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História To keep hauting me - I was as pure as a river


Escrita por: Lady-Led

Notas do Autor


[frases em itálico são pensamentos da Kate]

Capítulo 1 - I was as pure as a river


 

X

Kate está presa dentro da própria mente. Como se ela estivesse em um daqueles filmes gravados em primeira pessoa, onde seus olhos viam tudo como se fosse ela fazendo, mesmo não sendo ela controlando o próprio corpo. Ela luta contra Amaru em sua cabeça, tenta trancafiá-la dentro das suas lembranças sombrias, fica fazendo replay e mais replay da imagem de seu pai morrendo, do labirinto, da sensação que teve quando soube que a mão havia falecido, a deixando sozinha.

Mas não adianta, a mente insana de Amaru apenas dá risada das tentativas dela, e sorri naquele rosto que costumava ter o seu sorriso. Ela veste roupas de couro agora, muito preto, e maquiagem que o seu pai nunca aprovaria. Kate mantêm algumas lembranças pra si, como se fosse uma caixa que ela nunca abrirá para Amaru ver dentro. Nela contêm lembranças sobre Scott e Seth.

Ela nunca vai deixá-la saber sobre eles. Kate lhe mostra Richie, Santanico, até mesmo Kyle, que nessa vida não tem mais importância nenhuma para ela, sendo apenas mais uma lembrança de uma época perdida. Mas ela nunca lhe mostra Scott e Seth. Porque ela tem certeza, que se seu sangue bombear mais rápido, e seu coração bater mais forte contra as costelas pensando neles, Amaru não hesitaria de caçá-los e machucar eles apenas como mais uma forma sádica de machucar o que Kate sente, apenas mais uma forma de tentar tomar controle total sobre o corpo que habita as duas.

“Não é engraçado, Kate?” Ela escuta a voz de Amaru falando diretamente com ela. A Rainha tem uma incrível mania de estar sempre presente em igrejas quando elas tem essas conversas internas, em que Amaru fala e fala, e Kate tenta ao máximo descobrir como vencê-la na sua mente. “Que a menina que mais foi crente a um Deus, seja aquela a comportar a Rainha do Inferno?” Amaru dá uma risada estrondosa, que faz Kate querer se contorcer dentro de si, e recuar até um lugar que ela não consiga alcançar, um lugar onde tem Seth fazendo os seus comentários ruins, e Scott sorrindo. Um lugar onde ela nunca deixaria Amaru entrar.

X

Ela não pode ter medo. Ela não deve ter medo. Ela não tem medo. Mas mesmo assim, quando as mãos que antes eram suas encostam na face de outra pessoa, sugando a alma, e toda a energia para alimentar Amaru, Kate ainda treme na sensação do contato. Ela sente quando a energia é sugada em sua direção, sente ela entrando na mente das pessoas, consumindo seus pecados como se fosse um dos alimentos que ela mais gostasse, e que mais a satisfaze-se, ela ainda sente o grito de misericórdia das células dos corpos que ela consome.

“Que nós consumimos, Kate.” Amaru sempre lhe corrige quando seus olhos voltam a cor normal, quando eles param de ser o vermelho viciante que eles formam quando se alimentam. “Estamos fazendo isso juntas, o que me alimenta, alimenta você também.” E a mente de Kate quer vomitar palavrões e gritos, quer falar que não, ela não se alimenta dessas almas, ela não consome esses pecados. Mas ela sente seu corpo ficando mais forte quando isso ocorre, ela ainda sente a sensação das veias se expandindo, e ela senta mais ainda o controle escorrendo pelos seus dedos como se fossem grãos de areia.

“Eu não sou você.” Ela grita em sua mente um dia. “Eu já passei por coisas demais para deixar você me controlar.” E como se fosse uma rachadura em uma caixa de Pandora, que deixa a crueldade sair, a caixa que ela guarda Scott e Seth se rompe, e as lembranças do que passou com eles para chegar até aqui inundam a mente das duas.

O corpo controlado por Amaru vai ao chão, a calça de couro arranhando a pele quando entra em contato com o concreto cru do piso da igreja onde elas estão. A imagem de Jesus pendurada ao fundo na parede, junto com a sua cruz, e as velas iluminando de maneira precária todo o ambiente.

Ela sente os pulmões se retorcerem em agonia por ar, antes que Amaru comece a cuspir sangue, como se ela estivesse morrendo, sendo atingindo por dentro de seu próprio corpo.

“Você não pode me controlar.” Amaru fala entra as gotas grossas de sangue que escorrem pelos seus lábios agora, e Kate sente sua mente se expandir, como se suas pernas comprimidas em um espaço de um caixa pequena, pudessem enfim se alongar, tomando um grande grito de satisfação dos seus músculos.

Kate deixa as lembranças com uma infância de Scott invadirem sua mente, apenas para sentir novamente o controle se alastrando sobre os seus dedos, como se ela estivesse comprimindo Amaru dentro de si mesma.

“Pare com isso.” A Rainha do Inferno tenta gritar mais forte, mas Kate escuta a voz do irmão em suas lembranças, e sobe as mãos em direção ao pescoço, arrancando o horroroso colar místico de Amaru.

A peça caí no chão com uma estralho, e Amaru grita, tomando o poder novamente, como se a mente de Kate fosse jogada contra a parede.

Ela ainda sente dor quando as duas começam a respirar ofegante dentro de um só corpo, como se elas não pudessem comportar ao mesmo tempo a reação de duas mentes lutando.

“É isso.” Kate respira pesadamente em sua cabeça, e ela nem ao menos sabe se isso é possível, mas ela também não sabia que Rainhas do Inferno existiam até seis meses atrás. “É assim que eu acabarei com você.”

“Mantenha o botão de herói desligado.” Ela escuta a voz de Seth em uma das primeiras lembranças que eles tem juntos. “Não Seth, desta vez não.”

X

Amaru é uma cadela repugnante que faz Kate querer gritar em sua mente apenas para dar desconforto a ela.

Ela encontra Seth em uma casa de luta, como se fosse um lugar daquele filme que Kate assistiu uma vez em espanhol enquanto estava no México com Seth, e ele estava roncando ao seu lado na única cama do quarto. Kate se lembra de como o barulho que ele fazia competia com o ar-condicionado barato daquele motel, e de como ela queria chutar ele até seu corpo rolar da cama e ele despencar no chão quente.

“Ele é bem bonito, afinal.” Amaru responde em seus pensamentos enquanto elas deslizam pelos fundos do lugar, como se fossem malditas culebras se esgueirando para pegar a próxima presa. “Me diga, Miss Kate, se você deu um passeio nele, ou apenas ficou observando como a garotinha pura que é?”

Ela não responde. Não precisa responder porque Amaru sabe de tudo agora. Kate tem passado grande parte do tempo testando o que afeta a força de Amaru, e para isso teve que se abrir por completo para ela, jogar todas as lembranças na mesa, como cartas de um baralho e esperar que ela conseguisse tirar a mão certa na rodada. Seth havia lhe ensinado sobre jogos de carta o bastante para que ela também soubesse blefar.

“Você não deveria chegar tão perto dele.” Elas estão em uma horda de pessoas suadas, gritando e gritando nomes que ela não consegue identificar. Soa como Kisa, Kisa, Kisa, mas ela não consegue se lembrar se conhece esse nome afinal. “Se as minhas lembranças te fazem mais fraca, imagine quando chegarmos perto dele.”

Mas Amaru não está mais escutando, porque seus olhos estão focados no corpo que está se ondulando com suor e movimentos no ringue. Kate acha que seu coração naquele momento saltaria pelas costelas, e atravessaria a carne pela maneira tão extrema de violência que ele está batendo.

“Seth…” Ela não quer ser mais nada do que um grão de poeira naquele momento, e se dissolver entre o olhar que ele lhe dá. Ele reconhece o seu rosto, mesmo com as mudanças que Amaru produz nela, Seth Gecko olha na sua direção e a reconhece.

“Agora sim as coisas ficarão divertidas, princesa.” E Kate sente vontade de correr, se esconder em um daqueles tubos que ela viu enquanto atravessavam o local e ficar ali até arranjar um jeito de vencer Amaru, até arranjar um jeito de voltar para ele.

X

Seth está parada na frente delas, e Kate jura que poderia lutar com unhas e dentes antes mesmo de Amaru pensar em tocar nele.

“Se você soubesse o quanto em guerra ela está nesse momento.” A voz alta de Amaru atinge seus ouvidos, e ela grita em pensamento, grita como nunca pode antes, grita mais alto do que qualquer tom que uma vez ela já tenha usado em uma briga verbal com o mais velho dos Gecko. “Se você apenas soubesse Seth, o quanto ela está lutando neste momento.”

Ele não se move.

Kate quer gritar mais alto, para fazê-lo ouvir o que ela diz.

“Corra, Seth, seu imbecil, fuja daqui.” Sua mente grita em direção a ele, e seus pulmões estão se rompendo, como se eles estivessem corrompidos em uma tentativa de deixar duas pessoas vivas em apenas um espaço. Kate se lembra do dia que eles saíram do Titty Twister, se lembra de como o cabelo dela estava voando em seu rosto, e de como ela fingia ser forte, enquanto Seth percorria o deserto em uma velocidade alta demais para ser legal, enquanto as rodas faziam um barulho forte sobre eles, como se estivesse triturando a areia para abrir espaço.

Kate Fuller se lembra que foi naquele momento que ela teve concepção de que estava apaixonada por Seth Gecko.

Amaru dá um grito forte, caindo novamente no chão, tossindo copiosamente o sangue que pertence as duas.

“Seth…” Kate se lembra de como uma vez, exatamente no seu aniversário de dezoito anos, duas semanas antes dele deixá-la no meio-fio, Seth voltou para a casa, com uma sacola com o doce favorito dela, e um óculos de plástico em formato de coração, rindo de como agora eles pareciam um maldito remake de Lolita.

“Pare com isso agora.” A voz de Amaru grita sobre as suas lembranças, e ela levanta a mão, agarrando os cabelos. Seu rosto está tão perto do chão que ela pode sentir o cheiro da quentura que emana do solo, ela pode sentir a rispidez do concreto batendo em seu cabelo.

“Kate…” É a voz de Seth que invade o ambiente agora. Uma voz preocupada que ela conhece tão bem como a própria palma da mão.

“Fique longe de mim.” Amaru ainda consegue responder, antes que elas sintam o pulmão delas se rompendo, como se fosse uma barragem, deixando a água inundar e transformar tudo em tragédia. O coração delas está batendo rápido demais, pesado demais para fazer o corpo funcionar.

“Seth…” Ela repete como uma oração. Uma oração fervorosa que ela está tão acostumada a fazer, como se ele fosse o Pai Nosso que ela repetiu incontáveis vezes durante a vida, sempre pedindo proteção, sempre pedindo para alguém mais divino que ela conseguir guiá-la sobre isso tudo.

E então, nem Kate, nem Amaru conseguem ver mais nada.

X

As correntes machucam o pulso já ferido dela, fazendo o couro que as revestia comer a carne rosa pálido inflamado sobre o amontado de sangue e carne.

“Princesa?” É a voz de Seth que a faz abrir os olhos, e ela quase chora. É ela no controle do seu corpo agora, mas ela ainda sabe que Amaru está ali, apenas adormecida sobre o canto escuro da sua mente.

“Sou eu, Seth. É a Kate.” E ela começa a chorar quando escuta a sua própria voz invadindo os seus ouvidos, porque nesse momento ela não está sendo controlada, e ela está diante de Seth.

Ele corre para soltar as amarras dela, os dedos longos da sua mão se atrapalhando em uma confusão de tremedeira entre as correntes e os tecidos de couro marrom crespo.

“Não, não me solte..” Seth olha para ela, o rosto longo se concentrando em sua expressão, como se ele estivesse procurando qualquer vestígio de Amaru, de que isso fosse uma farsa que ela estivesse operando apenas para jogar com ele, e com os seus sentimentos. Ele tem cicatrizes de luta ao redor das maçãs do rosto, e seu lábio está cortado. É um visual rotineiro para Kate, e ela sabe que já o viu em piores estados do esses. “Ela ainda está aqui. Eu posso senti-la.”

“Kate, querida…” E se Kate queria se esconder antes, agora ela quer sumir, porque Seth Gecko está na frente dela, vestindo hematomas e contusões arroxeadas, deixando lágrimas salgadas caírem pelo seu rosto, e manchar a já desgastada camiseta branca que ele vestia.

“Sinto falta do seu terno.” Ela tenta sorrir, mas seus lábios repuxam nos cantos, fazendo uma dor irritante se alastrar pela sua boca, e por parte do seu rosto. “Você tem que me deixar acabar com ela sozinha, Seth.”

“Como você vai fazer isso?” A voz dele é ofegante, sem nenhuma vergonha ou inibição de mostrar o que sente. Se esse fosse um mundo bom, um mundo do qual a antiga Kate Fuller acreditava fielmente, ela enrolaria os braços magros ao redor de Seth, e lhe dizer repetidas vezes que tudo ficaria bem, porque ela sabia que tudo ficaria bem se eles estivessem juntos. Mas esse não é um mundo bom, e Kate sabe que não vai terminar bem.

“Você. As lembranças com você deixam ela mais fraca. Eu posso fazer isso, Seth, eu posso fazer isso.” Mas ela não acredita em si mesma, e espera de todo o coração que o rei dos mentirosos tenha acreditado nela, nem que fosse apenas por um segundo.

X

Amaru acorda com um estrondo alto dentro da mente de Kate, e ela apenas fecha os olhos e repete até que o seu coração pare de bombear sangue, e suas veias parem de correr com todas aquelas porcarias das quais nosso corpo precisa e de que ela não prestou atenção sobre o que era nas aulas.

“Eu te amo, Seth.” Ela está indo em direção a El Rey, e dessa vez ela tem dois ingressos VIP.

X

Seth Gecko enterra Kate Fuller em uma quarta-feira ensolarada. Eles tem um corpo agora. Um corpo que não vai voltar a andar, ou a falar, ou a sobreviver ao lado dele.

Seth enterra Kate naquele dia, apenas para descobrir minutos depois, que ele está enterrando a si mesmo.

 

 

 

 

 



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