História Tides of Doubt - O pirata mais engenhoso dos sete mares

- Retiro o que disse. Ler não serve mesmo para nada! - exclamou Jack, levantando os braços que anteriormente estavam pousados na mesa e levantando-os, ao mesmo tempo que olhava para mim com os olhos esbugalhados e um semblante irritado.

Lancei-lhe uma expressão séria e repliquei:

- Vá lá ainda só vamos a meio! Já queres desistir? Bem, na verdade o tesouro vai ser teu, não tenho nada a ver com isso. Por isso se quiseres parar por aqui...

É claro que eu não queria que Jack desistisse. Iria arruinar o meu plano de viver uma aventura. Mas sabia que se o contrariasse acabaria por continuar a procurar. Os homens são todos assim. Dizemos qualquer coisa e fazem precisamente o contrário. Jack de certo não seria diferente. Olhou para mim como se não tivesse percebido uma palavra do que saíra da minha boca. 

- Se não tens nada a ver com isto... porque é que me estás a ajudar? 

- Porque sou simpática ! - respondi eu, com o maior sorriso que consegui arranjar e como se fosse a resposta mais natural do mundo. 

Jack repetiu a expressão que fizera apenas segundos antes, mas logo a seguir cerrou os olhos e abanou a cabeça, como que para se esquecer daquilo que eu havia dito. 

Continuámos a percorrer as paginas velhas e desgastadas daquele livro, sem encontrar nada que fosse relevante. Até que finalmente, encontrei algo que decerto poderia ser uma pista. Uma página com as cores do oceano, intitulada " piratas ". Apressei-me a levantar gradualmente o meu olhar na direção de Jack. O mesmo retribui-o, percebendo logo que a resposta poderia estar ali. Virando a página, um sorriso formou-se nos nossos rostos. 

" Muitos piratas atravessaram os sete mares, saqueando tesouros, afundando navios e tirando a vida a milhares de almas. Mas nem todos foram tão importantes e engenhosos quanto estes " 

Roberto Cofresí 

O pirata mais famoso de Porto Rico, nasceu originalmente numa família nobre, tornando-se mais tarde um pirata. Matou mais de 400 pessoas nos seus saques, sendo conhecido por " roubar aos ricos para dar aos pobres" . 

Henry Every

Conhecido como o Rei dos Piratas, pois foi o único que conseguiu aposentar-se com os seus tesouros sem ser morto ou preso. Para além disso, foi capitão no ataque mais lucrativo da história. 

" Se eu encontrar aquela ilha vou ser eu o capitão do saque mais lucrativo da história - interrompeu Jack. " 

Anne Dieu-le-Veut

Foi uma das poucas mulheres piratas que não se disfarçava de homem e ao contrário da superstição, a sua presença era considerada como boa sorte. 

Mary Read

Passou toda a sua vida disfarçada de homem e fez parte do exército britânico e da companhia das Índias.  Acabou por tornar-se membro da tripulação do pirata Calico Jack. 

" Ao ler sobre ela, os meus pensamentos voltaram-se para Luke. " 

John ( Calico Jack ) 

Foi o ele que deu origem à famosa bandeira pirata Jolly Roger, a caveira com duas espadas cruzadas, passando assim a ser identificada como o símbolo dos piratas. Foi famoso por ter duas mulheres na tripulação.

" Gosto do nome dele ! - disse Jack com um ar sério e pensativo " 

Bartholomew Roberts ( Black Bart )  

Foi um dos piratas mais bem sucedidos do seu tempo, sendo ele é a tripulação os criadores dos 11 artigos do código pirata e capturando mais de 450 navios. 

Edward Teach ( Black Beard ) 

O pirata mais conhecido e aclamado de todos, tinha fama de bandido implacável e cruel e todos o temiam.

O livro ainda oferecia mais detalhes acerca da vida de cada um, como por exemplo acerca da morte ou dos navios. O mais interessante é que fazia referencia apenas a sete piratas: um por cada oceano. 

Quando eu e Jack finalmente acabamos de ler, olhamos um para o outro de boca aberta. Ficamos assim durante longos segundos, sem dizer uma única palavra e a encarar os olhos um do outro. Até que por fim, um sorriso foi lentamente se formando nas nossas caras, até que não deu para conter mais. Jack levanta-se e agarrando-me pela cintura, levanta-me e elevando-me começa a rodopiar e pular. Começámos ambos a gritar e a rir bem alto, como se duma festa de tratasse. Jack estava muito feliz e não parava de gritar e eu tinha a sensação de estar a voar e não parava de soltar estranhas gargalhadas, até que comecei a gritar como ele. Parecíamos dois doidos bêbedos. Mas mesmo levando em conta a nossa condição embaraçosa, ele não parou de girar e de me elevar até ao teto, como se fosse um bebe. Passados uns segundos, pareceu acordar e colocou-me de volta na cadeira, com a respiração pesada por causa do cansaço. Ainda com um sorriso nos lábios, apesar do que o que estava prestes a dizer poder não ser muito agradável, interrompi a nossa folia: 

- Espera aí... aqui diz que um destes piratas morreu no século 19. Nós estamos no século 18... por isso acho que isto foi tudo uma perda de tempo. 

Por estranho que pareça, Jack não pareceu estar nada preocupado e respondeu-me com um sorriso nos lábios: 

-Não acreditas em magia?  

- Claro que sim - respondi - Já li muitos livros de magia. Por exemplo li um em que um cupido lançava setas para o coração das pessoas o que fazia com que se apaixonassem. Nada que não acontecesse na vida real - acrescentei, como que a gozar com ele. 

- Bem, mas devias. Porque existe. Este livro prediz o futuro. Já reparaste que não faz referencia a nenhum autor?

Realmente ele tinha razão. 

- Este livro é mágico - acrescentou ele, aproximando a sua cara da minha, o que me fez corar - Há alguns deles que ainda estão vivos, mas o livro sabe quando é que vão morrer. E um deles ainda nem nasceu.

Passei os dedos pelo livro e pude realmente comprovar que o que Jack havia dito é verdade. Novas frases eram acrescentadas magicamente, como se uma pessoa o tivesse feito. Limitei-me a sorrir ligeiramente, apesar de por dentro me apetecer saltar de alegria. Afinal a magia existe mesmo! Nesse momento, questionei-me seriamente se um cupido não teria lançado uma seta no meu coração, o que me fez apaixonar por Jack, pois esse fenómeno ter acontecido naturalmente seria totalmente improvável. 

- Então como é que vamos descobrir qual deles tem a chave se uns já morreram e outros ainda nem nasceram? 

- Segundo o mapa, só um deles a possui. Por isso vamos apenas excluir aqueles que ainda não nasceram, savvy? 

- Mas... 

- Antes que perguntes, sim, vamos procurar aqueles que já morreram também.

Fiquei impressionada. Era realmente isso que ía perguntar. 

- Como é que...

- Um capitão afunda sempre com o seu navio - interrompeu ele novamente - Vamos contar as novidades àquelas preguiças malcheirosas.     

Novamente adivinhou aquilo em que estava a pensar. Fiquei um pouco preocupada porque agora que a magia existe (apenas para mim é claro, por que acabei de a descobrir ) tudo é possível. Então será que Jack consegue ler os meus pensamentos? Só peço a Deus que não seja verdade... 

Jack interrompe-me. Agarra-me novamente pela cintura e pega-me ao colo. 

- Não lhes digas nada, savvy? Iria arruinar a minha reputação de Capitão bem educado e respeitável - disse-me ele, sussurrando ao ouvido.     

Fiz uma expressão de surpresa: 

- Não contar o quê? 

- Oh parece que te esqueces das coisas depressa. Então não tenho de me preocupar. - respondeu, com o olhar aliviado. 

Olhei para ele com cara séria e depois acabou por me dizer. 

- Estou a falar da nossa pequena... festa de comemoração... 

- Para estares tão preocupado deve ter sido realmente importante para ti - disse eu com as sobrancelhas levantadas, como que à espera de uma explicação.   

- Claro que não. Só tenho uma reputação a manter, tu sabes... 

- Vá lá Jack, admite. Sem mim não terias conseguido e ficaste tão contente que... tu sabes - respondi, gozando com ele. 

- Continua a convencer-te disso, amor. 

Nesse momento, ainda comigo ao colo, abre a porta do camarote de rompante, fazendo com que todos os olhos ficassem postos em nós. 

- Estimados cavalheiros malcheirosos, temos boas notícias.