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História Tick Tack - A carta


Escrita por: parkines

Capítulo 1 - A carta


Park Jimin, 83 anos e sei exatamente como e quando irás morrer. 
Tenho a certeza absoluta que neste momento isto é a coisa mais bizarra e confusa que já ouviste. Talvez até me estejas a chamar de maluco, esquizofrénico, bêbado e uma lista infinita de outros nomes. Mas vá, respira fundo, acomoda-te confortavelmente naquele sofá vermelho que tens na sala, antes passa pela cozinha e traz uma fatia do bolo delicioso que a tua mãe fez e deixa-me que te explique tudo para que não haja duvidas. 
Estás a ver estes dois olhos? São iguais aos teus certo? Quer dizer, não mudam de cor, não parecem alienados, nem brilham. São... normais. Bem, na verdade não são. Eles dão-me a capacidade de ver o tempo de vida de todas as pessoas que existem no mundo e até mesmo ver como irão morrer. Não, não estou a fazer piada nenhuma! Acredita em mim. Bom, onde é que eu ia? Ah, sim! Prepara-te que vamos entrar por caminhos complicados. 

Quando nascemos é-nos atribuído um número que indica o nosso tempo limite na terra. Somos diferentes, portanto temos dígitos diferentes. A questão aqui é que esse número está constantemente em contagem regressiva e pode variar entre três cores: o verde, da qual damos o nome captennium, refere-se aos que devem ser salvos; a cor vermelha, os chamados abatare, não podem, por hipótese alguma, serem salvos; e os famoso neutros, regados pela cor laranja, que constituem a grande maioria da população. Estes últimos são especiais já que desencadeiam os dois anteriores. Quando um ser humano morre, deixa de existir qualquer número ou cor. Simplesmente desaparece. 

Não sei ao certo quando foi que descobri esta capacidade mas segundo a minha avó, eu ainda era apenas uma criança. Ela sempre dizia que éramos únicos e que devíamos tomar bem conta da dádiva que nos fora dada. Mantê-la em segredo era essencial. Na altura eu ficara feliz. Era como uma mera brincadeira. Mas quando fui adquirindo alguma maturidade e comecei a perceber como tudo ao redor funcionava, isso mudou. Eu ficara feliz com essa tal "dádiva" até ver aquela velha coreana deitada numa maca de hospital ligada a dezenas de máquinas. Eu estava presente quando o seu número chegou ao zero. Eu estava presente quando esse mesmo zero se evaporou. E ela sorria, sorria, sorria, até os seus olhos fecharem por completo. Ela nunca se queixou. Inclusive, obrigou-me a prometer que não cometeria nenhuma loucura, como quebrar as regras e a tentar salvar. A sua hora tinha chegado e eu só tinha que aceitar. Mas doeu, oh como doeu! A minha querida avó era a pessoa que eu mais amava naquele mundo e a única que me compreendia. Se tive a capacidade de estudar, arranjar trabalho, conhecer o significado das palavras felicidade, partilha, bondade e amor, foi tudo graças a si. E foi por isso que depois daquele dia decidi que iria ignorar aquela maldição. Afinal, quem era eu para decidir se alguém devia ou não morrer? E porque iria correr o risco de ser atropelado por um caminhão, cair num buraco, ser eletrocutado por um raio, só para tentar salvar uma pessoa que não me era nada? Estava decidido, ia viver a minha vida como uma pessoa normal. Tornar-me-ia num neto saudável e bem sucedido. Tenho a certeza que a minha avó ficaria orgulhosa de mim!  
Ah Park Jimin, a quem queres tu enganar? Não sabes ser mais idiota que isso? Como é que eu podia ignorar algo que estava recorrente na minha rotina?! Era só sair de casa para aqueles números começarem a perseguir-me. Olhava para um lado e números. Olhava para o outro, mais números. Até mesmo os cães e gatos os tinham no topo das suas cabeças!  E a minha rica avó se me visse a fazer tal coisa, era provável que se levantasse do túmulo e me desse com uma voadora na cara.

Hum? Quanto tempo tenho de vida? Essa é uma pergunta que nem eu sei responder. A minha avó gostava de nos chamar de bubbles porque achava que uma bolha gigante nos protegia, impedindo-nos assim de ver o nosso próprio relógio. Há até um mito que diz que quando estamos às portas da morte é possível vê-lo por breves segundos. É como se fosse dado uma chance para nos despedir-mos do mundo entendes?  
Assustador? Muito pelo contrário, um alívio. Não há nada melhor do que chegar em casa, tomar um banho quente e ter a oportunidade de olhar no espelho sem conseguir ver nada. É quase como uma louvada de ar fresco em pleno dia de verão. 

Sabes, eu não me importo de morrer hoje ou amanhã. Na realidade, ninguém devia se importar. Devíamos sim, aproveitar cada minuto sem arrependimentos... Oras, isto lembra-me de alguém. E que tal se o avô parasse com todo este aborrecimento e te contasse uma história? Procura no meu antigo quarto. Algures nas prateleiras vais encontrar um livro em tons acastanhados com três trevos de folhas desenhados. É um livro que conta a história sobre um alguém muito "errado". Um alguém da qual o teu avô teve uma grande estima. Depois que o terminares de ler vem visitar-me ao hospital. Tenho saudades tuas. As enfermeiras são simpáticas mas não são adversárias à minha altura. Afinal, quem melhor que tu para testar as minhas capacidades no xadrez?



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