Tic Tac
{ s t a n c e s t }
1. Capítulo Único – O Avanço dos Ponteiros
Tic tac. O ponteiro dos segundos avançava no relógio da cozinha.
Tic tac. Os segundos se tornavam minutos à medida que o homem encarava o tempo passar diante dos seus olhos.
Tic tac. Lembrava-se de ter encarado o mesmo relógio mais cedo, antes de tudo acontecer. Antes de, finalmente, depois de trinta anos, ter conseguido abrir o portal e resgatar seu irmão. Antes de lhe abrir os braços esperando um abraço acalorado e acolhedor, como os que eles compartilhavam quando mais novos, seja quando o gêmeo conquistava algo ou quando estavam sozinhos em seu quarto. Antes de dizer a ele o quanto sentia sua falta.
Antes de Stanford lhe dar um soco na cara e lhe culpar por tudo.
E doía. Como doía ver todo o seu esforço jogado fora representado pela simples falta de um obrigado. Stanford não lhe agradeceu. Stanford não liga para seu esforço.
E Stanley simplesmente não se conformava com isso.
Tinha vontade de gritar. Espernear. Se acabar aos berros até seus pulmões sangrarem. Tinha vontade de botar pra fora toda a raiva que sentia por meio de gritos agoniantes de frustração.
Tinha vontade de dizer a ele como se sentia. De ir até ele e lhe acordar com a verdade em forma de tapa na cara. De dizer-lhe como era ingrato para que finalmente pudesse ouvir um simples obrigado sair dos seus lábios.
Oh, aqueles lábios. Como sentia falta deles. Nunca admitiria, porém. Não enquanto não ouvisse que o irmão lhe era agradecido por tirar-lhe daquele inferno de portal.
Mas, apesar disso, tudo o que Stanley fazia era encarar o relógio da cozinha. Seu olhar pairava sobre o objeto, porém não fazia ideia de quanto tempo estava ali. Minutos? Talvez uma hora? Mais? Não sabia. Seus pensamentos distantes não lhe permitiam perceber tal detalhe.
Mas ele ainda conseguia ouvir o barulho do relógio à medida que o tempo passava.
Tic tac.
Sua expressão continuava a mesma; irredutível.
Tic tac.
O som do avançar das horas pulsava em seus tímpanos.
Tic tac.
Uma sincronia sem fim, que se tornara irritante.
Tic tac.
E Stanley se levantou, deixando o cômodo, disposto a ir para o quarto e tentar dormir. Com a cabeça borbulhando em pensamentos, porém, não seria possível. Para o antigo Stanford Pines seria difícil dormir sabendo que o verdadeiro, agora, dormia debaixo do seu teto, e sem nem ao menos lhe agradecer. Sem Stanley ter como dizer o quanto o ama sem engolir o próprio orgulho. E isso não é algo com que ele sabia lidar. Não, não, não faria aquilo, por mais que seus estúpidos sentimentos pelo irmão gritassem para agir de modo contrário.
“Mais cedo ou mais tarde, Ford vai agradecer”. Era o que Stan dizia a si mesmo. Isso não o impediu de dormir mal naquela noite, na noite seguinte, e assim sucessivamente. Aquilo o corroía por dentro.
E, enquanto o homem subia as escadas para se emaranhar em meio às cobertas a procura de um sono que não viria tão cedo, o relógio da cozinha continuava sua função; marcar a passagem do tempo.
Tic tac.
E era apenas ele que diria quando os gêmeos voltariam a se entender.
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