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História To Love-Ru: Nightmares of an Oblivion - Um momento em família


Escrita por: Satanicrist

Notas do Autor


Caralho em, tem tanto tempo que não apareço aqui que até já esqueci como funciona esse site. E como sempre vem 213138901 coisas que quero falar sozinho aqui nas notas graças à esse curto intervalo de tempo entre as postagens. Enfim, acho que vou parar de pedir desculpas à cada capítulo postado, nesse ritmo todos terão um pedido de desculpas, mas que seja, 1000 perdões pela demora. Eu definitivamente não tinha ideia do que colocar nesse capítulo, fora meu ânimo na pegada do clima antártico. Mas eu realmente não esperava escrever tanto pra esse aqui, foi brotando do nada isso tudo esse mês, puta merda. Eu queria ter acabado até ontem, mas como sempre acabo tendo atividades na faculdade quando resolvo escrever graças ao meu karma maravilhoso, e eu não termino até eu me sentir satisfeito com o que escrevi. E sim, mudei o nome da história porque eu (quis) já tava cansado de ver o nome antigo e pensava que precisava de um nome mais apropriado, mas não fazia ideia do que colocar. Depois de dias e dias sem dormir cheguei à esse e provavelmente vai ser definitivo (espero eu), gostei bastante da sonoridade e do impacto sutil que causa. E certamente irei mudar a sinopse de novo, porém no momento não faço ideia do que colocar, então deixa como tá por enquanto que tá aceitável (embora eu esteja ligeiramente incomodado com ela). Fugindo um pouco dessa história, TALVEZ eu comece uma nova que eu venho querendo escrever há um bom tempo, então decidi tentar escrever pra ver se eu ganhava o embalo/costume de escrever novamente, fora que sinto que preciso de algo paralelo (já demoro de atualizar uma, imagine duas então kkkkkkkkkk que piada), enfim, se desejarem dar uma olhada, a próxima notificação que chegar aí (pro pessoal que me segue e se sentir interessado) provavelmente vai ser essa nova história ou alguma one shot que quero escrever (mesmo se não seguir e se sentir curioso), basta irem na parte de Highschool Dxd ou Rosario + Vampire, embora eu não sei quando eu vá fazer isso já que tô relendo a light novel de Hs DxD pra relembrar umas coisas. E não menos importante, agradeço profundamente pelos 10k de visualizações e os quase 120 favoritos, agradeço pela paciência por não terem desistido de mim. (Se você lê/leu minhas notas até o fim você realmente deve gostar do que eu escrevo, ou é um puta desocupado ou só é maluco mesmo [brinks <3]) AH E QUASE ESQUEÇO DE POR NAS NOTAS, A FIC FEZ UM ANO, PORRA! Eu queria ter postado justamente no dia que faria um ano, mas meus planos nunca dão certo. Mas eu fico satisfeito comigo mesmo por ter conseguido fazer algo durar tanto assim. Espero ainda estar postando ainda quando ela fizer 2 anos, agradeço à todo o pessoal que me acompanha desde o início e tem paciência pra ler minhas loucuras.

Capítulo 26 - Um momento em família


—S-sair? —perguntamos Yami e eu em uníssono confusos.
—Sim, o que tem de demais? —pergunta Tearju-sensei confusa também.
—M-mas assim do nada? —pergunto envergonhado— Fora que ainda está um caos por causa dos acontecimentos recentes!
—Desculpe-me por tudo... —diz Yami parecendo deprimida.
—N-não é culpa sua... —digo sorrindo sem graça e bocejando logo depois— Fora que estou exausto de tantas lutas consecutivas...
—É uma ótima oportunidade pra relaxar! —diz Tearju-sensei empolgada ao pegar minha mão do nada, e sorrindo pra Yami logo em seguida— E o que passou, passou, Eve! Tudo acaba bem quando termina bem!

Urgh, ela é radiante demais, parece até a Lala!! Algo me diz que Yami deve ter pensado o mesmo pela mesma expressão de desencorajamento que ela fez junto comigo.

—Vamos pra onde então? —digo depois de suspirar e ver que não havia outra saída.
—Hm... —murmura Tearju-sensei pensativa com um dedo no queixo antes de olhar frustrada pro chão— Não faço ideia...
—Que tal Tayaki então? —pergunta Yami casualmente e levantando uma mão.
—Por mim tudo bem. —respondo sorrindo pra ela.
—Você nunca enjoa de comer isso, Eve? Devia se alimentar melhor! —diz Tearju-sensei estufando as bochechas levemente.
—Tayaki tem um significado especial pra mim. —responde ela sorrindo levemente antes de direcionar o olhar pra mim rapidamente e corar ao virar o rosto pro outro lado.
—Entendo. —diz Tearju-sensei fechando os olhos e sorrindo satisfatoriamente antes de juntar as mãos e dizer empolgada— Vamos comer Tayaki então!
—Sensei, cuidado! —digo alarmado ao perceber que ela se dirigia ao buraco no meio do terraço.
—Eh? —pergunta ela surpresa ao abrir os olhos e dar de cara com o buraco que dava um passaporte direto pro térreo— Socor-
—Peguei! —digo feliz ao conseguir chegar tempo após correr rapidamente e a agarrar pela cintura antes que pudesse cair.
—Não me solte!! —diz ela desesperada virando o corpo e pendurando-se fortemente no meu pescoço. T-tearju-sensei!! Não se exprema tanto assim!
—... Acho que você já está salva, Tear. —diz Yami depois de fingir tossir.
—Não quero cair!!! —grita ela assustada e apertando mais ainda meu pescoço. S-seus seios, sensei!!!
—Já está tudo bem sensei... —digo sorrindo sem graça.
—.... Eh? —murmura ela confusa como se tivesse percebido só agora que estava sã e salva— Eu fiz papel de ridícula, não? —pergunta ela me encarando com os olhos lacrimejantes.
—N-não! —respondo envergonhado e virando o rosto. Eu seria incapaz de falar a verdade com uma expressão dessas de frente pra mim!
—Você é um péssimo mentiroso. —responde ela sorrindo brevemente antes de soltar meu pescoço e estufar levemente as bochechas ao puxar meu rosto de volta— E eu já te disse pra parar de virar o rosto assim, não?
—Desculpe-me, não consegui te encarar com aquela expressão fofa... —digo coçando a bochecha.
—Bobo... —murmura ela antes de sorrir e fechar os olhos ao vir em direção do meu rosto fazendo um bico.
—Com licença. —diz Yami depois de pigarrear e nos separar.
—Ei Eve! Qual a neces- —reclama Tearju-sensei ao perceber que ela havia nos separado, mas fora interrompida por um peteleco na testa dado por Yami— Ai! —grita ela levemente ao levar as mãos à testa.
—E-eu não fiz nada!! —digo assustado e levando as mãos á testa também.
—... —murmura Yami silenciosamente antes de agarrar a gola da minha camisa rapidamente.
—Espe-
—Brincadeirinha. —diz ela sorrindo após ter me puxado pra baixo pra um selinho.
—... —murmuro corado ao ver o sorriso dela.

É confortante essa aura pacífica dela... Ainda sobra um pouco do medo de antes, mas... Sei lá, é de uma maneira diferente, como se fosse só o jeito de reagir à personalidade natural dela, talvez eu tenha me acostumado com essa aura agressiva. Seria isso um tipo de Síndrome de Estocolmo que eu acabei desenvolvendo ao acabar gostando da minha assassina de aluguel?

—Por que está rindo? —pergunta ela levemente curiosa.
—Nada. —paro de rir e fico apenas sorrindo.
—Por que você pode e eu não? —pergunta Tearju-sensei com uma voz um pouco chorosa.
—... Porque ele é um pervertido. —responde ela rapidamente.
—M-mas o que eu fiz?! —pergunto espantado, porém ela apenas sorriu como se tivesse falado mentalmente ‘brincadeirinha’.
—Rito-kun não é pervertido! —diz Tearju-sensei parecendo levemente irritada.
—Então a pervertida é você por estar querendo beijar seu aluno. —diz Yami fechando os olhos e virando o rosto, fazendo Tearju-sensei se assustar e deprimir imediatamente como se tivesse acertado em cheio o alvo.
—Eu sou uma péssima pessoa... —diz ela choramingando.
—... —murmura Yami silenciosamente ao abrir um olho e sorrir com o canto da boca.
—Você é má, Eve! —diz Tearju-sensei fungando o nariz.
—Má por falar a verdade?
—Sim!
—Não tenho culpa se você não sabe interagir com nenhum amigo da sua idade.
—Não precisa ser rude assim toda hora, Eve...

E assim continuou mais e mais diálogos entre as duas, alternando entre Tearju-sensei irritada ou choramingando e Yami com sua expressão de indiferença.

—Vocês definitivamente são irmãs do mesmo sangue. —digo rindo levemente.
—...Huh? —murmuram as duas confusas ao virar os olhares pra mim antes de se entre olharem novamente e sorrirem uma pra outra.
—Vamos. —diz Yami ao parar do meu lado esquerdo e agarrar meu braço.
—Sim! —diz Tearju-sensei repetindo o mesmo do lado direito e começar a andar no mesmo ritmo junto com Yami.
—E-eu sei andar, não precisa me arrastar!

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—Isso aqui está pior do que eu pensava... —digo frustrado ao ver todos os escombros de paredes se misturar à do teto por todo andar ou várias cadeiras distorcidas espalhadas pelo corredor, os armários dos estudantes amassados, em resumo: um caos completo.
—... —murmura Yami amargamente enquanto aperta mais ainda meu braço e olha pro chão.
—Ei, a culpa não foi sua! —digo num tom alto, fazendo-a se assustar levemente e me olhar.
—... Mas fui eu quem causou tudo isso. —diz ela com a voz trêmula.
—Isso foi culpa da Darkness que ainda estava fora de controle dentro de você... —digo coçando a bochecha— Pensando bem, isso saiu de controle porque você queria falar algo... —murmuro pensativo.
—... —murmura ela silenciosamente e corando fortemente do nada— Você sabe muito bem o que eu queria dizer, só está fingindo não ter ouvido por causa de sua timidez nata. —diz ela num tom baixo e tímido.
—N-não sei do que você está falando! —olho pro lado e rio nervosamente.
—Rito-kun! —exclama Tearju-sensei ao puxar minha bochecha. Ai!— Está fazendo pouco caso dos sentimentos da Eve?
—Não! —respondo revoltado, mas ficando desanimado depois — Eu só...
—O quê? —pergunta ela levemente curiosa.
—Ainda acho impossível essa história de harém! —grito no começo, mas rapidamente baixo o tom de voz ao perceber que estávamos a poucos metros da porta que levava ao corredor pra fora do colégio— Por mais que eu diga pra mim mesmo que não é pra magoar as meninas ao meu redor, não vejo como não fazer isso ao dizer um ‘te amo’ pra outras!
—Então era isso... —assente ela surpreendemente aliviada e sorrindo.
—Sensei...? —pergunto confuso.
—Rito-kun, você não acha que as meninas que te amam sabem muito bem que existem outras que sentem o mesmo por você? —pergunta ela com um sorriso brincalhão.
—... —murmuro silenciosamente tentando achar uma resposta, porém sem sucesso.
—A verdadeira questão é: de quem você gosta?
—... —olho pro chão desolado por não saber responder ainda.
—Você pode dizer que é a Haruna-san ou a Lala-san, mas no fundo você demonstra carinho por quase todas meninas à sua volta, mesmo que seja acidentalmente.
—... Espera, c-como você sabe disso sensei?! —pergunto surpreso.
—Digamos que um fantasminha me contou. —responde ela cobrindo a boca com uma mão e piscando um olho.
—Daqui a pouco o colégio inteiro vai saber disso... —murmuro choramingando.
—Enfim, graças à isso, você acaba usando o pretexto de seguir em frente com essa ideia de harém pra não ‘magóa-las’ por se sentir responsável de elas acabarem gostando de você. —continua ela ao suspirar levemente e fazer uma cara de confusão suave depois— Quem que colocou issso de harém em sua cabeça?
—N-ninguém!! —respondo rapidamente envergonhado.
—Que seja, a culpa não é totalmente sua por elas gostarem de você. Talvez seja em parte por conta da sua gentileza involuntária. —diz ela sorrindo sem graça.
—Mas... isso não me faz uma má pessoa por estar me relacionando com outras pessoas também? —pergunto confuso.
—Desde que seja consentido entre as participantes, não tem problemas. —responde ela sorrindo radiantemente— Claro que existe as leis que proibem a poligamia por aqui, mas como você será o futuro imperador de Deviluke esse obstáculo é solucionado.
—Mas elas não se sentiriam magoadas...? —pergunto levemente triste.
—Desde que sejamos amadas de volta, não nos importamos em ter que te dividir de vez em quando. —responde ela fechando os olhos e sorrindo de volta.
—Ah... —murmuro sem saber o que falar à respeito.
—Então pare de querer carregar essa culpa, okay? —pergunta ela ao cutucar meu nariz com o indicador.
—V-vou... tentar. —assinto nervosamente antes de coçar a parte de trás da minha cabeça e sorrir sem graça— Vai demorar muito pra eu conseguir me acostumar com esse pensamento.
—Ótimo... —concorda ela com um tom de satisfação e sorrindo alegremente.
—M-mas espera, você disse ‘sejamos’ como se v- Ai!
—Uma vez idiota, sempre idiota. —diz Yami depois de me dar uma cotovelada nas minhas costelas ao me ver envergonhado por perceber o que Tearju-sensei havia dito.
—E-eu falei acidentalmente! —responde Tearju-sensei constrangida e ajeitando os óculos no rosto.
—Depois ele que é um péssimo mentiroso... —diz Yami suspirando.
—Eu só me confundi, não precisa implicar!! —diz Tearju-sensei enquanto puxava as bochechas da inexpressiva Yami.
—Vai dizer que as outras tentativas de beijá-lo também foram acidentes? —pergunta ela com um leve tom de dúvida, mas mantendo a postura mesmo com Tearju-sensei ainda puxando suas bochechas.
—Eve!! —diz Tearju-sensei num tom alto e levemente irritado antes de estufar as bochechas.
—É como se eu estivesse assistindo a Momo e a Nana discutirem. —digo antes de rir.
—... —murmuram silenciosamente ela enquanto se entreolham antes de sorrirem.
—P-posso fazer uma coisa, Tearju-sensei? —pergunto timidamente e olhando pro lado.
—O-o quê? —pergunta ela confusa ao olhar pra mim.
—I-isso aqui... —digo enquanto me aproximo lentamente dela , envolvo meus braços nela e a abraço— Obrigado por ser uma incrível psicóloga esses dias... Esses seus conselhos tem tirado um peso enorme da minha consciência.
—Isso foi nada! —diz ela com um tom feliz e apertando o abraço mais ainda.
—Você até salvou minha vida, não sei nem como agradecer... —digo me confortando mais ainda nos braços dela.

Mesmo com essa diferença de idade, não vejo ela como uma mãe, tia ou algo do gênero, é mais como se fosse uma irmã mais velha que eu nunca tive. Parando pra pensar, nem ela e a Mikado-sensei disseram suas idades alguma vez... E eu acho que seria meio rude de minha parte perguntar isso, então é melhor deixar pra lá, não faz diferença mesmo.

—Apenas continue sendo essa pessoa incrível que você é. —diz ela ao afagar meus cabelos— Você é um em um trilhão.
—... —murmuro silenciosamente ao sentir o rosto queimar com o que ela acabara de falar. Q-que exagero!
—Fofo. —diz ela com um tom brincalhão ao desfazer o abraço e segurar meu rosto com ambas mãos.

E após dizer isso, ela aproximou-se com o rosto lentamente até selarmos os lábios. E quando ela parecia que iria pedir passagem com a língua, a porta foi aberta bruscamente.

—Rito?! —grita Lala curiosa e vasculhando o saguão até pousar o olhar sobre nós— Ah, era você mesmo aqui! —acena ela alegremente.
—Kyah! —grita Tearju-sensei por causa do susto e se separa de mim imediatamente.
—Sensei? —pergunta ela confusa pela reação de Tearju-sensei— O que foi?
—N-nada!! —agita Tearju-sensei nervosamente as mãos enquanto cora o rosto bruscamente.
—Ara? —pergunta Lala mais confusa ainda, mas depois saltitando alegremente até aproximar-se de mim— Venha pra fora Rito, o pessoal está te esperando!
—Me... esperando? —pergunto curioso.
—Sim! Eles sabem que você estava tentando parar a Yami-chan! —responde ela ao pegar minha mão e me arrastar pelo corredor.
—Não precisa correr, Lala! —digo ao andar cambaleando pelo passo rápido dela.
—Eu trouxe ele pessoal! —grita ela ao chegarmos no pátio do colégio e ter vários estudantes espalhados por ele, uns conversando entre si em seus grupos e outros ainda confusos sobre o que acabara de acontecer.
—Boa Rito!
—Obrigado Yuuki-kun!
—Yuuki-senpai!

E a cada grito de um aluno diferente outros surgem pra me... agradecer?

—Obrigado por curar a doença da Yami-chan, senpai!
—Vocês viram aquelas luzes? Pareciam até coisa de cinema!
—Ficou ótima essa roupa parecida com a da Yami-chan em você, Yuuki-kun!
—Doença...? —murmuro pra mim mesmo confuso ao meio dos diversos gritos e cochichos entre os alunos.
—É mais fácil dizer que é uma doença do que uma forma suprema de uma arma de destruição planetária. —diz Gid dando de ombros ao aparecer do nada do meu lado.
—Tenho de concordar... —assinto sorrindo sem graça.
—Até a Yami-chan... Rito, seu maldito... —diz Saruyama em prantos ao me ver.
—Quem diria que o fracote salvaria a Terra uma segunda vez em? —diz Ren com um sorriso convencido.
—Me dêem um tempo... —digo com uma gota de suor escorrendo atrás da cabeça.
—Mas eles até que estão certos garoto, você tem do que se gabar. —diz Gid sorrindo levemente com o canto da boca.
—Por quê? —pergunto confuso.
—Porque dessa vez você usou sua própria força pra impedir que a Terra fosse serrada ao meio sem necessitar de uma alternativa... —responde Gid satisfeito, mas fingindo se engasgar no final— um tanto quanto interessante.
—N-não me lembre daquilo! —digo constrangido, mas depois fico frustrado ao encarar minha própria mão— Mesmo estando mais forte agora, ainda não foi suficiente... No fim eu perdi.
—Perder uma batalha não signifca perder a guerra, garoto. —diz Gid no mesmo tom anterior enquanto bagunça meus cabelos, como se eu fosse uma criança que acabara de falar bobagem— Olhe à sua volta. Olhe pra trás e veja o bem que causou por ter “perdido”. Tirando o dano ao colégio, obviamente.
— ... —murmuro silenciosamente ao olhar ao redor e ver que todos agiam como se tudo estivesse normal, uns rindo ao conversar casualmente pelo que acontecera, outros ainda fascinados e outras diversas reações.

Olho pra trás e vejo Tearju-sensei se aproximando lentamente com Yami ao lado sorrindo gentilmente ao me ver. Realmente... O vermelho dos olhos dela parece mais vívido, como um rubi lapidado e polido sendo iluminado pelo sol. Aquela sombra  de tristeza e mágoa que parecia sempre enuvear o olhar dela sumiu completamente...

—À cada dia só complica mais, não é garoto? —pergunta Gid num tom irônico como se estivesse ouvindo meus batimentos cardíacos.
—C-calado! —digo envergonhado.
—Você consegiu causar a destruição do colégio tanto no real como no virtual, isso é algo improvável, não? —pergunta ele com uma gota de suor escorrendo na cabeça.
—Mas no real eu tentei impedir isso! —respondo levemente irritado— E no virtual não foi proposital!!
—Eu sei, garoto. —diz ele gargalhando suavemente com a garganta.
—Você já avisou à eles sobre o ocorrido, Gid-sama? —pergunta Tearju-sensei ao se aproximar de nós.
—Digamos que eu falei de uma maneira menos... impactante. —responde ele dando de ombros.
—Se não houve nenhum mal entendido ou algo do tipo não deve ter problemas então... —assente ela satisfeita— Avisou a eles que não terá aula pelo resto da semana?
—Isso eu esqueci... —responde ele coçando a bochecha.
—Pode deixar que eu falo então. —diz ela sorrindo antes de falar mais alto e chamar atenção dos estudantes— Alunos! Como houve este incidente no colégio, as aulas só retornarão próxima segunda feira, estão liberados!

E ao terminar de dizer isso quase todos os alunos comemoraram e saíram correndo em direção ao portão, só alguns continuaram parados.

—Aproveite pra descansar Rito, ultimamente você tem se esforçado demais. —diz Gid cruzando os braços.
—Sim... —concordo bocejando.
—Lembre-se que sábado eu marquei de você encontrar um amigo pra acompanhá-lo numa missão. —diz ele antes de sumir no ar.

Sábado... Tem algo me incomodando desde que ele disse isso, acho que eu tinha algo importante pra esse dia... Mas não consigo lembrar agora.

—Acho que vou indo então... Tenho vários nadas pra fazer em casa. —diz Saruyama casualmente ao jogar a maleta por cima do ombro e acenar.
—Eu também, mas acho que vou dar umas corridas durante o caminho. —diz Ren acenando.

É isso, lembrei agora!

—Ei Ren! —grito ao perceber que ele já se preparava pra arrancar.
—Hmm? —pergunta ele surpreso.
—Você viu a Run? Ela veio pro colégio hoje?
—Hmm, hoje não, ela tinha que gravar o episódio pra Magic Kyoko. —responde ele ao fazer uma força leve pra se lembrar.
—AAAAHHHH!! —grita Lala repentinamente assutando nós dois.
—L-lala? —perguntamos confuso.
—Eu me esqueci que hoje teria episódio novo da Kyoko!!! —grita ela preocupada antes de agarrar Nana e Momo pelo pulso, que estavam distraídas conversando com Mea— Vou na frente então Rito!!!
—Espere!!! —gritam Nana e Momo juntas antes de choramingar.
—Nada de novo por aqui... —digo sorrindo sem graça, mas depois voltando a falar com Ren— Você poderia dar um recado à Run pra mim?
—Claro.
—Diga à ela que não vou poder sair no sábado mais. —digo coçando a bochecha.
—Já vai querer vacilar com minha irmã de novo? —pergunta ele fazendo uma carranca.
—N-não é isso! —respondo assustado— É justamente por não querer fazer isso que estou pedindo pra você dar esse recado, diga à ela pra remarcar pra sexta! —digo levemente envergonhado— S-se ela puder, claro.
—Sem problemas então, considere o recado como dado. —diz ele sorrindo satisfatoriamente.
—Obrigado! —aceno pra ele ao vê-lo correndo já.
—O que você vai fazer com a Run-san, Rito-kun? —pergunta Tearju-sensei tentando não parecer curiosa.
—Provavelmente algo pervertido. —responde Yami casualmente.
—Mais uma já vai cair na rede, senpai? —pergunta Mea com um sorriso debochado— Se bem que essa já tinha caído faz tempo...
—P-por que vocês sempre levam pra esse lado? —pergunto constrangido— Eu não sei! Ela apenas me convidou pra sair!
—É porque tudo que envolve você e garotas acaba tendo um final pervertido. —diz Yami inexpressivamente com Tearju-sensei e Mea acenando com a cabeça pra concordar com o que ela disse.
—Então essa é a visão que vocês tem de mim... —murmuro choramingando, mas fazendo as 3 sorrirem como se achassem divertido.
—Acho que eu vou também, já que vocês vão sair agora. —diz Mea sorrindo sem humor.
—V-você sabia? —pergunta Tearju-sensei surpresa.
—Você é um tanto quanto previsível, sensei. —responde ela com o mesmo sorriso de antes— Já estou acostumada a ficar sozinha, mesmo fazendo nada. —diz ela com um tom carregando um pouco de tristeza.
—Pare de se excluir assim! —digo levemente irritado.
—Mas... —murmura ela sem saber o que dizer— Eu só não quero incomodar...
—Você nunca incomoda! E você também faz parte da família! —digo ao agarrar ambos os ombros dela— Tearju-sensei também é sua irmã!
—... —murmura ela silenciosamente ao direcionar o olhar pra Tearju-sensei que sorria gentilmente.
—Eu tenho mais carinho pela Eve por ter acompanhado um pouco a infância dela, mas se eu tivesse acompanhado a sua também eu sentiria o mesmo, Mea. Mesmo não sendo diretamente de sangue, vocês duas são minhas irmãzinhas.
—Todos nós somos sua família. —digo sorrindo ao segurar as mãos dela.
—Tearju-sensei... —diz Mea num tom emocionado enquanto sorri timidamente ao olhá-la— E senpai...
—Acho que já somos íntimos o suficiente pra você me chamar só pelo nome, não? —pergunto sorrindo sem graça, mas ficando constrangido ao perceber o que disse— N-não da maneira que você está pensando!!
—Você precisa parar de querer dar uma explicação pra tudo, Rito-senpai. —diz Mea sorrindo radiantemente pra mim.

Eu esperava que ela fosse levar totalmente pro lado erótico, mas ela apenas deu um sorriso de pura alegria e agradecimento. Então até ela consegue ser assim... Isso é injusto demais pro meu coração.

—Você está bem, Rito-senpai? —pergunta ela parecendo realmente curiosa.
—Sim, só estava maravilhado por seu sorriso me lembrar uma estrela cadente riscando o céu pouco depois do pôr do sol. —respondo sorrindo gentilmente.
—A-ah... —murmura ela totalmente desconsertada olhando pros lados junto com todo o rosto ficando avermelhado— N-não esperava isso repentinamente de você, senpai...
—Tearju-sensei me disse que eu deveria ser sincero comigo mesmo antes de ser com os outros. Pelo menos foi o que eu entendi...—digo coçando a bochecha, mas gargalhando levemente depois— E eu não sabia que seu rosto corava, Mea.
—R-rito idiota. —diz ela envergonhada e olhando pro chão.
—Eu não disse isso exatamente, mas é uma boa maneira de se pensar. —diz Tearju-sensei rindo.
—Então, vamos? —pergunto ao puxar suavemente os pulsos dela.
—Só depois que eu fizer isso... —murmura ela antes dela soltar minhas mãos de seus pulsos e entrelaçar nossos dedos ao me olhar timidamente.
—Como a-

E antes que eu pudesse perguntar o que faria, ela me puxou pelas mãos forçando-me a tombar pra frente um pouco por perder o equilíbrio e juntar nossos lábios.

—M-mea!! —gritam Tearju-sensei e Yami irritadas ao nosso lado.

Porém apenas as ignorando, Mea fechou os olhos e pediu passagem com a língua enquanto apertava mais ainda os dedos. Acho que isso já está virando uma rotina... Cada dia me acostumar com a boca de uma garota diferente. A saliva da Mea sempre é doce, talvez porque ela só vive comendo besteiras. Mas não é apenas um doce referente ao açúcar... É complicado explicar. Seria o amor esse tempero diferenciado?

Ultimamente meu coração e minha cabeça andam um caos, como se fosse um quebra cabeça de 1000 peças desarrumado. Quando eu acho estar conseguindo formar uma imagem concreta, novas peças surgem e mais imagens vão se formando...

—Senpai... —murmura ela ofegante ao se separar e me encarar com o mesmo olhar de antes e o rosto corado.
—V-você não pode fazer isso na hora que bem entender e quiser, Mea! —diz Yami ainda irritada, porém envergonhada.
—F-fora que você ainda está forçando um pouco a timidez do Rito-kun! —diz Tearju-sensei do mesmo jeito.
—D-de vez em quando não tem problemas... Ou tem? —pergunto timidamente e tocando um indicador no outro.
—Já me ama tanto assim que não tem problemas em assumir nosso relacionamento em público, senpai? —pergunta Mea com o bom e velho sorriso malicioso.
—N-não quis dizer isso! —respondo envergonhado e virando o rosto.
—Bobo! —diz ela antes de vir me abraçar e voltar a sorrir radiantemente— Vamos?
—Você já tomou conta dele demais! —diz Yami separando Mea de mim e agarrando meu braço direito.
—S-sim! —diz Tearju-sensei como se tivesse acompanhado Yami por não saber o que falar ou o que fazer e agarrar meu braço esquerdo.
—Poxa... —diz Mea com um falso tom de tristeza— Acho que tenho de procurar outra maneira de ir próxima à você, senpai.
—Não tenho mais braços disponíveis pra você pegar... —digo sorrindo sem graça.
—Quem falou em braços? —pergunta ela com um sorriso presunçoso antes de se dirigir às minhas costas e sentar nos meus ombros.
—M-mea!! —digo envergonhado ao sentir as coxas dela apertarem meu rosto.
—Sentindo-se familiar com essa região, senpai? —pergunta com o mesmo tom de antes.
—Q-que história é essa?! —perguntam Yami e Tearju-sensei em uníssono.
—Esqueçam isso, vamos logo! —digo ao puxá-las pelo pátio do colégio. O Colégio de Sainan já teve melhores dias... Hoje numa tacada só teve seu portão serrado ao meio e um furo enorme no meio do prédio. Seria essa uma das consequências por ter aceitado esses novos poderes? Ou um presságio de que ainda virão coisas piores?

/////////////////////////////////////////////////

—Hoje veio a família toda, hein? —pergunta o vendedor da barraca de tayaki— E até a roupa do seu namorado está combinando com a sua!
—S-sim... —assente Yami num tom baixo como se não conseguisse negar o que o vendedor dissera e tampouco concordar. Nem eu consigo, que droga...
—Essa senhorita é sua irmã mais velha, Yami-chan? É a sua cara! —pergunta ele alegremente.
—S-sim! —responde Tearju-sensei da mesma maneira que Yami anteriormente, porém num tom mais empolgado.
—E essa outra é sua amiga? —pergunta ele curioso ao analisar a aparência de Mea.
—Ela é.... —responde Yami pensativa enquanto encarava Mea que estava um pouco cabisbaixa antes por pensar não ter sido notada. Ela então abriu um sorriso e respondeu— minha irmã mais nova.
—Onee-chan... —murmura Mea levemente emocionada.
—O tayaki fica por conta da casa hoje! —diz ele jovialmente ao entregar uma sacola pra Yami.
—Não precisa, deixe-me pagar! —diz Tearju-sensei chocada pela gentileza do vendedor.
—Da próxima vez que vier comer eu aceito o pagamento, hoje não! —diz ele empurrando sutilmente as mãos dela que já havia pegado o dinheiro.
—Tudo bem... —assente ela suspirando ao perceber que insistir levaria a nada, mas sorrindo logo depois— Muito obrigado!
—Obrigado tio!
—Até outro dia! —grita ele acenando pra nós enquanto nos afastamos da barraca lentamente.
—Onde vamos sentar? —pergunto procurando um banco disponível na praça.
—Aqui tem um livre senpai! —diz Mea ao andar rapidamente e apontar pra um a poucos metros de nós.
—Tudo bem.
—Hm~! —cantarola ela enquanto saltita em direção do banco.
—Acho que tem um tempinho que não como tayaki... —murmuro nostálgico ao sentar no banco.
—Eu não como desde... —diz Yami parando pensativa antes de sentar no banco, mas sentando-se do meu lado ao lembrar— ontem.
—Caso perdido... —diz Tearju-sensei suspirando ao sentar do meu outro lado.
—Não vai sentar, Mea? —pergunto curioso ao vê-la parada próxima de nós.
—Já que insiste! —diz ela alegremente antes de sentar no meu colo e encostar a cabeça no meu queixo.
—Aqui, Tear. —diz Yami entregando um tayaki à Tearju-sensei parecendo ignorar completamente o que Mea acabara de fazer.
—Obrigado... —aceita ela meio indecisa sobre o sabor ao analisar a guloseima em forma de peixe até morder delicadamente uma extremidade e satisfazer-se com o sabor— Delicioso!
—Sim. —assente Yami num tom discretamente alegre.
—Como eu vou comer assim...? —murmuro deprimido.
—S-se quiser eu coloco o tayaki na sua boca. —responde Yami timidamente ao pegar um da sacola.
—O problema não é necessariamente pegar o tayaki e sim ter espaço pra mastigar... —digo sorrindo sem graça.
—Eu posso resolver isso então! —diz Mea contente ao levantar do meu colo.
—Obri-

Porém quando eu ia agradecer, ela sentou novamente, só que na posição inversa.

—Já pode comer, senpai. —diz ela antes de pegar o tayaki da mão de Yami e partir ao meio, colocando uma das metades na boca.
—M-mea! —gritam Yami e Tearju-sensei alarmadas pela ousadia dela.
— Hmm? —murmura ela confusa com o pedaço de tayaki na boca ainda.
—E-estamos no meio da rua, Mea! —diz Tearju-sensei contrangida.
—E daí? —pergunta ela confusa.
—Está chamando atenção de todo mundo! —diz Yami envergonhada.
—Hm... —murmura Mea enquanto vasculhava ao redor com um olhar discrente— Tem ninguém nos olhando.
—N-não? —pergunto confuso até olhar ao redor também e só ver duas senhoras que passavam lentamente por nossa frente cochicharem entre si num tom divertido ‘Esse jovens de hoje em dia!’.
—Então sinta-se servido, senpai... —diz Mea fechando os olhos ao se aproximar lentamente e segurando meu rosto.
—... —murmuro silenciosamente enquanto engulo a saliva. E-eu não queria fazer isso em público, mas esse recheio do tayaki está deixando a situação mais convidativa ainda... Acho que só um pedacinho não faz mal...
—S-saia daí Mea! —dizem Yami e Tearju-sensei parecendo irritadas ao tentar separá-la de mim, porém quando elas colocaram a mão no ombro dela, Mea encurtou a pouca distância que faltava entre nós rapidamente e encostou o pedaço em minha boca. Se saiu na chuva é pra se molhar... Mordo a parte disponível de tayaki antes de juntarmos os lábios com um pouco do recheio misturado, pra pouco depois ela pedir passagem com a língua e acariciar meus cabelos por trás da cabeça.

E de novo volto a sentir a doçura dela... Mesmo com essa aura cheia de iniciativa e ‘agressividade’ consigo sentir todo o carinho. É estranho e confortante ao mesmo tempo. Isso me lembra de como a Yami tem sido assim também ultimamente, mas é diferente de alguma maneira... Ela tem uma postura mais branda e suave, já a Mea é mais ligeiramente agitada. Incrível como tenho aprendido outras maneiras de identificar cada menina diferente, não sei se me orgulho ou fico envergonhado por isso.

—.... —murmuramos Mea e eu silenciosamente ao nos separarmos ofegantes e com os rostos corados.
—Satisfeitos? —pergunta Tearju-sensei com as bochechas estufadas.
—Eu estou! —diz Mea nitidamente feliz ao sorrir.
—Era uma pergunta retórica! —diz ela irritada ao agarrar as bochechas de Mea e esticar.
—Ai ai ai! —grita Mea reclamando e tentando se soltar.
—É injusto só ela receber... —murmura Yami num tom levemente triste ao puxar a manga da minha camisa.
—M-mas não foi ideia mi-

Enquanto Mea e Tearju-sensei ainda ‘brigavam’ e eu tentava me explicar, Yami passou as mãos por trás do meu pescoço e me puxou suavemente até selarmos os lábios. Essa jeito delicado dela é bem agradável, é como se ela tivesse ganhado uma aura completamente diferente hoje... Será que é aquela nova transformação dela que está a amolecendo mais ainda?

—S-só eu tenho que ter a iniciativa de aprofundar o beijo? —pergunta ela levemente irritada num tom tímido ao nos separar— Idiota...
—D-desculpe-me, ainda tenho um pouco de medo de tentar me aproximar de você desse jeito... —digo sorrindo sem graça.
—Se eu dissesse pra você não me temer mais eu não poderia mais te ameaçar. —diz ela sorrindo discretamente.
—... —engulo seco ao sentir a pulsação acelerar por ver o brilho dos olhos dela dizendo isso. É como você falou Gid... A cada dia só piora. Tearju-sensei diz que eu conquisto as meninas, mas no final acho que quem é conquistado na verdade sou eu.

Resolvo me aproximar novamente dela e juntarmos nossos lábios rapidamente, o que a deixou um pouco surpresa, porém satisfeita alguns instantes depois. Peço passagem com a língua, que foi abraçada pela dela gentilmente enquanto as unhas dela começam a marcar levemente minha pele no pescoço.

—Onee-chan não perde tempo mesmo, em? —diz Mea num tom de deboche ao parar de reclamar.
—A-até você Eve? —diz Tearju-sensei choramingando.
—Isso é feito quando se sai pra algum lugar, não? —pergunta Yami parecendo realmente confusa após recuperar o fôlego.
—Você que é lenta mesmo, sensei! —diz Mea com um sorriso presunçoso.
—Pare de implicar comigo! —diz ela estufando as bochechas e voltando a puxar as bochechas de Mea.
—Realmente foi uma boa ideia ter concordado em vir, Tearju-sensei. —digo gargalhando— Pra quem se relacionava desajeitadamente vocês me parecem se entender muito bem!
—? —murmuram ambas elas confusas por minha reação, mas logo depois sorrindo com divertimento.
—Você diz isso, mas é o mais radiante aqui. —diz Tearju-sensei.
—E-eu? —pergunto confuso.
—Sim, senpai. A sinceridade que quase sempre está nas suas palavras e no jeito de ser, agora se põe presente tanto no seu olhar quanto no seu sorriso! —diz Mea fazendo Tearju-sensei acenar com a cabeça também.
—Fora que está mais confiante e mais presente. —diz Yami ao segurar meu rosto com as mãos.
—V-vocês acham...? —pergunto timidamente com o rosto corado— Ultimamente meio que fui forçado a sair da minha própria sombra...
—Mas ao tempo consegue ser a mesma pessoa de antes. —diz ela sorrindo satisfatoriamente.
—Com vocês falando assim realmente percebo que mudei esses dias... —digo sorrindo sem graça, porém ficando constrangido logo depois— A-antes eu nunca iria... v-vocês sabem...
—O quê? —perguntam elas confusas.
—B-beijar vocês assim tão facilmente... —digo quase murmurando enquanto toco um indicador no outro.
—Claro que sabemos! —dizem elas em uníssono antes de me abraçarem ao mesmo tempo. Menos a Yami. Ela apenas encostou a cabeça no meu ombro, o que teoricamente deve contar como o jeito dela me abraçar e concordar com elas. Um jeito discreto, mas que é bem a cara dela.
—Acho melhor comermos o tayaki logo, não? —pergunto sorrindo sem graça.
—Sim!
—Sim.

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—Obrigado por hoje! —digo me curvando levemente pra elas.
—Nós que agradecemos! —diz Tearju-sensei sorrindo gentilmente.
—Aah?! Ainda são 3 da tarde! Já vai? —pergunta Mea fazendo birra.
—Mas o que mais iríamos fazer? —pergunto coçando a bochecha.
—Ir num motel talvez... —diz ela com um sorriso malicioso.
—Pare de ter essas ideias pervertidas. —diz Yami casualmente antes de bater com o lado da mão na cabeça de Mea.
—Ai! —reclama ela passando a mão no local e choramingando— Eu só queria compania por mais tempo...
—Eu vou dormir com você hoje então. —diz Yami sorrindo gentilmente.
—Sério?! —pergunta Mea surpresa e empolgada— Então vamos comprar alguma coisa pra comer mais tarde, porque eu só tenho besteiras em casa!
—Não precisa me arrastar! —reclama Yami ao ter seu braço puxado e tentando freá-la, mas supirando ao ver que não daria certo e acenando na minha direção— Até depois então, Yuuki Rito.
—Até, senpai! —grita Mea acenando após se afastar alguns metros arrastando Yami.
—Essas meninas... —diz Tearju-sensei num tom um tanto quanto nostálgico ao vê-las correrem até sumir de vista.
—É ótimo ver que elas estão tão próximas assim. —digo ao me aproximar dela sorrindo.
—Em grande parte o responsável por isso é você. —diz ela ao pegar minhas mãos e sorrir gentilmente— A outra parte é crédito delas próprias ao se esforçarem pra deixar a vida antiga de lado.
—E-eu só queria vê-las em paz mesmo, e acho que está dando certo... —digo envergonhado olhando pros lados.
—Por que sempre que eu me aproximo, você começa a olhar pra todos lugares menos pra mim? —pergunta ela levemente irritada.
—É-é que... —digo pensativo olhando pro chão.
—Olha você fazendo isso de novo! —diz ela estufando as bochechas e pegando meu rosto fazendo-me encará-la diretamente.
—Eu ainda me sinto envergonhado por estar tão íntimo assim de alguém mais velha que eu... —digo sorrindo sem graça.
—Entendo... —diz ela ao suspirar e olhar pros céus balançando a cabeça como se dissesse ‘esse não tem salvação’— Você realmente precisa ir agora? —pergunta ela curiosa.
—Na verdade não... —digo coçando a parte de trás da cabeça— Eu só estava me despedindo porque pensei que não teria mais nada pra fazer.
—Então se importaria de me acompanhar ainda? —pergunta ela timidamente com as mãos na frente do corpo.
—T-tudo bem! —assinto com o rosto corado. E-ela quer um encontro só entre nós? Como eu não ficaria nervoso com isso?!
—Obrigado! —diz ela alegremente antes de pegar um dos meus braços e começar a caminhar.
—O-onde vamos? —pergunto timidamente.
—Comprar algumas roupas. Vou provar pra você sou uma pessoa como qualquer outra e que não precisa ficar intimidado! —responde ela sorrindo.

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—Você gosta de vestidos, sensei? —pergunto curioso ao pararmos de frente pra uma loja específica.
—Tem muito tempo que não uso um. —responde ela sorrindo sem graça.
—Eu até já me acostumei a te ver com esse blazer e saia ou com o jaleco por cima de tudo. —digo rindo levemente.
—Você acha que minhas roupas não combinam comigo? —pergunta ela parecendo triste.
—N-não disse isso! —respondo envergonhado— Você fica linda de qualquer jeito!!
—Sua sinceridade é transbordante. —diz ela sorrindo alegremente.
—E-eu não quis parecer pervetido ou nada do tipo!! —digo com o rosto ficando mais vermelho ainda.
—Eu sei, seus olhos não mentem. —assente ela num tom divertido— Vamos entrar logo!
—... O-ok... —digo timidamente.
—Bem vindos! —diz a vendededora jovialmente ao vir nos atender— O que desejam?
—Poderia me recomendar alguns vestidos, por favor? —pergunta Teajru-sensei educadamente— Não precisa ser algo chamativo cheio de estampas, basta algo simples mesmo!
—Bela pedida! É o ideal pra uma senhorita com um corpo esbelto e chamativo como o seu! —assente a vendedora alegremente juntando as mãos— Irei buscar alguns pra você experimentar!
—Ei Rito-kun... —diz ela timidamente puxando a manga da minha camisa— E-eu reamente chamo muita atenção?
—D-digamos que sim... —digo sorrindo sem graça ao olhá-la dos pés à cabeça e ver o corpo escultural e o cabelo dourado dela— É meio que exagero dizer chamativo, é mais correto afirmar que você não passa despercebida mesmo numa multidão.
—Entendo... —diz ela num tom satisfatório como se estivesse esperando essa resposta já, antes de me olhar curiosa— Você se sente confortável nesse uniforme igual ao da Eve?
—Sim! Eu pensei que o material seria super incômodo, mas é o contrário! —digo feliz, porém meio frustrado depois— Embora chame um pouco de atenção, e ainda mais com você do meu lado, todo mundo da rua olhava pra nós...
—Até porque isso é pra ser um uniforme de batalha, é perfeitamente normal chamar atenção numa cidade pacífica. —diz ela sorrindo em divertimento.
—Por que algo me diz que você acha engraçado eu me incomodar por chamar atenção?
—Seria improvável você não chamar atenção com essa cauda e essa roupa.
—Você tem um ponto... —digo suspirando.
—Bobo! —diz ela cutucando meu nariz com o indicador. Então até a sensei tem esse lado mais ‘menina’ dela... E somado à esse charme feminino adulto dela faz meu coração pulsar mais ainda.
—Você está bem? —pergunta ela curiosa ao colocar a mão no meu peito.
—S-sim! —digo envergonhado.
—Ah...! —murmura ela antes de sorrir como se tivesse percebido o motivo de eu estar nervoso.
—Voltei! —diz a vendedora ao chegar, fazendo Tearju-sensei se assustar levamente e se separar de mim.
—O-obrigado! —agradece ela pegando os 3 vestidos que a vendedora trouxera.
—O trocador está ali no fundo da loja! —diz a vendedora apontando pra uns quartinhos com uma cortina na porta— Se quiser, seu noivo pode te acompanhar lá dentro!
—T-tudo bem! —digo super envergonhado por ela ter nos confudido por noivos. Q-que constrangedor! E-eu pareço tão próximo dela assim?— S-se quiser eu espero do lado de fora...
—N-não tem problemas... —diz ela que parece tão envergonhada quanto eu pelo engano antes de pegar no meu pulso e me puxar até o fim da loja.
—Aqui já tem pouco espaço pra uma pessoa, sensei! —murmuro alto ao entrarmos no trocador e ficarmos poucos centímetros longe um do outro.
—Se estiver incomodado pode ir então... —diz ela fazendo uma expressão triste. D-droga! Isso é golpe baixo, sensei!
—Esquece... —digo suspirando.
—Segure esses vestidos aqui pra mim por favor!—pede ela alegremente. E-era tudo fingimento?! Sinto-me enganado... Então ela começa a desabotoar o blazer.
—Q-quer que eu feche os olhos? —pergunto com o rosto levemente corado.
—Estranho ouvir isso de quem já me viu nua, não? —pergunta ela sorrindo com divertimento.
—Q-que seja! —assinto envergonhado e olhando pro lado. Porém pouco tempo depois volto a acompanhá-la soltar os botões até o sutiã e o abdômen aparecerem. Ainda fico impressionado com os seios dela independente de quantas vezes eu veja... Fora essa cintura desenhada dela, que perfeição... E essas meia-calças dela delineando as coxas...
—Qual desses você acha que ficaria melhor em mim? —pergunta ela timidamente me fazendo sair do transe.
—H-hm o quê? A-ah, não sei! —digo desconsertado. E-eu estava distraído demais olhando ela, que droga!— Que tal esse verde claro?
—Por que o verde? —pergunta ela curiosa.
—Pra mim ele contrasta com seus belos olhos. —sorrio gentilmente.
—Se você diz... —diz ela sorrindo antes de pegar um dos vestidos na minha mão.

Engulo a saliva ao vê-la colocar o vestido pela cabeça e ele deslizar suavemente pela pele sedosa dela até parar pouco acima do joelho. É de tirar o fôlego todo esse panorama...

—F-ficou bom? —pergunta ela timidamente com uma mão cobrindo a boca.
—Ficou excelente... —digo boquiaberto. A simplicidade do vestido realçou mais ainda a beleza natural, fora que não foi preciso ele ser super justo pra destacar o corpo dela, mesmo com o busto dela sendo bastante avantajado.
—Só achei que ficou meio estranho usar esse vestido com essas meia-calças ainda. —diz ela sorrindo sem graça— Será que elas vendem alguma sapatilha aqui?
—Quer que eu chame a vendedora aqui?
—N-não pre-
—Sensei! —digo ao perceber que ela tropeçara ao se aproximar de mim, assim envolvendo meus braços por trás dela.
—O-obrigado... —agradece ela envergonhada ao se apoiar nos meus ombros e se levantando, porém voltando a encostar o busto no meu peito após estar de pé novamente e me abraçar.
—S-sensei? —pergunto confuso. N-não fique tão próxima assim! Consigo sentir todo o poder destrutivo esparramado em mim!
—Finalmente tenho um pouco de tempo à sós com você. —diz ela com um sorriso discreto.
—M-mas por q-
—Dá pra parar de ser denso só por alguns minutos? —diz ela levemente irritada ao calar minha boca com o indicador— Por que mais eu iria querer ficar apenas com você?
—... —murmuro silenciosamente tentando achar palavras, mas minha mente e meu coração estão turbulentos!
—Não precisa falar nada. —diz ela voltando a sorrir discretamente— Só peço que seja recíproco.
—M-ma-

E antes que eu pudesse proferir mais qualquer palavra, ela juntou nossos lábios e pediu passagem pouco tempo depois, comigo a acompanhando e entrelaçando nossas línguas. Como ela estava me empurrando um pouco mais que o normal, acabou me forçando à colocar as costas na parede do trocador. E-ela está mais selvagem que o normal! O espaço das minhas costas que não estava encostado acaba sendo tomado pelas mãos dela arranhando suavemente minhas costas, dando uns arrepios em mim, fazendo instintivamente eu agarrar os glúteos dela e a levantar um pouco, forçando-a ficar quase nas pontas dos pés. I-isso tudo está me deixando louco, são muitos estímulos!

—Mesmo seus apertos estando mais forte que o normal, você ainda consegue ser gentil. —diz ela ofegante e timidamente ao separar nossos rostos.
—M-mas você me empurrou primeiro! —digo constrangido.
—Bom saber que você me acompanhou. —diz ela depois de rir levemente.
—... —murmuro silenciosamente olhando pro lado e ficando mais corado. M-mas por que ela fez isso do nada? Eu suspeito de algo, mas... Ainda é difícil acreditar que mais de uma pessoa possa gostar de m-
—Você deve estar se perguntando se eu gosto de você, não? —pergunta ela sorrindo com divertimento.
—V-v-você está lendo minha mente?! —pergunto assustado.
—Não, não. —responde ela rindo levemente como se fosse uma ideia boba demais— Mas voltando... O que você acha?
—E-eu achava que você me considerasse no máximo como um irmão mais novo... —respondo timidamente.
—Existem vários momentos que te enxergo assim. —responde ela quase que num tom nostálgico— Eu te vejo tão perdido consigo mesmo que acaba me lembrando quando a Eve ainda era uma criança e vivia tirando dúvidas sobre coisas que você só aprende se vivenciar.
—Bom saber que sou infantil... —digo frustrado.
—Você está interpretando errado! —diz ela irritada e puxando minhas bochechas. Ai! Então ela suspira e volta a falar— Eu comparei a uma criança porque você quase sempre tem a respostas embaixo do seu nariz, mas só não tem autoconfiança em percebê-las.
—... Então... Por que você iria... Você sabe... —pergunto timidamente com a voz quase sumindo. Quando eu perguntei à Momo parecia ser tão mais fácil, será que é porque eu já estava acostumado com a presença dela? Eu quase me engasguei só pra perguntar isso pra Tearju-sensei, e na hora lá eu falei com tanta naturalidade...
—Acho que se eu fosse citar todas as razões de eu ter começado a sentir algo por você a loja iria fechar. —diz ela sorrindo sem graça me fazendo corar mais ainda. Q-que exagero!!— Mas se eu fosse dizer o que mais me chama atenção é o seu olhar.
—Meus olhos? Mas não vejo nada demais neles... —digo confuso e sorrindo sem humor depois— Ignore a piadinha acidental...
—Bobo! —diz ela cobrindo a boca com uma mão pra rir. O som da voz dela rindo é muito confortante, fora a expressão linda que ela faz fechando os olhos assim... Só posso dizer que é apaixonante— O que eu quis dizer foi o seu olhar em si, não o que permite você ver.
—Ainda estou meio confuso nesses conceitos... —digo com uma gota de suor escorrendo pela cabeça.
—Ah... —suspira ela antes de fazer uma expressão um tanto quanto... dolorosa?— Você se lembra que eu trabalhei na EDEN, sim?
—Sim.
—Como lá não havia muitos diálogos amigáveis, acabei criando o hábito de ler o olhar das pessoas, já que era muito raro ter alguma conversa que não fosse relacionada aos experimentos.
—Deve ter sido meio monótono... —digo meio cabisbaixo.
—Até que sim, mas os poucos momentos com a Eve iluminavam meus dias! —diz ela sorrindo alegremente antes de voltar a falar no tom misturado de dor e nostalgia— Já ouviu falar que os olhos são o espelho da alma, Rito-kun?
—Sim...
—Eu conseguia perceber quase tudo só vendo os olhos dos outros cientistas: cansaço, inveja, tristeza, esperança e vários outros sentimentos que qualquer pessoa teria, sejam bons ou ruins. Por mais que alguém diga algo contrário do que quer, o olhar quase sempre revela o que deveria ser passado de verdade. É muito difícil alguém conseguir disfarçar o olhar...
—Você fala isso de uma maneira como se tivesse sido traumático...
—É que quase sempre que alguém conversasse comigo eu saberia dizer como ela realmente se sentia... Os olhares dos superiores da EDEN eram cheios de maldade e ambição, como se fosse engolir tudo e todos à sua volta só pra atingir seus objetivos, mesmo que dissessem o contrário.
—Ah...
—Ou até mesmo quando eu via uma pessoa que parecia interessada em mim... Ele podia até usar palavras bonitas e encantadoras, mas não conseguia esconder o olhar repleto de perversão e loucura.
—Deve ter sido complicado pra você. —digo meio triste. Deve ser realmente deprimente ter que conviver com isso tudo ao redor... Por isso que ela acabou se isolando do mundo ao redor provavelmente. Mesmo com essa aparência de independência dela, no fundo ela é bem frágil...
—Quando Mikado me falou de você eu realmente fiquei curiosa pra que tipo de pessoa você seria. —diz ela voltando a sorrir gentilmente— Não é nada fácil fazer uma arma deixar seu ambiente natural e viver como uma pessoa normal.
—Gid disse quase a mesma coisa um dia desses... —sorrio sem humor.
—Tem horas que seu olhar é repleto de dúvida, angústia e tristeza... —diz ela ao colocar as mãos nas minhas bochechas e me encarar— Mas tem outros momentos que é cheio de sinceridade, coragem e alegria... Mesmo estando rígido aqui embaixo não vejo um pingo de perversão em você.
—... E-esqueça isso!! —digo constrangido. E-ela queria o quê?! Que eu não ficasse nem um pouco alterado por tudo isso? Q-que coisa!
—E suas palavras sempre correspondem ao que seu olhar diz, é confortante isso... —diz ela sorrindo gentilmente, antes de sorrir sem humor— Desculpe-me só por apenas ser uma velha que quer complicar mais ainda sua vida amorosa...
—Isso não é verdade! —digo irritado— Você não é velha e tampouco complica minha vida! Eu só...
—Hm? —murmura ela confusa.
—Pensei que não fosse querer se prender à alguém imaturo e indeciso como eu... —digo frustrado.
—Indeciso talvez, mas imaturo nem um pouco, mocinho. —diz ela levemente irritada e cutucando minha bochecha— Quase sempre somos forçados à ter uma escolha difícil que acaba atingindo sua zona de conforto. E você tenta lidar com isso da melhor maneira possível, mesmo que às vezes não seja a ideal.
—... Você falando assim faz parecer que não tenho defeitos. —digo sorrindo sem graça.
—Claro que tem defeitos, todos nós temos. Mas são nossos defeitos que nos fazem especiais, e não nossas qualidades, bobinho. —diz ela sorrindo e alisando gentilmente minha bochecha.
—Quando você estava contando do seu passado brevemente eu senti uma vontade enorme de começar a te proteger. N-não que você necessite ser protegida, mas ver esse seu lado mais sensível me levou a pensar nisso... Só não quero que mais ninguém te magoe.
—Então posso considerar isso como um ‘eu gosto de você’? —pergunta ela sorrindo alegremente.
—Eu tenho dito muito isso ultimamente... —digo rindo sem humor, mas depois olhando-a timidamente— E-eu acho que sim...
—V-você poderia então só me chamar pelo nome quando não estivermos na sala? —pergunta ela parecendo... irritada?— Parece até que sou sensei até quando não estou dando aula...
—É o costume de respeitar alguém mais importante. —digo sorrindo sem graça— E não é tão fácil assim começar a te chamar só pelo nome, parece até que somos íntimos demais...
—Acho que não somos tão estranhos um pro outro, não? —pergunta ela rindo baixo com divertimento.

É... Acho que ela tem um ponto. Depois de beijá-la tantas vezes assim ou contar meus problemas pra ela já deixamos de ser desconhecidos há muito tempo... Essa minha timidez me faz de idiota demais...

—Desculpe-me por fazer papel de idiota... —digo suspirando frustrado.
—Isso é besteira! Já entendi como funciona sua timidez e sua postura mudou muito comparado há algum tempo atrás! —diz ela sorridente e passando os antebraços por trás do meu pescoço— Eu só quero ouvir três palavrinhas pra me assegurar que seu tratamento anti timidez está dando certo.

Que droga, por que é tão difícil dizer isso? Eu sei muito bem quais palavras são, mas elas engasgam na minha garganta quando não são direcionadas pra Sairenji. Mas eu também sei muito bem que não posso negar que sinto algo pela Tearju-sensei... De tanto ela falar sobre olhares eu não consigo parar de encarar os olhos esmeralda dela, cintilando de expectativas, alegria e... amor? Fora que meu coração acelera mais ainda a cada segundo em silêncio entre nós nessa por causa dessa posição e todas as recordações dela passando na minha cabeça como se fosse um slideshow, sejam elas do corpo escultural dela ou todas as expressões e acontecimentos desde que ela chegou aqui...

E de repente o tempo parece fluir mais lentamente e meu coração acalma aos poucos, junto com as três palavras que antes pareciam ser impossíveis de ser pronunciadas e agora estão na ponta da língua. Depois de parar pra analisar todas as evidências, não há como negar as aparências e nem um porquê de eu tentar convencer à mim mesmo o contrário.

—Tearju-s- —digo sorrindo e interrompendo a mim mesmo antes de dizer o ‘sensei’— E-eu te amo... Tanto pelo seu jeito de ser, quanto por todo bem que causou e ainda causa desde que chegou aqui...
—Fico feliz ao saber disso... —diz ela sorrindo mais ainda ao semi cerrar os olhos e apertar mais ainda meu pescoço— Eu também te amo, Rito-kun.

E então fomos nos aproximando lentamente um do outro até selarmos os lábios e eu a segurar pelas costas. É... Definitivamente o que eu sinto não é algo apenas tentando não fazer pouco caso do sentimentos dela e sim realmente gosto dela. Essa sensação de paz na alma e conforto que sempre sinto perto da Lala ou da Sairenji estando com ela é o mesmo...

—Acho que já passamos tempo demais aqui nesse trocador, não? —pergunta ela timidamente depois de alguns minutos com nossas línguas entrelaçadas e intervalos pra recuperarmos o fôlego.
—Sim, e aqui é meio abafado, estou suando um pouco... —digo ao esticar a gola da blusa um pouco.
—Acho que vou sair usando esse vestido já...
—Se estiver confortável com ele tudo bem, por que pra mim você está linda. —digo sorrindo gentilmente.
—Pode me ajudar com algo então, Rito-kun? —pergunta ela com um sorriso levemente... malicioso?
—C-com o quê? —pergunto confuso.
—Ajude-me a tirar essas meia-calças por favor... —diz ela inocentemente ao esticar uma das pernas e subir o vestido.
—... T-tenho que ajudar a tirar seus saltos antes então, não? —digo depois de engolir a saliva.
—Sim.

Resolvo me apoiar sobre uma perna, que logo depois fui acompanhado por ela colocando o pé no meu joelho. Solto a fivela do salto e o retiro ao levantar um pouco o pé dela, assim que eu coloquei ele no chão, ela voltou a pôr o pé em cima do meu joelho. Ficar de frente pra essa perna dela é meio constrangedor e faz meu coração pulsar mais ainda... Começo a puxar a meia-calça pela base lentamente, enrolando aos poucos. A sensação dos meus dedos roçando levemente pela coxa dela é muito boa, parecem que eles deslizam pela pele sedosa dela! Poucos segundos depois eu retirei completamente a meia-calça dela, forçando-a trocar o pé que ela estava colocando no meu joelho. Começo a soltar a fivela do outro salto e faço o mesmo movimento, agora vo-

—Ops, meu pé escorregou! —diz ela novamente no mesmo tom inocente ao deslizar o pé pela minha virilha por cima da calça.
—T-t-tearju!! —digo num misto de irritação e constrangimento. P-parece até a Mea me provocando assim!!
—Que feio da sua parte ficando excitado só por retirar uma meia-calça, Rito-kun. —diz ela cruzando os braços e fingindo me dar uma bronca.
—... É assim então? —pergunto estufando as bochechas.
—Sim, seu p-
—Sou o quê? —pergunto num tom levemente maligno enquanto faço cócegas no pé dela e ela gargalhava pulando num pé só tentando se soltar.
—P-p-pare!!! —diz ela com os olhos úmidos de tanto rir.
—Só porque sou legal. —digo antes de tirar a meia-calça só em um puxão.
—Era só uma brincadeira... —diz ela com uma mão no peito e recuperando o fôlego.
—Eu apenas fiz dançar conforme o ritmo. —digo ao ficar de pé novamente e entregar as meia-calças à ela.
—... —suspira ela antes de começar a sorrir e abrir a cortina— Já é hora de sairmos daqui.
—Você vai descalça assim? —pergunto curioso.
—Vou falar com a vendedora à respeito das sapatilhas.
—Tudo bem então. —digo dando de ombros.
—Ei! —grita Tearju-sensei ao acenar pra vendedora— Já escolhi o vestido!
—Ótima escolha! —diz a vendedora alegremente ao chegar— Mais alguma coisa?
—Vocês teriam alguma sapatilha?
—Claro, acompanhe-me e te mostrarei alguns modelos pra você!

Depois de andar um pouco e a vendedora apontar pra alguns pares numa estante, Tearju-sensei rapidamente escolheu um e foi acertar o pagamento de tudo.

—Vamos, Rito-kun! —grita ela ao acenar pra mim da entrada da loja.
—Vai sair já vestida assim?
—Sim, algum problema...? —pergunta ela parecendo aflita.
—N-não, você está ótima assim! —respondo ao olhá-la da cabeça aos pés e ficar bastante satisfeito pela visão maravilhosa. Essas sapatilhas azuis ficaram bem nela, ela parece outra pessoa com essa roupa...
—N-não me olhe como se eu tivesse virado outra pessoa! —diz ela como se estivesse lendo meus pensamentos.
—D-desculpe-me! —digo envergonhado— É que não estou acostumado a ver você tão...
—Tão...? —pergunta ela curiosa.
—Natural. —respondo sorrindo gentilmente.
—... —murmura ela silenciosamente me encarando e abrindo um sorriso tímido logo depois enquanto estende uma mão— Vamos então?
—D-de mãos dadas? —pergunto levemente assustado e com o rosto corando.
—Pra quem já pegou em outras partes e estar receoso de segurar uma mão é uma contradição... —diz ela sorrindo sem humor, mas rindo depois— Você definitivamente é único.
—M-m-mas estamos em público aqui, é outra história!!
—Bobo! —diz ela pegando minha mão e entrelaçando nossos dedos enquanto me encara com os olhos cintilando— Vamos aproveitar o resto da tarde!
—Pelo visto não tenho escolha... —murmuro pra mim mesmo suspirando pesadamente, mas depois sorrindo de volta pra ela— Claro!

////////////////////////////////////////

—Obrigado pela tarde! —diz ela sorrindo satisfatoriamente pra mim ao pararmos numa esquina e soltar minha mão.
—E-eu que agradeço! —respondo timidamente e coçando a parte de trás da cabeça— Você realmente me fez esquecer de todas minhas preocupações e até do meu cansaço!
—Bom saber...  —diz ela feliz antes de olhar ao redor em entrar em choque rapidamente— J-já está anoitecendo?!
—Não tinha percebido? Nós tínhamos parado pra ver o pôr do sol poucos instantes atrás... —digo sorrindo sem graça pela falta de noção dela.
—Eu estava concentrada em outra coisa! —diz ela levemente irritada ao virar o rosto.
—Você só está tentando não parecer desajeitada.
—Não me fale algo que eu já sei!
—Ok, ok...
—... Acho que já podemos ser considerados oficialmente como um casal, não? —diz ela depois de parar inexpressivamente por alguns segundos e começar a rir consigo mesma.
—S-sim! —assinto levemente envergonhado antes de sorrir pra ela— Eu também estava concentrado em outra coisa, que era a visão angelical de você ofuscando o pôr do sol com sua beleza radiante.
—R-rito-kun! —diz ela constrangida.
—D-desculpe-me, isso tem virado involuntário! —digo envergonhado e ficando levemente irritado ao lembrar do que causara isso— I-isso é tudo culpa da Mea!
—Agradeço à Mea-san por ter deixado você mais maravilhoso ainda então. —diz ela com um sorriso tímido.
—Q-que seja! —digo virando o rosto.
—Enfim, tenho que ir. Espero que possamos ter um dia desses novamente! —diz ela contente antes de se aproximar de mim e beijar minha bochecha— Até depois!
—... A-até! —digo num susto depois de ficar atordoado pelo carinho repentino.

Só foi ela sair que meu cansaço pareceu voltar com tudo, até bocejei aqui... Melhor eu ir pra casa logo.

Esse final de tarde passou rápido demais!! Eu agi como se tivesse noção perfeita do tempo, mas na verdade eu estava tão perdido quanto ela. Só pude saber o tanto que se passou quando paramos pra ver o pôr do sol de um local alto. Depois de sair da loja fomos comprar sorvete e ficamos rodando pela cidade apenas conversando besteira ou parando nas vitrines de um lugar ou outro. E de vez em quando ela sugeria pararmos num beco pra fugirmos um pouco do público e ter privacidade... M-mesmo que eu achasse constrangedor beijar alguém no meio da rua. Ok, eu sei que estávamos num beco vazio, mas mesmo assim! De qualquer maneira, foi bastante agradável passar essa tarde ao lado dela... Ela parecia uma bateria, sempre me carregando com a aura radiante dela. É como se ela fosse uma Lala mais madura... Nunca pensei que fosse dizer isso, mas gostaria de ter ficado mais tempo com ela. Essa semana realmente foi cheia de coisas fora do comum acontecendo.

Aquela ali saindo da loja de conveniência é a... Momo?

—Ei, Momo! —grito acenando pra ela que parecia distraída entre os pensamentos abraçada à uma sacola de papel.
—Kyah!! —grita ela de susto se atrapalhando toda com a sacola na mão tentando não deixá-la cair no chão, mas respirando aliviada depois— N-não me dê um susto desses, Rito-san...
—Desculpe-me... —digo sorrindo sem graça.
—Como foi o encontro com elas? —pergunta ela repentinamente e tentando esconder o sorriso malicioso.
—Foi ótimo! —respondo rapidamente e sorrindo.
—Quero todos os detalhes! —diz ela com os olhos cintilando de empolgação.
—Podemos deixar isso pra amanhã? Eu estou esgotado... —digo fechando os olhos de cansaço.
—Tudo bem... —assente ela suspirando tristemente.
—Posso adiantar que eu meio que... —digo timidamente olhando pro chão— me confessei pra Tearju-sensei...
—I-i-i-isso é fantástico!!! —grita ela atordoada e super animada ao mesmo tempo.
—Não precisa fazer um escândalo... —suspiro frustrado.
—Claro que preciso!
—... Como de prache... —digo depois de suspirar e sorrir.
—Hm? —indaga ela confusa pela minha reação.
—Nada demais, só me sinto em casa perto de você mesmo.
—... —murmura ela silenciosamente como se estivesse surpresa ao ouvir isso. O que deu nela?
—Momo? —pergunto curioso.
—O-oi? —pergunta ela de relance como se não estivesse prestando atenção antes.
—Esquece, vamos pra casa.
—Tudo bem! —assente ela alegremente.
—Ei Momo...
—Hm?
—Tem algo que me pergunto desde que saímos do colégio...
—O-o quê?! —pergunta ela parecendo assustada como se eu tivesse descoberto algo secreto.
—O show da Kyoko só passa nesse horário de agora, não? —pergunto pensativo.
—A-ah sim... —murmura ela aliviada— Sim! Por quê?

Eu tinha quase certeza comigo mesmo que essa seria uma pergunta retórica, mas fiz só por via das dúvidas mesmo. Essa Lala... Não precisava daquilo tudo só pra disfarçar que queria me deixar com a Tearju-sensei e com a Yami.

—Nada não. —respondo sorrindo ao lembrar do escândalo dela— Vamos pra casa!

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Eu mal cumprimentei as meninas e já fui direto tomar banho pra comer logo depois. Sinto que no momento que eu fechar as pálpebras eu adormeço na hora...

—Que dia pesado... —murmuro pra mim mesmo ao abrir a porta do meu quarto e ver minha amada cama. Sinto que ela sussurra pra mim me convidando pra apagar imediatamente...

Ah... Parece que fiquei dentro de uma betoneira por várias horas, estou todo moído... Vou nem parar pra pensar em tudo que aconteceu nesse curto espaço de tempo.

—Parece que teve um dia agitado, não? —pergunta uma voz familiar num tom de superioridade.
—D-darkness!!! —digo abrindo os olhos no susto e dar de cara pra um céu todo avermelhado. Espere, eu não acordei, apenas ‘despertei’ nesse espaço todo vermelho e azulado bizarro. Estou sonhando então?
—Feliz em me ver? —pergunta ela ao sentar na minha cintura e encostar a cabeça no meu peito.
—N-não!
—Assim você me magoa... —diz ela fingindo estar triste.
—O que você quer de mim?! —pergunto irritado.
—Por que tanta raiva direcionada à mim? —pergunta ela com tom falso de curiosidade antes de dar um riso maligno— Sou apenas uma parte de você mesmo.
—Deixe-me em paz!
—Já que insiste... —diz ela suspirando e dando de ombros antes de fazer um bico— Pensei que fosse pelo menos me agradecer por ter te ajudado contra a Konjiki no Yami hoje mais cedo...
—O-obrigado. —murmuro timidamente olhando pro lado.
—Bem melhor. —diz ela com ar de superioridade e fazendo um sorriso presunçoso— Já percebeu que tem ficado ridiculamente forte nos últimos dias?
—E-eu? —pergunto confuso.
—Poucos dias se acostumando com esse seu corpo e poderes novos e já consegue lutar de igual pra igual com a Nemesis e se defender da Konjiki no Yami no modo Darkness. Pense um pouco na proporção desses feitos e o espaço de tempo que adquiriu essas habilidades.
—F-falando dessa maneira realmente parece ser muito... —murmuro levemente espantado.
—Você tem potencial até de se equiparar ao rei da galáxia ou até superá-lo quem sabe.
—Você está exagerando um pouco, não? —digo sorrindo sem graça, mas depois falando pra mim mesmo esperançoso— Eu acho que isso é sinal de que estou conseguindo ficar forte! Eu vou conseguir protegê-las!
—Exatamente. —diz ela exibindo um sorriso maligno enorme enquanto exala uma aura assustadora. O-o-o que está acontecendo? De repente a Darkness some como se fosse areia negra sendo carregada pelo vento e um apagão acontece deixando tudo numa absoluta escuridão.

/////////////////////////////////////////////////////////////

Só consigo ouvir o som da minha respiração... Nunca pensei que fosse achar isso pertubador, porque todo o silêncio ao redor é intimidador. E do nada pisca a lâmpada, revelando que estou de costas pra a porta da minha casa. O que me incomoda mais ainda é que em vez de ser a luz normal, ela está avermelhada, como se fossem aqueles quartos de fotógrafos revelar filmes. Agora ela fica acesa por alguns segundos e apaga brevemente antes de voltar a iluminar normalmente.

—... Alguém está aí? —pergunto depois de engolir a saliva.

Nada. Apenas mais silêncio sobre silêncio. Essa tensão no ar é assustadora... Uma sensação ruim na garganta e no estômago me dizem que se eu for andar pela casa não vou encontrar algo agradável. Seria isso minha intuição? Mas ao mesmo tempo é angustiante ficar aqui parado sem fazer nada.

Paro pra me acalmar um pouco e respirar fundo, porém isso acaba me deixando mais nervoso ainda. Vou investigar a casa então, por mais que eu seja uma pessoa acomodada, ficar parado está me deixando inquieto.

Resolvo ir em direção da sala com passos lentos. No momento em que dou o primeiro passo nela, a luz do corredor pisca, só que dura mais tempo apagada fazendo meu coração dar um salto leve quando voltou a iluminar junto com a lâmpada da sala acendendo agora.

Olho pra parte lateral da poltrona e avisto um prendedor de cabelo familiar no topo de uma cabeça e um braço delicado encostado, fazendo-me respirar aliviado.

—Mikan! —chamo ela ao me acalmar. Parece que tudo está bem, ainda bem, já estava ficando louco...
—Onii-chan... —murmura ela quase sussurrando.
—Mikan...? —pergunto preocupado.

Decido contornar a poltrona pra encará-la, porém me arrependendo imediatamente de ter feito isso.

—... Mi- —tento pronunciar o nome dela, mas estou em choque demais pra isso. O-o-o que está acontecendo?! Sinto meu estômago se revirar e querer expelir tudo pra fora ao ver um corte do peito até o abdômen dela, mostrando os orgãos cortados em algumas partes.
—Por que você fez isso Onii-chan...? —murmura ela tristemente com uma mão tentando me alcançar antes de fechar os olhos. Eu?! M-meu Deus... Estou tão abalado que não sei nem o que pensar direito... Alguém me ajude...
—Nós confiavámos em você... —sussurra ela com a mão descendo bruscamente e parando ela sobre meu pulso antes de parar de respirar enquanto me encara com um olhar vazio. Olho pra minha mão direita e vejo que ela está transformada numa lâmina e que está suja de sangue até onde começa meu pulso. E-eu fiz isso...? P-preciso ir pro banheiro, eu vou vomitar e minha cabeça está explodindo...
—I-isso é um pesadelo...!! —murmuro pra mim mesmo enquanto corro pela casa em direção do banheiro com a mão esquerda tapando minha boca.

O que eu... Mas... Tudo está confuso demais...

—O que está acontecendo...? —murmuro atordoado depois de terminar de lavar o rosto e a boca por ter desepejado tudo no sanitário anteriormente.
—Satisfeito...? —diz uma voz familiar de dentro da banheira. O vidro que separa o banheiro tem várias marcas como se fossem pintadas de... sangue? Eu não quero abrir a porta... E-esse pesadelo não acaba!!
—Medo de ver algo que você mesmo fez...? —pergunta num tom presunçoso a mesma voz que eu reconheço muito bem por esse ar de superioridade.
—... —engulo a saliva com gosto horrível enquanto vou trêmulo abrir a porta pra dar de cara com uma banheira com a água toda ensanguentada e as paredes marcadas em diversos pontos de jatos de sangue, com Nana no meio da banheira com o braço direito absolutamente cortado até pouco antes do ombro, a boca toda ensanguentada e dentes que davam pra contar no dedo a quantidade de tão poucos que haviam sobrado e um dos olhos fechados com um corte saindo de parte da testa, passando pela pálpebra e parando na bochecha. Até a luz aqui no banheiro é avermelhada, a água no banheiro parece quase preta por causa disso...

Só de ver tudo isso e imaginar o que possa ter acontecido com a parte inferior do corpo dela me dá vontade de vomitar de novo, só que tenho mais nada no estômago...

—Arrependido do que fez? —pergunta ela arrogante me encarando lentamente com o olho que restara— Sentindo-se poderoso agora?
—E-eu... —murmuro mais atordoado ainda, mas minha cabeça está latejando fortemente. P-preciso sair daqui!!
—Isso, fuja como sempre fugiu antes... —murmura ela antes de encostar a cabeça na banheira e fechar os olhos.

V-vou tentar abrir a porta de casa, o pesadelo deve acabar!! N-nada disso é real...! É tudo coisa da minha cabeça!

—N-não quer abrir!!! —grito desesperado ao rodar a maçaneta e puxar a porta com toda minha força, mas ela não mexe nem um centímetro. E não consigo voltar a minha outra mão pro modo normal pra tentar puxar com mais força, ela está travada nessa forma! Quando desisto e tiro a mão da maçaneta vejo que a palma da minha mão sujou de um líquido pegajoso. Mais sangue...? Tudo à minha volta é vermelho, a cada piscada de olhos que eu dou aparecem as imagens da Mikan e da Nana na cabeça... E-eu só queria acordar disso tudo...

De repente escuto um som quase inaudível de choro vindo de cima escada. Estou com tanto medo que algumas lágrimas saíram involuntariamente quando percebi que não conseguiria abrir a porta... E-eu não quero ir lá... E-eu quero ir embora...Mas sinto que não tenho escolha, é como se a base da escada me desse uma mensagem silenciosa me obrigando à percorrê-la...

Vou em direção do primeiro degrau e olho temerosamente pro topo da escada, mas não vejo nada. A sensação ruim na garganta e no estômago só pioram a cada encontro... Acho que o único jeito é subir... Decido subir cada degrau lentamente me apoiando na parede com uma mão, porém sinto um arrepio ao ver dois rastros de sangue paralelos serpenteando pelos degraus acima. A cada passo dado meu corpo fica mais gelado ainda. Depois de alguns segundos me arrependendo de ter começado a subir quando cheguei no último degrau.

E como esperado mais uma visão nada agradável aparece pra mim, mas dessa vez é a Momo rastejando com as pernas cortadas na altura das coxas em direção à porta do meu quarto. T-tudo isso é pertubador demais, não aguento mais...

Olho pra trás esperando ver os degraus pra sair correndo, mas uma parede surgiu na minha cara na hora que pensei em dar o primeiro passo. Volto a olhar Momo que mal havia se mexido enquanto sinto uma espécie de pressão vinda da parede atrás de mim, como se quisesse me forçar a continuar a andando. Acho que a ideia é eu entrar no meu próprio quarto, mas tenho medo só de imaginar o que esteja me aguardando lá.

Definitivamente não irei andar mais, pra mim já chega. S-só quero que tudo isso acabe...

E de repente o corredor começou a me carregar como se eu estivesse numa esteira, fazendo eu me aproximar da Momo involuntariamente. E-eu não quero ir!! Já chega!! Deixe-me em paz!!

—Se você queria ficar sozinho então teve sucesso, Rito-san... —murmura Momo quando o corredor parou de se mover me deixando de frente pra porta com ela deitada de bruços pro chão.

E-espere, ela não está de bruços... A iluminação aqui está quase nula, só a mesma luz avermelhada que estava presente em todos outros cômodos está aqui, mas quase apagada. Na verdade ela está de costas pro chão, consigo ver o abdômen dela ou o que deveria ser, tem uma fenda enorme no meio dela dando uma visualização das entranhas e do chão ensanguentado. O bizarro disso é o pescoço dela que foi torcido 180 graus.

—Espero que esteja contente... —murmura ela antes de parar de se mexer completamente.
—E-eu não fiz nada... —murmuro pra mim mesmo choramingando colocando ambas mãos na cabeça e fechando os olhos.

Subitamente sinto que a iluminação mudou pelas frestas das minhas pálpebras.

—A-acabou...? —pergunto parando de choramingar e abrir os olhos lentamente e perceber que estou dentro do meu quarto com a lâmpada de sua cor habitual.

Acho que não, apenas fui transportado pra aqui dentro contra minha vontade... E a única coisa que parece chamar atenção no meu quarto é minha cama com algo por baixo do cobertor. E-eu não quero me aproximar daquilo...

E como se tudo tivesse contra mim, num piscar de olhos o espaço entre mim e a cama parece que foi cortado, fazendo-me ficar de frente pra beira dela.

—P-por favor, não... —digo com a voz trêmula e começando a derramar lágrimas ao encarar a coberta com um volume embaixo.

De repente um vento soprou de uma vez só pela janela acertando o cobertor e jogando-o no meu rosto. Levo minha mão à minha cara pra retirar o pano, porém tenho medo do que vou ver.

Só que ele começa a escorregar lentamente como se tivesse se transformado em seda. N-não! E-eu não quero ver!

Só que quando o cobertor caiu tive a pior visão que pude ter.

A cabeça da Lala com um sorriso gentil como se tivesse acreditado até o final que tudo estava bem.

Desisto.

Mas quem vai conseguir protegê-las de você mesmo? —pergunta a Darkness num tom de divertimento enquanto eu caía sobre meus joelhos e desmaiava.

///////////////////////////////////////////////

—AAAAAAH!!!  —grito aterrorizado ao acordar ofegante. O-o que diabos acabou de acontecer...?
—Rito-san...? —pergunta Momo perplexa me olhando do fim da cama.
—Momo...!! —digo emocionado antes de me jogar nos braços dela e enterrar meu rosto no peito dela chorando fortemente.
—Está tudo bem...?
—F-foi horrível... Sangue... E mais sangue... Eu não quero dormir de novo...
—Rito-san... —murmura ela atordoada sem saber se me abraçava ou não.
—Ainda bem que está tudo bem com você...
—Você está comigo agora, não se preocupe. —diz ela calmamente ao começar a acariciar meus cabelos— Seja lá qual tenha sido seu pesadelo, está tudo bem agora, esqueça ele.
—M-mas...
—O susto já passou, eu estou aqui com você. —diz ela sorrindo calorosamente ao levantar meu rosto e limpar minhas lágrimas com os polegares.
—... —murmuro silenciosamente encarando-a enquanto minha respiração normaliza aos poucos.
—Tire todos esses pensamentos maus da cabeça e concentre-se só em mim. —diz ela ao encostar minha bochecha nos seios dela, que surpreendentemente ainda estavam dentro da camisa abotoada— Nada de mal vai ac-

Porém do nada ouvimos vários passos no corredor que leva ao meu quarto, fazendo Momo se assustar e esconder-se embaixo da minha cama.

—Rito?! —pergunta Mikan esbaforida ao abrir a porta bruscamente e ligar a luz do meu quarto.
—O que aconteceu?! —pergunta Nana do mesmo jeito após ela.
—Tudo bem Rito?! Ouvimos seu grito e ficamos preocupadas!! —pergunta Lala aflita parando perto delas.
—Graças a Deus vocês estão bem...! —digo aliviado antes de levantar da cama e correr em direção dela e abraçar as três ao mesmo tempo.
—O-o-o que é isso?! —pergunta Nana constrangida tentando se soltar.
—J-j-já chega!! —diz Mikan do mesmo jeito.
—Porque não estaríamos? —pergunta Lala confusa.
—Eu... —digo atordoado ainda— Tive um pesadelo...
—M-molhou a cama foi? —pergunta Mikan rindo nervosamente e se soltando do abraço.
—Q-quem diria que um crescidinho como você faria isso em! —diz Nana repetindo o mesmo ato.
—Ah sim... —diz Lala parecendo surpresa, mas me abraçando mais forte ainda depois e dizendo alegremente— Está tudo bem Rito, estamos bem aqui!
—V-vou voltar a dormir então, vê se não dá uma dessas de novo... —diz Mikan fingindo estar irritada e saindo do quarto.
—P-pelo visto a Momo não está aqui, então tudo ok seu animal... —diz Nana depois de olhar por cima do meu ombro vasculhando o quarto antes de ir embora também.
—Se quiser eu fico com você aqui até pegar no sono de novo... —diz Lala timidamente ao desfazer o abraço.
—N-não precisa, só de ver vocês já tirou toda minha preocupação! —digo secando as poucas lágrimas que ainda restavam no canto dos meus olhos.
—Que você tenha bons sonhos agora então! —diz ela empolgada antes de me dar um selinho rápido e sair saltitando do quarto.
—Sinto-me bem melhor agora... —murmurmo pra mim mesmo aliviado após fechar a porta e desligar a luz.
—Eu dissse, Rito-san. —diz Momo já sentada na cama de pernas cruzadas com um sorriso gentil. Por um momento breve me senti atormentado ao lembrar a da última cena na cama por causa desse sorriso da Momo, mas não há nada com o que se preocupar...— Está se sentindo doente? —pergunta ela curiosa ao ver que minha respiração havia acelerado um pouco.
—N-não, estou bem melhor agora graças à vocês. —respondo sorrindo sem graça ao sentar na cama do lado ela, mas suspirando pesadamente depois— Mas minha cabeça ainda está cheia demais de coisas, não vou conseguir dormir tão cedo mesmo estando cansado.
—Eu sei como resolver isso. —diz ela num tom meio que charmoso.
—Como as-
—Deixe-me ser a única coisa ocupando sua cabeça então. —diz ela com um sorriso malicioso depois de me empurrar na cama, sentar na minha cintura e retirar uma embalagem quadrada do bolso da camisa.
 


Notas Finais


Se houve algum erro de ortografia peço desculpas, meu Word tá zoadaço e não tá mais sublinhando as palavras erradas, então tudo que corrigi depois de ter escrito errado foi no olho seco mesmo. E se você se sentiu incomodado pelo finalzinho peço desculpas (sério mesmo), eu me senti um pouco mal escrevendo isso, mas achei que ficaria interessante retratar esse pesadelo. Escrever isso me levou a imaginar como deve ser escrever suspense (mesmo eu sendo meio cagão pra terror), que seja, eu realmente espero que tenham gostado de como eu fiz.


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