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História (They Long To Be) Close To You - O Teste do Sorvete


Escrita por: cluelesskaru

Capítulo 3 - O Teste do Sorvete


Min Yoongi é uma pessoa racional.

Ele sabe que as pessoas se convencem a se apaixonar. Que relacionamentos não são coisas que se esgueiram para dentro de nós, ele sabe que nós temos que deixar a outra pessoa entrar. E, bom, ele admite que isso pode até acontecer sem um consentimento consciente, mas nunca se a pessoa está fechada para aquilo.

E Min Yoongi definitivamente não é o tipo de pessoa que se apaixona conscientemente e de bom grado. Atualmente ele sem dúvida se classificaria no lado indisponível emocionalmente do espectro.

Por exemplo, Park Jimin é adorável, gostoso, barulhento e ele foi um ponto brilhante na existência aparentemente escura de Yoongi. O bibliotecário estava passando por um período bem ruim da sua vida quando o mais novo (e desavisado) sentou na mesa dele na biblioteca da escola. Era o último ano de ensino médio de Yoongi e se apaixonar tinha sido bem fácil.

O então loiro se apegou por Jimin tão prontamente, que a única forma que ele pode explicar hoje em dia é que elei estava dolorosamente solitário e que se alguém é fácil de amar, esse alguém é Park Jimin. Foi um amor capaz de salvar vidas e reconstruir mundos, e durou apenas um curto verão.

Algumas lágrimas e muita conversa depois, ambos perceberam que seriam melhores como apenas amigos. Eles eram diferentes demais, Yoongi não conseguia acompanhar Jimin na maior parte do tempo. Mesmo com esses detalhes, aquele foi o único relacionamento de Yoongi que ele considera ter sido saudável. Sim, Yoongi já namorou bastante, tudo quanto é tipo de gente, praticamente pulou de um relacionamento para o outro desde os seus quinze anos. Já quebrou muitos corações e teve o seu quebrado muitas vezes também.

Então, nos últimos dois anos ele se contentou em se concentrar na faculdade e no trabalho, em vez de namorar.

Só que mesmo assim, aqui ele está. De novo.

Yoongi acordou de seu sono inquieto e depois de passar um café bem forte, voltou direto para a sua monografia. Quando era perto da hora do almoço, seu celular apitou tristemente antes de ficar sem bateria e desligar. Sem dar muita atenção, Yoongi o colocou no carregador e voltou a escrever.

Era por volta de cinco da tarde quando alguém começou a bater na sua porta insistentemente. Yoongi se levantou com calma, esticando e estalando todos seus ossos e músculos de volta para seus devidos lugares, e abriu a porta de casa sem nem olhar pelo olho mágico.

‒ Eu ‘tô vivo.

Yoongi anunciou sem expressão antes que seus amigos, claramente putos, possam dizer algo.

‒ Você não responde as minhas mensagens desde ontem de manhã. ‒ Jimin vai para cima de Yoongi, cutucando as costelas dele com força. ‒ Seu telefone estava indo direto para a caixa de mensagens desde a hora do almoço!

‒ Desculpa.

Yoongi dá de ombros, abrindo mais a porta para que Namjoon também consiga entrar.

‒ Terminou a mono, Yoon?

‒ ‘Tô revisando agora.

Yoongi respondeu Namjoon e fechou a porta, para poder se virar de volta para um Jimin fumegante.

‒ Eu reviso ‘pra você. A gente trouxe comida.

Namjoon mostra a sacola que carrega e se afasta após tirar os tênis, indo para a área da cozinha, deixando campo aberto para a troca de olhares letal entre Jimin e Yoongi.

‒ Min Yoongi, por que você sempre faz isso?

‒ Desculpa, Jiminnie. Eu sei que não devia deixar tudo pro último segundo.

‒ Você precisa ser mais responsável, hyung. É errado fazer isso com as pessoas que se importam com você!

Yoongi coça a cabeça e desviar o olhar.

‒ Desculpa.

Jimin bufa com raiva e tira a jaqueta, chutando os sapatos para o lado no processo.

‒ Eu vou limpar esse lugar.

‒ Jimin, você não precisa…

‒ Eu tô puto contigo e vou limpar o seu apartamento, então cale a boca e seja grato.

‒ Ok! ‒ Yoongi joga as mãos para o alto em derrota. ‒ Só não toca na minha mesa.

 

É engraçado pensar em como as pessoas reagem umas às outras.  Por exemplo, Namjoon é o tipo de amigo meio paizão. Meio esquisito e sem noção, mas sempre com boas intenções e se importando com os outros. Enquanto JImin é alegre e doce, sempre lá para tentar animar as pessoas. A parte engraçada é como, de certa forma, Namjoon não se preocupa muito com Yoongi. É verdade que ele está sempre alimentando o mais velho e tentando o arrastar para mais interações sociais, mas ele sabe que Yoongi dá conta de si mesmo. Jimin é quem fica nervoso; ele já chegou ao ponto de chorar de raiva e gritar com Yoongi quando ele desapareceu por alguns dias para escrever um trabalho.

Só alguns dias, ele não tinha sumido nem por uma semana inteira, poxa.

Jimin acaba limpando a kitnet de Yoongi inteira. É praticamente uma caixa de 30m², com um pequeno espaço de cozinha junto do quarto, que também serve como sala de estar; com uma poltrona confortável e a mesa de Yoongi espremida contra uma parede. Mesmo dentro de um espaço tão limitado, Yoongi consegue fazer uma bagunça impressionante. Jimin nunca deixa de ficar chocado.

Enquanto Namjoon revisa o trabalho de Yoongi, Jimin se acalma (depois de ele mesmo ligar o telefone de Yoongi) e agora fala sem parar, atualizando Yoongi em todos os detalhes da vida de todo mundo desde a última vez que eles se falaram. Os três jantam sentando nos chão, encostados na cama de Yoongi e tudo é na verdade bem confortável e tranquilo.

Lá pelas nove da noite Namjoon termina de revisar o texto de Yoongi e ele e Jimin decidem que é hora de ir embora, já que os dois precisam acordar cedo no dia seguinte. Yoongi fica um pouco curioso com o jeito que Joonie e Jimin parecem andar grudados ultimamente, mas não diz nada.

Então, e só então, Yoongi vai checar as suas mensagens. A última vez que ele mexeu em seu celular foi ontem à noite, quando checou se Jungkook tinha chegado em casa bem. Depois disso ele jogou o celular para longe, decidido em não olhar mais nenhuma mensagem enquanto ele não acabasse de revisar a sua monografia.

Min Yoongi não é um covarde; ele apenas é um escritor muito concentrado e queria manter uma mente limpa para trabalhar. Só isso.

Depois de um banho rápido, Yoongi finalmente checa as mensagens.

 

kook @ 00:33

hyung, vc ainda tá estudando?

kook @ 01:48

tá acordado? n to conseguindo dormir

kook @ 02:17

espero que a monografia esteja saindo bem

boa noite, bibliotecário

kook @ 11:26

b dia

kook @ 14:07

crl

vc vai ficar escrevendo o dia todo de novo, não vai?

kook @ 15:19

me diz que vc tá pelo menos comendo direito

kook @ 17:56

ok, tô parecendo um trouxa aqui

fala comigo quando vc terminar isso aí

se quiser.

 

O coração de Yoongi está acelerado.

 

Min @ 21:34

Acabei, terminei meu TCC

Desculpa ter sumido

Mas eu acabei, nunca mais vou ter que fazer isso :)

Você acredita??

Min @ 21:50

Jungkook?

 

As mensagens foram marcadas como lidas dois minutos depois de terem sido enviadas, mas nenhuma resposta veio. Então Yoongi decidiu que era um bom momento para se jogar na cama e assistir alguns programas de entretenimento ruins na TV.

O seu trabalho de conclusão de curso está pronto. Melhor ainda, ele basicamente terminou a faculdade. Uma combinação estranha de sentimentos rodopiam no seu peito; primeiro, tem essa felicidade meio atordoante de finalmente ter terminado, de saber que ele pode fazer o que quiser agora (ele nem precisa esperar a nota sair para saber que vai ser boa, que ele fez um bom trabalho). Mas também tem esse medo pelo mesmo motivo, um “o que diabos eu vou fazer agora?” E por última, mas ainda importante, ele se sente culpado e levemente preocupado por ter ignorado Jungkook por mais de 24 horas, já que ele nunca tinha feito isso antes. Jimin e Namjoon estão mais do que acostumados com os seus desaparecimentos, mas Yoongi não faz ideia se Jungkook vai levar isso numa boa.

Talvez só ver TV não seja suficiente. Ele provavelmente precisa de sorvete. Talvez uma bebida forte também.

Ele se levanta, joga uma blusa por cima da sua camiseta de dormir e tinha cabado de calçar seus sapatos quando o telefone tocou. O identificador de chamada mostra que Jeon Jungkook está ligando. Yoongi deve ficar aliviado ou desesperado? Ele atende antes de alcançar uma conclusão.

‒ Alô?

‒ Yoongi-yah? Eu tô aqui.

Jungkook não o chamava de Yoongi-yah desde aquele dia na biblioteca e Yoongi não tem certeza se o jeito que o seu coração está acelerando do nada fez com que ele ouvisse errado.

‒  O quê? Onde você tá?

Tô aqui em baixo do seu prédio, qual é o seu apartamento?

Yoongi ainda está segurando a maçaneta da porta.

‒ Eu tava pra sair, fica aí, tô descendo.

‒  Beleza.

Jungkook soou alegre antes de desligar. Yoongi apenas segura a maçaneta da porta por mais alguns segundos. Certo. Ele está lá embaixo às dez da noite. Tudo bem. Isso não é motivo para surtar.

Yoongi olha para o seu reflexo no espelho do elevador e se arrepende não ter se checado antes de sair de casa. Seu cabelo é uma confusão de ondas negras por ter secado sem ser penteado, além de já ter passado do ponto de precisar ser cortado. Nada pode ser feito em relação a cor rosada em suas bochechas, mas Yoongi provavelmente devia ter trocado a calça de moletom. Pelo menos ele está cheiroso e com a barba feita. O que mais pode ser esperado dele?

‒  O que você tá fazendo aqui?

A pergunta escapa da boca de Yoongi antes que ele possa segurá-la e ele assusta Jungkook, que estava parado de costas para o portão do prédio. O mais novo se vira em tempo de Yoongi ver seu pequeno sorriso se desmanchar e ser tomado por uma expressão de preocupação.

‒  Você disse que eu podia te levar pra sair quando você terminasse o TCC.

Yoongi não consegue impedir as sobrancelhas de se erguerem também, com o coração ainda batendo muito forte.

‒ Eu disse que você podia me levar pra sair no próximo fim de semana, o da semana que vem, depois que eu terminasse a minha monografia.

‒ Ah. Você terminou de escrever tão rápido, eu pensei-- Ahn. ‒  Jungkook coça a cabeça, subitamente evitando os olhos de Yoongi. ‒ Você tava indo pra algum lugar, né? Desculpa, eu devia ter ligado antes. Tá tudo bem, acho que a gente pode se falar depois? Desculpa, é, uhm, eu vou esperar você me ligar e--

‒  Jungkook.

‒  Sim?

Yoongi se aproxima e Jungkook dá um micro pulo, arregalando os olhos na direção do mais velho.

‒ Eu só tava indo comprar sorvete. Você quer ir comigo ou não?

‒ Desculpa, é que eu tava na casa do meu amigo quando você enviou a mensagem e eu só saí de lá e vim direto pra cá, eu nem pensei muito, então não tem problema se você não me quiser aqui.

‒ Jungkook.

‒ O quê?

‒ Vem comprar sorvete comigo. A gente pode assistir um filme no Netflix ou sei lá. ‒  Yoongi enfia as mãos nos bolsos. ‒ Eu quero você aqui, beleza? Não precisa se preocupar.

‒ Ah…

‒ É. ‒ Yoongi revira os olhos e se aproxima, dando um beijo na bochecha de Jungkook rapidamente. ‒ Oi.

‒ Oi.

Um tom de rosa bem clarinho colore as bochechas de Jungkook, bem parecido com o que esquenta o rosto de Yoongi.

‒ A gente tem um impasse pra encarar agora.

Yoongi tira uma das mãos do bolso e segura a de Jungkook na sua, o puxando em direção à loja de conveniência no outro quarteirão.

‒ O que é?

O mais novo segura a mão de Yoongi firmemente, encostando seus ombros também.

‒ Você gosta de sorvete, certo?

‒ É claro.

‒ Ótimo, isso é essencial. Agora só preciso ver qual sabor de sorvete você vai escolher.

‒ Eu devia me preocupar? Isso tá soando bem sério.

‒ Bom, digamos que você não precisa se preocupar, mas que você não deve levar essa missão levianamente.

‒ Certo. Pode deixar.

A caminhada para a loja de conveniência é rápida, mas parece que uma eternidade passa entre os dois enquanto eles fazendo o seu caminho, de mãos dadas. Jungkook não é muito mais alto, mas ele anda com passadas largas, então ele precisa ir mais devagar para acompanhar os passos de Yoongi. As suas mãos, no entanto, têm tamanhos bem semelhantes; mas onde as de Yoongi são macias e geladas, as de Jungkook são calejadas e quentes.

É meio tarde em uma noite de semana fria de inverno, então as ruas estão praticamente vazias e parece muito importante poder segurar a mão de Jungkook agora. Yoongi não acha que iria passar a oportunidade de fazer isso mesmo se as ruas estivessem cheias. E isso, por si só, é bem assustador. Mesmo que Yoongi goste de homens tanto quanto gosta de mulheres, ele sempre imaginou que fosse namorar uma menina boazinha. Que fosse paciente com o seu comportamento reservado e que seria bonita e inofensiva.

Não que Jungkook seja perigoso? E não é como se Yoongi já estivesse arquitetando planos de longa data na sua cabeça (ele realmente não está). É só que andar de mãos dadas desse jeito é de certa forma corajoso. Todos os dias Yoongi vê no jornal o perigo que é ser da comunidade LGBTQ+ na Coréia do Sul e com os anos ele desenvolveu um medo desabilitante. Um medo de mostrar afeição, de deixar os outros verem o quanto ele se importa. Mas aqui ele está, jogando tudo isso para fora da janela sem nem pensar duas vezes, deixando esse menino segurar ele perto assim.

É tão gostoso que parece mentira.

‒ O que foi?

Jungkook pergunta já dentro da loja, quando Yoongi solta a mão dele para abrir o freezer. O mais novo tem um sorrisinho implicante e Yoongi toca as próprias bochechas com as duas mãos, checando se elas estão tão quentes quanto parecem estar.

‒ Que foi o quê?

‒ Não sei. ‒ Jungkook ri baixinho. ‒ Você tava com um sorriso muito bonito no rosto,  deve gostar muito de sorvete mesmo.

‒ É. ‒ Yoongi cobre a boca com as mãos, tentando segurar o tamanho de seu sorriso. ‒ É, eu gosto muito mesmo.

‒ Qual é o seu sorvete favorito, hyung?

Yoongi abre o freezer e pega um pote de Coffee Coffee BuzzBuzzBuzz, sentindo seus olhos virarem corações pelo melhor sabor de sorvete já inventado.

‒ O que, sem mais de Yoongi-yah?

‒ Desculpa, foi falta de educação minha, né?

‒ Falta de educação…? Yah, ‒ Yoongi dá um soco no ombro de Jungkook. ‒ Você pode falar à vontade comigo.

‒ Tá bom, então vou te chamar só de Yoongi daqui pra frente. ‒ Jungkook morde o lábio inferior, como se a vontade de dizer hyung estivesse se rebelando dentro da sua boca. Ele estica a mão para dentro do freezer também e pega a sua escolha de Ben & Jerry's. ‒ O meu é o de menta com pedaços de chocolate.

‒ Hm. Combina com você.

‒ Então eu passei o teste?

‒ Você ainda nem terminou o teste. ‒ Yoongi empurra seu ombro contra o de Jungkook, enquanto eles andam em direção ao caixa. ‒ Ainda tem que comer esse sorvete todinho.

‒ De uma vez só?

‒ De uma vez só.

‒ Mas e se o meu cérebro congelar?

‒ Você tem que seguir em frente. ‒ Yoongi paga pelos sorvetes antes que Jungkook tenha tempo de pegar a sua carteira. ‒ Nenhuma batalha é facilmente vencida, jovem padawan.

Jungkook faz uma careta e guarda a sua carteira de volta no bolso, pegando a sacola de sorvete da mão de Yoongi.

‒ É uma batalha pra terminar o sorvete ou pra ganhar o seu coração?

Jungkook pega a mão de Yoongi na sua e tenta ir em direção a porta, mas Yoongi não se move e ele vira de volta para ver o que aconteceu.

‒ Não acredito que você acabou de dizer isso.

Jungkook ri, puxando a mão de Yoongi novamente.

‒ Desculpa, mas eu disse mesmo e não vou pegar de volta.

‒ Eh. Eu sei disso.

Yoongi deixa Jungkook puxá-lo e eles voltam para o prédio do mais velho tirando com a cara um do outro o caminho inteiro. Quando eles entram no kitnet, Jungkook começa uma missão de reparar cada detalhe do espaço, enquanto Yoongi conecta o cabo HDMI e pega colheres.

‒ Então. ‒ Jungkook enfia uma colher de sorvete enorme em sua boca, agora encostado contra a cabeceira da cama, pernas esticadas ao lado de Yoongi. ‒ Netflix and chill, é? Esperto.

Yoongi revira os olhos (aparentemente ele faz isso com frequência agora).

‒ O que você quer assistir?

‒ Alguma coisa sinistra.

 

 

Alguma coisa sinistra acabou sendo Palhaços Assassinos, um filme tão tosco e absurdo que quando chegou ao fim, os dois estavam praticamente chorando de tanto rir. Escolha de filme nota dez de dez.

Yoongi tira os óculos e coça os olhos, que realmente estão molhados de tanto rir, tanto dos comentários hilários de Jungkook no decorrer do filme, quanto pelo enredo e falas estúpidas do longa. Quando ele checa o horário no telefone é que ele se toca o quão tarde está.

‒ Você não tem um horário em que tem que estar em casa?

Yoongi ajeita os óculos em cima do nariz e apoia o queixo na mão, para poder olhar melhor para Jungkook. O mais novo se alonga e boceja, sua camiseta se erguendo o suficiente com a ação para que Yoongi consiga ver até o seu umbigo. Tudo está ótimo. Yoongi está sonolento e ao mesmo tempo eufórico demais, após rir tanto, para ser afetado pela visão do estômago definido de Jungkook, ou pelo caminho de pelinhos que vão do seu umbigo até desaparecer dentro da calça.

No decorrer do filme os dois tomam todo o sorvete (Jungkook passou o teste com louvor) e acabam deitados na cama, meio abraçados e meio se contorcendo de vergonha alheia pelos absurdos do filme.

‒ Eu geralmente tenho. ‒ Jungkook finalmente responde, espelhando a posição de Yoongi. ‒ Mas eu disse pros meus pais que ia dormir na casa do Taehyung hoje.

‒ Era lá que você tava antes de vir pra cá?

‒ Uhum.

Jungkook deixa a cabeça cair no braço, piscando lentamente como quem tenta espantar o sono.

‒ Você vai dormir aqui?

Jungkook arregala os olhos e se ergue novamente.

‒ Tá me convidando pra ficar?

Yoongi não tinha pensando nisso na verdade, mas se eles já estão deitados juntos na cama desse jeito sem ninguém ter uma parada cardíaca, então não deve ter problema.

‒ Se você quiser, ou precisar, não tem problema.

‒ Na verdade tenho que voltar pra casa do Taehyung. ‒ Jungkook faz uma careta. Ele parece decepcionado? Quase triste por não poder ficar e isso é tão querido nos olhos de Yoongi que ele tem que morder o lábio para não sorrir. ‒ A mãe dele é amiga da minha, então se eu não tiver lá pro café da manhã o fim do mundo vai chegar mais cedo.

‒ É melhor você ir então, já tá tarde. Quer que eu chame um táxi?

Eles estão um de frente para o outro agora, perto. Jungkook sacode a cabeça, mas não se move para sair do lugar.

‒ Não tô com muito dinheiro, vou pegar o metrô.

‒ O metrô já fechou a essa hora.

‒ Ah...

‒ Ele abre de volta às cinco e meia. Que horas é o café da manhã?

Ah. ‒ Jungkook pigarreia, seus olhos ainda presos nos de Yoongi. ‒ A mãe do Tae acorda lá pelas sete de sábado. Tenho que voltar antes disso pra ela não me pegar.

‒ Tempo suficiente então. Eles moram longe?

‒ Não, só duas paradas daqui.

‒ Ótimo. ‒ Yoongi se senta e coloca os pés no chão. ‒ Você precisa de pijama? Acho que tenho uma escova de dentes sobrando. ‒ Jungkook não responde. Ele continua congelado no mesmo lugar e Yoongi franze o cenho, se sentando na cama de novo. ‒ Ei, se você não quiser ficar eu posso te emprestar um dinheiro, não tem problema.

Jungkook se senta com pernas de índio ao lado de Yoongi, os olhos de lua cheia fazendo aquilo. Totalmente abertos, como se ele pudesse ver Yoongi por completo, até a alma.

‒ Eu quero.

‒ Não tem problema se você não puder.

‒ Não, eu… Eu posso ficar, sim.

‒ Então. Pijama?

‒ Qualquer coisa pra eu não dormir de calça jeans já tá bom.

Yoongi balança a cabeça e vai até o seu armário, em busca de uma calça de moletom ou bermuda sua grande o suficiente para caber naquela bunda. Não, nananinanão Yoongi, linha de pensamento errada. Ele olha de soslaio para o rapaz sentado na sua cama, ele tem os lábios apertados numa linha, enquanto mexe no celular concentrado. Não seja um pervertido, Yoongi, ele diz para si mesmo antes de sacudir a cabeça e pegar o que estava procurando.

Jungkook acaba vestindo uma bermuda de basquete que Namjoon esqueceu ali tempos atrás (não que o mais novo precise saber disso) e eles escovam os dentes um do lado do outro. Jungkook empurra Yoongi com o cotovelo de leve, enquanto o mais velho está no processo de escovar os dentes da frente. Jungkook abre um sorriso cheio de pasta de dente que ilumina o pequeno banheiro muito mais do que qualquer lâmpada barata jamais poderia.

Jungkook está feliz, Yoongi percebe. É fácil de ver a felicidade no jeito em que o mias novo se joga no lado direito da cama, seu ombro contra a parede. Yoongi tem uma cama de casal, mas ela é pequena, qualquer móvel maior não caberia no seu apartamento. Então não existe nenhum propósito quando Yoongi deita ao lado de Jungkook, após apagar a luz e tirar os óculos, e seus ombros estão um contra o outro.

‒ Tá cansado?

Yoongi sussurra, apalpando a cama até encostar no braço de Jungkook.

‒ Ainda tô meio agitado, pra ser sincero. ‒ Jungkook pega a mão de Yoongi na sua, ‒ Mas tá gostoso aqui.

‒ Não é um pouco estranho?

‒ Não, acho que só é estranho se a gente deixar.

O quarto está escuro o suficiente para que nenhum dos dois veja nada. Yoongi apenas consegue sentir a mão de Jungkook na sua. Ele se vira e sente o mais novo fazer o mesmo, até que eles estão respirando um ao outro. É como se eles fossem as únicas pessoas no mundo. Yoongi fecha os olhos e puxa a mão de Jungkook para junto da sua outra mão, quase cedendo à vontade de colocar um beijo ali.

É como se, neste momento, não houvesse nada nem ninguém que importasse além deles dois, ali. É quase um sentimento egoísta, esse que aflora entre duas pessoas assim, aos poucos. O escuro às vezes faz com que Yoongi se sinta sozinho e assustado, mas dividir essa mesma escuridão faz com que o breu pareça tomar um tom diferente.

Os olhos dos dois lentamente se adaptam à falta de luz e Yoongi consegue finalmente discernir os contornos do rosto de Jungkook, e pelo que deve ser a milésima vez, o coração dele acelera. Dividir seu quarto escuro com Jungkook é ridiculamente diferente das suas noites de insônia. O mais novo começa apenas segurando a sua mão de volta, sussurrando bem de perto, a ponta de seus dedos desenhando formas nos nós dos dedos de Yoongi.

Eles não conversam sobre nada muito importante, apenas sobre como Jungkook está pensando em cursar artes plásticas, dependendo da universidade que ele entrar. Yoongi conta para ele, por algum motivo, sobre o inverno em que ele e seu irmão mais velho construíram um forte de neve no fim da rua em que cresceram e todas as outras crianças que moravam por ali acharam que eles eram muito maneiros.

Em um certo ponto, os tornozelos de Jungkook estão entre os de Yoongi e ele se encontra mexendo o seu pé pelo de Jungkook. Tem algo especial em estar no escuro com alguém assim, sem fazer nada, algo vulnerável e honesto. Yoongi não sabe por quanto tempo ou onde eles encontraram tantos segredos para sussurrar um para o outro. Tudo o que ele sabe é que não se lembra de cair no sono.

Quando o despertador toca às cinco e vinte no dia seguinte, Yoongi acorda nos braços de Jungkook, com o nariz contra o pescoço do mais novo e suas pernas  entrelaçadas. Ele não enxerga nada além de um borrão de pele pálida e morna na delicada luz do amanhecer.

‒ Kook? ‒ Yoongi tenta se mexer, mas os braços em volta dele só fazem segurar mais apertado. ‒ Jungkook-ah, você precisa acordar.

‒ Só mais cinco minutinhos.

A voz do mais novo sai embolada e falha. Yoongi se contorce um pouco, conseguindo se afastar o suficiente para repousar o rosto no travesseiro que os dois estão compartilhando, que é dolorosamente gelado em comparação ao braço quentinho de Jungkook. Yoongi alcança seus óculos na mesinha de cabeceira e os coloca antes de deitar o rosto em cima do próprio braço e observar o jovem deitado na sua cama.

‒ Você tem que ir pra casa do seu amigo antes da mãe dele acordar, lembra?

‒ Mas eu tô tão confortável.

Jungkook choraminga, enfiando o rosto no travesseiro que tem o cheiro da colônia de Yoongi.

‒ Eu também. ‒ Yoongi puxa as pernas, tentando sair do emaranhado com o mais novo e isso finalmente faz Jungkook abrir os olhos. ‒ Bom dia.

‒ Dia.

Jungkook cobre a boca para esconder um bocejo que faz com que seu corpo inteiro estremeça. O mais novo parece confortável, a camiseta amarrotada e frouxa em volta do pescoço e o cabelo arrepiado para todas as direções. Quando ele sorri manhoso e sonolento, uma coisa grande parece se mexer dentro do peito de Yoongi.

‒ Quer que eu te faça um café?

‒ Não precisa, a mãe do Tae cozinha que nem uma doida. ‒ Yoongi apenas acena com a cabeça, seus olhos perdidos em algum lugar nos lábios de Jungkook. ‒ Caralho, eu não me lembro a última vez que eu dormi bem assim.

‒ Nem eu. ‒ Yoongi suspira e volta o olhar para os olhos sonolentos de Jungkook. ‒ Mas o sol já tá nascendo.

‒ Que filho da puta sem consideração. ‒ Jungkook resmunga e se senta.

Yoongi ri das palavras chulas do mais novo, o ouvindo falar assim pela primeira vez, e assiste sem nenhum pudor o jeito que Jungkook estica os braços, seu corpo inteiro estremecendo com mais um bocejo cheio de lamento. Que visão abençoada. Yoongi continua deitado enquanto Jungkook sai da cama para ir escovar os dentes e vestir a sua calça novamente. Ele não fecha a porta do banheiro, talvez com sono demais para pensar nesse detalhe, e Yoongi é agraciado com a visão das coxas musculosas e da curva da bunda coberta com uma cueca boxer vermelha. Honestamente, que Deus abençoe Jeon Jungkook.

Yoongi apenas se levanta já para abrir a porta do mais novo, coçando os olhos e sem coragem de se olhar no espelho. Ele, em contrapartida, sabe que não é nenhum pouco bonito logo quando acorda.

‒ Posso te levar pra um encontro mais planejado logo?

Jungkook pergunta quando já está do lado de fora do apartamento, seus olhos grandes e expressivos, ansiosos pela resposta de Yoongi. Como se ele já soubesse a resposta, mas se preocupasse mesmo assim.

‒ Mal posso esperar.

É tudo o que Yoongi diz; um sorriso sincero iluminando a sua expressão sonolenta.

‒ Perfeito.

Jungkook abre um sorriso enorme e se aproxima, dando um beijo rápido nos lábios de Yoongi. Durou apenas um segundo, Jungkook fazendo um som de felicidade quando seus lábios se tocaram, para em seguida se afastar e piscar de um jeito descarado antes de se virar e ir embora, deixando Yoongi ali mesmo, embasbacado.

O beijo foi rápido demais e Yoongi ainda nem escovou os dentes, mas quando Jungkook some escada abaixo, em vez de pegar o elevador, o bibliotecário se encontra escorado contra a porta do seu apartamento, completamente atordoado e com os lábios formigando num estúpido e gigantesco sorriso.

É um sorriso que não deixa de ir e voltar durante dias. O que parecia assustador ontem, agora parece uma promessa. E Yoongi percebe que não quer se afastar. 


Notas Finais


Espero que tenham gostado, porque eu sinTO QUE NÃO SEI MAIS COMO ESCREVER EM PORTUGUÊS AAAAA!!!!
Enfim, surto superado, só quero dizer que essa fic tem o romance cozinhando bem lentamente mesmo hehe, mas esse é o único ritmo que o Yoongi aguentaria~
Beijos e até a próxima!


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