História This is gonna get ugly - Two Locked Birds

Depois que Negan deixou o meu quarto, eu notei que ele havia mexido nas minhas cartas de aceitação, e antes de fazer qualquer coisa eu fui ajeitar os papéis. Não que eu tivesse esperança de tudo voltar ao normal e eu ainda ser aceita numa ivy league, eu tinha aceitado a muito tempo que o mundo havia acabado, não havia mais espaços e ninguém ligava se eu nunca tinha feito faculdade, minhas funções com os salvadores não dependiam disso.

Ver todos aqueles papéis, realmente me faziam lembrar que eu não estava perdendo aquilo, sim, eu poderia ter sido selecionada para fazer faculdade de advocacia em Harvard,eu poderia ter feito em Berkeley , em Pennstate em qualquer outro lugar que eu passei, mas isso não significava que eu estava indo pra nenhuma delas. eu não tinha condições de bancar aquelas faculdades, muito menos a minha família, não desde vovó Angela teve câncer e todo o pouco dinheiro que meus pais haviam juntado para a minha faculdade foi para o tratamento dela, fim do mundo ou não, eu não iria muito longe com a minha faculdade comunitária.

Escovei os meus dentes bem rapidamente e tirei a minha roupa de dormir, colocando jeans e uma camiseta folgada e um tênis confortável e sai do meu quarto, fechando a porta atrás de mim e indo em direção ao refeitório, que ficava do lado do bar e das mesas de sinuca, quase como um grande mercado interno onde toda a comida conquistada ficava a nossa disposição, quando eu cheguei aqui, eu não queria comer aquela comida roubada. Eu me sentia em comer aquilo por muito tempo até eu me convencer que aquilo não fazia bem a ninguém, eu não querer comer não mudava nada.

Peguei três pães, os mais macios e levemente crocantes na parte de fora e os parti no meio, sem me preocupar de ir pra próxima mesa, só tinha eu lá, passei um pouco de manteiga coloquei tomates, folhas, um pouco de picles e os restos da carne assada do almoço, tudo empilhado no maior prato que eu pude achar lá. E depois passei na parte do bar, pegando duas cervejas.

Dwight estava a alguns bancos de onde eu havia pedido as cervejas e antes de tomar o meu rumo, eu sorri em sua direção e com o desânimo tão comum nele sorriu de volta, puxei o meu prato até perto dele e me sentei na cadeira do lado dele. Dwight colocou um braço na minha cintura, dando um abraço desajeitado e eu retribui, ele era uma boa pessoa.

―Eu preciso saber sobre o seu amigo. ―disse sem enrolação, e D. respirou pesadamente.

―Ele já tirou isso de mim e te deu? ― reclamou.

―Não de verdade, ele acha que está fazendo um bom trabalho, só um pouco lento, acha que ele precisa de um pouco de persuasão ― o acalmei.

―Daryl perdeu tudo, ele provocou Negan e fez um amigo dele ser morto, deve achar que todo mundo odeia ele nesse momento. As pessoas que importam a ele, o grupo de alexandria, ele sempre pareceu próximo ao líder.

―Pode estar de luto também, os amigos dele morreram, tem duas fotos novas no mural.

Ficamos em silêncio por um segundo, eu pensando no que eu diria a alguém que perdeu tudo. Eu estive naquela posição antes e eu sabia que nada que eu dissesse faria as coisas parecerem melhor, mesmo sabendo que nada que eu fizesse trariam ele de volta tudo que eu sentia era dor, eu não me importava quanto tempo me mantivessem dentro da solitária, o quanto me mantivessem amarrada ou amordaçada.

―Você não tem idade pra beber ― Dwight disse, me trazendo de volta pra realidade ―E definitivamente, não come isso tudo.

―Não é pra mim.

―Mimar as pessoas não é um método nosso, e principalmente alimentar bem prisioneiros de guerra. ― Eu sorri para ele, pegando as minhas coisas.

―Já dizia a minha avózinha D, o melhor caminho para o coração de um homem ―e saí de lá, indo em direção ao meu lugar menos favorito no lar dos salvadores, o lugar das solitárias, onde eu passei uma grande parte do meu tempo antes de ser boazinha.

Joey gordo estava na entrada daquele lugar, Negan inventou esse apelido, não que não seja óbvio pela gordura corporal dele, mas ninguém nunca tinha chamado ele assim antes de Negan.

―Joey, pode trazer o nosso novo convidado aqui, por favor? ― joey pareceu desconfiado, com a quantidade de comida em minhas mãos ― Você sabe que Negan não me mandaria aqui se ele não tivesse uma razão para tal. Joey, você sabe que eu detesto esse lugar, não custa nadinha abrir a portinha dele e trazer Daryl aqui.

―Por que o chefão insiste tanto nesse cara?  ― perguntou Joey, antes de tentar roubar um sanduíche e entrar no lugar escuro, alguns minutos depois saindo com um homem completamente descabelado e fedido. Eu o olhei de cima a baixo, os pés descalços e retraídos  o moletom das pessoa que ficam nas cercas. O rosto semi coberto pelo cabelo muito grande e sujo e cheio de hematomas.

―Agora eu estou muito interessada em saber isso também, Jo ― respondo ― Eu sou Eliza, vamos almoçar longe daqui, esse lugar me dá arrepios.

Daryl sem muita cerimônia me segue, os passos baixos e trôpegos sem dizer uma palavra enquanto eu também estou muda, sem a menor noção do que dizer a ele. Eu o levo até a parte superior da fábrica, onde dá pra ver toda a extensão da floresta e ao fundo Washington grande e imponente com seus prédios caindo aos pedaços por falta de manutenção.

Quando eu saí da solitária, eu precisava desesperadamente de ar fresco eu corri até achar esse lugar, nesse horário existe uma sombra onde o chão está suficientemente frio para eu não queimar as minha bunda, mas quente o suficiente para não me manter lá por muito tempo, eu me jogo no chão encarando Daryl até ele fazer o mesmo, só que bem longe de mim.

―Você deve estar morrendo de fome ― pego um sanduíche e entrego em sua mão,  ele rapidamente enfiou na boca, enquanto eu abro as cervejas ― Desculpe, eu deveria ter trago água, você deve estar com sede.

―Eu to bem. ― ele diz, em meio as mastigadas, eu pego o outro sanduíche e começo a comer devagar.

―Eu disse isso também, depois do meu terceiro dia sem água. ― eu tomei um gole da cerveja ― Mas aí eu fui atingida pela seca, achei que ia morrer ou acabar tendo que beber o meu xixi, que naquela altura estava saindo marrom por falta de água. Eu chorei um pouco, Negan teve pena e me deixou uma garrafa. Eu bebi tudo num gole só, eu não me lembro de respirar ou engasgar eu só bebi e depois vomitei tudo, eu fiquei muito tempo sem água então meu corpo desacostumou. Bons tempos de cela. Quanto tempo pretende ficar na solitária? não quero ninguém batendo os meus recordes, você está na com a porta reforçada né? Já viu as marcas de unha na parede? são minhas.

Mostrei as minhas mãos, com as minhas unhas razoavelmente longas.

―Elas costumavam ser curtinhas, eu tinha uma namorada, mas eu não vejo ela em meses então eu realmente não vejo um ponto em mantê-las curtas de novo. Então, por favor. não arranhe por cima das minhas marcas.

―E por que eu faria isso? ― perguntou, quando eu o ofereci o segundo sanduíche.

―Por que você é maior e mais forte que eu, se eu magrela desse jeito dava meus pulos imagino você, aposto meu sanduíche que já tentou chutar a porta. E o resto da minha cerveja que você falhou em todos os testes que ele te deu. A porta aberta, os quartos o próximo vai ser alguma moça. Mas só se ela disser sim, se não vai acabar e nem o Dwight, Negan não gosta de estupradores.

―Dwight tentou estuprar alguém? ― perguntou, com uma voz muito baixa e rouca, talvez estivesse dias sem falar com ninguém.

―Não, ele fugiu com a ex-mulher dele e a cunhada. Uma vez que você está com os salvadores, é tipo a yakuza, você não sai daqui nunca mais. ― Daryl desviou o olhar ―Desculpa, isso foi meio mancada minha. Mas, é a verdade.

―Eu prefiro morrer.

―Morrer não te leva a lugar nenhum, além de uma cova rasa. Viver não é mais emocionante, mas eu garanto que aqui não é tão ruim, mas ainda sim é ruim, o lance de ajoelhar é uma merda, e o somos todos Negan? A primeira vez que eu vi eles dizendo em conjunto eu rolei meus olhos tão violentamente que achei que ia ficar cega. Mas, eu sabia que tinha gente em casa que queria me manter viva, e que eu quero manter vivos. ― eu olhei para as árvores, o sol ainda muito quente queimando a minha pele por cima do jeans. ― Quando eu cheguei aqui, eu era uma insolente, isso fez o meu irmão ser morto, chamei Negan de “cowboy decadente metrossexual” ele não gostou disso, mas ele não bate em mulher, nem em criança, nem feridos, o que era mais da metade do meu grupo, mas tinha o meu irmão, jovem, saudável e a nossa principal fonte de comida. Na segunda vez que ele foi atingido, o cérebro dele voou na minha cara e eles me trouxeram pra cá, eu estava em choque, achei que eles iam me deixar morrer aqui pelo o que eu fiz. Mas eles não deixaram, minha namorada manda muitas cartas e presentes pelo Dwight às vezes pelo Joey gordo ou Kennedy. Meu antigo líder, me enviou uma carta enorme dizendo que não era minha culpa, mas é difícil não culpa  a si mesmo.

―Não existe nada mais pra mim, ele ia ter um filho, tinha uma esposa, eu não tenho ninguém, nunca tive nada.

―Isso não te impede de ter no futuro, especialmente aqui, capitalismo numa escala prática, quanto mais você se esforça mais alto você chega, é quase como se meritocracia realmente funcionasse. ― eu olho pros lados ― Não funciona, eu não faço realmente nada além de assistir Gossip Girl. E eu não acho que você seja o que Negan espera, se você fosse alguém ruim e que não merecesse uma segunda chance você teria pegado a oferta dele de primeira. Isso mostra um monte de caráter, porém desprezar as propostas dele muitas vezes, não é força de vontade, é burrice.

Daryl murmurou alguma coisa inaudível.

―Dica da garota que passou dois meses lá, algumas vezes amarrada por bater nos guardas, algumas vezes amordaçada por gritar insistentemente, e uma vez com uma coisa que parecia uma focinheira, porque eu mordi Aubrey. Às vezes resistir não é a mais sábias das escolhas, se deixar levar pela situação as vezes é melhor do que criar atrito que pode fazer a sua cabeça rachada em duas. Dica de profissional. Não seja burro, finja junto com todos nós, seja um salvador você também, salve as pessoas que você mais ama, não faça por você.