História Tides of Doubt - Partir para a aventura

Jack olhou para mim com um ar desconfiado. Percebo porquê. Estava muito entusiasmada e ele muito curioso. Aproximou-se e sentou-se ao meu lado, olhando para mim com a mesma expressão de intriga. Limitei-me a entregar-lhe o mapa para as mãos, sem dizer nada. Mas acho que o meu sorriso já dizia tudo. Ele pegou-lhe e começou a lê-lo com muita atenção, passando os dedos pelas ranhuras do papel dourado. Enquanto lia, repetia quase imperceptivelmente aquilo que os seus olhos percorriam. Aguardei pacientemente que acabasse, como os cães à espera de ser alimentados. Quando finalmente terminou, abriu um pouco a boca e foi virando lentamente a cabeça na minha direção. Quando os seus olhos alcançaram os meus, fez um dos sorrisos mais charmosos que alguma vez o tinha visto fazer. 

-Parece que finalmente estás a ser útil, amor. Quem é que raio te ia abandonar em Tortuga? Porque eu nunca o faria...    

Cerrei os olhos e comecei a abanar a cabeça de um lado para o outro, como que a repreende-lo. É claro que eu sabia que ele sabia o que planeava fazer-me. Mas não liguei muito. Jack estava apenas a " tentar " ser engraçado. Até que conseguiu, tenho de admitir. 

Levantou-se subitamente, ajudou-me a levantar ( agarrando-me pela cintura ) e chamou toda a tripulação com uma gargalhada e um impressionante bom humor. Pegou-me ao colo, pedindo-me para segurar o mapa enquanto falava. Depois de estarem todos no porão, Jack começou o seu discurso " infindável " : 

- Quero que todos vocês aprendam a ler seus analfabetos! Porque afinal serve para alguma coisa! Descobre-se cada coisa- exclamou, olhando para o céu - Aqui a Miss Noah encontrou um mapa, que a propósito estava dentro do livro, que nos vai indicar o caminho até a uma ilha onde todos os tesouros dos piratas estão! Vamos dirigir-nos para lá agora! Quem está comigo ? Ah a propósito, não me interessa se estão comigo ou não, eu vou até aquela ilha, quer queiram quer não. Por isso se não quiserem... sei lá... arranjem o cabelo ou assim. Bem precisam.

Por incrível que pareça, todos os homens ergueram as mãos e soltaram um " grito de guerra" . Fiz o mesmo. Estavam todos tão felizes e entusiasmados... pareciam como que uma grande família a celebrar uma nova conquista. Mas essa alegria não durou muito, pois Jack começou logo a gritar, ordenando-lhes que ajustassem a rota, as velas e que verificassem as cordas. O habitual. Enquanto a confusão se mantinha, reparei numa cara nova. Um homem muito alto, de cabelo castanho e brinco na orelha, estava sentado nas escadas a comer. De repente, lembrei-me dele. Era com ele que Jack estava a falar naquela noite em Tortuga. Deve de agora pertencer à tripulação. É claro que não me atrevi a perguntar nada acerca dele a Jack. 

Depois de o alvoroço ter passado, ele sentou-me no mesmo local onde estivera a ler e posicionou-se no leme, com uma expressão de satisfação. 

- Sabes quem é o pirata mais engenhoso dos sete mares? - perguntei-lhe. 

Ele olhou para mim e respondeu: 

- Tenho alguns na minha lista, mas provavelmente estão mortos.

- Então o que é que vais fazer? - exclamei, preocupada. 

- Espera e verás ... - respondeu ele com um ar misterioso. 

E foi isso que fiz. Limitei-me a continuar na mesma posição e a olhar para o horizonte.

Devem estar a perguntar-se porque é que fiquei tão entusiasmada com o tesouro. A verdade é que estou sedenta de uma aventura. Sei que haverá alguns perigos mas não hão de ser nada que não possa aguentar, certo? Quero poder viver esta aventura antes de voltar para Port-Royal e ficar presa para sempre, novamente. Ter o máximo de liberdade, sentir adrenalina, pelo menos uma vez. Para além disso, apesar de não concordar com a política de roubo dos piratas, aquele tesouro está abandonado numa ilha. Não pertence a ninguém. Pelo menos eles ficarão felizes e irão usá-lo de alguma maneira. Só não sei como Jack descobrirá a chave. Também não sei se devo confiar em tudo o que o livro disse. Mas só há uma maneira de descobrir.