O som da chuva parecia perturbar o ambiente. Ou talvez estivesse perturbando apenas a ela. O cheiro do seu perfume ainda impregnava o cômodo e eu sabia que não o abandonaria tão cedo.
Fechava os olhos, apertava uma mão contra a outra, entrelaçando seus dedos e deixando que os minutos passassem.
Podia ouvir o tic-tac do relógio na bancada, lentamente, enquanto os segundos se arrastavam e a levavam junto deles. Bem devagar.
Frio. Estava sempre tão frio desde que ele se fora. Talvez seja porque ele era tão quente, acolhedor, trazia-lhe a paz que ela necessitava.
Dor. Sempre doía muito desde que ele ultrapassou aquela porta. Talvez porque ele a curava, cuidava de suas feridas.
Solidão. Tudo estava sempre tão só, tão solitário, desde que ele pegou aquela mala e a preencheu com seus pertences. Talvez porque ele sempre completou aquele vazio, talvez porque ele era o perfeito encaixe para aquele lugar.
Quieto. Tudo sempre estava tão quieto, tão silencioso desde que ele olhou para ela uma última vez e disse-lhe para seguir em frente sozinha.
Então abriu os olhos e encarou aquele espaço que já não lhe cabia, já não lhe pertencia.
Talvez precisasse se mudar, afinal.
Então sorriu.
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