História Thinking out loud - The end and the beginning

01/12/2067

Se eu fizesse uma lista com os piores dias da minha vida, esse dia com certeza estaria no topo. A dor da perda é a pior dor que alguém pode sentir, olhar para minha mulher deitada naquele caixão, fazia meu peito doer como nunca antes. 

- Mãe. - olhei para o lado e vi minha filha - agora já adulta - me olhando com os olhos cheios de lágrimas. Abri meus braços e seu corpo magro se chocou contra o meu, nossos soluços se misturavam, as duas estavam desoladas. 

Senti mais dois braços nos envolverem e vi meu filho nos abraçando com força, Pedro era o homem da casa, nosso filho mais velho, hoje com 37 anos. Assim como sua irmã Alice, Pedro sempre fora muito próximo à sua mãe Camila, aliás, nós sempre fomos uma família muito unida. Mesmo com as responsabilidades que nossos trabalhos exigiam, Camila e eu nunca deixamos de estar presentes na vida de nossos filhos.

- Vamos sentar um pouco. - a voz grossa de Pedro soou em meus ouvidos e eu senti o aperto de seu braço firme em minha cintura.

- Quero ir um pouco lá na rua. - Alice falou e eu apenas assenti, logo vendo seu corpo se afastando de nós. Era difícil acreditar que minha menina já tinha 34 anos. 

Pedro me guiou até um sofá perto do caixão e eu me acomodei por ali, alguns familiares e amigos vieram me cumprimentar, mas eu não conseguia manter uma conversa por muito tempo. 

Meus netos não estavam aqui, minha nora estava cuidando dos meus dois pequenos príncipes, já que eles eram muito novos para frequentarem esses ambientes. 

Fui avisada de que logo o carro que levaria o caixão até o cemitério estava chegando. Aproveitei que não havia ninguém por perto e resolvi me despedir de minha esposa pela última vez. Levantei-me cuidadosamente, os sinais da idade já estavam presentes, as dores físicas e psicológicas me limitavam mais do que o normal. 

Peguei na mão gelada de minha esposa e fiz um carinho em sua bochecha, desejando mais do que nunca que seus olhos castanhos se abrissem e me encarassem,  daquele jeito que só ela fazia.

- Vá em paz, meu amor. - meu espanhol não era mais o mesmo, mas Camila ainda amava quando eu o usava com ela. - Obrigada por tudo o que você fez por mim, pela família maravilhosa que você me deu a oportunidade de formar. Por todos os sonhos que você realizou ao meu lado, obrigada por confiar em mim, e por ficar ao meu lado durante todos esses anos. Você me fez a mulher mais feliz do mundo, e você sempre será o grande amor da minha vida. - minhas lágrimas escorriam livremente por meu rosto. Eu sabia que estava sendo observada, o ambiente estava mais silencioso do que antes, mas eu estava presa em uma bolha onde só havia Camila e eu.

"And darling i will be loving you till we seventy. 
And baby my heart, could still fall as hard at twenty-three."

01/12/2070

-  Vovó! - olhei para o lado e James - meu neto mais novo - vinha em minha direção com um livro azul em mãos. 

- Oi, querido. - sorri para ele e observei o pequeno menino sentar ao meu lado.

- Que livro é esse? - olhei para suas mãos e senti uma saudade invadir meu peito. Há anos eu não via esse livro, nem sabia mais da existência dele.

- Eu escrevi esse livro durante anos, é a história de amor que sua avó e eu construímos juntas. - seus olhinhos brilharam e eu sorri, sentindo as lembranças do passado invadirem minha mente.

- Eu posso ler ele, vovó? 

- Pode sim, meu amor, mas lembre-se de deixá-lo em meu quarto, eu também quero ler. - beijei sua testa e levantei-me do sofá, indo em direção ao pequeno estúdio que havia em minha casa. 

Um sorriso enorme surgiu em meus lábios ao ver meus dois filhos e meu neto mais velho ali. Pedro tocava bateria, Carlos fazia um solo na guitarra, e Alice estava cantando com os olhos fechados. Eles herdaram os dons musicais de minha ex-esposa. Tenho certeza de que ela se orgulha muito da família que nós formamos, eles são meu maior tesouro.

Nessa mesma noite eu adormeci enquanto lia as páginas de nossa história de amor. E em meio à lembranças e sorrisos, eu voltei a encontrar minha esposa. Três anos após sua morte, ela retornou, mas dessa vez me levou com ela. Para que pudéssemos terminar nosso romance, juntas.

55 anos atrás...

01/12/2014

Esse pode ser considerado um dos dias mais felizes de minha vida, meu sorriso não saía do rosto. Camila havia me pedido em namoro, e eu não sabia disfarçar minha felicidade.

Nunca pensei que eu fosse ter um relacionamento à distância, sempre achei besteira, achava que não havia a mínima possibilidade de dar certo, e que eu nunca me envolveria com uma pessoa que eu nem conhecia pessoalmente, mas o destino colocou uma pessoa maravilhosa em minha vida, e foi impossível não cair de amores por Camila Cabello. 

"Boo: Agora eu posso te chamar de amor! Você não faz ideia de como eu estou feliz, minha mãe não para de perguntar o motivo do meu sorriso."

Eu estava com medo de que minhas bochechas rasgassem. Meu coração batia acelerado em meu peito, eu não conseguia parar de observar a foto de perfil de minha namorada. Namorada. Essa palavra nunca soou tão bem para mim. 

"Lauren: Oh meu amor, eu não estou muito diferente de você. Nunca imaginei que um dia eu faria parte daqueles casais melosos de facebook."

"Boo: Essa é a melhor parte da vida, princesa. Nós nunca sabemos o que está por vir. Apenas aceitamos o que o destino nos proporciona."

"Lauren: Vou me lembrar de agradecer ao destino por colocar você em meu caminho."

Nesse dia eu dormi com o maior sorriso do mundo, sentindo meu peito explodir em alegria. Há tempos eu não me sentia assim. Estava me sentindo uma adolescente apaixonada, na verdade, é exatamente isso que eu sou. Uma adolescente apaixonada.