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História Time web - Atrasos


Escrita por: Alchorrint

Capítulo 5 - Atrasos


               — Nós poderíamos jantar comida tailandesa hoje — a mulher ajeitou o topete no cabelo do marido e beijou sua bochecha rapidamente, voltando sua atenção à tigela de cereal. — O que acha, Peter?

O garoto não havia parado de mexer na câmera desde o momento em que sentou na mesa. Seu dedo pressionava o botão de avançar repetidamente, tantas vezes que já sentia a câimbra pousar sobre a mão. Seus olhos corriam com as fotos tremidas que havia tirado dele mesmo na noite passada, nenhuma válida para o tal artigo. Mesmo que Peony não tivesse mais lhe chamado ou enviado qualquer e-mail, Peter queria fazer algo certo. Uma carta de recomendação seria perfeita para seu futuro, e seria algo que lhe traria orgulho.

               — Peter. — Chamou a mulher.

               — Huh? — O garoto descolou os olhos da câmera e passou a mão sobre o rosto na intenção de disfarçar que não estava prestando atenção.

               — O que você está vendo? — Perguntou seu tio, aproximando-se do garoto e encarando as fotos da câmera. Peter escondeu a máquina e sorriu para o homem que pareceu surpreso com a ação. — Cheio de segredos, não?

               — Comida tailandesa serve — Peter respondeu a tia enquanto se levantava e pegava a mochila. — Preciso ir, não posso chegar atrasado.

               — Tenha um ótimo dia — desejou a mulher enquanto observava o garoto sair em disparada à porta.

Não era que Peter não gostasse da companhia de seus tios — céus, não! Ele os amava como se fossem seus próprios pais. Mas o fato do casal ser um tanto curioso pela vida do garoto, ainda mais quando era uma vida cheia de segredos, dos mais profundos os quais ninguém poderia saber, jamais, chegava a afetá-lo um tanto, tendo de desviar os assuntos ou fugir da cena muitas vezes.

O garoto seguiu sua rotina passo a passo: pegou o metrô, escutou música em seus fones enquanto fazia anotações no caderno, anotou as fórmulas que testaria para fortalecer ainda mais seus fluidos de teia durante a aula de química, coçou os olhos ainda estranhando o fato de não usar mais os óculos. Mesmo com tantos tempo, três meses e meio com exatidão, o jovem ainda não havia se acostumado com certas vertentes que vieram com os poderes. Além da grande responsabilidade, tinha também o fato de que ele não deveria se arriscar.

Desde sua excursão escolar para a grande torre Oscorp, uma das maiores da grande cidade e fundada por ninguém menos que Norman Osborn, pai de seu melhor amigo, o garoto tem lidado com mudanças físicas, psicológicas, reflexos loucos e habilidades insanas, e mesmo assim, não tinha a mínima ideia do porquê de tudo isso. Peter não acreditava em destino, mas a coincidência havia sido tão grande que o fizera entrar em contato com o Universo várias vezes; "por que eu?", "por que não outra pessoa?".

E tudo isso formava um grande conjunto para que ele se lembrasse da primeira vez em que fez algo útil além de fechar a porta ou apagar a luz quando não queria se levantar da cama. Foi em uma noite quando voltava da casa de Ned, e acabou encontrando três homens com grandes sacos de dinheiro em mãos, saindo de um pequeno banco na 72. Primeiramente, pensou que não era de sua conta e deu meia-volta, tentando seguir seu trajeto, mas, em seguida, lembrou-se que sua força valia por seis homens, e sua consciência já preparava um esporro. Então o garoto virou-se e fez o certo; puxou o capuz para frente, posicionou-se e deixou os três sem sentido, pegando uma corda que havia encontrado dentro de um lixo, amarrando-os juntos e deixando um bilhete. Ao pegar seu celular, discou para a polícia e fez uma denúncia anônima.

Após esse dia, ele passou a agir sempre que via algo ocorrendo em sua frente. À princípio, não ligava para os crimes cometidos ao redor, só agia quando estava presente no local, mas depois começou a assumir a responsabilidade e agir como um bom-cidadão-mais-do-que-capaz. E tudo isso por baixo das cobertas, ninguém nunca vendo ou escutando sobre. Então o capuz se tornou um perigo, já que revelava seu rosto mesmo que pouco, e aí criou sua roupa.

Quando a voz eletrônica que saía pelas pequenas caixas de som do metrô avisou que havia parado em Forest Hills, Peter pegou a bolsa e jogou-a sobre o ombro, caminhando para fora do vagão. A estação ficava perto da escola, sendo uma caminhada de um quarteirão até chegar aos portões de Midtown, e o garoto aproveitou esse curto tempo para pegar o celular e verificar se Ned havia lhe chamado ou algo do tipo. Sem nenhuma mensagem, guardou o aparelho e seguiu o trajeto ao som de Alt-J.

Saltando o degrau que levava para dentro do colégio, Peter ajeitou sua mochila e caminhou em direção ao seu armário, pegando o livro de álgebra e inglês que seriam seus dois primeiros períodos, e então encaminhou-se até o corredor que o levaria para a sala do Sr. Dunphy. O garoto não se incomodou em tirar os fones, ele poderia curtir um tanto da música enquanto caminhava, e no momento em que seus olhos desviaram do chão e fixaram-se na tela do celular para passar para a próxima, Peter acabou esbarrando em alguém, que derrubou vários cadernos no chão. Retirando os fones dos ouvidos, ele olhou para baixo, vendo a pessoa que se agachava e sentiu seu coração se acelerar.

Em seguida, agachou-se junto e passou a pegar todas as folhas perdidas, que mais pareciam anotações, e juntá-las em suas mãos trêmulas. Peter estava evitando a todo custo olhar dentro dos olhos castanhos da garota, ou do sorriso que ele considerava abalador — claro, ele e toda a escola — e murmurava xingamentos para si mesmo, soando por baixo de sua respiração agitada.

               — D-Desculpe — pediu ele ao entregar as anotações para a garota.

Liz levantou o rosto e pegou as folhas da mão do garoto. Apenas o toque em seus dedos fez com que os cabelos da nuca dele se arrepiassem no mesmo instante. A garota sorriu vendo o nervosismo e negou com a cabeça, dizendo:

               — Não foi nada — procurou acalmá-lo enquanto os dois se levantavam. — Esses corredores que são estreitos demais.

               — Ou nós que somos grandes demais — disse ele e sentiu vontade de se dar um tapa em seguida. Sério, Peter? "Nós que somos grandes demais?"

A garota riu com o comentário e ajeitou os cadernos no colo, dando um passo para trás enquanto ajeitava a saia azul. Peter não chegou a prestar muita atenção em suas roupas, já que ele e Ned haviam, praticamente, decorado todo o guarda-roupa da jovem, e aquela combinação não tinha novidades. Exceto pelo fato de que estavam sobre o corpo escultural da jovem.

               — Obrigada, Peter — agradeceu a jovem e sorriu de canto. — Até outra hora.

O moreno abriu um curto sorriso e esperou a garota sair de seu campo de visão para seguir até a sala de cálculo. Às vezes Peter sentia-se um tremendo idiota. Trouxa, otário, idiota. A única garota que ele conseguia tamanha naturalidade para conversar era sua tia, e ela não entrava na categoria.

Depois de ter sido premiado com os poderes "aranha", o garoto lembrava-se bem do momento em que passou quase uma hora inteira encarando seu reflexo no espelho, virando de costas, lados e de frente, observando os músculos desconhecidos. Todo seu corpo havia sido definido por forte musculatura, como o corpo de Flash, se não até mais, e sem qualquer esforço. Peter lembrava-se bem da confusão mental que tinha toda vez que via os bíceps, pasmo, e pensava que agora poderia fazer coisas que nunca pôde fazer anteriormente.

Com doze anos, o garoto tentou entrar para o time de futebol, mas julgando pelo seu físico e os grandes óculos pendurados no nariz, fora rejeitado logo de cara. O primeiro pensamento ao ver os músculos foi de que podia refazer o teste para a próxima temporada e, dessa vez, conseguiria entrar. Ou conseguiria se juntar ao time de natação, ou de corrida, ou pelo menos, seria um aluno melhor na Educação Física. E então sua consciência entrou em cena e lhe mostrou que era impossível ocorrer uma mudança daquelas do dia para a noite, e o garoto aceitou o destino de que teria de disfarçar.

Os óculos não foram um problema, já que existiam mecanismos como as lentes de contato, que ele mentia sobre usá-las, mas o físico… como ele explicaria aquilo? E então passou a comprar suéteres e moletons largos para cobrir os músculos e evitar qualquer evidência. Sua pele quase não tinha mais tanta oleosidade! Talvez a aranha fosse uma salvação ao seu status social, com exceção dos machucados que ele ganhava ora ou outra.

O garoto sentou-se em sua carteira e colocou a mochila ao lado da mesa, posicionando os braços sobre a superfície enquanto aguardava o professor.

[…]

               — Talvez você deva parar de falar dela e começar a falar com ela — Ned começou a soldar uma peça em que trabalhava. — Me passe a chave de fenda.

Peter pegou a ferramenta e entregou-a para o outro. Ajeitando os óculos de proteção sobre os olhos, soltou um longo suspiro.

               — De todas as pessoas que eu podia ter esbarrado, logo nela… — Peter debruçou-se sobre a mesa, escondendo o rosto.

               — O melhor foi sua frase: "ou nós que somos grandes demais" — caçoou Ned enquanto fixava a peça de metal no corpo do robô. — Você sempre se supera, Pete.

O garoto soltou um gemido abafado pelo braço que estava em frente a sua boca e levantou o rosto apenas para encontrar o amigo analisando a máquina com cuidado.

               — Eu só sinto que ela merece mais do que eu possa oferecer — afirmou ele, torcendo a boca. — Quem gostaria de sair com um nerd?

               — Realmente — concordou o outro e recebeu um olhar triste do amigo. — Eu estou brincando. Ei, quem poderia oferecer mais do que sua inteligência?

               — Eu não…

               — Não ouse — comentou Ned. — Você sabe que é o cara mais inteligente da escola.

Peter pousou os olhos sobre o caderno de rascunhos do amigo e respirou fundo.

               — Ned…

               — Não argumente!

               — Calma — disse Peter enquanto olhava para o amigo. — Sua equação está errada. O algoritmo multiplica, não subtrai.

O amigo encarou o outro como se ele tivesse acabado de derramar café em seu trabalho de horas, e permaneceu assim durante alguns segundos até soltar um grito dramático:

               — Está vendo meu ponto? — Ned jogou os braços para o alto e depois pegou uma borracha para consertar os rascunhos. — Você só precisa dos culhões para conseguir falar com ela. O resto ela já deve saber.

               — Que eu sou um idiota?

               — Exatamente! — O amigo sorriu para o outro.

Após alguns minutos de conversa jogada fora e risos incansáveis da situação de Peter, o sinal soou nos ouvidos dos alunos e indicou que era a última aula do dia. O garoto pegou sua mochila e jogou-a sobre o ombro enquanto esperava o amigo arrumar a mesa, ajudando-o a organizar as ferramentas e colocá-las em seus devidos lugares.

Logo que terminaram, seguiram para fora da sala de oficina, dando de cara com o corredor lotado. Peter já estava acostumado com lugares cheios de pessoas, afinal, ele morava em Nova York, mas isso não significava que ele costumava adorar esse tipo de coisa. Uma vez, ele quase levou um tombo e acabou rachando o vidro da vitrine de troféus, o que não agradou muito seus tios, que tiveram de pagar pelo dano.

               — Você ainda tem aquela barra de chocolate reserva? — Perguntou Ned.

Peter encarou-o com nojo e sentiu seu estômago se revirando.

               — Cara, aquilo deve estar na minha mochila há mais de duas semanas.

               — Três, para ser exato — comentou Ned enquanto desviava dos adolescentes que saíam de todas as direções. — Você colocou ela na mochila quando saiu de casa depois da maratona de Star Trek.

O garoto até abriu a boca para argumentar contra, mas acabou desistindo, sabendo que Ned e comida tinham uma ligação forte demais para ser quebrada. Nem três semanas seriam o suficiente para causar uma ruptura nesse relacionamento. Peter caçou a barra dentro da mochila e, quando a encontrou, esticou o braço na direção do amigo. Antes mesmo de poder entregá-la, uma massa corporal que fedia suor passou do seu lado, roubando o chocolate e saindo correndo, não antes de gritar:

               — Valeu, Pênis Parker.

Ned pareceu abalado, mas se recuperou logo em seguida.

               — É perda dele — afirmou Peter. — Afinal, são três semanas, não?

               — Você não tem outra? — Questionou o amigo, espiando dentro da mochila do outro.

               — Não sei, deixe-me ver — Peter jogou a mochila para a frente de seu corpo.

Enquanto seus dedos procuravam pela barra de chocolate, seus olhos focaram na câmera que estava bem ajeitada entre os cadernos, com cuidado para que não causasse dano algum. Peter costumava deixar as lentes em casa, sabendo que eram caras e que seus tios haviam trabalhado duro para poder comprá-las, apenas para serem roubadas em questão de segundos. Afinal, aquele era o Queens, e assaltos eram rotina.

O garoto lembrou-se das fotos que havia tirado na noite anterior, e, por sorte, os dois estavam passando logo em frente ao editorial, encontrando a porta entreaberta. Peter não costumava frequentar as reuniões, muito menos passar tardes inteiras dentro das salas, até porque ele era o fotógrafo e nada mais. O jovem só havia se juntado ao clube porque sua professora de inglês, a Sra. Carson, que também era a supervisora do jornal da escola, acabou o encontrando ao tirar fotos pelo campus. Não sabendo dizer "não", aceitou o convite e desde então tem sido o fotógrafo oficial do tal clube.

               — Ei, você me espera aqui? Eu preciso resolver uma coisa — disse Peter ao indicar a porta entreaberta.

               — Cara, tome cuidado, ela deve estar aí dentro — afirmou Ned enquanto dava um passo para trás. — Sabe o que seria demais? Se nós colocássemos um apelido carinhoso nela.

               — Apelido?

               — Sim, tipo Smaug, ou Loki, ou Vader… — sugeriu enquanto soltava um riso estridente.

               — Sério, Ned? Smaug?

               — Ele é um dos melhores vilões da história, com licença.

Peter revirou os olhos e caminhou para dentro da sala e fechou a porta atrás de si, trazendo o silêncio ao local. O garoto encarou a porta reforçada e a placa de "silêncio" ao seu lado e espiou pela pequena janela, encontrando um balcão cheio de folhas de papéis e a tela verde atrás. Todo dia de manhã, Midtown trazia o jornal ao vivo, apresentado por Betty Brant e Jason Ionello, e os dois se encontravam ali, discutindo sobre algo que Betty parecia impor e o garoto aceitava com os olhos fixos ao chão.

Olhando para o outro lado, era possível ver alguns alunos trabalhando em silêncio enquanto digitavam em seus notebooks, com várias anotações ao lado. Chegando mais perto, Peter pôde perceber que várias das folhas estavam com marcações em vermelho, como se já tivessem passado nas mãos da editora-chefe e não acabaram em bons resultados. O garoto olhou para a frente e encontrou a porta fechada com sua pequena placa de identificação enquanto engolia em seco e tomava coragem.

               — Eu não entraria aí se fosse você — disse uma garota atrás de Peter.

Ele se virou e deparou-se com a jovem. Ele a conhecia de vista, dos corredores, mas não conseguia se lembrar de seu nome. A garota era loira e tinha uma franja bem cortada que caía sobre as sobrancelhas, próxima aos olhos azulados. Ela se vestia como uma adulta; usava saias azul-marinho e camisas com gravatinhas, acrescentando as botas marrons.

               — P-Por que?

               — Ela não gosta de ser incomodada enquanto desenha — afirmou a jovem.

               — Acho que vou correr esse risco — Peter umedeceu os lábios e recebeu um sorriso amigável da garota.

               — Você quem manda.

Com os punhos fechados, deu duas batidas e esperou respostas. Não tendo nada, esgueirou-se até o vidro que cercava a sala e encontrou a imagem da garota com um lápis em mãos e focada em seu caderno. A jovem parecia concentrada, e o garoto imaginou que ela não tivesse lhe escutado, então girou a maçaneta lentamente e abriu a porta.

"Esse cara ri do perigo" soou uma voz atrás de si, acompanhada de uma risada.

               — Quantas vezes eu tenho de pedir para bater antes de… — Peony levantou o rosto e percebeu a pessoa que havia acabado de adentrar sua sala. — Ah, oi.

               — Oi — cumprimentou ele ao fechar a porta atrás de si. — D-Desculpe entrar assim… eu acabei conseguindo algumas fotos ontem à noite. E-Ele estava perto do meu apartamento e…

               — Sim, certo — a garota murmurou para si mesma enquanto indicava para que ele chegasse mais perto.

Peter tirou a câmera da mochila e selecionou a galeria, afirmando que a garota podia avançar as fotos para vê-las uma por uma. Nesse curto tempo, aproveitou o silêncio para analisar o local. O garoto sabia que eles tinham mais dois anos do período escolar, e por isso não costumava se apegar muito no que ele poderia chamar de "dele", como o armário ou sua mesa de laboratório, mas Peony parecia pensar muito diferente. Sua sala era repleta de coisas que a faziam parecer um ambiente de puro conforto.

Ao lado da porta, havia um sofá com sua mochila e vários envelopes amarelos organizados em três montes. Nas paredes, várias reportagens com medalhas, as quais Peter imaginou que fossem premiadas ou tivessem sido publicadas, com grande repercussão. Logo atrás da grande escrivaninha branca, uma cadeira giratória com estofamento preto e uma das paredes claras repleta de post-its e anotações penduradas por alfinetes coloridos. Sobre a superfície da mesa havia um notebook aberto, um computador com tela grande, uma garrafa com café até a metade e uma pequena caixa com diversos marcadores de variadas cores. O marcador vermelho estava logo acima de uma pilha de matérias abaixo de um grande post-it amarelo contendo a pequena mensagem em letras cursivas: descartes.

Além do grande armário branco ou dos vasos de plantas e flores organizados sobre uma outra cômoda, haviam vários detalhes que prenderam a atenção de Peter, coisas que ele não havia notado antes nas diversas vezes em que esteve presente na sala. Tudo indicava que a garota já havia demarcado o território, e que ninguém jamais tiraria seu grande posto.

Mas algo atraiu a atenção do garoto. Enquanto a jovem analisava as fotos com um curto sorriso nos lábios, Peter focava no que estava abaixo de seus braços. Ali havia um caderno de rascunho com algumas linhas coloridas, as quais formavam grandes rosas desenhadas em tons de vermelho, amarelo e roxo. O garoto inclinou a cabeça para ver com mais cuidado, e acabou assustando quando a jovem se virou em sua direção, entregando-lhe a câmera.

               — Essas ficaram ótimas! — Disse ela ao sorrir um tanto. — Pode enviar para a gráfica, ou se estiver muito ocupado, pode enviá-las para mim e eu mando para a gráfica mais tarde.

               — Você quem desenhou isso? — O garoto apontou para a folha.

Algo que Peter nunca havia visto na vida, e podia jurar que mais nenhum aluno do colégio havia visto também, era a pigmentação avermelhada nas bochechas da jovem. A garota procurou esconder o desenho com os braços e apoiou o queixo sobre a mão, encarando Peter.

               — Q-Quero dizer… ficou muito bom — elogiou ele enquanto procurava desviar o olhar dos olhos esverdeados da jovem.

Seus olhos pousaram em seu pescoço, vendo a corrente pesada de ouro velho cair sobre a camisa cinza que ela vestia. Peter não havia reparado antes no colar, mas seu olhar não deixou de fitar o pingente de cubo nem por um segundo. Em todas suas faces haviam símbolos luminosos, reluzindo em uma coloração prata-azulada.

               — Você já acabou? — Perguntou a garota, o tirando do transe.

Peter chacoalhou a cabeça e abriu um curto sorriso, dando dois passos para trás. Saindo da sala, segurou a maçaneta e girou-a, abrindo a porta lentamente. O garoto olhou para trás e se deparou com a jovem debruçada sobre a escrivaninha novamente, com o lápis em mãos, e lembrou-se do dia anterior e de como havia a tratado no corredor. Sua educação não lhe permitiria sair da sala sem qualquer palavra.

               — Na verdade, eu queria dizer algo — Peter virou-se e soltou a maçaneta, agora agarrando o próprio pulso e fincando as unhas curtas sobre a pele, procurando evitar o nervosismo. A fala pareceu a atrair a jovem, já que levantou o rosto e o encarou com cuidado, analisando cada traço como se estivesse fazendo uma leitura de sua face. — E-Eu… eu fui um idiota com você ontem, no corredor. Afinal, nós estamos fazendo um trabalho juntos e eu acabei sendo cruel, e isso não é algo que eu costumo fazer. Então eu… me desculpe.

A garota abriu um sorriso de canto e balançou a cabeça lentamente.

               — Tudo bem, eu mal me lembrava — afirmou e Peter sorriu, posicionando a mão sobre a maçaneta novamente. — E caso você queira me chamar por algum apelido, pode me chamar de Sauron, já que ele é bem pior que o Smaug.

Peter encarou-a durante alguns segundos e sorriu de nervoso, deixando a sala.

[…]

O garoto decidiu passar na gráfica para poder revelar as fotos e não ter trabalho para depois. Era o mínimo que ele podia fazer depois de ter passado tamanha vergonha ao ver que a jovem havia escutado a conversa desagradável que ele teve com Ned. Chegando perto do balcão, encontrou um grande aviso escrito em letras tremidas, dizendo que haviam fechado mais cedo.

Peter respirou fundo e lembrou-se de que havia uma gráfica não muito longe da escola, e que era caminho para a estação de metrô, então mudou sua rota até o local. O garoto enfiou as mãos nos bolsos e pegou os fones e o celular, desejando ouvir música que o acalmasse após o dia cansativo. Assim que tentou selecionar uma de suas playlists, a tela aderiu o preto e um sinal de que não havia bateria piscou no centro. Bufando, Peter guardou o celular de volta ao bolso se seguiu caminhando.

Seus olhos focavam pelos grandes edifícios que o cercavam. Peter era acostumado com o Queens, sabendo cada rua como se estivesse gravada na palma de sua mão, e mesmo assim, o lugar ainda o fascinava. Cada dia era uma nova possibilidade para alterar a rotina; um dia, ele podia passar pela avenida principal e gastar uma tarde toda em uma daquelas lojas de quadrinhos com um café dentro; outro dia, ele podia comer cachorros-quentes ou burritos vendidos na rua (porque os que eram vendidos em lojas não pareciam ter o mesmo gosto) e passar sua tarde em um parque enquanto observava as pessoas que o cercavam, cada uma vivendo seu dia a dia. E eram incontáveis as opções, sempre variando.

Ele nem sempre havia morado ali. Quando seus pais ainda eram vivos, Peter morava em uma casa agradável em Manhattan. O garoto se lembrava vagamente do lugar; tinha memórias do jardim que sua mãe cuidava durante as noites, pois nunca tinha tempo às manhãs; lembrava de seu pai trancado em seu escritório e a pequena lousa que tinha na parede esquerda, sempre tendo pó de giz no chão e atacando as alergias do casal; ou até mesmo de seu quarto e das estrelas brilhantes de adesivo que foram coladas no teto, para que, toda vez que ele fosse dormir, lembrasse de que não estava só. Mesmo com a ausência dos pais. Desde a fuga inesperada que o tirou da cama no meio da madrugada, Peter nunca mais esteve em Manhattan.

Chegando à gráfica, o garoto passou pela porta de vidro e um pequeno sino tocou atrás de si, avisando que havia um cliente. Um homem de bigode grisalho apareceu atrás do balcão, jogando seus braços finos sobre a superfície e lançando um curto sorriso para Peter. O garoto começou a explicar como queria as fotos e o homem caminhou até os fundos com o cartão de memória da câmera em mãos.

Enquanto Peter esperava, sentiu algo lhe cutucar as costas. Não era nada sólido, era como se ele soubesse que estava sendo observado, e a amplificação dos sentidos tornava tudo ainda mais dramático. Olhando por cima do ombro, encontrou a rua pouco movimentada do lado de fora, e imaginou que pudesse ter sido qualquer pessoa que estivesse observando a vitrine ou algo do tipo. Muitas vezes seus sentidos o alertavam com alarmes falsos, fazendo qualquer olhar se tornar psicopata.

Logo que o homem voltou, trouxe um envelope verde em mãos e entregou para Peter, cobrando $12,80. O garoto pegou o dinheiro de dentro do bolso e deu ao homem, pegando o troco e saindo da loja. Enquanto partia para a rua, aproveitou para recolocar o cartão de memória dentro da câmera, e passou alguns minutos sem prestar atenção à frente, o que não seria um problema, já que seu equilíbrio era impecável e a agilidade melhor ainda.

Mas a sensação de estar sendo observado não ia embora. Olhou para os lados, para trás, para cima e para baixo, sem encontrar ninguém que pudesse estar com os olhos fixos nele. Peter guardou a câmera lentamente na mochila e entrou no beco que cortava caminho para a estação de metrô. O lugar estava escuro, e se localizava entre várias caçambas de lixo que estavam lotadas. E então, o beco se fechou com o movimento destas, que formavam, agora, uma barreira. Peter olhou para trás e viu uma segunda barreira, também impedindo que ele voltasse. Jogando a mochila para a frente de seu corpo, tentou pegar os disparadores de teia, mas uma arma fora apontada à sua cabeça antes de qualquer movimento.

Peter olhou para o lado, seu sentido-aranha disparado e lhe causando dores de cabeça, como se estivesse dizendo "eu avisei". O garoto levantou as mãos de refém e olhou ao redor, localizando quatro homens que o rodeavam, apenas um com arma pronta para disparo.

               — Passe a câmera e ninguém se machuca — afirmou o armado.

O garoto fez movimentos lentos e indicou que pegaria a câmera dentro da mochila, e então, rapidamente, equipou-se com os disparadores de teia e disparou sobre a mão do homem armado, fazendo com que ele voasse na direção do outro.

Assim que os dois caíram no chão, Peter aproveitou para empurrar a perna e derrubar um terceiro homem, e disparou a teia na face do quarto, o socando no estômago em seguida. Nesse tempo em que os quatro estavam ao chão, o garoto jogou o capuz para a frente do rosto, procurando proteger o mínimo de sua identidade, e seguiu a luta.

O segundo homem pegou a arma que havia caído no chão e tentou disparar, sem sucesso algum, já que os reflexos de Peter eram anormais e o fizeram desviar dos cinco disparos. O garoto atirou no revólver novamente e jogou-o para dentro de uma das caçambas, aproveitando o momento para grudar o homem na parede com uma rede de teias. O primeiro homem tentou derrubar Peter por trás, mas o garoto fora mais rápido e pegou-o pelo punho, o girando e fazendo com que a mão colidisse com a face do terceiro homem, e depois, os prendeu no chão com as teias novamente.

O quarto homem não se deu o trabalho de se levantar, apenas encarou Peter com medo nos olhos e tentou correr, mas o garoto não deixou barato e o puxou com uma teia mirada nas costas e o prendeu contra uma das caçambas, o impacto o deixando inconsciente. O jovem encarou sua obra com orgulho e caminhou até a mochila, pegando uma folha de caderno e uma caneta grossa, deixando um bilhete grudado à parede onde estavam dois dos homens.

"Encomenda para o departamento de polícia, do amigão da vizinhança, Homem-Aranha"

Peter tocou o bolso na intenção de pegar o celular e se lembrou de que não estava com baterias, então caminhou até o homem que estava na caçamba e procurou por um aparelho em seus bolsos, encontrando e discando o número da polícia, fazendo uma denúncia anônima antes de deixar o local.

Eu não canso de fazer o trabalho desses policiais, pensou Peter com um sorriso cínico nos lábios.

O garoto pegou a mochila ainda aberta e colocou os disparadores em seus devidos lugares, então vendo a câmera no fundo. Seu coração acelerou com medo de que tivesse algum dano, e pegou a máquina em mãos, analisando cada um de seus lados, encontrando a lateral quebrada, os parafusos soltos. Bufando, Peter encarou os bandidos com nojo e deixou o local, caminhando nas ruas novamente.

Peter precisava de um lugar calmo para poder ajeitar a câmera, e sabia que demoraria um tanto até chegar em casa, então, com medo de perder sua máquina e sabendo que seus tios não ficariam nada contentes e ele não teria outra, correu de volta à escola, tendo em mente que havia uma grande oficina cheia de ferramentas para usar.

Quase sendo atropelado três vezes — não que ele não estivesse acostumado, até porque, céus, ele morava em Nova York — Peter chegou aos portões do colégio, e então caminhou lentamente até os degraus que levavam à fachada. Enquanto o garoto seguia sua rota, seu sentido-aranha disparou novamente, indicando que algo vinha em sua direção, e ele se abaixou, vendo uma bola de futebol sair voando e colidir contra uma árvore. Peter virou-se e encontrou Flash com as mãos nos quadris e um sorriso sarcástico, como quem dizia "ops, não vi você aí".  

Assim que Peter pisou na oficina, sentou-se em um dos bancos e começou a trabalhar na câmera com as pequenas ferramentas que ficavam no canto da mesa. A escola sempre estava movimentada, ainda mais com a grande variedade de clubes que o local oferecia. Peter costumava fazer parte de alguns, como a banda, o Decatlo Acadêmico e o clube de xadrez, mas acabou abandonando a banda e deixando os outros dois de lado, sabendo que não precisava de muito treino para os campeonatos.

Logo que o garoto terminou o conserto, iniciou a câmera e viu que tudo funcionava perfeitamente. Com uma comemoração mental, levantou-se da mesa e sentiu uma leve dor nas costas devido ao tempo que passou inclinado. Olhando para trás, com os olhos ardendo por conta do foco, encarou o relógio e levou um susto. 17:32.

O garoto saiu da sala correndo, pensando que chegaria tarde em casa e isso não agradaria seus tios, e então se lembrou do envelope verde dentro da mochila e cogitou passar no editorial para deixar as fotos. Seus olhos acompanhando o relógio, desistiu da ideia e saiu em disparada para fora da escola, procurando usar um de seus saltos insanos de altos quando ninguém via, e atravessou a rua em uma velocidade anormal, seguindo em direção ao metrô.

Sua viagem acabou atrasando por algumas falhas técnicas, deixando-o ainda mais nervoso, e cada minuto parecia uma eternidade. O garoto resolveu pegar o trem, sabendo que ainda dava tempo de subir no das 18:00, e apressou o passo. Chegando ao local, saltou para dentro da máquina e sentou-se em um dos bancos vagos, tentando acalmar a respiração por conta da adrenalina. Peter jogou o rosto para a frente e aninhou-se entre os joelhos, fechando os olhos enquanto procurava a pouca calma interior que ainda lhe restava.

               — Ainda faltavam alguns minutos para as portas fecharem — disse uma voz perto dele, um tanto familiar. — Não precisava de toda essa correria.

Peter levantou o rosto e se deparou com a imagem da garota à sua frente, um pequeno caderno em mãos e as pernas cruzadas, seus olhos não deixando as folhas nas quais escrevia.

Que sorte a minha, pensou ele.

               — Faz tempo que eu não pego o trem — afirmou o garoto enquanto retomava a respiração normal.

               — Eu prefiro. São mais espaçosos — Peony torceu a boca, como se estivesse concentrada.

O garoto lembrou-se das fotos e pegou a mochila, caçando o envelope esverdeado. Assim que o encontrou, abriu-o rapidamente apenas para conferir as fotos. Ele mal percebeu as portas do trem se fecharem e o movimento começando, e então caminhou até o assento ao lado da garota, sentando-se ali e recebendo um olhar de desconforto. Em seguida, entregou o envelope para a jovem, que fechou a caderneta e o abriu, analisando as imagens.

               — Ok, menos um trabalho para mim — disse mais para si mesma do que para ele, mas Peter acabou concordando.

               —Eu não queria te dar mais trabalho…

               — Por que? — Questionou a garota, lançando um olhar desafiador para Peter. — Você acha que eu não sou capaz de lidar com muito trabalho?

               — N-Não, eu…

               — Acha que eu não consigo cuidar das minhas coisas? — Disparou ela, aumentando o tom.

               — N-Não foi isso que eu quis dizer — o garoto levantou as mãos como refém, assim como havia feito algumas horas antes, só que dessa vez, com o medo de verdade.

Peony passou mais alguns segundos com seu olhar odioso e amenizou a expressão, soltando uma risada genuína e chacoalhando a cabeça enquanto colocava o envelope em sua bolsa. Peter permaneceu confuso, tentando entender o que se passava, e olhou para os lados na expectativa de ver se alguém mais havia entendido. Infelizmente, o vagão estava vazio.

               — Eu estou brincando com você — afirmou a jovem enquanto ajeitava o moletom azul com o emblema da escola. Peter seguiu a encarando, incrédulo. — Por mais horrível que eu seja, eu também sei brincar.

A garota lhe lançou um sorriso e Peter engoliu em seco, desviando o olhar.

               — D-Desculpe.

               — Você precisa para de pedir tantas desculpas — ela arqueou as sobrancelhas e puxou uma perna para perto do peito. — Fica um tanto enjoativo depois de um tempo.

Peter esticou as pernas e focou o chão, sentindo seu corpo tremer de acordo com o movimento do trem. Sua expressão tornou-se um esquivo, seus pensamentos logo focando nos acontecimentos anteriores e se lembrando da fala da garota mais cedo, indicando que ela havia escutado Ned e ele debochando dela.

               — Parece que alguém acabou de te dar um soco — afirmou a morena enquanto pegava um pote de dentro da mochila e o colocava sobre o colo. — Sua cara está uma merda.

               — Eu só… eu queria me desculpar por mais cedo — disse ele e a fala cativou o olhar da garota, que pareceu concentrada em suas palavras. Peter respirou fundo e começou, lentamente: — Chamar as pessoas por apelidos malignos não é algo que eu faço normalmente, também…

               — Sem problemas — a garota o cortou e levantou o pote. — Aspargos?

O garoto a encarou com desdém e ela seguiu levantando o pote, na intenção de agir normalmente ao oferecer comida. Peter negou com a cabeça e a garota pegou um dos cabos e mordeu a ponta, mastigando lentamente enquanto se levantava.

               — Não se sinta culpado. Eu até que gostei, Sauron. — Afirmou ela, posicionando a mão sobre o peito como se estivesse orgulhosa e sorriu ao se aproximar da porta. — Até mais, Peter.

[…]

Assim que Peter girou a chave na fechadura, teve um mal pressentimento. Nada como o sentido-aranha, mas ainda assim, sentia que algo não ocorreria bem. Engolindo em seco, girou a maçaneta para encontrar todos os olhos caindo em sua figura cheia de culpa. Ele sabia que havia chegado muito mais tarde em casa, e sabia que esse deveria ser um dos grandes motivos para ele estar fodido.

               — Peter Benjamin Parker — disparou seu tio, levantando-se do sofá e caminhando em direção ao garoto.

O homem cruzou os braços acima do peito e franziu o cenho, encarando o garoto em um silêncio total, sinais que levavam o jovem a deduzir que havia feito bosta. Peter avistou sua tia com o canto dos olhos, a vendo atrás do balcão da cozinha, olhando para baixo com decepção.  

               — Onde está seu celular? — Perguntou o homem.

               — A bateria acabou… — sussurrou Peter.

               — Pare de merda, Peter — tio Ben negou com a cabeça, apontando para a mulher atrás do balcão. — Sua tia disse que tentou te ligar a tarde inteira e ficou na caixa postal.

               — N-Não é minha culpa! — O garoto tentou se defender, mas logo fora interrompido.

               — E nós recebemos uma ligação da escola dizendo que você andou matando várias aulas.

Peter abriu a boca e fechou, sem ter o que dizer. Nada daquilo era mentira, e ele sabia que havia errado. Nada mais lhe caía bem naquele momento do que a culpa.

               — Quando você vai crescer, Peter? Deixar de ser irresponsável?

O garoto levantou o rosto e sentiu seu sangue borbulhar. Irresponsável?

               — Com licença?! — Peter levantou o tom. — Se tem algo que você não pode dizer de mim é que eu sou irresponsável.

               — Peter… — a mulher deixou o balcão, colocando seu avental sobre uma das banquetas e aproximando-se do garoto.

               — Não. Eu estou cheio de vocês me tratarem como uma criança! Acreditem ou não, eu não sou. — O tom do garoto aumentava cada vez mais, e ele sabia que estava prestes a perder a razão, mas mesmo assim ignorou o fato e prosseguiu: — Eu não sei o que vocês esperam de mim.

               — Eu esperava que você fosse como o seu pai. — Disparou seu tio.

Aí estava um assunto que alfinetava Peter 24 horas do seu dia. Seus pais eram um tópico delicado, e não era algo que costumava ser dito em voz alta, ou jogado no meio de uma discussão, pois o garoto não conseguia lidar com aquilo. May colocou uma mão sobre o ombro de Ben como se dissesse que ele havia ido longe demais, e Peter sentiu as lágrimas se formando nos cantos dos olhos.

               — Adivinhe só — disse Peter com a voz trêmula. — Eu não sou meu pai. E não tenho nada herdado dele para poder me lembrar de quem ele era.

               — Peter, eu… — começou o homem, mas fora logo cortado pelo garoto.

               — N-Não. Você está certo — Peter assentiu com a cabeça enquanto caminhava lentamente para trás, sua voz ainda mais trêmula que antes. — E eu sinto muito por ser um desprezo.

E com as lágrimas rolando pelas bochechas vermelhas, Peter saiu correndo em direção ao quarto, onde se trancou e deixou o choro cair enquanto ouvia as batidas contra a porta.



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