História Yandere Book - Stalker

Ele andava como se nada pudesse abalá-lo. Mesmo após um longo dia de aulas, ele ainda possuía energia para manter os ombros alinhados numa postura perfeita, enquanto seus longos passos o guiavam até seu destino. 

Como você consegue ser tão perfeito?

O lugar para onde ele ia era óbvio, tantas haviam sido as vezes que ele tinha tomado aquele mesmo caminho, ainda assim até que estivesse em sua casa seguro e protegido, eu não iria me afastar. 

Então o seguia, sutilmente, nas sombras já longas dos prédios e por entre becos e ruas escuras.

A atenção a cada um de seus movimentos era essencial, meus olhos nunca ficavam muito tempo longe de sua figura. Por isso vi facilmente aquele momento. O momento que ele olhou para trás.

... Ele está olhando... pra mim?

Embasbaquei, pelo mais breve momento, antes de perceber que obviamente ele não podia me ver pois eu estava há alguns passos de distância, atrás de um estande de jornais. 

— Kio-kun! 

A voz feminina cortou o silêncio do fim da tarde. Hesitante, mesmo em suas passadas rápidas, uma garota apareceu. Uma garota desagradavelmente conhecida e gravada em minha mente com aquela maldita trança rosa e aquelas malditas meias azul-bebê.

Ichu Uonna.

Uma foto da garota foi adicionada a galeria do celular, posteriormente seria mais uma a integrar o mural que eu preparava com informações sobre aquela que poderia roubar meu amado de mim.

— Ah, Uonna-san? Bem que eu senti alguém me seguindo. 

— Ainda bem que consegui te alcançar. — falou, ofegante pela corrida, antes de sorrir — Você deixou seu caderno em um dos bancos do telhado. Achei melhor devolver.

— Deixei? — ele abriu sua bolsa para verificar, e quando percebeu a falta do material, seus olhos se arregalaram. 

— Da aula de Matemática, ainda por cima. Quando vi, tive que correr. — ele agarrou o caderno como se fosse um objeto de valor inestimável. 

— Você salvou a minha vida. Se estivesse sem ele não sei o que seria de mim. — ele sorriu, com completo alívio e gratidão, adicionando uma reverência rápida para dar mais valor a suas palavras. 

— Se quiser, mas só se quiser mesmo, eu posso... Ajudar você. 

— Sério?

— S-Sim, eu não me importaria... de estudar com você. — ela abaixou o olhar, tendo um interesse súbito na barra do casaco.

— Você é um anjo que desceu dos céus pra me salvar. — não pude evitar a expressão de desgosto face ao tremendo exagero, já a reação dela foi mais inclinada para a surpresa e súbita vergonha. Os olhos arregalados, emoldurados pelos óculos, piscaram lentamente. 

— N-Não, você não devia exagerar tanto assim! Só fiz um favor, nem se compara ao que você fez por mim, então, então não foi nada! A-Agora eu... eu tenho que ir! Até amanhã, Kio-kun!

Ela disparou rua abaixo, voltando pelo caminho de onde tinha vindo e o deixando sozinho antes que pudesse responder. 

– Até... ?

Com o caderno em mãos, ele abriu uma página marcada. Um olhar rápido seguido de um sorriso.

Perfeito.

Perfeito a ponto de necessitar de outro registro em imagem. Mais uma foto. 

Quando eu chegar em casa eu penso na Ichu. A prioridade agora é outra. 

Continuei o seguindo até que parou em uma loja de conveniência, onde entrou. Sua bolsa foi colocada em um guarda-volume. Quando entrei, fiz o mesmo. 

Em um dos corredores, o vi parado. Cuidadosamente analisando as inúmeras revistas organizadas. Um volume em específico chamou sua atenção, mas não consegui ver do que se tratava. Encostado na parede, lendo e ignorando qualquer um que passasse com olhar no mínimo julgador, ele parecia completamente distraído. E nisso, uma idéia surgiu. 

Voltei ao guarda e pedi minha bolsa. Indiquei o compartimento que continha a mochila do meu senpai, e que intencionalmente era igual a minha. Peguei a bolsa e saí da loja, me distanciando apenas até a luz interna não me alcançar. Tudo que eu desejava era um lembrete, um item que pudesse me lembrar sempre dele. Apenas mais um para minha crescente coleção. 

Entre as suas posses, um livro de filologia japonesa. Duvidava que ele se interessasse tanto pela língua, mas não podia ter certeza. 

Uma ótima adição à coleção... Mas muito notável. 

Uma garrafa d'água.

Mas se ele sentir sede enquanto volta para casa... 

Seus cadernos. Dando asas a curiosidade, procurei o caderno que a Ichu tinha entregue e abri na página marcada. Um bilhete escrito a mão numa cuidadosa caligrafia: 

"Kio-kun, não esqueça mais suas coisas ou eu vou ter que te seguir todos os dias para entregar.

Mas eu realmente não me importo >v<

- Ichu"

Amassei o papel e o joguei fora. 

Como se eu fosse deixar você fazer o que quer, Ichu-chan. 

Por fim, achei algo perfeito. 

Um bloco de notas do tamanho da palma da mão, composto por desenhos feitos por ele e anotações escritas por ele e rabiscos feitos por ele e amassados feitos por ele e rasgos feitos por ele. Tudo fruto dele. 

Guardei o bloco no bolso da saia e voltei para a loja de conveniência. 

— Desculpe, acho que peguei a bolsa errada por engano. – coloquei a bolsa sobre o balcão e de soslaio vi o Senpai se aproximando. 

Indiquei a bolsa certa e agradeci quando me foi entregue. Antes que ele pudesse sequer ver um fio de meu cabelo, saí da loja. Senti meu coração acelerar quando ele passou do meu lado e ficamos separados apenas pelos centímetros de uma tábua de madeira.

O resto do caminho foi pacato e silencioso. Até que ele chegou na calçada de sua casa e pude enfim focar na problemática. 

Sua vez, Ichu-chan.