História This is from Léon - Um tiro

Olhei mais uma última vez para o papel amassado aberto em minha mão e voltei a guardá-lo no bolso quando confirmei com o endereço do prédio a minha frente.

Embora estivesse noite, coloquei meus óculos escuros e redondos, ajeitando a franja. Imaganava que talvez Léon ficasse feliz ao me ver - de onde quer que ele estivesse - com o mesmo corte de cabelo.

Encarei a base do céu sobre o prédio e apertei o porta violão firme na mão, ali dentro guardava um sniper e em minha mochila, um tapate escuro.

Eu subiria ao topo para atirar pela primeira vez sem a presença de Léon e isso me angustiava, mas não podia pensar nisso, não agora, então chutei a melancolia para trás e corri para o pequeno beco ao lado, entrando no prédio pela saída de emergência.

Doze andares e meio. Eu precisaria subir dozentos e vinte degraus até o topo.

Mesmo amedrontada, comecei a subir cada degrau, um passo, era só isso. Mesmo me prendendo a números, nunca fui boa com eles, ou mesmo nomes, isso precisa ser frisado, afinal de contas, só conseguia gravar algo se fosse de extrema importância, achava que se eu acabasse por memorizar coisas demais, minha principal vontade desapareceria.

Cheguei ao topo.

O ar rarefeito. Ou talvez só fosse os meus pulmões respirando com dificuldade em detrimento ao meu coração que disparava.

Joguei o tapete perto do pequeno parapeito e apoiei a sniper. Sabia que a lente sempre devia ser aberta no final, mas agora não tinha problemas.

Apoiei meu corpo no chão. O vento frio arrepiou a minha espinha.

Tirei os óculos e respirei fundo.

Olhei através da lente e ajeitei a mira, procurando pelas janelas do apartamento ao lado, o alvo com o perfil que me deram.

Se tratava de Sánchez, um produtor executivo de boa índole segundo algumas informações que peguei, mas que na verdade usava sua profissão como máscara para o tráfico de humanos que comandava na Indonésia.

Era isso mesmo. Consegui um novo emprego como Assassina de Aluguel sendo contratada por policiais que sabem que os caras maus não vão ser presos, com isso, eles vem a mim sabendo que nunca mais saberão da existência deles. Ao menos me tornei a última opção depois de ter tirado todos os outros 23 do meu caminho.

Aliás, ali estava Sánchez. Seu bigode negro e cabelo molhado penteado para trás criava uma expressão séria em seu rosto. Ele acabou de sair do banho, sei disso porque ele só está com uma toalha branca enrolada na cintura e tem um estranho brilho em seu peito.

Ele se senta no sofá e liga a televisão. Pega o celular. De repente está gritando.

Gritos me deixam nervosa. Ainda bem que não estou perto o bastante para ouvi-los.

Respiro fundo e penso no que León me diria.

“Olhe o alvo. Destrave a arma. Não esqueça de respirar e relaxar o dedo antes de apertar o gatilho, você só precisa disso para matar alguém”.

Nem ao menos senti o tranco da arma, só notei que disparei quando a cabeça caiu junto com o corpo, deixando uma mancha vermelha na parede ao lado do sofá.

Engoli a seco.

Pisquei abismada mais uma vez.

Eu consegui! Era isso! Eu consegui!

Sorrindo, guardei a sniper.

Eu só tinha dez minutos antes que alguém notasse algo de errado e outros cinco para a polícia chegar, levando em consideração que existia um quartel a poucos quarteirões daqui.

Peguei o porta-violão e corri degraus a baixo, vez pulando alguns, vez olhando para cima, procurando ter certeza de que não estava sendo vigiada ou perseguida.

O coração convulsionava contra os meus ossos quando parei na esquina e me encostei no poste de luz.

Olhei para o céu escuro entre as luzes amarelas da grande New York e sorri, rindo um pouco.

- Será que é isso o que você sentia, León? - perguntei, sabendo que a sensação que eu tinha era completamente diferente do que ele esperaria de mim.