História Time Well Spent - Dia de Verão

P.O.V Draco
-Você está uma hora atrasado, Malfoy. 
Snape estava em pé, segurando um livro grosso e maltratado pelo tempo. Seu lábio estava crispado de insatisfação e seus olhos negros faiscavam sob a luz das velas. 
-Um imprevisto surgiu. -Respondi com indiferença, dando de ombros. 
Ele soltou um suspiro frustrado e caminhou até a sua mesa. Me sentei de frente para o  professor, na poltrona de couro de dragão perto da janela, enquanto ele procurava algo entre pilhas de papéis. 
A sala de Snape era metodicamente mobiliada com móveis luxuosos e prateleiras repletas de livros. Nos meus primeiros anos em Hogwarts, aquele lugar havia sido como uma segunda casa para mim, onde eu e o professor conversaríamos por horas sobre os mais variados assuntos. 
Tudo parecia tão distante agora. Snape não era mais aquela figura paternal e risonha que se orgulhava de qualquer coisa que eu fizesse e eu definitivamente não era mais um garotinho desesperado por sua aprovação. 
-Você não parece estar levando isso a sério. -Ele cortou o silêncio, me arrancando de minha breve nostalgia. 
-Qual foi a sua primeira pista? -Ergui a sobrancelha de forma irônica. 
Snape bufou alto, franzindo o cenho vigorosamente. 
-Malfoy, eu não tenho tempo para essa infantilidade. Estamos lidando com um assunto sério e eu estou lhe fazendo um favor. -Ele rosnou. 
-Eu não te pedi favor nenhum. -Retruquei. 
-Draco, eu sei que você não está acostumado com esse tipo de situação. -Severo se inclinou sobre a mesa, cravando os seus olhos escuros no meu rosto. -Afinal, essa deve ser a primeira vez em que o dinheiro e influência do seu pai não podem te salvar de algo. Mas eu preciso te lembrar do que acontece quando alguém falha em uma missão para o Lorde das Trevas? 
Franzi o cenho, lutando contra os calafrios que subiam pelo meu pescoço. 
-Não pretendo falhar, Snape. Agora, se já terminou de dar o seu lembrete diário sobre o meu risco de vida e tudo mais, eu preciso ir dormir porque tenho aula amanhã e meu professor novo de Defesa contra a Arte das Trevas é um babaca que não permite atrasos. -Dei um sorriso cínico enquanto me levantava.
-Você vai se arrepender, Malfoy. Eu só estou querendo te ajudar. -A voz do professor me perseguiu enquanto eu atravessava a sala.
-Me poupe, Snape. Você só quer a glória. -Revirei os olhos e saí do cômodo sem esperar por uma resposta.
...
P.O.V. Luna
Os primeiros raios da manhã entravam pelas janelas no dormitório da Corvinal, pintando o cômodo com sua luz etérea e alaranjada. Flexionei os braços em um movimento suave, suspirando enquanto rolava pela cama. Depois daquela noite com Malfoy, eu não havia conseguido dormir um segundo sequer, mesmo estando terrivelmente exausta. 
Minha mente me torturava com um turbilhão de sentimentos contraditórios. Eu sabia que tinha feito algo errado na noite anterior, mas... parecia ser tão certo.  Draco possuía um efeito entorpecente sobre o meu cérebro, como se fizesse toda a porção racional desaparecer. 
-Está acordada, Luna? -Uma voz grogue chamou. 
Dei um pulinho de susto, arregalando os olhos. Ao meu lado, Cho Chang estava deitada na sua própria cama com um rosto inchado de sono. 
-Aham. -Esbocei um sorriso amigável. -Estou com insônia. 
A morena semicerrou os olhos e deu um bocejo, levantando-se preguiçosamente em seguida. 
-Você ainda não estava no dormitório quando eu fui dormir. -Cho cambaleou até o seu guarda-roupa. 
A garota usava um pijama de cetim rosa que refletia a luz suave da manhã. Mesmo tendo acabado de acordar, Cho ainda era bonita com seus cabelos escuros levemente bagunçados. Eu, por outro lado, sabia que deveria estar um caos nas minhas roupas da noite passada. 
-Me encontrei com a Profª. McGonagall ontem, depois da aula. -Dei de ombros. Não deixava de ser verdade. 
-Está com problemas na matéria? -A garota ergueu uma sobrancelha. 
-Um pouco. Mas não é nada grave. 
Também me levantei, andando até o meu armário e torcendo para que Cho não reparasse no meu uniforme amarrotado do dia anterior. Se a morena havia notado, não mencionou.
-Eu posso te ajudar. -Cho rompeu o silêncio novamente, dando um sorriso leve. -Sabe, na matéria. Eu amo transfiguração. 
-Isso seria ótimo, mas eu acho que já tirei todas as minhas dúvidas ontem. -Devolvi o sorriso. -Obrigada, de qualquer forma. 
-Bem, se mudar de ideia... -Ela deu de ombros e recolheu suas roupas, andando até o banheiro em seguida. 
Dei um sorriso suave enquanto voltava a atenção ao meu armário, escolhendo um vestido de estampa floral com uma pegada meio hippie. Era sábado, então eu teria muito tempo para gastar nos jardins de Hogwarts fazendo absolutamente nada.
E, claro, uma parte de mim esperava que Malfoy ocasionalmente estivesse dando uma caminhada por lá. Me repreendi por estar tão ansiosa para vê-lo, mas não conseguia evitar. Afinal de contas, eu sentia um frio no estômago sempre que lembrava de suas mãos sobre a minha pele ou de sua risada rouca. Eu estava sendo idiota? Estava. Mas não era como se fosse de propósito. 
Fui até um dos banheiros vagos para tomar uma ducha longa e relaxante. Depois disso, coloquei o vestido e meu par favorito de sapatos, que era de um tom maravilhoso de verde-neon.
Quando saí do banheiro, o dormitório já estava banhado por uma luz intensa que vinha das janelas. O céu lá fora era de um profundo tom de azul, sem nuvens, e o clima havia ficado mais quente. Isso era tão perfeito. Eu mal podia esconder minha animação com aquele dia lindo. 
Saltitei pelos corredores de Hogwarts, que estavam bem mais vazios do que de costume. Afinal, durante os finais de semana, alguns alunos iam para Hogsmeade ou visitavam as suas famílias, então a escola ficava relativamente desanimada. Alcancei os portões principais com uma alegria um pouco exagerada, sentindo o Sol esquentar a minha pele no mesmo instante. Merlin, como eu amava estar lá fora. 
Dei alguns passos para frente, sentindo os meus pés afundarem na grama fofa. Depois de me aproximar um pouco mais da borda do lago, percebi que eu não estava sozinha no jardim:
Para a minha surpresa, a última pessoa que eu esperava ver naquele momento estava sob uma das árvores que margeavam a água, lendo um livro calmamente. Neville Longbottom. 
Ali, parcialmente coberto pela sombra de diversos galhos, o rapaz parecia ter saído de um daqueles filmes antigos com suas calças cinzas de algodão e camiseta branca. Os cabelos negros estavam ligeiramente fora de ordem, caindo sobre os olhos esverdeados. Dei um sorriso enquanto me apressava na sua direção:
-Neville! -Chamei em voz alta, me aproximando da árvore. 
O rapaz deu um pulo, completamente surpreso. Quando seus olhos encontraram os meus, seu rosto adquiriu um leve tom de vermelho e ele deu um sorriso torto: 
-Lovegood. Tudo bem com você? -Ele fechou o livro que estava lendo. 
Sentei ao seu lado na árvore antes de responder, apoiando a coluna contra o tronco. Nossos ombros se tocaram por um breve segundo, fazendo com que Neville ficasse mais vermelho ainda. Pelas barbas de Merlin, já mencionei o quanto ele era adorável? Eu tinha que dar o meu melhor pra não acabar apertando as suas bochechas no melhor estilo "tiazona". 
- Eu tô ótima. Quer dizer, olha só pra esse dia! É o dia mais lindo de todos os tempos. -Expandi o meu sorriso, indicando o céu com as mãos.
Neville riu enquanto concordava com a cabeça.
-O dia tá legal, mas perde feio pra você nesse vestido. -Ele me encarou com um sorriso torto, mas suas bochechas estavam em chamas. 
Não demorou muito para que o meu rosto também começasse a arder. Tentei parecer descontraída, mas uma leve sensação de culpa brincava com a boca do meu estômago, fazendo com que o meu sorriso diminuísse aos poucos. 
Neville claramente estava flertando comigo. Talvez ele gostasse de mim de verdade e aquele convite significasse algo mais do que "Ir só como amigos" na cabeça dele. E lá estava eu, brincando com seus sentimentos logo após ter passado uma noite com Malfoy. 
"Relaxa, Luna. Não tem nada acontecendo entre você e o Neville. Ou com o Draco, pra falar a verdade. Você está solteira." -Tentei me acalmar, respirando profundamente. 
-Obrigada, Longbottom. -Dei um sorriso sem-graça e fixei os meus olhos aos seus, sentindo o meu rosto corar ainda mais. 
Neville deu uma risada leve em resposta, coçando a própria nuca. Eu podia ver o quanto ele estava nervoso, então tentei tomar as rédeas da conversa: 
-Então, sobre o baile... -Dei um sorrisinho animado. 
-Você não vai me dar um pé na bunda agora, não é? -Ele riu. 
-Não. -Eu o acompanhei, rindo. -Na verdade, eu queria te agradecer pelo convite.
Neville me encarou, surpreso. Em seguida, revirou os olhos: 
-Não preciso de agradecimentos, Lovegood. O prazer é todo meu. -Ele expandiu o sorriso.
Senti o estômago afundar novamente com a culpa. Neville era uma ótimo cara. Então, por que eu continuava esperando que o meu par fosse o Draco ao invés dele? 
 Um forte pigarro me arrancou de meus devaneios. Para a minha surpresa, Pansy Parkinson estava em pé na nossa frente com os braços cruzados sobre o peito. 
-Err, Luna? -Ela chamou, parecendo desconfortável. 
Arregalei os olhos, sem entender. Aquela era a primeira vez que Pansy me chamava pelo nome e não por algum apelido de mau gosto. Eu deveria ficar feliz ou assustada? 
-Sim? -Tentei esconder a minha inquietação com um sorriso. 
-Eu preciso falar com você. Sobre o Draco.