Eu estava trancado em meu quarto, novamente. Nos meus fones, tocava uma música que eu estava enjoado de ouvir. Na verdade, eu não suportava ouvir mais nada. Apenas o silêncio.
Alguns diziam que eu estava deprimido.
Alguns diziam que eu estava louco.
E alguns achavam que eu estava com um pouco dos dois. E é por isso que eu estou aqui. Minha mãe acha que eu estou louco, mas eu não estou.
Eu só preciso das minhas pílulas.
A verdade é: Eu me sinto vazio.
Vazio, sem cérebro. Sem sentimentos. Vivendo apenas pelo meu físico, com meu psicológico destruído.
Eu só levantava da cama pra ir ao banheiro, e quando eu me olhava no espelho, eu não via nada.
Apenas um vazio em meus olhos, que estavam sempre sem brilho.
As paredes possuíam rachaduras devido aos socos que eu desferia, como se fosse, de alguma forma, preencher o vazio.
Mas nunca era suficiente.
Eu não falava nada, mais meus olhos gritavam "socorro".
E bom, pra ser honesto, eu não tinha mais nada a fazer.
Eu tinha cicatrizes nos braços há mais ou menos três meses, e mais estavam por vir.
Claro, se meu pai não tivesse tomado a decisão de me jogar em um hospício, dizendo que era para o meu próprio bem.
Eu sinto falta do meu irmão, Michael, apesar de não ter sido o melhor irmão mais velho que alguém pode ter.
Mas ele não fez nada pra impedir, e isso doeu como o inferno.
"Eu sou Gerard Way."
Era o que eu diria quando entrasse no "hospital psiquiátrico"; ou hospício, para os íntimos.
O bom era que: Eu tinha todos os tipos de pílulas, e eu tinha café.
Me despedi de Mikey com um abraço.
"Eu vou sentir sua falta. Adeus, irmãozinho."
Aos meus pais, eu nada disse. Eles não mereciam. Então, apenas revirei os olhos lentamente, com todo o nojo que eu havia criado por eles. Eu não consegui dizer nada. Pois eles não passavam de meros estranhos pra mim.
Assim que pus os pés no meu mais novo inferno, eu me senti nauseado.
Aquelas paredes brancas me sufocavam.
Aquele cheiro desagradável de lavanda, ugh.
E bom, depois de todo o interrogatório, eu fui levado à um quarto. Vazio, eu esperava.
A minha sorte era que meus pais haviam pago um valor consideravelmente mais alto, e eu tinha um quarto só pra mim.
Excelente.
Assim que os dois rapazes que me guiaram até o quarto se foram, eu peguei meu maço de cigarros que estava escondido na jaqueta.
Fumar era tudo o que eu precisava naquele momento.
Depois de uns três cigarros, eu fui organizar minhas coisas naquele cubículo, sem a menor vontade.
Mas não eram muitas coisas, então seria fácil.
Depois de organizar tudo, eu me deitei. E bom, pra ser sincero, eu chorei.
Eu chorei, como criança.
No momento em que eu mais preciso da minha família, ela me abandona.
Eu me culpo por ter me tornado o que sou, mas desde que eu mudei, nada mais fez sentido.
Eu não era mais nada. Tudo o que eu me tornei eram roupas escuras e personalidade fechada.
Eu não tinha vontade de sair, de passar um tempo desenhando, eu era um completo nada.
Eu nem sequer estive ao lado de Mikey quando os valentões implicavam com ele e ele voltava pra casa com o rosto machucado, com lágrimas nos olhos.
Eu não dei a ele os parabéns por ter arranjado uma namorada.
Eu não o abracei quando nossos pais brigaram, como eu fazia.
Eu não assisti Star Wars com ele pela décima segunda vez.
E agora, eu não tenho mais ele.
Eu não tenho mais a única pessoa que me entende, porque eu estou aqui.
Eu não tenho mais nada.
Eu não mereço mais nada.
E tudo o que fiz foi me entregar à insanidade, porque eu sou fraco. Toda a imagem de durão que eu criei foi sumindo com o passar do tempo, tudo por minha culpa.
Afinal, eu sou a minha própria desgraça.
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