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História Three Minutes - Wings are made to fly


Escrita por: TaetaEvil

Notas do Autor


Helloooo! Calma gente, que a estória não acabou! Me desculpem pelo cap passado por ser tão pesado, mas eu precisava... Sabe quando você quer esquecer de tudo e tentar ser outra pessoa, então você vai lá e muda a cor do seu cabelo?! Isso é uma característica minha, que eu coloquei no Taehyung dessa fic... Quando ele mudou a cor do cabelo para vermelho...
Vocês compreendem como a mente humana é completamente incompreensível?
As variações de estado de espírito podem ser sutis, camufladas em apenas uma mudança de visual, que para muitos parece algo saudável e normal, mas hoje, me faz querer parar para pensar: "Por que eu estava tentando ser outra pessoa?"
Eu mudava meu nome, meu apelido... Mas o que você viveu de bom e de ruim, continua com você e não importa o que você faça, você não consegue fugir disso...
E por que Taehyung tenta se livrar de todas essas coisas inconscientemente?
Se livrar das coisas boas e das ruins?
Por que ele quer tanto apagar o seu passado?
Um dia eu darei as respostas.
Prometo!

Obrigada por todo o carinho que vocês me dão!

Nome do Capítulo: "Asas são feitas para voar"

Capítulo 37 - Wings are made to fly


Fanfic / Fanfiction Three Minutes - Wings are made to fly

Hospital Yonsei

17/08/2017 X Consulta

 

Desculpa Doutor...

Vou tentar não interromper mais a consulta...

Enfim...

 

Meu nome é Kim Taehyung, tenho 21 anos, minha cor favorita é branco, e meu número da sorte é 15 de agosto!

 

Há dois dias atrás, meu dia começava já com mais um de meus pesadelos.

Eu sonho frequentemente com essas coisas...

São pesadelos perturbadores...

Confusos...

 

Eu não esperava me abrir de verdade nessas consultas, mas agora eu acredito que desabafar me fará bem.  

Por isso pedi para que você viesse até aqui...

 

Desde que você aconselhou Jaejin a me incentivar em escrever tudo o que eu sinto em um papel, eu tenho feito isso... E eu sinto como se tirasse um peso da minha vida a cada palavra escrita, então, hoje eu tentarei me libertar definitivamente das coisas que me fazem mal.

E esses pesadelos fazem parte das coisas ruins, por isso contarei sobre eles.

 

"Eu tenho 10 anos e estou caminhando no meio de uma floresta escura:

 

Perdido por entre as árvores; Apenas caminhando sem saber para onde.

 

Olho a minha frente e vejo uma vista linda.

Nunca na vida tinha visto uma paisagem tão encantadora.

Continuo caminhando, mesmo no escuro, tentando chegar o mais próximo do local mais iluminado dali.

 

-Continua! - Ouço uma voz soprando em meus ouvidos.

 

Sigo em frente caminhando, num estado de piloto automático, em uma espécie de um transe profundo.

 

-Continua!!! - A voz repetia.

 

Eu não sabia o que estava sentindo.

Só obedecia aos comandos daquela voz.

Me sentia vazio, sozinho e perdido, então eu caminhava como se fosse apenas uma marionete daquela criatura que me ditava coordenadas, esperando que de alguma forma, ela me desse um novo destino.

 

Fechei meus olhos e avancei bastante no caminho, sem ter noção para onde estava indo.

Até que algo me fez parar.

 

Ouvi outra voz, diferente da que estava me guiando.

Abri os olhos por causa dela.

Ainda estava entorpecido, mas algo me chamou atenção.

Olhei para o lado e vi um coelho branco me olhando.

Ficamos intrigados um com o outro, e apenas ficamos em silêncio enquanto nos analisávamos.

 

Dei um passo para direita, para ir na direção do coelho.

 

-Siga em frente! - A voz ordenava mais uma vez.

 

Hesitei em prosseguir até o animalzinho, e me virei para retomar o destino anterior.

 

-Continua! - Mais um sussurro.

 

Dei mais alguns passos, porém de olhos abertos, eu notei finalmente para onde eu estava indo.

 

Recuei 5 passos assustado, notando que eu estava na beira de um precipício.

Assisti algumas pedrinhas que rolavam abismo a baixo.

 

-Continua! - Aquela voz repetia.

 

Eu já estava hiperventilando.

 

-Continua!!!!! - A voz se tornava cada vez mais autoritária.

 

Comecei a balançar a cabeça em negativa.

 

-CONTINUA TAEHYUNG!!! - Ouvi aquela voz inconfundível gritando rispidamente.

 

-Não... Por favor, me desculpa... - Falei baixinho assustado.

 

Começou a chover e eu tentei ir até o coelho que me olhava e parecia não estar com medo, mas ainda sim, eu quis protege-lo.

Me agachei e peguei ele do chão abrigando dentro do meu casaco.

 

-O que você vai fazer com esse coelho? Destruir a vida dele também?

 

Fiquei calado só ouvindo aquela voz que me dava medo.

 

-RESPONDE!

 

Me encolhi assustado e comecei a chorar em silêncio, abraçando mais forte o animalzinho.  

 

-Esse Coelho não é seu! Você não merece ele! - Ouvi essas ríspidas palavras, enquanto sentia alguém arrancando o animalzinho dos meus braços.

 

-M-mas... mas eu não ia machucar ele... E-eu juro que nunca quis machucar ninguém... - Confessei com os lábios trêmulos, tomado por culpa.

 

-Você não merece coisas boas Kim Taehyung. Você não merece ser amado, você sabe que não merece isso depois de tudo o que você fez... - Eu ouvia essas palavras, tentando fugir dessa voz que se aproximava, enquanto eu recuava de costas em direção ao precipício.

 

-E-eu sei... Me perdoa... Eu não queria... Eu não queria... - Comecei a chorar balançando a cabeça.

 

Dei mais alguns passos para trás, quando notei que havia chegado no limite do penhasco, sentindo um dos meus pés já se perdendo no espaço vago daquele abismo, tentando rapidamente fazer ele tocar de volta ao solo escorregadio, devido a água da chuva.

 

-É-é muito alto... Tá escuro... Tá e-escuro... - Falei chorando tentando me equilibrar.

 

-Você não merece coisas boas Kim Taehyung! - Reforçou usando um tom de voz cruel.

 

-“Você não merece coisas boas, você não merece coisas boas, você não merece coisas boas...” - Essas palavras estavam se repetindo infinitamente dentro da minha cabeça, como se estivesse me empurrando para o meu próprio fim, me obrigando a cair de costas naquele abismo. - Eu não mereço coisas boas, eu não mereço coisas boas, eu não mereço...

 

Já estava na beirada, e já havia me conformado que o meu destino era sofrer eternamente, para pagar todos os meus pecados. Sucumbindo para sempre no buraco negro que é minha mente escura.

 

 

 

 

 

 

-Morra!

 

 

 

 

 

Fechei os olhos e obedeci.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

-SNOWBAAAALL!

 

Essa outra voz me fez abrir os olhos e eu só enxerguei uma luz intensa que me cegava."

 

 

 

-NÃÃÃÃÃÃOO... - Acordei gritando pulando na cama assustado.

 

Meu coração estava disparado e eu estava suando e hiperventilando.

 

Não conseguia reconhecer onde eu estava.

Olhei para todos os lados e nada me era familiar.

Recuei para trás em cima da cama, me encolhendo no canto da parede, abraçando minhas próprias pernas, sentindo meu corpo tremer.

Comecei a chorar em pânico pelo sonho, e por não saber que lugar era aquele.

 

Tudo estava escuro, e não me refiro somente ao local, mas sim a minha mente.

 

-TAETAE? - Jaejin entrou no quarto correndo, já vindo na minha direção.

 

-O-onde é... Onde é que eu tô Jaejin? Q-que lugar é esse? - Perguntei atordoado enquanto ela me abraçava e meus olhos percorriam dispersos pelo cômodo.

-Calma Taetae, calma... Conta meu amor! Conta! 3 minutos! - Ela segurou minha mão. - Um, dois, três, quatro...

 

Fechei os olhos e comecei a contar baixinho junto com ela.

 

-Cinquenta e sete, Cinquenta e oito, Cinquenta e nove... Três minutos...

 

Abri os olhos receosamente, e tudo parecia mais claro.

 

-A luz voltou meu amor? - Perguntou preocupada.

 

Apenas assenti com a cabeça que sim.

 

-Viu? Você tá na minha casa, no meu quarto, na minha cama... Tá vendo? - Tentava explicar enquanto me embalava como uma criança assustada. - Aquele ali é um porta retrato com uma foto minha e sua... - Ela disse apontando, tentando me tranquilizar, alisando meus cabelos. - E ali tá o seu carro estacionado na minha garagem... - Ela abriu a cortina da janela para me mostrar. - Você veio passar uns dias aqui comigo meu amor...

 

Ainda estava muito confuso, mas comecei a me lembrar de algumas coisas.

 

-Snowball... - Falei baixinho para mim mesmo.

-Que? - Jaejin perguntou sem entender.

-O coelho Jaejin... Cadê?

-Que coelho meu bem? - Interrogou franzindo as sobrancelhas.

 

Fiquei em silêncio tentando organizar os pensamentos.

 

-Yerin! - Falei num pulo. - Yerin... Cadê ela? - Perguntei apressado já sentindo uma angústia.

 

Jaejin suspirou pesadamente e sentou na cama ao meu lado.

 

Eu ouvia as palavras que saiam da sua boca, me contando e me explicando mais uma vez o que tinha acontecido, e tudo o que se passava na minha mente enquanto eu chorava desolado era: "Não... Não... Não... Por favor, não..."

 

Deitei com a cabeça no colo de Jaejin e acho que chorei até dormir de novo, mas estava com a mente tão cansada, que nem sonhei nada, ou ao menos, não me lembro com o que sonhei.

 

Acordei as 17:35...

Decidi ir para minha casa, mas antes, Jaejin havia me falado sobre uma pessoa que gostaria de me ver.

Disse que queria conversar comigo.

Eu não queria sair de casa.

Essa data me traz memórias tristes...

 

Aliás, eu não tinha vontade de fazer coisa alguma.

Eu parei até de gravar e por hora, não quero nenhum tipo de contato com o trabalho e com a mídia.

Eu só queria me isolar de tudo porque eu tinha acabado de perder uma das únicas pessoas importantes na minha vida.

Eu não estava lidando com aquilo da melhor forma.

Me sentia mais vazio do que nunca. 

Os pesadelos estavam mais frequentes e eu acordava cada vez mais confuso...

 

Sentia como se eu tivesse perdido tudo... Como se tivesse perdido muito mais do que eu conseguia lembrar...

 

Não queria ver ninguém, mas o motivo que Jaejin me deu para sair com ele, parecia o suficiente para me fazer concordar...

 

E eu concordei...

 

Era por volta das 20:00 horas e um carro parou na frente da minha casa.

Achei estranho, porque era o carro da Jaejin... E para Jaejin emprestar o próprio carro, só sendo alguém de muita confiança... 

E ela realmente me falou que eu poderia confiar nele.

 

Entrei no carro, sentei no banco ao lado, tentando me manter o mais imparcial possível. 

Ainda não confiava naquele homem e nem entendia porque deveria confiar. 

 

-Boa noite... - Ele cumprimentou sem olhar na minha direção.

 

Eu já achei falta de educação, mas ainda sim o cumprimentei.

 

-Boa noite! Eu não tenho muito tempo... - Respondi seco. - Vamos logo!

 

Eu não costumo tratar as pessoas dessa forma, mas além de eu estar em um mau dia, eu ainda não tinha certeza se eu iria concordar com o rumo do assunto.

Por que eu iria confiar em um cara que eu nunca vi na vida?!

 

-Eu também não tenho Taehyung...

-Eu sei... Jaejin me disse... Você tá saindo da Coréia hoje, não é?! - Perguntei engatando meu cinto.

-Sim... - Concordou já ligando o carro. - Daqui 3 horas e meia preciso estar embarcando em um avião... 

-Hm... A Jaejin me disse que você quer ser piloto... Você é corajoso Jungkook! Eu odeio aviões... É Jungkook, não é?! É esse o seu nome?!

-É sim... Jeon Jungkook... - Respondeu suspirando. 

-Eu acho que já ouvi seu nome em algum lugar... - Fiquei pensativo, mas logo a relevância dessa informação passou. - Enfim... Pra onde você tá me levando Senhor Jeon? - Perguntei olhando para o seu rosto. - O que você pretende fazer com toda essa história?  

-Pra falar a verdade... - Falou rindo soprado. - Nem eu sei...  

-Quer dizer que estou num carro com um cara que não conheço, que não quer dizer pra onde está me levando e ainda não sabe o que pretende comigo?! - Questionei franzindo as sobrancelhas. - Então quem é corajoso aqui sou eu, que posso estar num carro com um serial killer... - Satirizei sorrindo.

 

Ele riu também, porque entendeu que eu estava brincando. 

Foi agradável ver ele sorrir.

Ele parecia ser um cara tão sério.

Deveria sorrir mais vezes.

 

E apesar de eu estar deprimido, eu não gosto de demonstrar isso para as pessoas.

Ainda mais para as que eu não conheço.

 

-Okay, eu vou fazer um teste com você então! – Anunciei pegando um pirulito do bolso. 

-Que tipo de teste? - Perguntou confuso.

-É um teste que fizeram comigo pra saber se eu não sou um psicopata... - Especifiquei.

-Tá... Pode fazer... - Respondeu concentrado no transito.

-Certo! Tinha uma mulher, ela conheceu um cara no velório de um parente... Eles começaram a sair; ela se apaixonou por ele, mas um tempo depois, ele parou de ver a mulher, porque disse que estava apaixonado por outra pessoa... Um dia depois, a mulher mata a irmã. Por que ela fez isso? - Instiguei abrindo o pirulito. 

-Quê? - Perguntou sem entender.

-Por que a mulher matou a irmã? - Repeti. - Se você acertar, você ganha um pirulito! Mas você só vai acertar se você pensar como um psicopata, e se você for capaz de pensar como tal, então significa que você é um! 

-Tá... Espera... Ela conheceu o cara, se apaixonou por ele, aí ele diz que gosta de outra, e no dia seguinte ela mata a irmã... (?) - Ele repetiu tudo enquanto parecia refletir para encontrar a resposta.

-Aham...

-A mulher matou a irmã porque descobriu que esse cara tinha se apaixonado pela pópria irmã dela? É isso? - Palpitou incerto.

-Você acha que é? - Instiguei.

-Sei lá... Faz sentido, não faz?! Ela descobre que a pessoa que o cara tá gostando é a própria irmã, e então ela vai lá e mata ela... Acho que é isso... Tá certo? 

-Quer dizer que você acha certo matar uma pessoa por esse motivo? 

-Não... Eu só estava analisando a situação! Não distorce o que eu falei... - Esclareceu. - Mas e então... Acertei?

-Não! Você não é um psicopata! - Anunciei dando de ombros.

-Então por que ela matou a irmã? - Questionou confuso.

-Porque a mulher conheceu esse cara em um velório de um parente, então logo da pra deduzir que esse homem era próximo de alguém do círculo familiar dela... O cara parou de ver a mulher e ela matou a irmã no dia seguinte para reencontrar ele de novo no velório... - Expliquei colocando o pirulito na minha boca. 

Ele me olhou incrédulo com a dedução.

-Que foi? - Perguntei me reclinando no banco. 

-O que você respondeu quando te perguntaram isso? - Interrogou franzindo as sobrancelhas. 

-Que a mulher é uma vergonha para a fama dos psicopatas... Ela é uma sociopata, porque agiu por impulso, e não uma psicopata, porque um psicopata não mataria no dia seguinte, já que levantaria muitas suspeitas tornando tudo muito evidente... - Ele ficou me olhando como se eu tivesse sugerido um absurdo. - Ah, para, não me olha assim... Por favor, a explicação é tão óbvia que me faz ter vontade de rir... Ela fez aquilo tomada pelo desespero... Psicopatas são frios, calculistas e não sentem empatia... Para começar, se ela se apaixonou, ela já não é uma psicopata! Paixões sempre são um empecilho, e se ela se permitiu se apaixonar, ela já fracassou miseravelmente na sua missão de serial killer, porque será pega em breve. Porque todo psicopata é um sociopata, mas nenhum sociopata é psicopata, porque eles são capazes de sentir afeição e remorso... Eles se sentem culpados após o crime... Psicopatas só matam e vão chupar um pirulito depois.

-Então isso significa que você é um psicopata por ter respondido isso e por ter pensado como um? - Perguntou concentrado no transito.

 

Ele parecia estar evitando olhar para mim.

Na real, eu já estava ficando com medo com a maneira de agir daquele cara...

 

-Lógico que não! Porque se eu fosse um, eu não estaria te contando essas coisas... Você acha que psicopatas saem por aí explicando como funciona a sua mente e como ele se enquadra em um padrão comportamental de um?! - Ironizei erguendo a sobrancelha. - Mas... Eu também poderia estar te manipulando quando nego que sou e quem sabe tudo isso faça parte de um dos meus joguinhos mentais, tentando confundir seu psicológico... – Satirizei sorrindo. 

-Você tá tentando me deixar com medo? - Interrogou franzindo as sobrancelhas.

 

Quê?

Por que eu iria querer deixar ele com medo?

Eu só estava brincando.

Achei que isso tivesse ficado claro.

 

Mas então tá...

Tentarei assustar ele.

Vai ser divertido!

Anos de atuação vão me ajudar e se tem algo que eu faço com maestria, é manipular as pessoas.

E parando para pensar... Okay! O que eu falei foi estranho, de fato.

 

Olhei para ele lançando meu olhar mais intimidador e dei uma leve risada sádica, após lamber o pirulito pela última vez e joga-lo fora pela janela, apoiando meu braço sobre o vidro entre aberto.

 

-Por que? Você tá com medo? - Perguntei olhando para o lado, tentando reconhecer o caminho.

-Não! - Respondeu rindo soprado como se fosse óbvio. 

 

Olhei para ele intrigado. 

 

-Sério? - Perguntei descrente. 

-Sério! Se tá querendo me assustar, vai precisar muito mais do que meia dúzia de palavras ensaiadas... - Respondeu menosprezando. - Aliás, palavras não me assustam! Você não me assusta... 

 

Nossa, que frustrante...

 

Fiquei pensando no que que eu fiz de errado.

Eu nunca sou desmascarado.

Eu sou um bom ator.

 

 

-Mas nenhum pouquinho? - Insisti ainda descrente. 

-tsc tsc tsc - Negou balançando a cabeça. 

 

Abri a boca pra falar algo, mas desisti frustrado. 

Apenas suspirei profundo e cruzei os braços. 

 

Não acredito que eu falhei... 

 

-Se quer me assustar, começa a conversar com a pessoa que tá sentada no banco de trás... - Ele disse olhando pelo retrovisor. 

Olhei para trás. 

-Mas não tem ninguém sentado ali... - Falei apreensivo achando aquilo estranho. 

-Exatamente! - Concordou olhando para mim erguendo uma sobrancelha. 

 

Senti um arrepio na mesma hora. 

 

-É pra eu ficar preocupado com a sua sanidade mental porque você possivelmente tá vendo alguém criado pelo sua imaginação, ou você tá falando que tem medo de fantasmas? 

-Fantasmas! - Especificou. 

 

Mais um arrepio.

 

Se não tivéssemos assuntos importantes para tratar, segundo a Jaejin, eu juro que teria descido daquele carro! 

 

Lógico que o fato de ele ser bonito contribuiu para eu permanecer ali...

Muito bonito... 

Aliás... 

Eu nunca tinha visto um rosto tão bonito na minha vida...

Nem quando me olho no espelho...

 

Ele é alto, tem mais ou menos a mesma altura que eu. Cabelos pretos e estava usando uma camisa e um casaco branco.

 

Ele estacionou o carro.

 

-E quando que você vai me esclarecer sobre o assunto que quer tratar comigo? – Perguntei  tentando identificar onde estávamos, olhando pela janela. – Ei, você me ouviu?

 

Quando olhei na direção dele, porque achei estranho a demora para me responder, percebi que ele estava me olhando hipnotizado.

Foi estranho, porque até então, ele mal tinha olhado pra mim, e agora não tirava os olhos do meu rosto.

 

-Por que tá me olhando assim? – Perguntei já me sentindo incomodado com a situação.

 

Eu não conseguia decifrar o seu olhar, mas ele parecia melancólico.

Ele ergueu receosamente uma mão e esticou o braço na minha direção. Por um ato instintivo, eu recuei sutilmente, mas ele prosseguiu até tocar com a ponta dos dedos no meu rosto, como se ele quisesse ter certeza de que eu era real.

 

-Que que você tá fazendo? – Perguntei desconfiado sentindo sua mão tocando meu rosto. – Eu não sou um fantasma... Eu juro! – Falei rindo tentando disfarçar a estranheza daquele momento.

 

Ele baixou a cabeça e retirou a mão do meu rosto, como se tivesse levado um choque.

 

Okay!

Aquele cara era muito estranho!

Me olhava estranho; agia estranho; falava coisas estranhas e ainda me tocou...

Além de ter me levado para um lugar onde eu nem fazia ideia de onde estava.

Mas se você quer saber... Deixaria ele me levar para onde ele quisesse...

Eu imaginava muitas possibilidades, e depois daquele toque, já estava me preparando psicologicamente com a ideia de que provavelmente iria alguma hora acabar envolvendo sexo.

Por que... Que outro motivo alguém como ele me procuraria pra propor uma coisa dessas?

Bom... Talvez fosse pelo dinheiro também...

 E eu estava disposto a dar a ele o dinheiro que ele quisesse.

 

Mas...

Eu jamais poderia cogitar o lugar que ele me levou:

 

-Tá falando sério? - Perguntei incrédulo assim que desci do carro. 

 

Achei que nós só iriamos conversar.

 

-Não! Vai ficar aí parado?! - Falou seguindo em frente.

 

-E-eu não posso entrar num lugar desses... As pessoas vão me ver e...

-Relaxa... Não tem ninguém...

 

Espera... Como assim?

 

-Tá dizendo que tá vazio? - Questionei confuso.

-Hmm... Tecnicamente não... Tem apenas eu, você e o responsável pelo local... - Explicou passando pelo portão.

-Mas espera... Nós não estamos tipo, invadindo, não é?! - Interroguei preocupado.

-Não... Eu paguei para o local abrir somente para nós hoje à noite... - Informou caminhando de costas.

 

Eu não sei se ele estava fazendo aquilo para me impressionar, mas eu sei que ele estava conseguindo...

 

-E o que nós vamos fazer aqui? - Perguntei confuso.

-Ué... O que se faz em um parque de diversões? - Interrogou puxando uma alavanca. - A gente se diverte! - Disse sorrindo no momento em que milhares de luzes começaram a acender simultaneamente por todo o lugar. 

 

Fiquei completamente fascinado pelo local. Nunca tinha visto nada parecido tão de perto.

Minha prioridade nunca foi me divertir, mas eu estaria mentindo se dissesse que nunca quis fazer isso com alguém.

 

-Escolhe um! - Falou apontando para todos os brinquedos a nossa volta. 

 

-E-eu não sei... E-eu nunca estive num lugar desses antes... - Disse ainda atônito com o momento.

 

Por que ele estava sendo tão legal?

 

E eu ainda estava descrente por descobrir que não envolvia sexo.

Não que se terminasse em sexo fosse uma coisa ruim, mas é porque eu realmente não esperava por aquilo.

 

E... Por que ele queria me agradar? 

Por que ele estava me dando tanta atenção? 

 

Estava ainda distraído com a magia do local e perdido em meus pensamentos, quando ele me despertou de um transe:

 

-Tudo bem! Se você não escolhe, então eu escolho! – Ele disse já correndo e sumindo entre os brinquedos.

 

-EI... EI... ESPERA! – Chamei tentando correr atrás dele, mas acabei perdendo ele de vista.

 

Pra onde ele foi?

 

Corri mais um pouco, mas ele sumiu.

 

-Jungkook? – Chamei novamente caminhando olhando para todos os lados.

 

 

Fiquei parado no meio do parque, procurando envolta.

 

-Jungkook?

 

Sério que ele foi embora?

 

 

 

 

 

 

 

-BUUU!

-Ai que susto, seu idiota! – Falei levando a mão no peito, depois que ele me surpreendeu pelas costas, tocando meu ombro.

-Desculpa... – Pediu sorrindo parecendo ter se arrependido pela brincadeira.

Comecei a rir.

-Você me assustou mesmo... Primeiro fala de fantasmas e aí de repente você some e me deixa sozinho no escuro no meio do nada... – Falei sorrindo. – Espera... Você ouviu isso? – Perguntei fingindo estar assustado.

-O que? – Questionou confuso.

-Eu acho que eu vi alguma coisa... – Declarei olhando para um local escuro. - Tem certeza que estamos sozinhos nesse parque?

-Não, na verdade tem mais a pessoa que é responsável pelo local... – Ele esclareceu.

-Ah bom... Então deve ser a mulher que cuida do parque... – Dei de ombros.

-M-mulher? – Repetiu engasgado. – Mas é um homem o responsável...

 

Eu iria aflorar todo o meu talento para atuação.

Eu olhei para o rosto dele fingindo estar muito intrigado, e então olhei para frente na direção onde eu fingi ter visto algo, fazendo ele ficar olhando apreensivo também.

 

-Espera... Não sai daí! – Falei indo em frente.

-Onde você vai?

-Vou ver quem era... Porque eu tenho certeza que tinha alguém ali... - Reforcei convicto.

 

Caminhei receosamente entre os brinquedos que não estavam funcionando, e que permaneciam com as luzes apagadas. Virei para a esquerda, sumindo completamente do campo de visão dele.

 

-Taehyung? – Ouvi ele me chamando.

 

Fiquei escorado em uma parede, sem responder.

 

-Taehyung? – Ouvi a voz dele mais próxima.

 

Ótimo!

Ele estava vindo na minha direção.

 

Ele quer ver quem assusta mais?

 

Brincou com a pessoa errada.

 

Quando ele estava quase chegando até onde eu estava, me agachei e contornei outro brinquedo, me esgueirando pelo escuro.

 

-Taehyung, pode parar! Eu ouvi você! – Ele falou ainda procurando em volta.

 

Continuei me escondendo e fugindo dele a cada passo que ele ficava perto de se aproximar de mim.

 

-Taehyung... Não tem graça!

 

Ele fingia não estar ligando, mas eu conseguia sentir a apreensão na voz dele.

 

Eu estava me segurando para não rir.

 

-Taehyung, me responde!

 

Tirei receosamente meu casaco e deixei no chão, já me afastando do local e observando ele de longe, enquanto eu ficava escorado em uma parede a diante.

 

-Taehyung, para com isso! Onde é que... – Ele viu meu casaco. – Tae? – Falou baixinho apanhando do chão. - TAE?

 

Espera...

Ele me chamou de “Tae”?

 

-TAE?

 

Ele começou a caminhar apressado.

 

-TAEHYUNG? ME RESPONDE! – Começou a gritar.

 

Ele veio correndo em frente em direção onde eu estava.

 

Percebi que ele já estava bem próximo.

 

Quando ele estava chegando o surpreendi.

 

-Peguei você! – Falei rindo puxando ele pela cintura.

 

-Ai meu Deus Taehyung, você quer me matar?! – Ele disse olhando nos meus olhos.

 

Comecei a rir mais ainda.

 

Então eu fui pego de surpresa, porque ele me abraçou de repente e eu fiquei completamente sem reação na hora. Apenas senti o impacto do corpo dele colidindo com o meu.

-Nunca mais faz isso! – Falou me abraçando apertado.

Ele parecia tão assustado, mas não parecia ser só por causa da brincadeira.

-T-tá... tá... – Respondi confuso com a situação. – Desculpa... Foi só uma brincadeira... – Me redimi me sentindo mal pelo seu desespero, que não entendi por qual motivo. – Calma... Tá tudo bem... – Correspondi o abraço, meio desajeitado, mas queria tranquiliza-lo de alguma forma.

 

Ele se afastou passando a mão nos olhos.

Eu acho que eu fiz ele chorar.

 

-Nossa... Desculpa... Eu não sabia que você tinha tanto medo de fantasmas... Me perdoa... – Fiquei sem jeito me sentindo muito culpado pela situação.

 

-Não precisa pedir desculpas Taehyung... – Respondeu rindo soprado.

-Precisa sim... Eu jamais iria brincar com o medo de alguém... Me desculpa de verdade! – Suspirei pesadamente tentando me livrar em vão daquela sensação. - Nossa, eu tô me sentindo muito mal... E-eu não sabia mesmo... Eu juro que eu não sou esse tipo de babaca... Foi uma brincadeira estúpida... Eu sou um idiota! Me perdoa...

-Eu sei que você nunca faria esse tipo de coisa Taehyung! – Ele disse sorrindo minimamente parecendo triste.

 

Bufei bravo comigo mesmo.

 

-Desculpa... Estraguei sua noite... – Falei frustrado e sem jeito.

 

-A noite tá só começando Taehyung! – Declarou suspirando passando por mim. - Então vamos ver como está sua pontaria! - Falou sorrindo tentando acabar com a tensão do momento, me entregando uma pistola de air soft que ele pegou de cima de uma bancada. - Porque duvido sua mira ser melhor do que a minha!

Comecei a sorrir também.

-Isso é sério?! - Perguntei analisando o material da réplica em minhas mãos. - Você realmente não me conhece, não é Jungkook?! - Disse rindo soprado.

-Nem você me conhece Taehyung! - Respondeu atirando em um alvo e acertando bem no centro, que deveria ter pelo menos, 5 centímetros de diâmetro. 

 

Me senti desafiado!

 

Engatilhei minha arma, respirei profundo, estiquei os dois braços segurando firme a pistola, alinhei minha mira com o alvo, fechei um olho, soltei o ar calmamente e disparei.

 

-Seria uma bela performance... - Falou se aproximando do alvo. - Se você não tivesse errado... - Lamentou ao notar que só havia apenas um buraco no papel, provocado pelo seu projétil. 

 

-E quem disse que eu errei? - Contrariei me sentindo ofendido. 

-Porque só tem apenas um buraquinho aqui no papel, e esse fui eu que fiz... - Respondeu como se fosse óbvio. 

 

Rolei os olhos para cima. 

 

-Vê se agora você não pisca! - Alertei enquanto engatilhava minha arma olhando para ele. 

 

Inspirei o ar para meus pulmões, segurei a pistola com apenas uma mão, mirei mais uma vez no meu objetivo, soltei o ar, e apertei o gatilho, acertando exatamente onde queria ter acertado. 

 

-Espera... - Falou incrédulo. - Como você fez isso? - Perguntou chocado. - Você conseguiu acertar exatamente onde eu já havia atirado? Como que sua bolinha atravessou exatamente o buraco que eu fiz? Esse furinho não deve ter nem 6 milímetros de diâmetro... 

Ele tentou atirar mais uma vez, acertando o centro, mas há pelo menos 3 centímetros de distância da primeira perfuração. 

 

-É que você tá fazendo isso errado Jungkook... Bem... Na verdade eu tô acostumado a atirar com armas de verdade... – Falei ainda analisando a pistola.

-E por qual razão você usa armas de verdade? – Ele perguntou recarregando.

-Eu quis aprender pra tornar cada movimento mais realista na hora de atuar, porque tem a ver com o meu trabalho... - Expliquei enquanto recarregava o pente. – Não que no meu trabalho eu use armas de verdade... – Me corrigi por notar que soou estranho. – É que eu gravava um dorama policial... – Especifiquei dando de ombros.

-Eu conheço seu dorama... – Falou enquanto eu estava concentrado colocando as munições.

Ri soprado.

-E eu acho ele incrível! – Ele elogiou me fazendo instintivamente olhar para o seu rosto, por ter sido pego de surpresa com as suas palavras.

-Sério? – Perguntei descrente.

-Sério! – Reforçou me olhando sorrindo. - Seu personagem é fascinante!

-Então... Obrigado... – Agradeci receoso.

 

Espera... Ele está flertando comigo?

 

Ri soprado de novo balançando a cabeça sutilmente.

 

Aposto que não sabe nem o nome do dorama

 

-Meu episódio favorito é aquele que o LionHeart remove as balas da pistola do HyunSik enquanto distrai ele falando coisas aleatórias... Acho que esse é o episódio 31 da primeira temporada... – Ele falava empolgado. – NÃO NÃO NÃO... Tem aquele que ele forja a própria morte explodindo o próprio carro... – Ele já estava eufórico e eu espantado. – E por que “gravava”? Você não vai gravar mais? O que que eu vou fazer nos meus sábado a noite agora? Sério... Você não pode parar de gravar... Você não sabe como tem gente que depende disso... Você precisa voltar a gravar! Você vai voltar a gravar, não vai? – Perguntou vindo na minha direção.

Comecei a recuar dele que se aproximava, até me escorar na bancada atrás de mim, esbarrando no recipiente com as bolinhas de munição que se esparramaram pelo chão.

Fiquei em silêncio e com os olhos arregalados, olhando para ele que parou no meio do caminho.

-Tá... A-agora você tá me assustando... – Falei achando aquilo muito estranho.

 

Sabe aquele lance de “psicopata”?

Pois é...

 

-Desculpa... É –é que minha irmã é muito fã sua, a-aí ela fica falando toda hora sobre o dorama e me obriga a assistir com ela que eu até acabei decorando... – Ele explicou rindo se agachando para juntar as bolinhas que caíram.

Dei uma risadinha de nervoso e receosamente me agachei para ajuda-lo a recolher também.

-E... E como é que é o nome da sua irmã? – Perguntei tentando acabar com a tensão do momento.

Ele ficou catatônico me olhando, me deixando mais intrigado ainda com seu comportamento.

-Ei, eu perguntei qual é o...

-Ada! Ada Wong... – Me interrompeu.

-Quê? – Perguntei achando estranho. – “Ada Wong” não é o nome de uma personagem de um jogo? – Interroguei franzindo as sobrancelhas.

-É... É... – Confirmou se levantando. – É que minha mãe era muito fã desse jogo...

-Hm... Então vocês não são filhos do mesmo pai... – Observei.

-S-somos... – Concordou se agachando enquanto juntava uma bolinha do chão e derrubava 3 do pote.

-Mas como se seu sobrenome é “Jeon” e o dela “Wong”? – Interroguei já confuso. – Deixa que eu recolho, você só tá derrubando mais ainda... – Falei rindo porque encontrei alguém mais desajeitado do que eu.

-É que... é que nós não somos filhos do mesmo pai, mas fomos criados pelo mesmo pai... Não sei se tá dando pra entender... Mas olha só... Você não pode me ensinar a atirar que nem você? – Ele parecia estar desconversando.

-Posso... Posso sim... – Confirmei pegando a pistola, tentando deixar para trás essa desconfiança. – Bom, como eu estava dizendo, estou acostumado com armas de verdade, mas eu já brinquei com uma dessas uma vez, e a ideia é a mesma... Só é preciso levar em consideração outras variáveis, como: Pressão, distância e resistência do ar. - Expliquei enquanto observava ele insistindo em atirar sem parar e sempre errar. - Quer que eu te ensine mesmo? - Perguntei parando do seu lado.

-Aham... - Concordou ainda concentrado em olhar para o alvo. - Minha mira é boa nos jogos virtuais...

-Ah, mas a física e a inércia desses jogos, ainda são muito fantasiosas... Não tem muita aplicabilidade no mundo real... Mas vou te explicar como fazemos aqui... Então... Você pode segurar só com uma mão, como eu fiz da segunda vez, mas acho que pra começar é melhor você segurar com as duas... Isso! Estica os dois braços e segura com as duas mãos firmes... Agora mira onde você quer atirar... Mais pra cima... Isso... Não tanto... Mais pra baixo... Espera... - Falei parando atrás dele, para auxiliá-lo. 

Coloquei minhas duas mãos sobre as dele para ajudar a alinhar com o alvo.

 

Não era para eu abraça-lo, mas era tecnicamente o que eu estava fazendo.

Era a quarta vez na noite que tínhamos algum tipo de contato físico, e sempre que nós nos tocávamos, isso me deixava cada vez mais desestabilizado.

E por que? 

 

Eu não fazia ideia...

Gravo doramas todos os dias... Muitas das cenas obviamente tenho esse tipo de contato com outros atores, mas nunca senti nada parecido com nenhum deles comparado com o que senti ao toca-lo.

Foi instantâneo.

 

Senti meu coração acelerando, quando percebi que ele estava entre meus braços... 

Acho que isso afetou ele de alguma forma também...

Percebi isso pela sua respiração.

 

Soltei ele e parei do seu lado:

 

-Então é isso... - Falei tentando disfarçar o que havia sentido. - É só sempre alinhar o buraquinho da mira, um pouco acima de onde você quer realmente acertar... Agora tenta...

 

Ele atirou, e errou mais uma vez. 

 

-Porque não deu certo? Eu alinhei como você falou... 

-É porque você tá atirando no momento errado Jungkook... E um dos erros tá na sua respiração... Você tá atirando quando tá inspirando, e você precisa fazer exatamente ao contrário... E eu sei que é difícil, mas você tem que tentar não piscar no momento do disparo, isso vai ajudar a não desviar a mira do seu foco... É só se concentrar... - Fui novamente até suas costas. - Posso? - Perguntei me referindo a auxiliá-lo mais uma vez.

-Por favor... - Respondeu se posicionando melhor.

 

Coloquei novamente minhas mãos sobre as dele, tentando não pensar no toque do seu corpo no meu. 

Apoiei meu queixo no seu ombro, para ter uma visão melhor do alvo e uma firmeza maior em minhas mãos. Mas nesse momento em que fiquei próximo ao seu pescoço, pude sentir seu perfume... 

 

E por que ele me afetava tanto?

Fechei meus olhos.

Fiquei absorvendo o cheiro do seu pescoço, enquanto roçava sutilmente meu nariz em sua nuca. 

Notei os seus pelos se arrepiarem, por causa do meu hálito quente tocando sua pele vulnerável. 

 

-Agora se concentra... - Acho que falei mais para mim mesmo do que para ele.

 

Apoiei novamente meu queixo no seu ombro.

 

-Inspira... - Pedi fazendo o mesmo. - Agora solta o ar... beeeem devagar... - Falei enquanto sentia nossas respirações se sincronizando.

 

Respirar calmamente, dada às circunstâncias, nunca me pareceu uma tarefa tão difícil...

Eu agradecia por não ter que demonstrar como se atirava mais uma vez, porque nas condições que eu estava, não acertaria nem um alvo do tamanho da roda de um caminhão. 

 

Eu estava tremendo, mas não era de frio e nem de medo.

Eu não sei porque eu tremia.

 

-Nós vamos fazer isso mais uma vez... E quando estivermos soltando o ar, você dispara, ok?! - Perguntei colocando meu dedo sobre o dele. 

-Okay... - Concordou engolindo em seco. 

-Inspira... - Fizemos sincronizadamente. - Solta o ar... E... Agora! - Apertamos o gatilho juntos. 

 

Ficamos ainda por alguns segundos naquela posição, até ele notar que havia conseguido. 

 

-Deu certo? Eu acertei? - Perguntou me olhando por cima do seu ombro. 

 

Nesse momento em que nossos rostos ficaram tão próximos, senti como se estivesse com saudade daqueles lábios.

 

-Vocês querem que eu ligue a roda gigante agora? - Uma voz masculina perguntou nos interrompendo. 

 

Era o responsável pelo funcionamento do parque.

 

Tecnicamente, não estávamos fazendo nada, mas acabamos nos assustando, quando fomos surpreendidos por ele... 

 

Instintivamente, nos afastamos... 

 

-É-é... E-eu não sei... Que que você acha?  - Me perguntou parecendo atordoado. 

-Roda gigante? Aquele negócio enorme que gira, gira e gira... Não! Muito obrigado! Eu passo! Fico enjoado só de pensar... - Rejeitei sabendo que na verdade era pela altura, mas não queria ter que confessar sobre isso. 

-Tudo bem... Então vamos procurar outras opções... - Concordou me puxando pela mão. 

Fiquei olhando sua mão na minha, enquanto para mim era estranho, mas para ele parecia algo muito natural de se fazer.

 

Eu não saio pegando na mão de estranhos para conduzir eles a lugar algum.

 

Mas eu sorri por ver nossos dedos entrelaçados.

 

Era uma sensação da qual eu nem sei como classifico.

 

 

Brincamos em tudo que é tipo de brinquedo, e foi um dos dias mais divertidos da minha vida!

Nós rimos tanto e...

Era tão bom ver ele sorrir...

Ele tem um sorriso tão lindo!

Com certeza ele deveria sorrir mais vezes!

 

Eu já estava ficando com pena dele. Tudo no que competíamos, eu ganhava.

Foi assim com a corrida de kart, tiro ao alvo e com todos os brinquedos que envolviam disputas.

Até que chegou em um que eu sabia que não teria a menor chance.

 

-Ah não... Você não tá falando sério, tá?! - Perguntei incrédulo. - Isso é aquele negócio pra medir a força?!

-Sim! - Concordou pegando uma marreta de ferro que deveria pesar pelo menos uns 40kg. - Agora você olha e aprende! - Falou logo em seguida já levantando o martelo, e batendo na parede.

 

Eu nem vi o resultado que foi exibido no display, porque eu já sabia que mal conseguiria levantar aquilo, muito menos manusear até onde deveria bater. 

 

Isso também é covardia... Olha o tamanho do braço daquele cara?!

 

E sim... Eu reparei nisso, até porque era impossível não reparar...

Principalmente nos músculos salientes das suas coxas até sob o tecido grosso da calça.

 

-Sua vez! - Incentivou me entregando o martelo. 

-Não... Tudo bem! Eu não quero te humilhar... - Eu disse dando de ombros.

-Você não é mais forte que eu Taehyung... Nem vem que eu não caio nessa... 

-Te levanto com um só braço... - Informei rindo soprado.

-Ah é?!  - Perguntou rindo.

-Lógico! – Reforcei confiante.

-Então vamos fazer assim... Quem perder vai ter que carregar o outro nas costas dando uma volta inteirinha por esse parque, até chegar no portão principal... - Desafiou sorrindo.

 

Parece que ele gosta de desafios, e eu?

 

Eu estava fodido!

 

-Fechado! - Concordei fingindo estar convicto.

 

Apertamos nossas mãos selando o acordo.

 

Mal levantei aquele objeto pesado em minhas mãos, e já o abandonei deixando ele apoiado na parede. 

 

-Ué... Vai desistir assim?! - Perguntou franzindo as sobrancelhas.

-Não tô desistindo... Só não quero te fazer passar vergonha na frente de toda essa gente... - Respondi com soberba apontando para o nada. - Na verdade eu tô afim de te carregar por aí mesmo... - Dei de ombros.

-Sei...

 

Fui até ele e parei de costas na sua frente.

 

-Vai... Sobe logo antes que eu mude de ideia... - Falei me agachando levemente.

-Eu não vou fazer isso com você Taehyung... Você não vai conseguir nem me levantar, muito menos me carregar até o portão... - Subestimou colocando as mãos nos bolsos da frente da calça.

 

Odeio quando as pessoas sugerem que não sou capaz de fazer as coisas.

 

-Agora você me deixou com raiva Jungkook! - Falei irritado. - Eu vou te carregar, mas se eu conseguir, você vai ter que dar 3 voltas me carregando por esse parque inteirinho... Agora sobe logo! 

-"Raiva"? - Repetiu baixinho.

-É! Raiva! Agora sobe de uma vez!

 

-Ok... Combinado... - Concordou parecendo disperso, envolvendo os braços no meu pescoço, já subindo nas minhas costas.

 

-Você é muito gordo Jungkook... Tá precisando fazer uma dieta... - Debochei tentando disfarçar a dificuldade em carrega-lo.

 

Só precisava me concentrar.

Não estava sendo tão difícil assim.

Só de vez em quando precisava parar para joga-lo sutilmente para cima, apenas para ficar melhor acomodado, enquanto o segurava pelas coxas. 

 

Seguimos calados.

Já estava na metade do caminho.

 

-Ei Tae... Você quer ouvir uma piada? - Questionou quebrando o silêncio. 

 

 Ele me chamou pelo meu apelido de novo?!

 

-Não... - Respondi tentando continuar concentrado. 

-Okay! Lá vai! Por que as pessoas pedem autógrafo para o sol? - Perguntou sorrindo.

-Cala a boca Jungkook... - Falei tentando não rir.

 

Eu entendi o que ele queria fazer...

Estava tentando me fazer rir para ficar sem forças. 

 

-Mais uma então... O que é o que é? Voa sem ter asas e chora sem ter olhos?

-Nuvem! – Respondi confiante em menos de 3 segundos.

-Você já sabia a resposta? – Perguntou intrigado.

-Não, mas é a dedução mais óbvia, não é?! – Falei jogando ele para cima novamente.

-Tá bom... Então lá vai mais uma! E essa você não vai acertar! – Disse rindo. - O que é o que é? Tem as pernas finas e caminha em círculos? - Interrogou rindo.

-O compasso... - Respondi concentrado e convicto.

-QUÊ? - Contestou incrédulo. - Não... não é o compasso... - Contrariou rindo como se eu tivesse sugerido um absurdo.

-Então é o relógio... – Palpitei incerto.

-“Relógio”? – Repetiu contestando. - Você não sabe brincar dessas coisas... 

-Tá... Então me diz por que as pessoas pedem autógrafo para o sol? - Questionei curioso. 

-Ué... Porque ele é um astro!

 

PUTA QUE ME PARIU!

 

-Ai não Jungkook... Essa foi péssima... - Falei rindo de tão ruim que foi. - Acho que você também não sabe brincar dessas coisas...

-Tudo bem... Vou te dar mais uma chance então: O que é o que é? Tem as pernas finas e caminha em círculos? - Repetiu se segurando para não rir.

-Porra, mas eu já falei que é o compasso! – Insisti inconformado.

-Não é o compasso... - Discordou rindo.

-Então que merda que é?! - Perguntei curioso. 

 

Ele não parava de rir. 

Ouvir ele rindo, me fazia rir também...

E eu já nem sabia mais pelo que estávamos rindo...

 

-PARA DE ME FAZER RIR JUNGKOOK... - Falei sentindo que estava perdendo as forças. - Eu vou te deixar cair... – Joguei ele pra cima mais uma vez. - VAAAI! Para de rir... Fala logo!

 

Já estava quase chegando completando aquela volta.

Eu não iria perder a aposta.

 

-Tem as pernas finas e... e...  AAAAI, NÃO ME MORDE! - Gritou rindo quando cravei os dentes na sua mão.

-Então para de rir...

-É v... É vo... É você!  - Respondeu gargalhando.

 

Espera...

Ele tá tirando com a minha cara?

 

-Ah É?! Então eu tenho uma pra você também! O que é o que é, não é vidro mas vai quebrar em mil pedacinhos quando eu jogar no chão? - Ameacei fingindo estar ofendido. 

-ESPERA... NÃO TAE, NÃO! - Contestou rindo, mas assustado, enquanto eu já jogava seu corpo para frente, por cima do meu ombro. 

Obviamente tomando cuidado para não machuca-lo. 

Ele caiu de costas na grama. 

 

-Como você fez isso? - Perguntou meio ofegante. 

-São só técnicas de defesas pessoais... Nada demais... – Expliquei dando de ombros. - Quer que eu te mostre algumas? – Sugeri oferecendo ajuda para ficar em pé.

-Desde que você não me quebre em mil pedacinhos... - Concordou pegando minha mão para levantar. 

-Vou tentar... - Falei sorrindo. - Quando quiser! 

 

Me virei, fechei os olhos, e esperei pelo momento em que ele tentaria me surpreender pelas costas. 

Antes mesmo que ele me tocasse, segurei firme seu punho, girei meu corpo, parando nas costas dele, torcendo seu braço...

Acho que fiz tão rápido que ele nem entendeu o que aconteceu. 

 

-Viu?! Não é força... Só técnica! - Expliquei o soltando. 

-Quer dizer que você consegue se livrar de qualquer pessoa, não importando se tá de costas, de pé, sentado, voando? - Interrogou enquanto massageava o próprio punho com a mão. 

-A habilidade de "voar" eu ainda não adquiri... - Falei debochando. - Ei, eu te machuquei? - Perguntei preocupado observando ele segurar o braço. 

-Não não... - Negou balançando a cabeça. 

-Deixa eu ver... - Falei analisando seu punho. – Nossa... Que marcas são essas? São cicatrizes? - Perguntei passando o dedo por cima. 

-Mordida de cachorro... - Informou suspirando. 

-Nossa... – Fiquei imaginando o quanto deva ter doido cada marca de cada dente.  

-É... – Suspirou mais uma vez.

 

Soltei o braço dele.

 

-Tá, vem cá que eu vou te explicar... Finge que vai me agarrar... - Pedi parando de costas na sua frente, enquanto ele me segurava por trás. - Se você estiver sendo atacado e a pessoa passar o braço por cima do seu ombro, você pode reverter o ataque, pegando no punho dela e torcendo seu braço assim... - Demonstrei devagar para não provocar nenhuma lesão. - Ou inclinar seu corpo levemente para trás, apenas para tomar impulso, e conseguir arremessar o corpo da outra pessoa por cima do seu ombro... Mas não vou fazer isso com você de novo... Agora, se você estivesse me segurando com seus braços em volta da minha cintura... - Ele desceu as mãos até meu abdome. -  Exatamente como você tá fazendo agora... - Expliquei sorrindo ao notar ele fazendo isso. Era só uma suposição, não era para ele fazer. – Se você me segurasse assim, eu poderia me livrar de você, se tivesse uma parede na minha frente, impulsionando meus dois pés nela e certamente isso ia fazer você me soltar, mas como não temos uma parede, eu poderia deslocar seu polegar puxando para trás, ou poderia te dar uma cotovelada no estômago... Ou também poderia te dar uma cabeçada no nariz... Mas se fizesse isso, quebraria ele em 3 partes... Então melhor não demonstrar...

-Obrigado pela consideração... - Disse rindo soprado.

 

-Não por isso! - Falei dando de ombros. - Quer tentar? - Perguntei o soltando, parando nas suas costas. - Pra você é ainda mais fácil... Você é forte... - Passei meu braço por cima do seu ombro.

-Eu não vou te machucar? - Questionou receoso em fazer. 

-Não... Eu sei cair...Vai em frente! - Incentivei o agarrando por trás. 

 

Ele ficou parado, enquanto tecnicamente, eu estava o abraçando.

 

-Então? Anda logo... Que que você tá esperando? - Perguntei por começar a achar embaraçosa a situação.

 

Habilmente, ele reproduziu o movimento que eu ensinei, me jogando para frente, por cima do seu ombro, me fazendo cair deitado de costas no chão. 

 

-Você tá bem? - Perguntou apoiando as mãos na cintura.

 

Assim que caí, o surpreendi derrubando ele também com uma rasteira. 

 

-Você tem que estar sempre alerta Jungkook... Seu oponente no chão ainda pode ser uma ameaça. - Adverti ainda deitado na grama, enquanto alongava meu braço de olhos fechados.

Abri os olhos e olhei para o lado:

 

Cadê ele? 

 

Antes mesmo que eu olhasse para o outro lado, fui surpreendido com ele subindo em cima de mim, sentando sobre as minhas coxas.

-Você deveria seguir suas próprias dicas Senhor Kim... - Alertou segurando firme meus punhos, com o rosto bem próximo ao meu. 

 

-Eu não sou bom em seguir minhas próprias dicas... – Falei rindo até me dar conta da situação.

 

Engoli em seco, enquanto eu olhava diretamente em seus olhos, e notava ele olhando para os meus lábios. 

 

Eu poderia sair dali facilmente, mas a verdade, é que eu não queria.

 

Eu só sentia vontade de beija-lo.

 

Ele avançou na minha direção, mas hesitou no meio do caminho deixando a situação mais embaraçosa ainda.

 

-Você vai mesmo sair da Coréia? – Perguntei tentando acabar com a tensão do momento.  

 

-É... Vou sim... - Concordou saindo de cima de mim. - Daqui uma hora e meia... - Informou conferindo o relógio. - Vai... Levanta! - Chamou me dando a mão. - Agora é minha vez de te carregar... Trato é trato!

 

Segurei no seu pescoço, subi nas suas costas, enquanto ele me segurava pelas coxas.

 

Era tão confortável que eu poderia dormir ali. 

Jungkook começou a caminhar me carregando através do parque e por entre todos aqueles brinquedos.

Era confuso, porque ao mesmo tempo que eu achava muito estranho fazer esse tipo de coisa com alguém que eu não conheço, eu me sentia muito a vontade com ele.

Não posso negar que sempre desejei por alguém que me fizesse companhia e que pudéssemos nos divertir juntos.

 

-Eu queria ter irmãos também... – Falei suspirando.

-É... Eu também... – Ele concordou suspirando em seguida.

-Ué, mas você já não tem a sua irmã? – Perguntei franzindo as sobrancelhas.

-Que? Ah Sim sim... Mas queria ter um irmão... – Falou me jogando sutilmente para cima.

-Ah, eu só queria ter um irmão... Tanto faz se fosse um garoto ou uma garota... Eu só queria ter alguém...  – Desabafei suspirando, deitando a cabeça no seu ombro.

 

Continuamos prosseguindo em silêncio.

 

Passamos por um carrossel, onde tinha vários leões, ao invés de cavalos:

-Você sabia que os leões medem em média dois metros de comprimento, podendo atingir o peso de 270 quilos? - Falei aleatoriamente.

 

Ele parou de caminhar:

 

-O que foi? - Perguntei confuso levantando a cabeça. 

-Como você sabe disso? - Interrogou parecendo espantado.

-Hm... Sei lá... Acho que li em algum lugar... - Expliquei dando de ombros.

 

Nossa, ele ficou surpreso só com uma informaçãozinha como essas...

Imagina se ele me ouvisse falar tudo o que eu sei sobre leões?!

 

Ele suspirou e prosseguiu caminhando.

 

Apoiei minha cabeça no seu ombro novamente, enquanto via todas aquelas luzes piscando.

 

-Eu queria ter te conhecido antes Jungkook... - Falei suspirando. 

 

Ele me soltou no chão sutilmente.

Olhamos para frente, enquanto eu acompanhava com os olhos toda a extensão daquele brinquedo, notando que ele havia parado bem em frente à roda gigante. 

 

Eu percebi qual era a sua intenção: 

-Ah não Jungkook... Eu não gosto de altura... - Contestei negando com a cabeça.

-Eu sei Taehyung, mas...

-Sabe?! - Interrompi franzindo as sobrancelhas. - Como você sabe? - Interroguei confuso.

-Ah... Você falou àquela hora... 

-Falei? - Repeti desconfiado. 

-É... Quando sugeri a roda gigante... 

 

Eu não lembro de ter falado sobre a altura.

Lembro apenas de mencionar sobre ficar enjoado.

 

Ele foi se aproximando cada vez mais do brinquedo:

-E-eu não vou entrar aí jungkook...

 

Ele voltou até mim:

-Você não vai estar sozinho... - Falou pegando minha mão. - E me chama de Kookie... - Disse sorrindo.

 

"Kookie"?! 

 

É um apelido muito fofo... Mas "Kookie" não é nome de cachorro?!

Eu não sei porque, mas de alguma forma, esse apelido me lembra de cachorros...

Acho que eu conheci alguém que o nome do cachorro era “Kookie”...

Acho que deve ser por isso.

 

-Você confia em mim? - Perguntou olhando nos meus olhos. 

 

"Confiar"?

Por que eu iria confiar em um estranho? 

 

E...

Por que eu confiei em um estranho?!

 

Nem eu sei...

 

Assenti com a cabeça, enquanto olhava nossos dedos entrelaçados.

 

Entramos em uma das pequenas e estreitas gôndolas, que eram abertas em todas as laterais.  

Rapidamente me sentei no banco.

Ele sentou ao meu lado. 

 

Notei o exato momento em que o brinquedo foi ligado, começando a se movimentar girando no seu próprio eixo. 

 

Segurei firmemente com as duas mãos na borda do acento do banco.

Fechei meus olhos apertados, enquanto ouvia o barulho dos metais ringindo e o som alto do motor.

Eu nunca estive lá, mas acho que se assemelham ao som do inferno. 

 

Deve ser divertido para quem não tem pânico de altura, nem perdeu os pais em um acidente aéreo. 

Para quem não sonha quase todas as noites que está caindo em um abismo escuro.

 

Não tinha coragem de abrir os olhos.

 

-Tae, me dá sua mão... - Pediu colocando a sua palma sobre o dorso da minha. 

 

Depois de um tempo relutante, peguei na sua mão. 

 

-Sabe... Alguém muito sábio uma vez me disse que coragem, não é não sentir medo, e sim saber dominá-lo... - Explicou entrelaçando nossos dedos mais uma vez. - Você não tem medo de altura Tae, você tem medo de cair... Mas eu prometo que não vou te deixar cair!

 

Ironicamente, eu mesmo digo isso para as pessoas... Porém, como eu falei, eu não sou capaz de seguir meus próprios conselhos... 

 

-Levanta Tae... - Incentivou apertando forte minha mão. 

 

Permiti que ele me puxasse e que eu ficasse em pé, enquanto apertava os olhos, sem coragem para abri-los. 

 

-Não vai acontecer nada, ok?! Confia em mim... Pode abrir os olhos... - Pediu parado na minha frente, segurando minhas duas mãos. 

 

Não poderia ser tão ruim assim, não é?!

 

Abri os olhos lentamente, já notando a altura em que estávamos. 

Senti um frio na barriga.

Olhei para os lados, sentindo meu coração disparando. 

Estávamos muito, muito, muito longe do chão...

Comecei a ficar ofegante... 

Mil coisas e nada se passavam na minha mente...

 

Acho que ele notou que eu já estava desesperado...

Senti uma vertigem só em tentar olhar para baixo mais uma vez...

 

-Tae... Olha pra mim... Não vai acontecer nada! Você não tá sozinho! Apenas olhe para mim. Só para mim... - Ele pedia enquanto segurava meu rosto com as duas mãos, tentando me impedir de olhar para os lados, mas meus olhos continuavam dispersos vagando pelo próprio abismo escuro em que estávamos.

 

Comecei a hiperventilar...

 

Aquilo não estava girando na velocidade em que eu via se movimentar, mas eu estava sendo enganado pelo meu próprio psicológico, me fazendo acreditar que estávamos balançando e girando, como se estivéssemos dentro de uma máquina de lavar... 

 

Perdi completamente o controle.

Nem conseguia mais ouvir o que ele dizia.

Via seus lábios se mexendo, mas não escutava uma palavra sequer.

Só os meus próprios pensamentos de pavor, junto com aqueles sons distorcidos, que pareciam estar soprando em meus ouvidos, o quanto aquilo era perigoso...

 

De repente estava sozinho dentro do meu pesadelo.

Perdido naquela floresta escura.

Com todas aquelas vozes dizendo que eu merecia tudo aquilo.

 

Sentia como se fosse cair em queda livre a qualquer momento...

Eu só conseguia fazer uma coisa;

E era implorar:

 

-Não me solta... Por favor, não me solta... Não me solta... Não me solta... - Apenas fiquei repetindo baixinho sem parar, enquanto o abraçava apertado, como se ele fosse a única coisa que ainda me mantivesse ali em pé.

 

Eu nunca havia encarado meu medo tão de perto...

Estava atordoado, e provavelmente, molhei a gola da sua camisa com algumas lágrimas de desespero.

 

Eu estava tendo uma crise de pânico.

Fechava meus olhos, e instantaneamente, vinham flashs de cenas traumáticas na minha cabeça... 

Ouvia sons de pessoas gritando...

Barulho de colisão...

Fogo...

Destroços...

Corpos...

Cadáveres... 

Via os rostos dos meus pais em pânico e chorando abraçados...

Não era dessa forma que queria me lembrar do rosto deles... 

 

Será que eles sofreram tanto quanto eu sofro ao imaginar esse momento?

Eu nunca vou saber o que realmente aconteceu naquele avião...

Mas eu podia sentir tudo como se estivesse lá... 

Como se fosse comigo...

 

Eu deveria ser punido sentindo a dor deles.

 

Meu coração doía e o ar não chegava até meus pulmões...

 

Aquilo não era real...

Eu estava sendo sabotado pela minha própria mente, revivendo cada cena dos meus piores pesadelos...

 

E se você queria saber o que eu sinto durante uma turbulência;

Agora você sabe...

 

Sentia como se meu coração fosse parar de bater a qualquer momento.

 

Acho que entrei em estado de choque.

Fiquei catatônico.

Comecei a ver tudo em câmera lenta e ouvir todos os sons e aquela música que vinha do carrossel, completamente distorcida. 

Piscava meus olhos lentamente, como se já estivesse longe demais daquele mundo. 

 

Não tinha mais como voltar...

Estava perdido em mim mesmo.

Nos meus medos mais profundos.

Em meus traumas.

Na minha culpa...

Sozinho no meio do nada.

Caindo eternamente...

Nem sentia mais meu corpo.

Meu coração e minha mente não seriam mais capazes de suportar toda a dor e todo o pânico... 

Eu só queria dar um fim naquilo definitivamente, para acabar com tudo isso dentro de mim.

 

 

 

 

 

 

 

“-Morra!”

 

 

 

 

 

 

 

Fechei os olhos e tudo o que eu mais queria, era me render ao pedido dessa voz, que sempre repetiu isso dentro da minha cabeça durante quase toda a minha vida.

 

 

Até que em meio a toda aquela trilha sonora de filme de terror, consegui ouvir outra voz, bem baixinho, ficando cada vez mais nítida conforme eu tentava me agarrar em suas palavras:

 

-Tae?  Tae... Taehyung... Você consegue me ouvir? Tae? Taaae? Fala comigo... - Me chamava desesperado enquanto me sacodia pelos ombros. - Se concentra na minha voz... Se concentra em mim... Eu não vou te soltar... Você não vai cair! Eu nunca iria te soltar Taehyung! Olha para mim! Só para mim! Abre os olhos...  Você tá me ouvindo?

 

Após um longo tempo, tentando distinguir suas palavras, me ajudando a trazer minha consciência de volta, abri meus olhos me sentindo cego pela luminosidade, mas assim que consegui o reconhecer, repentinamente recobrei minha sanidade e o abracei instintivamente. 

 

Era como se ele tivesse me despertado de um transe e me buscado das profundezas mais obscuras de um submundo que eu mesmo havia criado dentro da minha própria mente. 

Como se sua voz fosse capaz de me guiar em segurança...  

Ele é como um farol no meio de um lago, que indica o caminho de volta para casa... 

 

Abracei forte o seu corpo.

Jungkook fazia eu me sentir como se estivesse protegido de qualquer coisa, enquanto estava no abrigo de seus braços.

 

Ele ficou acariciando meus cabelos até enfim eu conseguir estar mais calmo.

 

-Eu não vou deixar nada acontecer com você Tae... Eu nunca deixaria nada de ruim acontecer com você. – Ele se afastou sutilmente. - E mesmo que eu não esteja por perto... Eu quero que você se sinta seguro... 

 

Ele me soltou, enquanto eu notava ele puxar algo de dentro da camisa.

Não entendi o que ele pretendia...

 

Jungkook estava colocando uma correntinha no meu pescoço.

 

-O que você tá fazendo? - Perguntei confuso.

 

-Estou te dando minhas asas Taehyung... Você não precisa ter medo de cair, se você pode voar... - Falou beijando minha testa sutilmente. 

 

Peguei o pingente nas mãos, notando que eram duas asas.

 

-São asas de um pássaro ou são asas de um anjo? - Perguntei analisando cada detalhe.

-São as suas asas! - Respondeu sorrindo, me dando a mão. - Hoje nós não vamos olhar para cima... Hoje nós só vamos olhar para baixo! - Falou enquanto dávamos pequenos passos lentos, até chegar na borda da gôndola. 

 

Apertei firme sua mão, enquanto com a outra, eu segurava apertado o pingente que certamente já virou para mim uma espécie de amuleto.

Parece que enfim ele estava me ajudando a dominar a habilidade de "voar".

 

Respirei profundo e olhamos juntos para baixo. 

 

-Uow... – Exclamei ainda um pouco assustado pela distância em que estávamos do chão.

Recuei dois passos, mas ele me puxou novamente, me fazendo encarar meu maior medo.

 

Não era tão ruim quanto eu imaginava.

Era alto, sem dúvidas...

Eu ainda sentia medo, mas consegui encara-lo...

Domina-lo!

Porque me sentia seguro com Jungkook ali.

 

 

Mas também não posso negar que era uma vista linda...

Com aquelas tantas luzes...

 

Mas Jungkook ainda continuava sendo a vista mais fascinante que eu tinha dali de cima.

 

E a brisa suave que passava pelos nossos rostos e soprava sutilmente nossos cabelos...

 

Não era como estar sozinho na beira de um abismo, no meio de uma floresta escura.

 

Ele absorveu todo meu medo, ou me transferiu toda sua coragem?

 

Eu não sei o que ele fez, só sei que eu sentia uma tranquilidade que não sinto nem enquanto medito...

 

-Esse monte de luzinhas, parecem milhares de estrelas... - Falei fascinado, apoiando minhas mãos na barra de proteção da gôndola. 

-E enquanto estamos aqui em cima, somos como estrelas essa noite... - Disse me abraçando por trás, apoiando o queixo no meu ombro. 

 

Por que ele é tão incrível?

Por que me trata tão bem?

Como se eu fosse de alguma forma especial para ele...

O que ele quer comigo?

O que ele viu em mim?

 

-Você não é como uma estrela Jungkook... - Discordei enquanto acariciava seu braço em volta da minha cintura. 

 

-Hmm... Já sei... Você vai falar que eu sou como a lua?! - Sugeriu como se fosse previsível. 

 

Eu não iria falar, mas foi exatamente o que eu pensei. 

Será que eu sou tão óbvio assim?!

 

-Eu gosto da lua... - Falei sorrindo sem graça.

 

-E você é como o sol... - Declarou me apertando forte. 

 

"Como o sol"?!

 

-O problema Jungkook, é que o sol e a lua se encontram a cada 173 dias... Por umas duas ou três vezes ao ano... Então vou ter que esperar por outro eclipse pra te encontrar de novo? - Perguntei me virando de frente para ele. - Como é possível eu saber que vou sentir sua falta quando você for embora, mesmo sabendo que eu te conheci hoje? Como eu posso sentir coisas por você que jamais senti por ninguém? E-eu não sei o que tá acontecendo comigo... - Eu já estava ficando atordoado com aquele misto de sentimentos confusos que nem eu mesmo conseguia decifrar. - Afinal... Quem é você Jungkook? - Perguntei olhando nos seus olhos. - E o que você tá querendo comigo? Por que tá fazendo isso por mim? 

 

-Não me pergunte novamente o que eu quero com você, porque eu jamais poderei te responder o que eu realmente quero Taehyung. - Falou com melancolia, me puxando para um abraço. - Eu tô fazendo isso por nós... E eu só preciso que você me esqueça...

-Eu nunca vou esquecer de você Jungkook... Você tá me ajudando a superar meu maior medo... Eu vou ficar muito feliz se você conseguir cumprir o propósito da sua viagem... Eu sei que você vai conseguir! Eu confio em você! E sinceramente, espero que você volte logo... 

-Eu fico feliz em saber isso... Contar com o seu apoio é muito importante pra mim... Você não faz ideia! Mas... Agora eu tenho que ir Tae... - Informou conferindo o relógio. - Podemos descer? - Perguntou acariciando meu rosto com o polegar.

 

Apenas assenti com a cabeça.

 

Ele estava indo embora... E eu não fazia ideia de quando poderia voltar a vê-lo novamente. 

Jungkook estava determinado a ir.

Nada nem ninguém poderia impedi-lo de seguir seu caminho. 

Ele tinha um objetivo...

Ele disse que era como se estivesse correndo atrás de um sonho... 

E eu não duvido que realmente seja assim... 

 

Mesmo sem saber quem ele é, eu concordo com cada decisão sua, e apoio cada um de seus passos... 

 

O que eu sei é que estando ao lado dele, eu não me sentia sozinho nem por três minutos...

 

E agora tudo o que eu tenho;

São apenas as suas asas nesse pingente...

 

Espero que mesmo sem elas;

Ele saiba como voar de volta até aqui...

 

 

Acho que vamos ter que continuar essa consulta depois Doutor... 

A enfermeira disse que eu preciso descansar... 

Eu quero me recuperar logo, então, acho que amanhã continuamos conversando, se estiver tudo bem para o Senhor...

Será que você pode voltar aqui novamente?

Tudo bem?

 

Ok!

Então até amanhã...

 

*****************************************

Old Ways

(DD. Lovato)

 

Every scar

Cada cicatriz

 The flames burnt them all

As chamas queimam todas elas

 I'm not afraid to fall

Eu não tenho medo de cair

 I'm spiraling, I'm spiraling

Eu estou em espiral, eu estou em espiral

 Past the stars

Eu passo as estrelas

 I'm not burning out

Eu não estou queimando

 I'm not afraid to fall

Eu não tenho medo de cair

 I'm not afraid anymore

Eu não tenho mais medo

 

And I just keep changin' my colors

E eu continuo mudando as minhas cores

 I'm not in the same place that I was, I was

Eu não estou no mesmo lugar que eu estava,

I fill the well with some water , it's overflowin'

Eu enchi o poço com um pouco de água, está transbordando

Black into gold

Preto se tornando ouro

Who knew it'd be so bright without the blindfold

Quem imaginaria que seria tão brilhante sem os olhos vendados

 

 


Notas Finais


E esses sonhos perturbadores de Kim taehyung?
De quem é essa voz cruel dos seus pesadelos?
Taehyung criança e com medo...
Queria eu colocar ele dentro do meu casaco!

Jungkook nitidamente sofrendo por estar perto de Taehyung e não poder tocá-lo...

"Estou te dando minhas asas Taehyung... Você não precisa ter medo de cair, se você pode voar..." - JK, o + anjo!

Só quem tem fobia de algo, entende como Taehyung se sente em relação a altura...
Eu tenho agorafobia (Medo de multidão), nunca fui em um show de banda nenhuma, porque tenho medo de morrer... Isso mesmo. Medo de morrer. Eu sinto pânico. Eu surto. Eu perco a sanidade.
Um dia eu precisava ir para o trabalho, e tinha que passar pela paulista para pegar o metrô, bem no dia de uma parada gay...
Vocês não conseguem calcular o meu pânico... e eu nem vou descrever porque juro que começo a hiperventilar só de lembrar...
Bem no fim eu não fui trabalhar e meu ex marido teve que me buscar de carro no meio do nada, porque quando eu finalmente consegui sair do meio da multidão, eu comecei a caminhar sem rumo, ainda em estado de choque... Sendo que era uma rua que eu passava por lá todos os dias, mas eu não reconhecia nada nela... Me senti perdida sem saber para onde ir... Sentei em uma calçada e chorei até uma moça que passava pela rua notar que eu estava com medo. Ela me abraçou e perguntou se eu queria que ela ficasse ali comigo até chegar a pessoa que iria me buscar. Eu não sei quem era ela, mas eu abracei essa moça que devia ter uns 20 anos mais ou menos, e eu juro que ela foi como uma luz me guiando no meio da escuridão. Eu acho que até me apaixonei por ela gente! Juro! Eu fiquei olhando para o rosto dela enquanto ela secava minhas lágrimas... Bem no meio de uma parada gay...
Eu lembro dela falando que eu era linda até chorando.
Ela era loira e eu acho que ela era um anjo... Ou pelo menos ela foi como um para mim...

E se você que está lendo isso agora, é a moça que me ajudou naquele dia, eu só quero que você saiba, que você também é linda, e que você salvou minha vida! Desculpa não ter dito isso na hora... Mas você também é linda moça!

Eu achei que fosse morrer.
Eu tenho também claustrofobia (Panico de locais fechados), Aquafobia (Medo de se afogar) Apifobia (Panico de abelhas) E por ultimo e não menos assustador, Coulrofobia (Panico extremo e irracional de palhaços)

Bom, vocês já entenderam que eu sou uma pessoa que sai de controle por muitas coisas...
Enfim...
Deu para notar que o Tae tem uma forma de tentar se acalmar, que é contar até 3 minutos...
Isso as vezes funciona comigo...

Será que estamos perto de descobrir o verdadeiro significado por de trás do nome da fic?!

Aguardem!

Link música "Old Ways" (DD. Lovato): https://www.youtube.com/watch?v=4o0VzTsA4g8

Leiam OverCome! https://spiritfanfics.com/historia/overcome-8106352

E para quem quiser me seguir no twitter: https://twitter.com/TaetaEvil posto uns spoiler e teorias lá!

Próximo cap, só depende da minha internet... Falem com a "Oi" ¬¬


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