7:00 PM.
Ouço o despertador ao fundo. Estico o braço e tento desligá-lo, mas acabo derrubando o copo de água.
Suspiro e levanto.
A pouca luz que entra pela janela, reflete nas paredes verdes de meu quarto.
Faz muito tempo que essa cor está aí, preciso mudar um dia.
7:30 AM.
Me arrumo rapidamente.
Legging preta, blusa larga e jaqueta de couro rasgada. Prendo o cabelo, pego minha identificação, coloco minha mochila nas costas e saio.
Desejo mentalmente que o café da manhã ainda esteja na mesa quando chegar.
8:00 AM.
O sol em Lisban demora a aparecer. Desde aquele dia, as pessoas não saem pela manhã. O Sol guia a cidade, os comércios, a vida em geral. Não que eu não tenho um certo receio, mas minha vida não pode parar por isso.
Gina precisa de mim.
8:40 AM.
O café da manhã ainda estava na mesa. Comi mais do que devia, mas aproveitei para colocar a conversa em dia.
Uma das enfermeiras disse que nessa semana a movimentação na "zona vermelha" tinha aumentado, em compensação os "não transformados" ficaram mais calmos.
- Não houve baixas essa semana. - Comentou com um sorriso.
Balanço a cabeça em concordância.
Não consigo definir se isso é bom ou ruim.
9:10 AM.
- Gina, para de brincar e termina de se arrumar logo.
Ela está mais agitada do que o normal.
Suspiro e caminho até a bandeja que está em cima da mesa. A bebida já estava escura e começava a cheirar estranho.
- Porque não tomou seu café?
Ela se vira e me encara, os olhos vermelho vinho vão do copo até meu olhar. Um sorriso travesso se forma em seu rosto e ela mostra a língua.
- Esse sangue está velho.
- Hmmm, boa desculpa. Mas se você não comer, eles não vão deixar você sair.
O sorriso desaparece e ela se aproxima, pega o copo e toma seu conteúdo de uma vez só.
- Você é uma irmã muito malvada sabia?
Sorrio com a pergunta e me jogo na cama.
9:30 AM.
O saguão já está lotado quando chegamos. Todos os "pacientes" já estavam com seus acompanhantes. Uns pulavam, outros estavam sentados no chão, a maioria conversavam entre si, mas todos estavam felizes.
- Atenção todos - falou a voz robotizada no auto-falante. - Por favor façam uma fila e deixem as identificações a mostra.
O guarda passa nos revistando e conferindo nossos dados. Até hoje não entendo o porquê de tanta enrolação.
- Lembrando que qualquer desvio ou mudança deve ser reportada para a diretoria. Qualquer ocorrência deve ser reportada para a diretoria. Os portões serão fechados as seis pontualmente, atrasos não serão tolerados, todos devem estar de volta ao refúgio até as sete horas. Qualquer interferência entre os horários de trânsito não é de nossa responsabilidade. Bom passeio.
10:00 AM.
São dez minutos de caminhada entre o "refúgio" e os portões da zona vermelha. Todos andam de cabeça baixa, olhos fechados, apesar do sol não os machucarem, o incomodo é visível. Não só a luz, mas todo as pessoas ao redor param o que estão fazendo e direcionam os olhares para nós. Alguns curiosos, outros indiferentes, a maioria enojados.
Julgar é mais fácil do que entender. A cada dia isso sé torna mais evidente.
Ouvimos o rangido estrondoso dos portões abrindo, guardas equipados com fuzis nos encaravam, atentos tanto com o lado de fora quanto com o lado de dentro.
Não havia mais espaço nos muros, as pichações de frases e símbolos religiosos, mensagens de ódio e ameaças, cobriam cada centímetro. Entre os arames farpados e a cerca elétrica, cruzes foram fixadas.
Como se isso resolvesse alguma coisa.
A sirene me traz de volta a realidade.
- Finalmente. - Digo.
- Kim - Gina cutuca meu braço, mantendo o olhar baixo - Posso correr hoje?
Abro um sorrio e a puxo para um abraço apertado.
- É claro que pode, mas tome cuidado e me encontre no "marco três" as duas.
Ela balança a cabeça e amarra os sapatos. Um segundo depois, estou sozinha.
- A cada dia ela fica mais rápida não acha? - Pergunta o guarda.
- Acho que sim.
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