História Tipo Ideal Perfeito - Extras - Allyun - Hyun e Alanis

ATENÇÃO: ISSO NÃO É UMA HISTÓRIA DE AMOR

A primeira vez que nos vimos nem reparamos na existência um do outro. Garota segue pra um lado da multidão enquanto o garoto segue a direção oposta.

Quando nos esbarramos eu não abaixei prontamente pra recolher seu material do chão. Nossos dedos não se tocaram, nossos olhos não se encontraram, não pareceu como se o mundo tivesse desaparecido e um monte de fogos de artifício explodissem enquanto tocava alguma música da Taylor Swift no fundo. Eu só pedi desculpa e ela respondeu “tudo bem”.

Nenhuma intervenção do destino ou uma situação inesperada nos colocou juntos. Eu não a odiava, ela não me amava loucamente em segredo. Aquela não era a garota mais linda do mundo pra mim, não tinha os olhos mais lindos da face da terra, o cabelo mais perfeito, o corpão da Scarlett Johansson.

Ela era uma garota, eu era um garoto... e um dia nós decidimos nos conhecer pra valer.

Não foi em nenhuma festa. Nós não estávamos bêbados pra caramba e acabou acontecendo. Na verdade ela detesta festas, sempre vai por obrigação. Nós dois somos os desajustados nos cantos do salão, olhando todo mundo dançar e encher a cara. Não foi através de nenhum amigo também. Minhas amigas eram velhas demais para querer algum tipo de amizade com uma novata. Foi tudo muito monótono e simplório. Ponha a culpa nas circunstancias se quiser, mas pra mim foi simplesmente um dia chuvoso como qualquer outro, todos os alunos apertados no refeitório, eu noto que a garota que sentou no único lugar vago a minha frente estava bebendo o mesmo suco que o meu. Ninguém bebia aquele suco, quem gosta de suco de jabuticaba industrializado? Nem tem gosto de jabuticaba, era doce demais, provavelmente me mataria mais rápido do que ácido para os ossos, mas eu amava... e ela também.

- Você também gosta de Dellos de Jabuticaba! – franzo o cenho pra garota.

- E você também come lanches com pasta de frango e salame – entorta a cabeça e comprimi os lábios.

Era uma expressão óbvia e divertida que me faz sorrir. Qualquer pessoa que tomasse Dellos de Jabuticaba com certeza passaria a ter meu respeito.

Ta, mas aquele não foi o momento de corações voadores e flechas de cupido. Foi só o primeiro passo e  isso aqui é só a “vida real”. Também não viramos melhores amigos para sempre só porque amávamos aquele suco ou aquele lanche. Dali em diante foi mais fácil falar “oi” ou “bom dia” e comentar sobre a mudança de tempo.

Você deve estar esperando pelo “grande momento” em que tudo mudou e nós percebemos que éramos feitos um para o outro. Bom, isso também não vai acontecer! Eu só entendo de fatos, vídeo games, códigos fonte e uns sistemas de computador. E fato é que a garota tinha mesmo muita coisa em comum comigo. Alguns livros, jogos, filmes, matérias, ouvíamos qualquer banda que fosse boa.

Mas tínhamos nossas diferenças também, é claro! Amigos, grupinhos, interesses, objetivos, idéias. Aquilo era DEMAIS! Nos fazia conversar por horas depois das aulas, na frente da escola, caminhando para casa, indo numa lanchonete, comendo algum hambúrguer, jogando algum vídeo game, mensagem de celular.

Comecei a reparar nos pequenos olhos grandes que ela tinha. Ao rir ela fazia  um franzidinho fofo no nariz, mas quando gargalhava sua voz afinava um pouco. Ela tinha um estilo legal, meio dark caminhando pro trevosa anti social que nem o da Ceci. Suas mãos eram pequenas e macias, contrario das minhas gordinhas e com calos no dedão de tanto jogar vídeo game.

Depois da primeira vez que demos as mãos nós queríamos fazer aquilo sempre. Quando eu não dava o primeiro passo ela não se importava em dar e eu adorava aquele detalhe dela. Não era como um joguinho ou uma competição, nós queríamos e fazíamos... assim nos beijamos.

Talvez fosse o primeiro beijo dela e talvez eu tenha sido um pouco descoordenado, não foi perfeito, mas foi bom. Deu vontade de dar o segundo... o terceiro... testar o quarto e quem sabe também um abraço, um carinho... não... não rolou sexo. Foi o primeiro beijo da minha garota especial cara, eu sou um Park e não um idiota.

Pois é, garota especial! Uma evolução independente e vagarosa de uma pessoa irrelevante, pra alguém que ganhou meu respeito e agora é minha garota especial. Fazer o que? Ela era minha amiga e nós já conhecíamos bem um ao outro, não teve aquele medo idiota de “não estragar a amizade” ou “porque nunca fizemos isso antes?” foi ainda melhor porque aconteceu quando tinha que acontecer. 

E eu sei que essa não é nenhuma das histórias que contam nos filmes, com grandes romances e momentos perfeitos, muito menos um conto de fadas. Ser um Park ainda não me torna um príncipe. Eu nunca tive nenhum momento de epifania, algo que me fizesse parar e pensar: cara, eu to apaixonado! É ela, sempre vai ser. Não dava pra ter certeza de nada, mas eu também não conseguia imaginar nenhuma outra.

Ela era marrentinha e eu era bem paciente. Diziam que nós éramos fofos, mas isso era só pra quem estava de fora. As vezes a gente brigava, mas ela não tinha medo de pedir “desculpas” e muito menos eu. Só eu sabia que ela era bem sensível debaixo de todas aquelas camadas e só ela sabia que eu era cheio de medos adultos. Nós tínhamos nossos segredos pro resto do mundo.

Nem eu poderia imaginar que começaria a faculdade amarrado em um relacionamento sério fazia dois anos. Já eram dois anos? Ou quase dois? Passamos dos três? Quem estava contando? Já era tempo pra caramba e eu gostava.

Eu estava dentro da piscina, o sol já queria sumir, os amigos do meu irmão espalhados pelo jardim novo da casa do Hobi hyung. Meu hyung e a esposa dando comida pro bebê. Ou tentando né! Tinha mais papinha no cabelo da Ceci e do meu irmão do que dentro do prato. 10 a 0 pro Ban. Também, quem ira querer comer aquilo? Não era lanche com pasta de frango e salame, nem ia ter Dellos de Jabuticaba depois. Minha namorada desfrutava da espreguiçadeira ao lado da piscina e ali... talvez bem ali, eu tenha sacado que ela era a minha gótica das trevas. A minha chance de fazer parte dos 5%. Ao ver o jeito que ela arrumava os cabelos lisos, a epifania tão esperada me atingiu em cheio: eu queria fazer parte dos 5% só por causa dela.

- Alanis você ficou sabendo da última? – Lia a chama e as duas engatam uma conversa rápida sobre alguma fofoca de algum grupo que elas gostavam em comum.

Eu não estava entendendo muita coisa. Alanis falava muito rápido quando estava empolgada. Era bonitinho o jeito que ela tropeçava nas palavras. Então espero pacientemente tudo ser dito entre as duas e a Lia se afastar de novo, daí começo a brincar com o dedo do pé dela pra chamar sua atenção.

- O que foi Hyun? – ergue uma sobrancelha pra mim.

- Não sei... talvez um dia eu queira casar com você... quem sabe – dou de ombros, colocando os braços na borda da piscina e apoiando meu queixo sobre eles em seguida.

- Talvez um dia eu aceite – ela deita de bruços no pé da espreguiçadeira – quem sabe – completa sem dar muita importância, e me da um selar rapidamente sem que ninguém veja.

Allyun ♥