História Through Me - Deslocada

"E recomeçar é doloroso. Faz-se necessário investigar novas verdades, adequar novos valores e conceitos. Não cabe reconstruir duas vezes a mesma vida numa só existência."    Caio Fernando Abreu

A vida é uma caixinha de surpresa, as coisas acontecem do nada, sua vida pode mudar da água pro vinho em um piscar de olhos e você pode ver o amor da sua vida escapando como areia de sua mão. Um amor não se encontra em qualquer esquina, o amor leva muito tempo para ser construído, porém, o amor é frágil, muito frágil, qualquer sopro pode derrubar o que levou um bom tempo para ser construído. Eu aprendi isso depois de perder quem eu mais amei em toda minha vida, o amor que eu sentia chegou a um tal ponto que eu pensei que nada seria capaz de destruir, que seria para todo o sempre, eu não estava errada, porque apesar de todo esse furacão eu ainda o amo, apesar dele estar no México  e eu em Nova Iorque, eu ainda o amo da mesma maneira, somente o para sempre estava completamente errado.

Após a separação dos meus pais a um ano atrás eu tive que deixar o Dominick no México e vir para Nova Iorque com a minha mãe, foi como deixar uma parte de mim, o nosso namoro acabou ali, mas o amor não, esse está dentro de mim até hoje. Minha mãe sempre diz que para curar um amor devemos encontrar outro, mas e se eu não quiser outro amor? Por que afinal de contas, o amor sempre acaba em dor, uma dor que te consome aos poucos.

O barulho da buzina me despertou dos meus pensamentos, eu limpei meu rosto, peguei minha mochila e desci correndo. Hoje era meu primeiro dia na Universidade de Nova Iorque, e eu e Poppy iriamos juntas.

- Eai, está animada para seu primeiro dia na faculdade?

- Eu estou tudo, menos animada.

- Qual é Erin, você se matou todos esses anos para conseguir entrar na Universidade e agora você me diz que está desanimada?

- Você não entende… – Antes que eu terminasse de falar Poppy me interrompeu.

- Eu entendo sim e te conheço bem o suficiente para saber que você estava pensando no Dominick.

- Estava mesmo, agora você quer controlar meus pensamentos também? – Poppy sabia que eu odiava falar sobre esse assunto, odiava porque aquilo me doía tanto, e ouvir da boca de outra pessoa me deixava desamparada, ela é a única pessoa além da minha mãe que sabe sobre isso.

- Eu não quero controlar nada Erin, mas isso já faz mais de um ano, está na hora de você esquecer isso e seguir em frente. Sua vida não pode se basear apenas em um menino que você não vê a mais de um ano e que não mora em outra rua, outro bairro, mas sim em outro país Erin. –Eu fiquei em choque, minha boca abriu mas nenhuma palavra saiu dela, Poppy sempre foi muito sincera, mas dessa vez ela me deu uma chinelada na cara de tanta sinceridade, eu sentia meu peito apertando cada vez mais, por mais que eu lutasse contra aquilo, eu sempre acabava sentindo um vazio imenso. Como ela viu que eu não sabia o que dizer, continuou: -O mundo está ai, para ser explorado, você tem uma vida para ser vivida, não pode simplesmente jogar tudo fora por causa de um amor, amores vem e vão. Prometa para mim que você seguir sua vida vai aproveitar tudo o que a faculdade vai ter oferecer! Se permita conhecer um mundo novo, conhecer novas pessoas, fazer coisas que você jamais pensou que faria. -Eu fiquei durante alguns minutos pensando, Poppy tinha toda a razão, eu perdi um ano da minha vida por causa de um amor, já está mais do que na hora de eu acordar para a realidade, o mundo não parou de girar só por que meu coração está partido.

- Poppy, eu prometo, aqui e agora que eu vou seguir em frente, eu sei que vai ser difícil, mas eu vou fazer tudo o que está ao meu alcance para esquecê-lo!

- Essa é minha garota! –Poppy disse e abriu o maior sorriso do mundo, ligou o carro e saiu em alta velocidade, já que estávamos a um bom tempo ali conversando e nenhuma das duas queria chegar atrasada no primeiro dia de aula. Não demoramos muito para chegar, já que a minha casa era relativamente perto da Universidade.

Aquele lugar era enorme, eu acho que nem no último período eu estaria acostumada com a imensidão daquele lugar. Poppy foi para o lado oposto do meu para procurar sua sala, no começo eu fiquei um pouco perdida, mas logo encontrei minha sala.

Quando vi Poppy rodeado por aqueles meninos meu coração bateu mais rápido, nosso combinado não era esse, era para ele ter me esperado SOZINHA. Ela sabia que eu era muito tímida para ir até lá, na minha cabeça aqueles garotos estavam preparados para rir de mim assim que eu falasse algo errado.

Sem chances, não irei até lá. Eu já tinha dado meia volta, quando estava na porta da lanchonete pronta para sair, ouço alguém gritando:

-ERIN! - Não demorou muito e eu identifiquei a voz da Poppy. Eu precisa pensar em uma desculpa rápida, caso contrário Poppy me comeria viva.

-Poppy? Onde você estava? Eu pensei que você tinha desistido de me esperar. - Menti.

-Esta ficando míope Erin? Eu estou lá com alguns amigos que fiz, você vai adorar eles! São os maiores gatos e além disso são muito simpáticos. - Quando ela disse isso, confesso que fiquei com inveja, por ela ser tão extrovertidas e fazer amigos tão fácil. Para mim era tudo tão complicado, nunca sabia como agir e o que dizer diante de pessoas que eu não tenho intimidade.

No México era tudo tão mais fácil, eu tinha o Dominick, ele era tudo o que eu precisava. Nada no mundo importava quando eu estava com ele, eu não precisa de amigos, a única coisa que importava era aqueles lábios nos meus.

-Você está me ouvindo? Vamos logo, eles estão esperando. - Ela disse me puxando pelo braço, eu não tinha mais saída.

A cada passo que eu dava sentia os batimentos do meu coração aumentar. Eu estava cada vez mais perto deles e só conseguia pensar que forma eu iria arrumar para passar vergonha. Quando estávamos a poucos passos de distância deles, todos viraram em nossa direção.

-Voltei gente, essa é a Erin. - Nesse momento todo meu sangue se acumulou na minha cabeça e eu sentia como se a qualquer momento eu pudesse cair dura no chão.

-Oi, eu sou o Ryan. - Disse um menino de cabelo raspado e olhos azuis, quando eu percebi que ele estava se inclinando para me dar um beijo no rosto eu dei um passo para trás. Ele deu um sorriso sem graça e só então eu percebi a merda que eu tinha feito.

-Eu sou o Chaz. - Disse outro com um cabelo cheio e castanho, assim como seus olhos. Ele observava a cena atentamente.

-E eu sou o Justin. - Esse era sem duvidas o mais bonitos dos três, tinha olhos cor de mel, seu cabelos dourado estava perfeitamente arrumado num topete, seu corpo era musculoso e todo tatuado. - Mas você pode me chamar de namorado. - Droga, ele podia ter parado apenas no nome. Não era possível que alguém tão bonito ser um completo babaca.

Eu dei um meio sorriso e Poppy constrangida pela situação continuou o assunto. Eles começaram a falar de uma festa que ocorreria hoje na república dos meninos, e pelo o que eles estavam falando ia ser a primeira festa do ano.

Enquanto eles conversavam eu fiz o que sei fazer de melhor: fingi que era invisível. Pareceu funcionar já que ninguém tentou puxar papo comigo novamente.

Quando deu a hora de voltarmos para sala me senti aliviada por não ter que continuar ali naquela cena ridícula.

-Então vocês vão mesmo na festa né? -Chaz perguntou.

-Pode ter certeza que sim, não perderíamos isso por nada. -Poppy disse. Espera aí, ela estava confirmando que eu iria numa festa a qual eu não estava com a mínima vontade de ir? Ela só pode estar de brincadeira comigo.

-Pode crer, os meninos vão beijar nossos pés por levar essas duas modelos para a festa. -Ryan fez graça.

-Como você descobriu Ryan? Nós somos Angels da Victoria’s Secret. - Poppy disse entrando na onda.

-Meu Deus, não acredito, vocês podem autografar minha testa? - Ryan falou afinando a voz.

-Nessa sua testa cabem muitos autógrafos. - Justin disse fazendo todos rirem já que a testa do Ryan era realmente grande, eu até teria rido se esse menino não fosse um babaca.

-Temos que ir, já estamos atrasados. - Chaz disse assim que conseguiu parar de rir. Os meninos foram por um lado e eu e Poppy por outro, mas logo nos separamos para cada uma ir para a sua sala.

Não tive tempo de questiona-lá sobre o porquê dela te dito que iríamos nessa festa.

As aulas passaram voando e para minha alegria ninguém veio falar comigo. Ultimamente eu tenho preferido ficar sozinha do que tentando agradar pessoas que nem conheço.

Após o fim da aula me dirigi até o estacionamento onde encontraria Poppy. Assim que encontrei seu carro vi que ela já estava dentro e logo entrei no banco de passageiro.

-Precisamos conversar. - Disse assim que sentei.

-Pode falar. -Ela disse ligando o carro.

-O que passou na sua cabeça quando disse que eu iria nessa festa?

-Que você iria ué.

-Eu não vou!

-Ah você vai sim.

-Poppy você não pode me obrigar, eu detesto esses tipos de lugares.

-Você precisa perder essa timidez Erin, ou irá perder as melhores coisas da sua vida.

-E se eu perder? Você não tem nada a ver com isso, já tenho idade o suficiente para fazer minha próprias escolhas.

-Você precisa se divertir, precisa fazer amigos. Faz um ano que você chegou em Nova Iorque e só tem uma amiga, que no caso sou eu. Isso não é bom para você.

-Você é o suficiente para mim. - Nessa hora já está me segurando para segurar o choro.

-Não é essa a questão. A questão é que eu não estarei aqui para sempre e você precisa aprender a se virar sozinha, não quero que você se torne tão dependente de mim quanto se tornou do Dominick.

-O que você está dizendo não é verdade! - Lágrimas já escorriam pelo meu rosto.

-Não adianta negar, você sabe que é verdade. -No exato momento que ela terminou a frase chegou em frente à minha casa, desci correndo do carro.

Ouvi o barulho da porta se fechando e de seus passo até mim, mas eu continuei correndo até me sentir segura dentro de casa. Quando já estava no sofá ainda ouvia Poppy gritando no portão, mas eu não queria falar com ela.

Subi para o meu quarto e resolvi mexer no notbook para tentar me distrair. Assim que abri meu facebook a primeira coisa que apareceu foi “Dominick mudou seu status para relacionamento sério”. Fiquei durante muito tempo encarando a tela do meu computador, não tive reação, não sabia o que fazer, apenas sentia meu coração sendo dilacerado.

Quando finalmente consegui sair vai num choro tão profundo que mal conseguia respirar. Deite em minha cama e me perguntava porque Deus estava fazendo isso comigo, sempre fui uma pessoa, a melhor que pude eu não merecia nada disso.

Dominick era meu mundo. Me sinto sem teto, sem motivos para viver. Como ele conseguiu fazer isso comigo? Um ano não é tempo o suficiente para superar um amor, não para mim.

Poppy estava certa eu era/sou dependente do Dominick, fazia tudo com ele e por ele. Desde que comecei a namorar com ele deixei minhas amigas de lado e muitas vezes até mesmo a minha família.

Agora mais do que nunca era necessário seguir com a minha vida, não podia ficar a mercê de um menino que já estava em outra. E foi nessa hora que eu decidi que iria fazer isso, eu iria colocar promessa que fiz a Poppy hoje mais cedo em prática.