~ Chara p.o.v.
- Eu sei muito bem quem vamos encontrar - Digo batendo o pé no chão, ou melhor, nas flores. - Vamos encontrar meu irmão.
- Tudo bem, eu te levarei. Acredito que posso ser um pouco mais útil do que pensa.
Ele estende as mãos para o meio da sala do trono e as almas vêm em nossa direção, todas rodeadas por uma luz azul escura.
- Não podemos deixa-las aqui - Diz ele sorrindo - Nunca se sabe quando elas serão úteis novamente.
Eu concordo com a cabeça e ele estende a outra mão para mim enquanto mantém a outra levantada fazendo as almas pairarem ao nosso redor.
- Podemos ir? - Pergunta ele pacientemente.
- Sim, mas eu odeio essas viagens. - Digo pegando sua mão
- Eu também demorei um pouco para me acostumar com os teletransportes, você também vai conseguir algum dia.
Assim que ele termina de falar a sala do trono se transforma numa escuridão completa em um piscar de olhos, a única coisa que consigo ver é uma faixa de luz ao longe iluminando um pequeno monte de flores douradas.
- De volta ao início - Digo pra mim mesma.
- Então é assim que você chama este lugar? - Pergunta Gaster um tanto confuso enquanto esconde as almas dentro de seu sobretudo - Devo dizer que é um bom nome, levando em conta que sua jornada, assim como a das outras crianças, começou aqui.
- Shhhhh - Digo pedindo silêncio sem desviar meu olhar do monte de flores. Ago se mexeu ali.
Uma das flores se levanta, ela é maior que as outras, seu botão é branco e exibe um pequeno rosto triste. “Eu já esperava por isso, sendo Asriel ou Flowey, eu preciso falar com meu irmão”.
- Então ele realmente voltou a ser uma flor. - Sussurro para Gaster
- Infelizmente sim. - Ele sussurra de volta.
Começo a me aproximar pelas sombras, tomando cuidado para Flowey não perceber minha presença. “Também não sei porque estou fazendo isso, só parece ser o certo a se fazer”.
Flowey olha para luz e novamente para o chão e logo depois volta a olhar para a luz, sua expressão indica algo parecido com tristeza, mas sei que isso é impossível, afinal ele não sente nada.
Gaster e eu nos escondemos atrás de um pilar a uns seis metros de onde Flowey está, me levanto para me aproximar um pouco mais, mas meu pé acaba esmagando um cascalho provocando um ruído muito alto que corta o silêncio fúnebre da caverna.
- Quem está aí? - Pergunta Flowey totalmente alerta para um possível perigo.
Não respondo, me mantenho imóvel e prendo a respiração. Uma última tentativa para ele não me detectar.
- Sei que tem alguém aí, posso não ter orelhas, mas isso não significa que eu seja surdo.
Eu desisto de tentar me manter escondida, caminho lentamente para a luz, onde ele pode me ver.
- Olá, irmão. Já faz muito tempo, não?
- Chara?! - Diz ele exibindo um sorriso nervoso - Mas você está morta, como isso pode ser possível?
- Você também estava morto, assim como você, eu encontrei um jeito de voltar. Não está feliz em me ver?
- Desculpa, mas eu não sinto nada. Sem alma, sem sentimentos.
- Entendo. Vamos sair desse buraco.
- Eu não vou. Não quero ir, não assim.
- Acredito que posso ajudar - Diz Gaster irrompendo das sombras fazendo as almas flutuarem para fora de seu sobretudo.
- Quem é esse? - Pergunta Flowey.
- Meu amigo cientista maluco.
- Aham. Pode me chamar de Gaster, príncipe Asriel.
- Como você sabe quem eu sou? Você contou pra ele, Chara?
- Não, eu não disse nada - Digo levantando os braços em sinal de inocência.
- Ela diz a verdade. Eu sei quem você é pois tenho te observado durante muito tempo, Asriel. Não precisava voltar a ser uma flor.
- Do que você está falando.
- Por todas as realidades que eu vi, não se faça de desentendido - Diz Gaster perdendo a calma - Eu sei muito bem que seu estado atual é opcional e reversível.
- Não mais, eu realmente perdi minha alma quando consegui me transforma em flor de novo. A única coisa que tenho são minhas palavras e eu não mudei de ideia, não quero que eles me vejam assim.
- Não precisa que eles te vejam assim. Eu tenho um plano e acredito que todos nós temos bastante tempo antes da outra Chara chegar e mais um Dreemurr ajudaria bastante.
- Qual o seu plano velhote? - Digo já esperando que ele diga algo estranho.
- Isso precisará mais de você do que imagina, Chara.
- Diga logo.
- Asriel absorveu sua alma uma vez, querendo ou não, sua alma faz parte da alma dele agora, então ela é extremamente necessária para reconstruir a alma do Asriel.
- O que você pretende? Ela precisa da alma dela. - Diz Flowey mostrando que está prestando atenção.
- Meu plano é extrair metade, talvez menos, da alma de Chara para estimular sua alma a reaparecer. Não vou mentir, o processo é perigoso e não posso faze-lo sozinho.
- Quem vai te ajudar? - Pergunto querendo saber quem tem tanto a confiança de Gaster.
- Só conheço três cientistas que estão a altura de realizar algo assim, mas infelizmente não poderei contar com o terceiro no momento.
- Diga logo quem são, pare de fazer esse drama desnecessário - Diz Flowey se irritando (obrigado Flowey).
- Sans e Alphys.
- E quem é o terceiro? - Pergunto de imediato.
- Papyrus, mas durante o acidente que me jogou no Core ele deve ter sido atingido e acabou perdendo a memória.
- Espera, para tudo! Aquele bobalhão do Papyrus era um cientista?
- Ele pode parecer um bobalhão agora, mas era o aprendiz mais brilhante que já tive e também um guerreiro formidável, ele e Sans treinavam juntos todos os dias, se preparando para uma possível retaliação por parte dos humanos.
- Retaliação?
- Sim. Algumas expedições eram realizadas pelos humanos, nunca em grande quantidade, mas pararam pouco tempo depois, antes de começarmos a explorar fundo a caverna, mas essa é uma história para ser contada depois
- Aaaaaa - Digo desanimada - Eu queria ouvir essa história.
- Depois que derrotarmos o seu eu genocida eu conto, prometo.
- Eu não vou me esquecer.
- Nem eu - Diz Flowey saltando da terra e envolvendo suas raízes em meu braço.
- Muito bem, temos duas pessoas para visitar - Diz ele estendendo a mão - Sugiro começarmos por Alphys, já que Sans pode não encarar a presença de vocês como algo positivo.
- Se prepara, Azzy, o teletransporte não é nem um pouco agradável.
- Espera, teletranspor…
Antes de Flowey terminar de falar Gaster nos teletransporta para um lugar bem mais aberto, uma série de casas uma do lado da outra passam uma visão calma e amigável do local e o sol, como eu senti falta do sol.
Não há nenhuma nuvem no céu e o calor do sol é aconchegante, melhor que uma lareira num dia frio em Snowdim, seria ainda melhor se a luz não me cegasse, mas isso faz parte.
Ficamos um tempo parados no mesmo lugar até todos conseguirem enxergar normalmente de novo e Gaster começa a andar, ainda segurando minha mão.
- Wau, Chara. A superfície é muito bonita.
- É mesmo, Azzy. Mas está tudo tão diferente de quando eu morava aqui. Parece que muito tempo se passou, mais do que deveria.
Gaster aperta a minha mão com um pouco mais de força e vai aliviando a pressão aos poucos.
- Gaster, por que você apertou a minha mão?
- Desculpe, não tive a intenção. Senti um arrepio na espinha.
- Estranho.
- Deveras. Olhe, chegamos. - Diz ele apontando para a casa à nossa frente. - Essa é a casa da Alphys
- Como você tem tanta certeza? Todas as casas são praticamente iguais.
- Olha bem pra essa casa - Diz ele como se a resposta estivesse bem na minha frente.
É uma casa bem simples por sinal. Um andar e um sótão, as paredes de madeira pintadas de um rosa quase branco e o telhado alaranjado dão à casa um aspecto, devo admitir, bem fofo. Pensando bem, é a cara da Alphys.
- E digo mais, quem mais teria uma caixa de correio assim?
A caixa de correio tinha um gatinho de anime desenhado e a alavanca é idêntica a uma pata de gato.
- É, você tem razão, só a Alphys poderia morar numa casa assim.
- Até eu sei disso - Flowey deixa o comentário escapar.
- Não começa, Azzy. Saiba que você está no meu braço eu posso muito bem fazer você se sentir dentro de um furacão só por estar aí.
- Desculpe, não digo mais nada.
- Ótimo.
Gaster toca a campainha e o som não é o de uma campainha normal e sim um miau miau miau repetido. “Pelo amor de Deus, Alphys, nem a campainha escapou.”
- Já vai! - Diz uma voz mais groça que a de Alphys, mas feminina e eu já tenho uma ideia de quem é a dona.
O som de passos rápidos e pesados ecoam para fora da casa e a porta se abre tão rápido que pensei que as dobradiças não iriam aguentar e parada na nossa frente está Undyne.
- Quem são vocês? - Pergunta ela rispidamente.
Está vestida com uma camiseta preta toda amassada, uma calça jeans e está descalça, seus cabelos estão completamente bagunçados, uma mecha esconde seu olho ruim e suas bochechas estão um pouco avermelhadas. “E eu pensando que a cor das escamas dela não deixariam ela corar.”
- Me perdoe. - Diz Gaster - Pensei que Alphys morasse aqui.
- Ela mora, o que você quer com ela?
- Eu fui professor dela durante um tempo e estou com um problema que precisa de mais de um par de mãos para resolver. Pensei que poderia recorrer a ela para me ajudar.
- OK, Alphys!!!! - Grita Undyne
- O q-que foi Undyne? - Uma voz fraca e meiga vem do interior da casa.
- Um dos seus antigos professores está aqui e precisa da sua ajuda.
- Que? Qual deles - Diz Alphys aparecendo ao lado de Undyne.
Ela está vestindo uma camisa de gatinho, uma bermuda jeans e um par de chinelos brancos. Seu queixo cai assim que ela nos vê.
- G-G-G-Gaster? O que você está fazendo aqui? Como você ainda está vivo?
- Eu preciso de sua ajuda, quanto a segunda pergunta, eu não sei a resposta, algo muito estranho aconteceu naquele dia, por sorte você não estava presente.
- Undyne, eu preciso ir. O assunto é realmente muito sério.
- Nesse caso eu vou com você.
- N-N-Não precisa, é assunto de cientistas.
- Humpf! Vocês e seus segredos, nós já conversamos sobre isso.
- Não é um segredo, eu vou contar tudo quando voltar, prometo.
- Aaah, tudo bem. - Diz ela relutante - Mas eu vou querer cada detalhe.
- Não vou deixar passar nenhum. Até logo Undyne.
- Até logo Alphys.
Undyne se abaixa e da um selinho em Alphys, que fica corada e logo caminha nervosamente em nossa direção.
Gaster começa a andar na frente, eu e Flowey ficamos logo atrás dele e Alphys fica atrás de nós mexendo os dedos e balbuciando coisas nervosamente.
- O q-q-que você tem em mente, Doutor G-Gaster? - Pergunta ela rompendo o silêncio.
- Por favor, não me chame de doutor, você também tem esse título, oque torna essa formalidade entre nós algo desnecessário.
- Oque você tem em mente, Gaster?
- Quando o Sans chegar eu contarei tudo.
- Chamou - Diz Sans que aparece do nada atrás de mim.
- Ai, meu coração! Quer que eu enfarte, lata de lixo sorridente? - Digo colocando a mão no peito.
As raízes de Flowey apertam meu braço com força, ele não falou nada, mas aposto que se assustou também.
- Hey G! Como foi a estadia no Void?
- Deveras aconchegante, acredito que tenha comentários mais engraçados que este. - Diz Gaster sério.
- Na verdade tenho uma ótima piada, numa rua havia uma flor e um psicopata, qual foi a previsão do meteorologista?
- Eu não faço a menor ideia e não me importo. - Responde Gaster.
- A previsão de hoje é de mau tempo. - Diz Sans invocando um gaster blaster.
Mas antes dele conseguir atirar uma mão esquelética com um orbe verde no meio aparece na minha frente e cria uma barreira em volta de mim e de Flowey, absorvendo a rajada do gaster blaster de Sans.
- Eles não são a ameaça, Sans
- E você acredita neles? Abaixe a barreira e deixa eu acabar com isso.
- Se fizer isso não seremos capazes de enfrentar o verdadeiro inimigo que está vindo.
- Se está falando da outra Chara, esqueça, agora que você está aqui podemos dar um jeito, como nos velhos tempos. - Diz Sans invocando mais dois gaster blasters que atiram ao mesmo tempo na barreira.
- Isso não muda o fato que tenho uma dívida com ela, é graças a Chara que eu consegui voltar e eu não estou disposto a quebrar a promessa que fiz a ela.
- Você fez uma promessa? - Diz ele fazendo os gaster blasters desaparecerem.
- Sim.
- Então a parada é séria.
- Qual o problema de vocês com promessas? - Diz Flowey do meu ombro.
- Bom, eu peguei isso dele. Até onde eu sei, esse cara só fez duas promessas na vida inteira. Uma pro Asgore e essa agora.
- Na verdade, foram três.
- E qual é a terceira? - Pergunta Sans confuso.
- A que eu iria voltar.
- É, tinha me esquecido dessa.
- G-G-Gaster, agora pode dizer oque quer conosco?
- É, eu também fiquei curioso. - Diz Sans desistindo de matar Flowey e eu.
- Quero trazer de volta a antiga forma do Asriel.
- Acho que, como? Seria uma pergunta melhor. - Diz Sans novamente.
- Como vocês sabem, Asriel absorveu a alma de Chara no passado. Querendo ou não a alma dela faz parte da de Asriel agora.
- E-e-então o seu plano é usar a alma de Chara como reagente químico para fazer a alma de Asriel se reconstruir?
- Precisamente, Alphys, precisamente - Diz Gaster empolgado.
- Como tem certeza que a alma do Asriel vai se reconstruir a partir da alma da Chara? - Pergunta Sans
- Simples, o corpo de um monstro é constituído basicamente de magia e essa magia vem diretamente de nossa alma, partindo desse princípio como Flowey pode ao menos existir sem ter no mínimo um pequeno resquício da alma que tinha antes.
- Ele é uma flor, G. Não um monstro.
- É verdade, mas carrega a identidade de Asriel. Nós não possuímos células, cromossomos ou DNA, possuímos apenas a energia de nossas almas…
- Você ta entendendo alguma coisa, Azzy?
- Não, mas finge que ta entendendo.
- Pode deixar.
-... Logo se Flowey tem as memórias de Asriel, quer dizer que ele também tem um pequeno fragmento de sua alma, que se estimulado da maneira certa, pode trase-lo de volta.
- Wau, G! Você realmente se superou. Então o príncipe flor ainda tem uma alma.
- Um fragmento, isso explica ele ter as memórias de Asriel, mas não conseguir sentir emoções.
- B-b-bom, podemos usar o velho extrator para isso então.
- Tem razão, mas esse é um trabalho para três, se quisermos manter Chara viva vou precisar de ajuda.
- C-c-conte comigo, Gaster. É sempre um prazer poder trabalhar com você.
- Eh, eu não acredito que estou dizendo isso, vai ser osso, mas conte comigo.
Eles terminam a discussão, Gaster pega a minha mão e Sans pega a de Alphys e nos teletransportamos juntos para o antigo laboratório do Gaster. Mais especificamente na sala do extrator de determinação.
- A máquina precisará de alguns reparos. - Diz Gaster.
- N-N-Não se preocupe, eu mantive ela em funcionamento durante esses anos. Está sem nenhum arranhão e porta pra voltar a exercer sua função mais uma vez.
- Bom trabalho, Alphys. Nos poupou bastante tempo. Nesse caso começaremos o procedimento agora.
“Alphys, ligue a energia e não se preocupe, desenhei o Core pra fornecer energia ilimitada para todo o Underground por um período de até um milênio.”
- Sim, Gaster.
- Sans, vá até um hospital e consiga soro, adrenalina e anestesia.
- Deixa comigo G.
Sans se teletransporta e alguns minutos depois volta com tudo que Gaster pediu. As luzes do laboratório acendem e a máquina é ligada, ela emite um chiado grave como um animal gigante acabando de acordar.
- Está pronta, Chara? - Pergunta Gaster.
Alphys chega do meu lado com um jarro de planta, eu tiro Flowey do meu braço e ele finca suas raízes na terra do jarro.
- Eu volto logo, Azzy. - Digo a ele e acinto para Gaster com a cabeça.
Ele me ajuda a entrar no extrator e mostra a seringa com a anestesia.
- Lembre-se de nossa promessa. Não vou deixar nada acontecer a você.
- Eu sei.
Ele aplica a anestesia, meu corpo vai ficando mole e tudo a minha volta começa a girar e escurecer até eu não enxergar mais nada.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.