História Things So Complicated - Capítulo IV

Oh, there isn’t one thing left you copule say I’m sorry it’s too late

I’m breaking free from these memories Gotta let it go, just let it go I’ve said goodbye, set it all on fire Gotta let it go, just let it Go
— Let Me Go, Avril Lavigne

 

NATHALLIE FOSTER 

Assim que chegamos em Alexandria, eu me encontrei paralisada. Aquilo era definitivamente uma comunidade, as pessoas pareciam se ajudar e de certa forma levar uma vida “normal” ali. 

Era como se nada isto tudo nunca estivesse acontecido.

Despertei dos meus pensamentos e segui andando, até que cruzei com Rick.

— Ah, Nathallie. Seja bem-vinda à Alexandria!- Exclamou sorrindo fraco.

— Obrigada! Sabe, aqui parece ser um bom lugar para recomeçar - Retribui o mesmo sorriso.

— Sim, aqui é. Bem, uma amiga irá mostrá-las a comunidade. O seu nome é Carol. Agora, eu preciso resolver algumas coisas. Até mais tarde!

— Ok, e obrigada mais uma vez. Bom, até mais tarde - Lancei-lhe um sorriso que logo foi retribuído. 

Rick se despediu e prosseguiu caminhando.

Resolvi procurar por Sam, já que uma mulher iria nos mostrar a comunidade. Foi uma longa busca já que o lugar era enorme, mas acabei encontrando-a em uma das várias torres de vigia, e parece que ela não estava sozinha... Ela estava... Abraçando um garoto? Sam nunca foi uma pessoa muito “carinhosa” ou até mesmo “sensível”. Por este mesmo motivo, estranhei o seu ato, mas confesso que me alegrei pelo fato de Sam estar conhecendo pessoas novas. Ela ficou tempo isolada, é sempre bom fazer novas amizades.

Após alguns segundos, resolvi chama-lá. Eu lhe contei tudo e Sam imediatamente seguiu em minha direção. 

— Que bom que você fez amizade - Afirmei sorrindo enquanto observava o garoto encima da torre. 

Foi então que eu percebi que era o mesmo garoto que havia me ajudado a carregar Sam. Me alegrei ao saber disto, o garoto parecia ser uma boa pessoa. Sam havia acabado de descer da torre de vigia.

— Não enche! - Ela exclama logo me empurrando.

Eu nem liguei, pois estava muito destraída com um muro que possuía vários nomes, talvez fosse alguma espécie de memorial.

— Mas o que...? - Quando eu estava terminando de falar, fui interrompida por uma mulher de estatura mediana que possuía curtos cabelos grisalhos.

— É um memorial... Eu sou Carol, irei lhes apresentar o lugar.

— Ah, oi Carol. Prazer em conhecê-la! Eu me chamo Nathallie e esta é a Samantha - Afirmei tentando parecer simpática. Carol apenas lançou-me um leve sorriso em resposta. 

Seguimos em uma caminhada ao redor do local, eu mal prestava atenção nas palavras de Carol, pois eu estava perdida em meus pensamento sobre aquele memorial.

Havia vários nomes lá, sendo assim, várias vidas foram destruídas. 

Quando me despertei dos meus pensamentos, logo pude perceber que estávamos paradas em frente à uma igreja. Carol explicou que havia um padre na comunidade, que se chamava Gabriel. Bom, faz tanto tempo que eu não vejo um padre, depois de tudo que ocorreu, achei muito difícil encontrar alguém que ainda acreditasse em Deus. 

Logo paramos em frente a uma enorme casa branca. Realmente, era uma bela casa. É tão irônico conseguir achar algo intacto em pleno apocalipse zumbi. E o mais irônico ainda, era que Carol havia explicado que esta seria a nossa casa. 
 

A nossa casa.

Era tão estranho chamar algo de lar, depois de tudo que ocorreu.

Éramos praticamente andarilhos, assim como os vários que “habitam” o mundo lá fora. 

Nós não tínhamos uma vida, era apenas sobrevivência. 

Bom, e depois que encontramos Alexandria, eu ainda tenho esperanças de que podemos viver uma “vida normal” outra vez.

Entramos para conhecer a casa, ela era muito maior e bela do que aparentava ser. A única coisa que eu conseguia pensar era que este previlégio era muito para nós.

Era muito mais do que tivemos em anos. 

Após alguns segundos observando a casa, eu e Sam decidimos com quais quartos ficaríamos. 

— Nath, eu acho que irei sair para “tomar” um ar. Eu preciso de um tempo para pensar e principalmente, absorver tudo o que está acontecendo. Mais tarde eu estarei de volta. Fique tranquila - Disse Sam lançando- me um sorriso. 

— Ok, mas tenha cuidado. Qualquer coisa que precisar, estarei aqui - Lhe dou um beijo em sua testa.

Logo após a sua saída, eu comecei a me sentir um verdadeiro “peso-morto” nesta comunidade, pois, quando cheguei aqui, percebi que cada um tem a seu trabalho e é isto que os torna uma comunidade.

Eu preciso procurar algum tipo de serviço para ajudá-los. Então, saio de casa e esbarro em uma mulher de cabelos escuros que usava um boné. 

— Ah, desculpe-me. Eu estava muito distraída. Me chamo Nathallie, prazer em conhecê-la! - Exclamo sorrindo.

— Tudo bem. Eu lhe entendo, também estou assim. Prazer, eu sou Rosita! - Sorri amigavelmente.

— Por acaso você sabe aonde eu encontro algum serviço por aqui?

— Ah, você perguntou para a pessoa certa! Eu estava procurado alguém para me ajudar a “ensinar” alguns habitantes daqui a utilizarem armas brancas e do fogo. Quer dizer, você sabe atirar né?

— Claro, sei sim! - Exclamei empolgada.

— Ok, estarei lhe aguardando em frente à torre Norte no início da tarde. Até amanhã!

— Muito obrigada, eu estarei lá! - Rosita seguiu para o depósito de armas.

Bom, como o meu “mais novo serviço“ era só no outro dia, resolvi voltar para casa.

Assim que entrei naquela casa novamente, subi as escadas rapidamente e joguei a minha mochila encima da cama, sim, eu não havia largado ainda, pois a maioria das coisas que restaram da minha antiga vida estavam ali, o meu diário estava ali.

Suspirei ao lembrar dele, pois, por trás de todas aquelas páginas coloridas e daquela capa azulada, estava escrito tudo o que eu havia vivido ou presenciado, a minha vida antes de tudo isto ainda estava fresca e escrita naquelas linhas borradas. Este diário, muitas vezes me serviu como um confidente, como uma pessoa a quem eu pudesse desabafar e me sentir melhor. E era exatamente isto que eu sentia, pois quando eu escrevia, era como se eu me libertasse de tudo. 

E quando eu me dei por si, já estava o folheando, até que eu parei em uma página aleatória e comecei a ler a mesma.
“Eu não pude fazer nada.
Quando eu fui ao seu encontro, já era tarde demais.
Tarde demais para me lamentar.
Agora, eu estou vagando por aí, como uma verdadeira morta-viva.
Sem rumo.
O meu único desejo é que você esteja bem.
Que você esteja vivo.
E eu fico me perguntando, como que você deve estar agora.
Tão pequeno e já tendo que sofrer tudo isto novamente.
Você é um guerreiro meu amor.
Você é um sobrevivente.
Eu fui tão fraca pois quando eu encontrei tudo em ruínas, quando eu a encontrei morta.
A minha única reação foi atear fogo em tudo o que restou.
Foi sujar as minhas mãos com gasolina.
E agora, onde eu estou.
Eu só vejo fogo por todos os lados.”
 

Uma lágrima escapou dos meus olhos e em fração de segundos, eu me senti lá novamente. Com a mesma angústia que me faz ter dificuldades para dormir todas as noites. 

Olhei para as minhas mãos, e era como se ainda estivessem meladas de gasolina exatamente como eu havia escrito, parecia que tudo ao meu redor estava pegando fogo novamente. Mas eu ainda tinha esperanças de que ele estava em algum lugar.

De que ele estava vivo, mesmo depois de tanto tempo.

— Eu ainda não desisti de lhe encontrar, Tyler. E aonde quer que você esteja, eu irei lhe achar, meu irmãozinho.