A velha figueira de galhos frondosos e tortos se apoiava delicadamente na lateral do pequeno casebre amarelado. As folhas largas serpenteavam com a brisa, a mulher deitada na cama observava a calma dança dos galhos que se esgueiravam pela janela aberta.
-Vejo que já acordou.
A mulher nada respondeu. O homem na porta suspirou pesadamente passando a mão pelo rosto enquanto encarava a mesma janela que a mulher observava.
-Estamos do mesmo lado, não precisa ter medo. Somos amigos e só quero ajudar você.
A ruiva se endireitou na cama fitando descrente o homem a sua frente.
-Bela hospitalidade xerife –Sibilou ela entre dentes- Você me algemou na cama e prendeu minha companheira, sim, nos estamos a um passo de nos tornarmos melhores amigos.
Rick se encaminhou até a cadeira ao lado da maca hospitalar se sentado antes de se dirigir novamente a outra.
-Isso são precauções, queremos realmente ajuda-las, mas são tempos difíceis.
Os olhos verdes mediram o rosto do homem, a seu ver se o mundo estivesse normal ele seria alguém que ela cumprimentaria educadamente na fila da padaria ou na saída da igreja aos domingos, um homem normal e bom.
“Tempos difíceis, sim, são tempos insanos”.
A mais nova suspirou em redenção.
-Tudo bem Rick, você não me parece tão ruim apesar da circunstância. Em que posso ser útil?
O ex-xerife sorriu.
-Nossa comunidade esta sempre de portas abertas a novos sobreviventes, mas terão que provar seus valores ajudando. –A mulher ouvia atentamente – Mas antes de deixar que fiquem preciso fazer três perguntas.
O rosto da mulher enrugou em confusão, mas mesmo assim ela acenou positivamente. Era algo incomum, como um pingue pong de perguntas e respostas um jogo que na adolescência era divertido e nos dias atuais era perigoso.
-Quantos zumbis você já matou?
-Centenas.
-Já matou uma pessoa?
A mulher suspirou.
-J... Já.
-Por quê?
O rosto da mulher se virou novamente para a janela, as folhas pareciam pequenas chamas verdes ao dançar com o vento.
-Porque eu a amava demais.
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A mulher amarrada à cadeira olhava apreensiva para a porta a sua frente, como se a qualquer minuto ela fosse abrir e revelar seu pior pesadelo. As mãos trabalhavam habilmente para soltar a corda que lhe envolvia os pulsos, rapidamente as soltando.
“Idiotas”, sorriu ela triunfante com o pensamento.
A mulher testou a maçaneta da porta, aberta. Sorrateiramente a morena se esgueirava pela casa vazia.
“Se os dias de hoje não estivessem tão loucos eu estranharia a casa vazia”
Balançando a cabeça negativamente para espantar o pensamento, a mais nova continuou seu trajeto. A relva molhada pelo orvalho da manhã abraçava o par gasto de coturnos que a mesma calçava, à medida que a morena caminhava pelo jardim da casa que acabara de sair. Os olhos atentos esperavam qualquer coisa que pudesse a surpreendesse, a rua continua rodeada de casinhas de classe media estava aparentemente vazia.
“Eu consigo imaginar esse lugar antes, provavelmente se o mundo fosse normal eu estaria morando em uma dessas”, pensou a mulher sorrindo melancolicamente.
O grito agudo morreu aos poucos sufocado na garganta da mesma, o corpo havia sido tirado do chão. Braços fortes rodeavam a cintura da mais nova enquanto a mesma estava apoiada sob o ombro do desconhecido.
-Onde você pensa que está indo boneca? – O tom de voz do homem era carregado de sarcasmo, a morena revirou os olhos ao reconhecer quem a carregava.
O maldito caipira.
-Me solte seu imundo – Esbravejou a mulher enquanto se debatia no oro do outro em uma tentativa falha de se soltar. Daryl riu do esforço bobo da outra, em passos firmes ele atravessava a pequena avenida com a morena ainda sobre os ombros.
Derrotada Rachel deixou-se ser carregada pelo outro.
“Sou um maldito saco de batatas, ou uma donzela de livros sendo carregada pelo homem de braços fortes”, o rosto da mesma tomou uma coloração avermelhada com o pensamento.
A porta da casa fora aberta com um sofrido rangido, o homem adentrou no cômodo seguindo pelo corredor a um dos quartos. O olhar da ruiva na cama se estendeu até a porta onde a dupla inusitada acabara de entrar. Elizabeth sentou-se apressada fazendo o ferimento latejar.
A morena fora posta no chão com certa rispidez fazendo a mesma resmungar alguns palavrões, os olhos acastanhados caíram sobre a imagem da companheira.
-Graças a Deus. – O pensamento da mulher lhe escapou pelos lábios enquanto a mesma se aproximava rapidamente da maca abraçando a ruiva. – Não faça mais isso comigo ruivinha, nunca mais.
A outra sorrira fracamente retribuindo o aperto da amiga.
Um raspar de garganta interromperá o afeto das duas mulheres fazendo-as se separarem. Rick olhava bondosamente para ambas.
-Agora que estão juntas novamente podemos conversar de certas coisas.
A morena tomou o lugar na cadeira que antes era ocupada pelo xerife cruzando os braços abaixo dos seios.
-A comunidade possui diversas tarefas e como novas componentes poderão ajudar até obterem total confiança, Suas armas estão confiscadas por um tempo, mas nada que possamos mudar ao longo do tempo. – A mais nova soltou um muxoxo de desaprovação enquanto estendia o olhar para a amiga encamada, elas precisavam ficar, a outra precisava dos cuidados.
-Não gosto de ficar sem minha arma, me sinto nua. Mas um lugar para ficar é o paraíso compara ao lado de fora.
-Fico contente pela decisão. Daryl será encarregado em te mostrar como funciona tudo por aqui em Alexandria. – O rosto do homem citado se contorceu em uma careta.
-Eu prefiro que atire com a crossbow na minha perna. – Resmungou Daryl.
-Posso cuidar disso se quiser. – Sorriu-se a morena.
Rick bagunçou os cabelos olhando para a pequena rixa a sua frente. Daryl sorriu ironicamente e saiu pela porta, sendo seguido pela morena.
-E quanto a mim?
Os olhos azuis do homem caíram sobre a mulher restante.
-Vamos para fora da cerca.
“Ele vai nos matar”, pensou ela por fim.
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-Desistiu de me carregar para cima e para baixo?
O homem que caminhava mais a frente tentava a todo custo ignorar a voz zombeteira da mulher que o seguia. Rachel sorriu travessa pondo-se a caminhar lado a lado com o outro.
“O Rick só pode estar de brincadeira comigo”.
Uma mulher por volta dos 30 anos, loira de cor branca, e olhos verdes estava parada na varanda de uma das casas observando os dois. À medida que ambos se aproximavam a estranha descia lentamente a varanda parando de braços cruzados no gramado.
-Daryl, você sabe onde Rick possa estar? Ele deveria ter vindo aqui quando vocês chegaram.
-Ele esta ocupado Jessie. Temos novas sobreviventes. – Disse rispidamente apontando coma a cabeça para morena ao seu lado.
-Prazer, sou Jessie Anderson. –Pronuinciou-se a mulher estendendo a mão à outra.
Rachel ignorou a mão da mulher cruzando os próprios braços enquanto observava a outra.
-Rachel. – Disse simplesmente.
-A senhorita educação aqui e a amiga ruiva dela passaram um tempo em Alexandria, Rick pediu para que eu a integrasse de tudo. – Comentou ele. – A companheira dela esta ferida, Rick esta cuidando dela.
A loira sorriu afetada.
-Com tenho afazeres. – Respondeu.
O homem assentiu tornando a se virar e prosseguir o caminho de onde vieram, com a morena logo atrás.
-Que Alexandria tenha mais uma cova rasa para o corpo, expectativa nunca é bom.
O comentário venenoso da mais velha fizera o corpo da morena se retesar.
-Você é uma mulher morta.
Jessie cambaleou com o soco que lhe atingiu, os olhos azuis da mesma se abriram em descrença. Rachel segurava a mão apertando levemente os punhos para aliviar a dor. Um fino filete de sangue escorria do lábio cortado da atacada, o homem interviu antes que uma briga começa-se.
-Você tem que parar de bater nas pessoas, sua marrenta. –Riu-se ele em negação enquanto puxava a outra pelo braço.
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Uma leve camada de suor cobria o corpo da ruiva por conta do esforço que a mesma fazia. O homem encostado em um troco de arvore próximo observava a silhueta da mulher a sua frente enquanto a mesma atirava em algumas latas.
Elizabeth levou o cano da arma de encontro à testa mirando-a para cima, enquanto suspirava de olhos fechados. Aquilo estava sendo inútil.
Rick se aproximou da mulher ao mesmo tempo em que a via colocar mais um pente na pistola.
-Seu equilíbrio fora afetado.
(COLOQUE A MUSICA)
A mulher estalou os lábios fechando um dos olhos e mirando nas latas a distancia. O chicotear das balas nos troncos próximos saiam abafados pelo atrito da madeira. O homem balançou a cabeça diante da teimosia da mais nova.
Um farfalhar de folhas chamara a atenção de ambos, Rick retirara a própria pistola do coldre que possuía ficando a frente da ruiva. Uma pequena horda caminhava lentamente em direção aos dois atraída pelos tiros. Os olhos da mulher se arregalaram em pavor, eram muitos para os dois.
O homem puxou a mulher pela mão apoiando o corpo da mesma contra uma arvore frondosa, onde ambos se escondiam. A respiração entre cortada da ruiva batia pesadamente contra o pescoço do homem.
Rick observava a horda se afastar do campo de sua visão, eles estavam salvos.
Os olhos azuis do mais velho se focaram na mulher a sua frente. Elizabeth engolira em seco se afogando na imensidão azul que era o azul dos olhos dele, as respirações entre cortadas se aproximavam lentamente. Um rubor da cor dos cabelos da mulher tomara a face da mesma enquanto os dois se aproximavam mais do que já era possível. Os lábios do homem capturaram os da mulher sob os seus em um beijo cálido e calmo, Elizabeth se entregara aos poucos aquela sensação. Aquilo não podia acontecer.
A mulher se afastou do outro o olhando assombrada. Rick levara a mão aos lábios observando a mulher a sua frente.
-Lize... – Começou ele.
-Não se aproxime. – Finalizou ela correndo da clareira onde estavam.
-ELIZABTEH!
A ruiva ignorará o chamado do homem sumindo entre as arvores. Rick socara a arvore mais próxima olhando frustrado por onde a mulher sumira.
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A ruiva chegara a casa onde fora alojada mais cedo fechando a porta atrás de si, as costas da mulher escorreram pela madeira até a mesma sentar-se no chão. Lagrimas grossas e pesadas embaçavam a visão da mulher e atrapalhavam sua respiração. O coração pesado da mesma trazia a tona os soluços causados pelo choro. As cenas corriam em sua mente como um maldito filme, seu passado.
A mulher deitara sob o tapete da sala observando o teto, os olhos fechavam pressionados pelo peso das pálpebras, o sorriso que ela vira não era do fantasma que lhe assombrava, mas sim dele, era o sorriso do homem que se tornaria sua perdição.
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