História Tipo Ideal Perfeito - Pela primeira vez eu adorei ouvir aquilo

Eu já estava ignorando Yul e Mae a alguns dias já. Aquilo me incomodava, claro! Nunca tinha acontecido antes desde que nos conhecemos, mas era melhor do que ficar ouvindo que os dois estavam contra mim. Antes de sair pro intervalo, reparei que Yul estava enrolando enquanto eu arrumava meu material. Assim que a sala esvaziou, ele veio falar comigo:

- Quanto tempo você vai ficar assim Ásia? – se encosta na carteira da minha frente.

- O tempo que você levar pra deixar de ser um fracote Yul. – respondo indiferente.

- O que você queria que eu fizesse?

- No mínimo avisasse seu amigo que eu to namorando ao invés de incentivar o moleque a ficar no meu pé.

- Eu realmente achei que vocês dois podiam se dar bem...

- Se viu que eu não estava interessada deveria ter parado – eu já estava entediada de novo com aquela conversa – Você nem pra conter seu amiguinho, separar a briga, mandar ele embora. Causou mo confusão.

- Ta bom, eu sei. Desculpa – fala simplesmente.

Apesar de tudo ele ainda era meu melhor amigo, era a pessoa que mais me entendia até pouco tempo atrás. Era mais próximo de mim, até mais que a Mae. Qual é, era o único que eu deixava me chamar pelo meu primeiro nome. Só era um fracote que me irritava, mas ninguém é perfeito.

- Beleza Yul, deixa pra lá.

- Eu nunca deixei de falar com você no dia de hoje – ele ri empurrando meu ombro, aquilo era pra ser carinhoso.

- Espalhe isso por ai e é um coreano morto – o fuzilo com os olhos.

- Seu segredo está guardado comigo – sorri e trocamos um aperto de mãos.

Assim que vejo Park Jimin me esperando na porta da sala, me apresso em sua direção deixando Yul pra trás e esquecendo aquele assunto.

- Você perde metade do intervalo dentro da sala Ceci, se eu não te busco você esquece completamente – segura minha mão – Tava se entendendo com o Yul?

- Pois é, ele veio me pedir desculpas – dou de ombros – é o meu melhor amigo afinal de contas, aquele idiota.

Park Jimin ri, me guiando até a mesa deles no refeitório. A mesa de sempre do grupo Seokjin. Os seis estavam lá cercados de mais umas cinco meninas que eu nunca reconhecia, as vezes elas eram tão iguais. Sento ao lado do Taehyung que imediatamente me da sua caixinha de suco e o Yoongi abre espaço pra que Park Jimin sente ao meu lado. Na minha frente Seokjin tinha o braço no ombro de uma das garotas e ela ria escondendo o rosto.

Antes que eu dê a primeira mordida em meu lanche, algo inesperado acontece.

- Oi! – uma voz fina e doce chega aos meus ouvidos.

Olho pros lados, encaro cada um dos rostos daquela mesa me demorando em Park Jimin. Ele ria da minha cara de desconfiança.

- Tudo bem? – a garota a minha frente pergunta simpática.

Wtf?? O que tava acontecendo ali? Aquilo estava me apavorando.

- Tá falando comigo? – pergunto arqueando a sobrancelha, mas não queria soar tão irônica. Eu estava mais chocada do que outra coisa.

- Tô sim, tudo bem? – sorri abertamente.

Meu Deus...

- Hammm... Tô bem... e você? – colapso mental em 3... 2...

- Estou bem – entorta a cabeça pro lado, num gesto de aigoo natural. Seu cabelo era cumprido e ela tinha cachos nas pontas que provavelmente demoraram a manhã inteira pra serem feitos – Me chamo Seulgi.

Park Jimin e Taehyung prestavam atenção atentamente na nossa conversa. SeokJin não tirava os olhos dela.

- Ela é transferida de outro colégio – Taehyung me explica e tudo faz sentido, ela ainda não estava por dentro dos perigos da gótica das trevas.

Não que ela não pudesse perceber isso só de olhar pra mim, mas agora eu andava com Park Jimin e talvez as coisas fossem um pouco diferentes pra quem chegasse de fora pelo menos.

- Cecília – aceno com a mão, tentando fazer cara de simpática e sentindo que estava falhando rudemente nesse quesito.

Se ela não foi com a minha cara, ela sabia fingir muito bem. Pelo menos estava tentando manter uma conversa comigo, mas é claro que Taehyung e Park Jimin tinham que ajudar para que um silêncio constrangedor não tomasse conta da mesa inteira por culpa minha. De qualquer jeito a única coisa que notei é que Seokjin era bem rápido.

Seulgi era muito simpática e comunicativa. Aquele era o primeiro dia dela e já havia conquistado os sete garotos do grupo, a amiga popular número 1 talvez estivesse em perigo e eu não consigo evitar um sorriso com esse pensamento enquanto a garota tagarelava sobre como era chato ter que mudar de colégio no meio do semestre.

Tá, ela era muito simpática, mas não podia ficar em silêncio por cinco minutos? Eu definitivamente não era o tipo de pessoa que fazia amizades fácil e conversava sobre a minha vida inteira com alguém que acabei de conhecer. Quando eu não a respondia de imediato no intervalo Seulgi já engatava uma conversa com qualquer outra pessoa da mesa. Aquilo era cansativo, como ela conseguia? Ter aulas com ela devia ser muito difícil, por sorte quem teria que agüentar era Taehyung e Park Jimin.

(...)

No final das aulas saio apressada, querendo sumir de vista. Não espero Yul, não olho pra Mae e tento passar despercebida com um aceno pra Park Jimin. Depois eu poderia mandar uma mensagem com alguma desculpa.

- Depois te dou as devidas fe.. – Yul começa a falar do meu lado sem que eu percebesse que ele corria pra me alcançar. Antes que ele termine a frase eu tapo sua boca com as mãos.

- Fica quieto, finge que nem me viu aqui.

Tarde demais...

- Ceci... – Park Jimin para entre nós -  você não ia me esperar?

- Ops – Yul murmura com uma expressão engraçada – Foi mal.

Logo que ele se afasta Park Jimin me da um selinho.

- Desculpa, eu tenho que ir pra casa logo. Prometi pra minha mãe que ia ajudar com umas coisas.

- Não posso ir?

- Eu vou ficar ocupada com umas coisas chatas, você vai ficar entediado.

- Não vou não. É que esses dias a gente não ficou junto fora da escola e eu queria passar um tempo com a minha namorada. A gente pode jantar na minha casa, Hyun anda perguntando de você.

Ele faz aquela carinha que derrete todas as garotas da escola e que eu pensava que nunca funcionaria comigo. Entorta a boca e deixa todos os furinhos aparecer em seu queixo, jogando todo seu charme de cachorro abandonado.

- Poxa! Hoje não vai dar mesmo – respondo realmente desapontada.

- Tá me dispensando? – ri baixinho – qual é jahgi... eu juro que não te atrapalho.

Ahhh, eu ia me arrepender disso. 

- A gente vai ter que jantar na minha casa hoje. Amanhã ficamos na sua e eu levo um jogo novo pra mostrar pro seu irmão.

Ele abre um sorriso largo e envolve os braços na minha cintura, me tirando do chão.

(...)

Passo o dia inventando mil tarefas dentro de casa. Park Jimin com certeza estava desconfiado de alguma coisa e quando meus pais chegassem eu não ia mais poder esconder. Por que não falava de uma vez?? Eu não queria, eu detestava aquele dia, era constrangedor e desnecessário. Argggh. Saco!

- Park Jimin... eu não tenho mais o que inventar – cruzo os braços.

- Então me conta de uma vez por que tava querendo fugir de mim – me encara desconfiado.

Quando abro a boca pra responder meu pai e minha mãe invadem a sala, chegando da rua. Animado meu pai me abraça com força e beija minha bochecha.

- Parabéns princesa... – afaga minha cabeça.

- Feliz aniversário bebezinha – minha mãe fala logo em seguida, me entregando uma sacola ao me abraçar.

Olho sobre o ombro da minha mãe e Park Jimin ria balançando a cabeça negativamente. Pelo menos bravo ele não estava. Abro o presente dos meus pais, que insistiam em me comprar um presente pra que eu ganhasse pelo menos um. Era legal por que geralmente me davam alguma coisa que eu amava, já que eles me conheciam melhor do que ninguém. Daquela vez não foi diferente, minha mãe me deu o ultimo livro do meu autor preferido. Meus olhos brilharam e Park Jimin riu mais ainda da minha cara.

Meus pais vão até a cozinha colocar a mesa do meu jantar de aniversário e Park Jimin se apressa em me abraçar.

- Você é a garota mais boba desse universo – roça a ponta do nariz no meu – Não acredito que queria esconder isso de mim.

- Eu detesto meu aniversário, é tão constrangedor – faço careta – consigo esconder isso da escola inteira desde a quinta série.  Era pra continuar segredo.

- Muito bobona cara – aperta meu nariz – Feliz aniversário jahgi.

Pela primeira vez eu adorei ouvir aquilo. Não consigo evitar selar nossos lábios antes que meus pais avisem que iam colocar o jantar na mesa.

- Quer dizer que estou namorando uma garota mais velha – brinca comigo entrando na sala de jantar.

- Alguns meses só Park Jimin, isso não conta.

(...)

O jantar decorreu com meu namorado zoando muito minha cara junto com meu pai por causa da minha fobia ao meu próprio aniversário. Minha mãe só ria de tudo e tentava me consolar com algumas carinhas de dó. Até que era engraçado, os dois gostavam muito de Park Jimin. Quem não né? Podíamos ficar sem o bolo e a canção tradicional de parabéns, mas os três insistiram tanto e eu era minoria então me ferrei.

Em dado momento quando estávamos repetindo o pedaço de bolo, meu pai fala:

- Você já conversou com seu namorado sobre a viagem?

Arregalo os olhos, aquele assunto ia ficar pra depois do jantar. Meu pai estragando tudo de novo.

- Viagem? – Park Jimin me olha confuso.

- Eu ia falar depois do jantar.

- É que minha mãe não está muito bem de saúde lá no Brasil, e eu queria estar junto com ela e a minha familia. É muito importante pra mim que Ásia a conheça, ela só viu todo mundo de lá pelo computador.

- Sinto muito – ele responde meu pai solidário.

- Estamos arrumando toda aquela burocracia agora. Sabe como é, estamos aqui a muito tempo, Cecília precisa de passaporte, temos algumas coisas pra adiantar no trabalho e resolver a questão na escola de vocês. Mas a viagem ta prevista depois das férias.

- Por quanto tempo? - Park Jimin olha pra mim.

- Uns dois meses no máximo. Não da pra abandonar tudo aqui também e não queremos que a Ásia perca o ano – meu pai falava com naturalidade.

- Espero que dê tudo certo – desvia o olhar para meu pai, simpático e educado como sempre.

Eu estava apreensiva. A viagem não era nada de mais, dois meses só, mas eu não queria contar assim pra ele. Queria que tivesse sido eu, de preferência depois de ... você sabe, aproveitar meu tempo com meu namorado super gostoso.

Meus pais não deram trégua a noite toda, ficamos os quatro na sala conversando. Eles gostavam de realmente passar meu aniversario comigo, mas agora que Park Jimin sabia, seria legal poder aproveitar um pouco com ele também. Infortúnios de ser filha única.

As 21:00 eu já tinha que o levar até a porta. Podia sentir um bico involuntário se formando em meus lábios. Fecho a porta nos deixando do lado de fora.

- Desculpa por ficar sabendo assim, eu ia contar hoje ainda. Eu juro – me apresso em explicar.

- Não tem problema – bagunça meu cabelo – Dois meses passa rápido.

Eu sorrio abertamente e ele me acompanha. Seguro seus braços o trazendo pra mais perto.

- Tem internet, facetiming... você vai me ver todo dia na verdade –  depois completo com os lábios próximos aos seus – eu  nunca fiz sexo por telefone...

Ele ri malicioso contra meus lábios, me dando vários selinhos em seguida.

- Para.. eu já to com saudades – morde meu lábio – Eu só queria ter te comprado um presente também.

- Park Jimin esse foi meu melhor aniversário.

Seguro seu rosto entre as mãos, acariciando suas bochechas cheinhas com os polegares. O beijo calmamente enquanto ele estreita os braços na minha cintura, me abraçando apertado. Eu não queria parar, mas o ar já estava ficando escasso.

- Feliz aniversário jahgi.

- Até amanhã Jiminie.

Ele se afasta surpreso por eu finalmente chamá-lo pelo apelido.