História The Worst Memory - Five months ago

Nunca tive coragem suficiente para demonstrar meus sentimentos, sempre tive medo de não ser amada, de não ser correspondida, talvez eu nunca tenha sido uma pessoa corajosa, tento convencer até a mim mesma sobre a minha coragem, porém sei que obtenho algo incomum, algo que apenas eu possuo, algo unicamente meu. E não, eu não sei o que é, mas eu sinto, parece estúpido, até porque todos os seres humanos são únicos e iguais ao mesmo tempo, mas eu sei que lá no fundo, eu não sou igual e nem parecida com nenhum deles.
Sempre tive muito talento para desenhar qualquer coisa, desde pequena fazia desenhos de mim mesma e da minha família, mas eles eram um pouco diferentes dos desenhos que vocês estão pensando, eu não fazia rabiscos, eu fazia o desenho, eu conseguia fazer os mínimos detalhes do rosto de qualquer pessoa, incluindo os de minha mãe e de meu pai, como rugas e olheiras, meu pai amava, mas minha mãe sempre me pedia para deixar ela mais jovem, como se ela fosse muito velha.

Minha avó sempre dizia que eu era muito talentosa, e que se eu crescesse e exercesse uma profissão que envolvesse essa área de desenho, eu estaria feita na vida. Mas eu sempre fui muito modesta, e nunca admitia o quanto os meus desenhos eram bonitos, originais, e caprichados. Ao longo dos anos, eles acabaram se aperfeiçoando ainda mais, mas isso é porque eu faço aula particular de desenho desde os meus oito anos e meio. Meu professor é o meu tio, e nossa! Ele tem muito mais muito talento, talvez eu tenha puxado a ele. No ano passado ele fez um quadro para mim no meu aniversário, retratando nele, eu mais velha com os dois bolsos cheios de dinheiro ao lado do Leonardo da Vinci, eu passei o dia inteiro rindo e gargalhando do desenho, que acabou ficando pendurado na parede do meu quarto até hoje. E digamos que o meu rosto no desenho está bem estranho, porque a minha boca está grande demais e meus olhos muito pequenos. 

Hoje é sexta feira, e como sempre eu sou mais animada e criativa nesses dias, consegui levantar até mais cedo da cama para me encontrar com os meus amigos, e ir para a escola com eles a pé, pois ela fica a menos de três quarteirões da minha casa, e meus vizinhos moram do meu lado praticamente. Liguei primeiramente para a Kaia, porque ela é a que mais demora a se arrumar, depois liguei para a Crista e por fim para o Dante, que chegaram em menos de 5 minutos na minha casa, o que também era um recorde. Depois de uns 10 minutos a Kaia também chegou, e fomos para a escola.

Estou no segundo ano do ensino médio, o que significa que falta apenas um ano para terminar a escola, o que no caso me deixa extremamente feliz em todos os sentidos, se é que vocês me entendem. A minha mãe trabalha o dia inteiro, ela é enfermeira, e por causa dos plantões sempre chega mais tarde e quando chega um pouco mais cedo,  quase fazemos uma festa de tão raro que é, meu pai também chegava tarde, mas depois que ele faleceu de infarte há dois anos atrás, minha avó decidiu morar com a minha mãe para passar mais tempo comigo, porque ela sabia que aquilo me matava por dentro, me torturava de uma forma que chegava a arder em meu peito, como se eu tivesse levado centenas de facadas ao mesmo tempo, e por ele ter partido, não só ela, mas todos sabiam que o meu coração estava praticamente vazio, em pedacinhos.

Eu e meu pai tínhamos uma conexão muito forte, era como se ele vivesse por mim e eu para ele, passávamos horas conversando, quando ele podia, e gargalhando sem motivo, sabe, se existe alguém que me entendia completamente, era ele. 
Na escola eu sempre fui uma garota muito na minha, digo, introvertida, não gosto de chamar atenção e nem de arrumar encrenca, prefiro ter poucos amigos do que muitos, porque pelo menos eu sei que os que eu tenho, são verdadeiros, sem dúvida.

A primeira amiga que eu fiz na escola foi a Kaia, ela sempre foi muito honesta, sincera e companheira, e a gente não se desgrudava na escola nem por um segundo, e quando saiamos inventávamos um motivo para irmos uma na casa da outra conversar e assistir filmes, o que para nós naquela época era incrível (e ainda é). A segunda foi a Crista que acabou se dando muito bem comigo e com a Kaia, e deixamos ela entrar para o nosso "grupinho". E o terceiro foi o Dante, o conhecemos um pouco diferente (ou muito), a primeira vez que eu e as minhas amigas o vimos, ele estava caído atrás da escola, no chão todo machucado, com hematomas e cortes profundos, os dois olhos estavam roxos, nós três ficamos desesperadas e levamos ele para a minha casa, ajudamos ele, colocando curativos e gelos nos hematomas, ele ficava o tempo inteiro calado, não abria a boca para falar absolutamente nada, e a Crista enchia ele de perguntas a cada dois segundos.

Só depois de um bom tempo, ele respondeu com dificuldade (porque a sua boca estava muito inchada, por causa dos murros que ele levou), dizendo que apanhou por ser gay e começou a contar para a gente cada detalhe do acontecimento. Nós ficamos extremamente revoltadas com essa situação, pois não imaginávamos até onde a maldade do ser humano podia de fato chegar, no caso, aqueles três caras que bateram nele, não eram humanos, eram monstros, e o pior de tudo, é que o Dante não sabia e nem se lembrava de quem o havia agredido. Quando os pais dele descobriram sobre o ocorrido (ele contou no dia seguinte), foram reclamar na escola (por ser na rua de trás,  podia ser algum aluno da nossa escola), e na polícia para fazerem um boletim de ocorrência. Com o tempo Dante acabou se tornando o nosso melhor amigo, ele era muito animado, afetuoso e sempre fazia de tudo para ver a gente sorrindo, mesmo nas piores situações, o que me fazia ficar mais apegada a ele. E felizmente ninguém nunca mais fez nada contra ele, mas mesmo assim, espero que aqueles monstros desalmados, tenham pagado pelo o que fizeram com ele.