

...

Ezarel e Annie caminhavam a passos largos de volta ao QG. A humana sentia seu estômago revirar só de pensar em ter que olhar para Miiko, as lembranças que Leiftan lhe dissera com certeza afetaram a amizade delas. Jamais conseguiria confiar nela como antes. Suspirou pesadamente ao pensar nisso.

–Não estamos muito longe, se apresse –a voz de Ezarel soou autoritária, nem parecia o elfo romântico de horas atrás. Mas era Ezarel afinal de contas, o Líder da Guarda Absinto irritante. Quando se tratava de missões e ordens, não havia ninguém tão exigente quanto ele e isso Annie jamais conseguiria mudar.

A caminhada soou seguida apenas pelos sons dos passos deles e os galhos sendo pisoteados. Não nevava tanto como antes e o clima estava mais agradável, mesmo sendo difícil pisar no acúmulo de neve que havia pelo caminho.

Poderia ter um carro ou ônibus nesse mundo. Annie deu um leve sorriso ao pensar nisso, fazendo a leve saudade brotar em seu peito. Em poucos dias estaria de volta ao seu lar, com certeza...!

–Oh, aí estão vocês –a voz tão familiar soou por trás de ambos, fazendo eles virarem de costas até seus olhos depararem com Leiftan cercado de Black Dogs. –Há quanto tempo, minha neta. Está voltando ao QG? Que coincidência, estou indo exatamente para lá.

A humana nada dissera, sentindo seu rosto ficar vermelho de raiva enquanto Ezarel apoiava a mão em seu ombro para lhe acalmar.

–Para isso que roubou minhas poções? –perguntou Ezarel sarcástico. –Para fazer feitiços de domar cão?

–Valeu a pena –a voz de Leiftan soava tranquila, como se nada daquilo o afetasse. –Então, querida Annie, já acordou e decidiu juntar-se comigo?

–Quando vai desistir e entender que eu nunca irei me juntar a alguém como você? Estou do lado do QG –ao dizer tais palavras, ela enlaçou sua mão com a do alquimista.

–Você os perdoou, mesmo depois de tudo que lhe contei? Eles mentiram para você, Annie! Poderiam ter levado você de volta a Terra, mas esconderam isso apenas para lhe usar.

–Sim, eles mentiram, mas não vou me remoer de ódio por isso. Ezarel irá me levar de volta para Terra, então não tenho com que me preocupar.

Agora foi a vez de Leiftan arregalar os olhos, boquiaberto. Ele pousava seu olhar ora em Annie e ora em Ezarel, procurando alguma pista que isso seja brincadeira nas palavras da humana.

–Mas se ele fazer isso, ele vai...

–Não é da sua conta –Ezarel respondeu rudemente, interrompendo a fala do loiro a sua frente. –Annie quer voltar para a Terra e eu farei isso por ela, fim.

O loiro suspirou pesadamente enquanto fechou os olhos com uma expressão pensativa, decidido. Quando encarou novamente aqueles dois seres a sua frente, ergueu a mão em direção ao alquimista, dizendo:

–Não é nada pessoal, Ezarel. Eu só não quero que tirem a Annie de mim.

Em milésimos de segundos, Ezarel arregalou os olhos e puxou a humana para mais longe, gritando em pânico:

–CORRA! –dito isso, inúmeros Black Dogs vieram em sua direção. –Annie, temos que nos separar! Eles querem a mim, volte para o QG!

–O que?! –ela perguntou enquanto corria ao lado do mesmo. –Eu não vou te abandonar, nem tente Ezarel!

–Eu não estou pedindo! –ele gritou rudemente, tinha que afastar-se de Annie ou algo terrível poderia acontecer com ela. –São muitos Black Dogs, vá buscar ajuda no QG! Eu consigo segurar por algum tempo.

–Não, Ezarel... E-Eu...

–VÁ! –ele gritou em ordem, correndo para o lado esquerdo enquanto a humana permanecia em linha reta, vendo o alquimista desaparecer do seu campo de visão juntamente com uma horda de Black Dogs atrás de si.

–EZAREL! –Annie gritou em desespero, sentindo a realidade pesar. Tinha que buscar ajuda no QG o mais rápido possível. Voltando a correr, ela gritou decidida: –Eu vou te salvar, Ezarel!

...

Após saírem da Biblioteca, Miiko tratou de sair do QG ao lado de Jamon e outros brutamontes como ele –acompanhada também de Nevra e Valkyon. Kero ficou dentro do Quartel General de vigia, não podia deixar o local vazio.

Prosseguiam tranquilamente pela floresta até uma voz familiar soar em desespero, chamando-os.

–SOCORRO! ALGUÉM!

–Annie?! –Nevra gritou, virando a cabeça para o lado que o som vira. Correndo para a floresta, o vampiro correu mais alguns metros até esbarrar com a humana a sua frente, ofegante e desesperada. Ele sorriu em alivio por vê-la bem, mas não tinham tempo para conversas. –Annie, onde está o Ezarel?!

–O Leiftan... –ela falou pausadamente, sentindo falta de ar em seus pulmões. –Ele quer matar o Ezarel, ajudem-no...

–Para onde ele foi? –Valkyon perguntou e, quando a humana apontou a direção, ele correu sem pensar duas vezes juntamente com Nevra e Jamon, deixando a sós uma humana e a kitsune.

–Fico feliz que você esteja bem –Miiko sorriu sincera. –Me desculpe por tudo, Annie. Eu... fui egoísta e agi de forma impulsiva, me perdoe.

–É passado –ela assentiu com a cabeça, sua maior preocupação no momento era o alquimista. –Precisamos encontrar Ezarel.

–Sim –a kitsune concordou, caminhando em passos largos juntamente com Annie para o local. Cerrando os punhos em sinal de raiva, Miiko sussurrou: –Eu irei queimar o Leiftan quando vê-lo.

Caminharam durante bons minutos até finalmente chegarem ao local de guerra, vendo Ezarel ferido levemente no braço esquerdo –provavelmente uma mordida de Black Dog–, Nevra e Valkyon afastando ou destruindo os cães infernais. Jamon protegia o alquimista cansado, enquanto Leiftan estava mais afastado de ambos, encarando Miiko com um olhar fuzilante.

–Annie, vá para perto do Ezarel –a kitsune respondeu seriamente, caminhando em direção ao homem que fora um dia Líder da Guarda Reluzente. Estava tão furiosa por dentro que queria matá-lo, ou melhor, torturá-lo até a morte. –Como você pôde, Leiftan? Eu confiei em você.

–Acha mesmo que eu seria seu amigo, depois de tudo que você fez?

–Nada justifica você ter matado inocentes, destruído vilarejos e roubando as Guardas que nunca tiveram nada haver com o ocorrido há anos. Você jogou sujo, assim como eu fiz, isso faz com que você não seja diferente de mim.

Tais palavras ditas pela kitsune pareceram ter afetado profundamente o loiro, que cerrou os dentes de ódio e controlou inúmeros Black Dogs em sua direção, mas viraram cinzas facilmente com o fogo azul dela.

–Nunca me compare com você, em momento algum! –Leiftan gritou de ódio, revelando sua verdadeira face. Miiko sentiu uma pontada de culpa por tê-lo transformado nesse monstro, nunca percebendo ou notando como ele havia ficado durante todo esse tempo.

Ele continuou atacando-a a distância, mas esses meros ataques nem chegavam próximo de si. Miiko é um dos seres mais fortes de Eldarya, não é atoa que se tornou Líder da Guarda Reluzente. O ataque permaneceu por longos minutos, o que irritava de forma moderada ambos.

Miiko tinha o fogo azul infinito, só deixaria de atacá-lo caso seu cajado fosse tirado de suas mãos. Leiftan tinha o feitiço que controlava os Black Dogs, podia cria-los em segundos sem fim. Um pouco mais atrás deles, Annie, Ezarel, Nevra, Valkyon e Jamon observavam tudo com a respiração pesada e a ansiedade a mil.

Tinham que dar um fim nisso.

–Eu não queria fazer isso... –a kitsune suspirou tristemente, decidida. Se Leiftan não se render por bem, não teria outra opção. –Sinto muito, de verdade.

Antes mesmo que o loiro pudesse entender, Miiko jogou seu cajado de forma brusca no chão, quebrando-o. Todos presentes naquele local arregalaram os olhos de forma abrupta. O fogo azul, que antes era contido pela força do cajado mágico, agora estava livre e circulava pelo ambiente.

A kitsune sentiu todo seu corpo ser tomado pelas chamas e o fogo engolir sua consciência, tornando-se uma espécie de animal sem razão. Então, como uma presa prestes a destruir sua vítima, ela lançou todas as chamas possíveis em direção ao loiro, queimando-o.

–Ela irá o matar! –Annie gritou em choque. Jamais vira a kitsune agir dessa forma e nunca viu as chamas azuis se propagarem tanto.

–Todo o poder de Miiko estava selado naquele cajado –Valkyon dissera com os olhos arregalados, como se tivesse lido a mente da humana. –Agora, com ele destruído, ela acaba se tornando um ser irracional.

As chamas azuis se espalhavam não só pelo corpo dela ou por Leiftan, mas também pela floresta. Céus, isso seria um caos caso ninguém a parasse! Annie cobriu os lábios em pânico, rezando para todos os deuses possíveis. Os gritos agoniantes de dor de Leiftan ecoavam pela sua mente, fazendo a mesma tapar os ouvidos e agachar-se no chão. Não importa qual tipo pessoa seja, ninguém merece morrer daquele jeito.

Como se suas preces fossem ouvidas, a voz de Kero recintando palavras em outro idioma surgiu no ambiente, fazendo todos focarem seu olhar no homem de cabelos escuros. A cada frase que ele completava, as chamas de Miiko desapareciam mais e mais, assim como a kitsune chacoalhava a cabeça para os lados como se quisesse escapar daquele som.

–Miiko! –Kero gritou preocupado ao finalizar o estranho “ritual”, correndo para socorrer a raposa desmaiada. O cajado havia voltado a sua aparência normal, como se as palavras de Kero fossem um passe de mágica.

–Não sabia que havia um feitiço para conter as chamas das raposas, muito menos sabia que você conseguia –Nevra dissera surpreso, aproximando-se juntamente com os outros.

–Jamon, me ajude a levá-la de volta ao QG –o brutamonte obedeceu, segurando Miiko em seus braços sem dificuldade e tratando de caminhar de volta. Em seguida, Kero ficou de pé e disse: –Miiko quase nunca contou isso a ninguém porque tinha receio das pessoas ficarem com medo ao vê-la dessa forma. Acreditem: kitsunes são espécies más vistas e desprezadas em Eldarya.

Ele não dissera mais nada e tratou de seguir Jamon em caminho do QG, deixando todos completamente confusos com o que acontecera. Após longos minutos de raciocínio, ambos trataram de acompanha-los silenciosamente durante o trajeto. Ezarel, por sua vez, parou somente para chamá-la:

–Você não vem, Annie?

–Ah, estou indo –ela respondeu em voz alta, dando alguns passos em direção ao alquimista azulado.

Porém parou rapidamente, somente para encarar os restos das cinzas de Leiftan que restaram das chamas azuis enquanto elas desapareciam com o vento. Quando Miiko dissera mais cedo que queimaria o loiro ao vê-lo, Annie pensou que ela estivesse falando num momento de raiva.

Mas hoje ela descobriu a verdadeira força da tão temida e misteriosa Líder da Guarda Reluzente.