Se fosse possível sairia flutuando pela escola, com quão leve me sentia.
Dessa vez tinha chego no horário normal, junto dos outros alunos. Era bom poder dormir um pouco mais, depois de uma semana tão agitada.
Enquanto trocava meus sapatos, vi Rikku segurando sua bolsa um pouco perturbada.
Ela não sabe nem disfarçar.
Caminhei até ela com um amigável sorriso.
– Bom-dia, Rikku-chan! – ela se virou, irritada.
– Você! Sua…
– Já pensou em que clube vai entrar? Eu acho que você se daria super bem com o pessoal da fotografia. – aquilo foi o suficiente para lembrá-la da nossa conversinha.
– ...A…
– Só tome cuidado com a escolha. Você pode se arrepender depois. – sorri e continuei meu caminho.
Já tinha decidido que clube iria entrar. Mesmo que não fosse me trazer muitos benefícios, era aquilo que eu queria.
Nem tudo é só o que traz benefícios…
Subi as escadas para os clubes no segundo andar. Passei direto pelo clube de artes marciais, onde já estavam treinando, e fui em direção ao clube de música.
Apenas três alunos estavam lá, incluindo a líder. Ela parecia estar afinando os instrumentos enquanto um garoto limpava o aquário e o outra “trabalhava” deitada no chão.
– Hey, punk! – o menino que estava limpando o aquário me chamou – Tá afim de se juntar ao clube? – assenti.
– Cool! Só falar com a Myu-senpai, logo ali. – fui até a líder. Seus cabelos era um mesclado de azul, rosa e roxo e a braçadeira vermelha indicava sua posição.
– Olá, eu quero me juntar ao clube.
– Sério! Não estava esperando que ninguém viesse logo hoje! Esse ano a gente re-incluiu alguns instrumentos clássicos, então nosso currículo tá bem amplo e mais maneiro! – ela falava animada. – …Mas antes de se tornar um membro, você terá que responder uma pergunta.
Os outros dois membros fecharam as portas e ficaram ao meu redor.
– Responda sabiamente…
– Certo…?
– Se fosse lhe dada uma escolha e só pudesse escolher uma das opções… Qual escolheria? – ela começou.
– 1. Salvar o mundo, sacrificando sua família. So bad! – o garoto do aquário falou.
– 2. Matar todos para salvar uma única pessoa a quem você ama. – o outra falou.
– 3… Comer um prato de spaghetti e deixar todos perecerem. – a presidente completou.
– Err… – Claramente a segunda… – 3?
Os três sorriram.
– BEM-VINDA AO CLUBE! Agora que você é um membro quase oficial, vamos nos apresentar. A líder sou eu, A Grande Myu Jishan!
– Prazer, punk, Segare Utau. É um nome estranho, fazer o que.
– Gao Shiri. Ou Gashi, sua escolha.
– Umi Yokoshima, mas podem me chamar de Shima.
– Ok! Shima-chan, agora parte dois para se tornar membro oficial-oficial. Que instrumentos você toca?
– … Eu canto… Toco violino e… piano.
– Então, Shima-chan, mostre seu talento. – eles tiraram um tecido que cobria o piano.
– Ahn? O que vocês querem que eu toque?
– O que você quiser, punk.
– Qualquer coisa, sua escolha.
– Como esse é o teste para membro oficial-oficial, não vamos especificar nada. Vai lá.
…Faz um bom tempo que não toco…
Me sentei no banco do piano, e estalei os dedos.
…Quando foi a última vez?
Dedilhei as teclas e então comecei. A música era familiar, mas não conseguia me lembrar de onde era.
Por um momento, tudo desapareceu. A raiva que eu tinha por Ichu parecia ter desaparecido junto das memórias do que eu tinha feito.
Nem mesmo meu Senpai me vinha à memória. Cada tecla me transportava para anos no passado.
Aquela última vez que toquei…
Estava chovendo…
Mas não exatamente ali.
Em algum outro lugar estava chovendo.
Meu pai estava na cozinha preparando uma torta… ou seria um guisado?
Koshi estava desenhando. E eu no piano, sem conseguir tocar nada.
– Que foi, Mi-chan?
– Nada…
– Sabe que não consegue mentir pra mim, não sabe?
– Não consigo lembrar… Não consigo lembrar a música.
– … A verdade, Mi-chan.
– … Eu tô com saudades da mamãe…
– Ah… Mas ela vai voltar. E se não o fizer, eu vou continuar aqui.
– Ela disse que odiava a gente… Chamou o papai de monstro.
– Isso não é verdade. Ela falou sem pensar. – Koshi me abraçou, mas havia algo no seu tom... – Isso não é tudo, é? – ele conseguia ver que algo permanecia guardado, algo que eu não iria falar.
– É só isso.
– Mi-chan... – ele via através de minha mentira, mas não insistiria, não gritaria. Sentando ao meu lado, tocou as primeiras estrofes:
– Don't you know that you could tell me anything.
And I would tell not another soul.
In the end, when the laughter's gone.
I think we both feel quite alone.
– … I can tell by the way that you speak to me.
That there's so much that you might know.
Even so, it won't fill the emptiness.
That chills me in my heart… – continuei a tocar, com Kai me ajudando.
Aquela foi a última vez que ficamos tão próximos.
A última vez que chamamos um ao outro pelos nossos apelidos.
… A última vez que toquei.
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Now and then, when you can find the company
Somehow it’s always behind locked doors
Making promises you don’t want
Because you’ve made them once before
Don’t you feel like you’re a mess sometimes?
I hope you know that it’s okay
Searching endlessly for your distraction
Just to make it through the day
You don’t have to have everything
Sorted out right now
Just take your time
Don’t you know that you could tell me anything
And I would tell not another soul
Go ahead, you can make your threats at me
But one day, I’ll be gone
Quietly, you can make your confessions
Through the string of truth as you speak in jest
I can hold it within my heart
Till I am finally laid to rest
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Quando terminei, notei uma leve lágrima escorrendo por meu rosto.
Estranho…
Suspirei e virei para os membros do clube, os três estavam atônitos.
– V-Você… Isso foi… – Gashi começou, tentando formular uma frase – A música… Eu reconheci de imediato, mas…
– Foi a forma que você tocou e cantou... Feels, punk… – Não era para isso ter acontecido.
– Umi Yokoshima… Você é agora um membro oficial-oficial. – Myu-senpai me entregou uma presilha de cabelo em forma de clave de sol.
– … Obrigada!
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