Acordei no sábado de manhã com uma ressaca monstruosa, e só conseguia pensar que era
aquilo mesmo que eu merecia. Por mais que detestasse a insistência de Alfonso de negociar
sexo com a mesma facilidade com que discutia uma fusão empresarial, no fim acabei entrando
no jogo. Meu desejo por ele justificava o fato de eu assumir um risco calculado e quebrar
minhas próprias regras.
Eu me consolei com a ideia de que ele também estava quebrando algumas das dele.
Depois de um banho bem longo e quente, fui para a sala e encontrei Christian deitado no sofá
com seu netbook, parecendo muito bem desperto e revigorado. Sentindo o cheiro de café na
cozinha, fui até lá e enchi a maior caneca que consegui encontrar.
Christian: Bom dia, dorminhoca. - Ele disse , segurando com as duas mãos minha tão necessária
dose matinal de cafeína, eu me juntei a ele no sofá. Christian apontou para uma caixa na mesa
de centro. - Chegou enquanto você estava no banho.
Deixei a caneca de café sobre a mesa e apanhei o embrulho de papel pardo. Meu nome estava
escrito diagonalmente na tampa da caixa com uma caligrafia floreada. Dentro dela havia uma
garrafinha âmbar com os dizeres CURA RESSACA pintados em uma fonte estilo retrô e um
bilhete amarrado com ráfia no gargalo em que se lia: Beba-me. O cartão de visitas de
Alfonso estava cuidadosamente aninhado no papel de seda que protegia o embrulho.
Ao analisar o presente, considerei-o bastante conveniente. Desde que havia conhecido Alfonso,
eu tinha entrado em um mundo fascinante e sedutor em que quase nenhuma das regras
conhecidas do bom senso se aplicava. Eu estava desbravando um território desconhecido, o que
era ao mesmo tempo excitante e assustador.
Olhei para Christian, que encarava a garrafa com um ar de dúvida.
Anahí: Saúde! - Tirei a rolha e bebi o conteúdo sem pensar duas vezes. Tinha gosto de xarope
para tosse, espesso e doce. Meu estômago se contraiu de desgosto por um momento, depois
esquentou. Limpei a boca com as costas da mão e enfiei a rolha de volta na garrafa vazia.
Christian:O que era isso? - perguntou .
Anahí: Pelo tanto que queima, mais álcool. - Ele franziu o nariz. - Um método eficiente, mas
desagradável! E funcionava mesmo, eu já estava começando a me sentir melhor.
Christian apanhou a caixa e retirou de lá o cartão de Alfonso. Ele o virou e mostrou para mim.
No verso, Alfonso havia escrito " Me ligue" com uma letra apressada e anotado seu telefone.
Peguei o cartão, envolvendo-o com minha mão. Aquele presente era a prova de que ele estava
pensando em mim. Sua determinação e insistência eram sedutoras. E uma espécie de elogio.
Não havia como negar que Alfonso havia derrubado todas as minhas barreiras. Queria sentir de
novo aquilo que experimentei quando ele me tocou, e adorei o modo como reagiu quando eu o
toquei. Quando parei para refletir sobre o que não faria para ter suas mãos sobre meu corpo de
novo, não consegui pensar em muita coisa.
Christian quis me passar o telefone, mas fiz que não com a cabeça.
Anahí: Ainda não. Quero estar bem lúcida quando falar com ele, e ainda estou meio zonza.
Christian: Vocês dois pareciam estar se dando muito bem ontem à noite. Ele está muito a fim
de você.
Anahí: E eu estou muito a fim dele. - Aninhando-me no canto do sofá, apoiei o rosto no
estofamento do encosto e abracei os joelhos. - A gente vai sair, se conhecer melhor, fazer sexo
casual mas fisicamente intenso e continuar sendo independente. Sem vínculos, sem
expectativas, sem compromisso.
Christian apertou um botão no netbook e a impressora começou a expelir folhas de papel do
outro lado da sala. Ele fechou o computador, deixou-o sobre a mesa de centro e passou a dedicar toda a sua atenção a mim.
Christian: Talvez vire algo mais sério.
Anahí: Talvez não, rebati.
Christian: Cínica.
Anahí: Não estou atrás de um conto de fadas, Christian, principalmente com um figurão como
Alfonso. Aprendi com minha mãe o que significa estar ao lado de homens poderosos. É
comprometimento total em troca de uma entrega parcial. O dinheiro basta pra fazer minha
mãe feliz, mas pra mim não é suficiente. Meu pai amava minha mãe. Ele a pediu em
casamento, queria passar sua vida com ela. Isso não aconteceu porque ele não tinha o currículo
expressivo e a conta bancária polpuda que ela exigia de um marido. O amor não era um pré-
requisito para o casamento na opinião de Marichelo Portilla e, como seu olhar provocador e sua
voz sussurrada eram irresistíveis para a maior parte dos homens, ela nunca precisou se
contentar com menos do que desejava. Infelizmente, meu pai tinha sido só um caso passageiro
para ela. - Olhei para o relógio e vi que já eram dez e meia. - Acho que preciso ir me trocar.
Christian: Adoro passar o dia no spa com sua mãe. - Ele sorriu, e isso afastou a melancolia do
meu estado de espírito. - Quando termina, eu me sinto como um deus.
Anahí: Eu também. Filha da deusa persuasão.
Estávamos tão ansiosos para sair que descemos antes mesmo que a portaria anunciasse a
chegada do carro.
O porteiro abriu um sorriso quando aparecemos , eu de sandálias de salto e vestido estampado
longo, Christian com um jeans apertado e camiseta de manga comprida.
Paul: Bom dia, senhorita Portilla , senhor Chavez. Vão precisar de um táxi hoje?
Christian :Não, obrigado, Paul. Um carro está vindo buscar a gente.- Ele sorriu. - Hoje é dia de
spa no Perrini’s!
Paul : Ah, o Perrini’s! - Ele balançou a cabeça. - Dei um vale presente de lá pra minha mulher no
nosso aniversário de casamento. Ela gostou tanto que estou pensando em fazer isso todo ano.
Anahí: É uma boa ideia, Paul; - eu falei. - Uma mulher nunca se cansa de ser mimada.
Um carro preto com Clancy ao volante parou no meio fio. Paul abriu a porta de trás e nós
embarcamos, soltando um grito ao encontrar uma caixa de chocolates finos no assento. Depois
de nos despedir de Paul com um aceno, nós nos recostamos no banco e partimos para a ação,
dando pequenas mordidas naquelas trufas feitas para serem saboreadas aos poucos.
Clancy nos levou diretamente ao Perrini’s, onde o relaxamento começava a partir do momento
em que se punha o pé na soleira da porta. Cruzar aquela entrada era como tirar umas férias do
restante do mundo. Todas as portas, adornadas com arcadas, eram emolduradas por
pedaços de seda de uma cor viva, e almofadas cravejadas de joias eram usadas na decoração de
divãs elegantes e poltronas largas e confortáveis.
Pássaros trinavam em suas gaiolas suspensas e vasos de plantas preenchiam todos os cantos
com suas folhagens frondosas. Pequenas fontes decorativas propiciavam o som constante de
água corrente, enquanto a música executada em instrumentos de cordas chegava através de
alto falantes cuidadosamente escondidos. O ar recendia a uma mistura exótica de especiarias e
fragrâncias, fazendo com que eu me sentisse em um conto de As mil e uma noites.
A coisa toda estava a um passo de se tornar exagerada e cafona, mas jamais cruzava essa linha.
O Perrini’s era exótico e luxuoso, e oferecia um tratamento de primeira a quem tinha dinheiro
para pagar por isso. Como minha mãe, que tinha acabado de sair de uma banheira de leite com
mel quando chegamos.
Examinei as opções de tratamentos disponíveis, deixando de lado o habitual mulher guerreira
em benefício do mimo apaixonado. Eu já tinha me depilado uma semana antes, mas o restante
do tratamento feito para torná- la sexualmente irresistível parecia ser exatamente o que eu
precisava.
Só voltei a raciocinar normalmente quando ouvi Christian perguntar da cadeira ao meu lado:
Christian: Senhora Portilla, já ouviu falar de Alsonfo Herrera?
Olhei feio para ele, que sabia muito bem que minha mãe ficaria maluca caso ouvisse alguma
notícia sobre minhas relações amorosas embora, nesse caso, não se tratasse exatamente de
amor. Minha mãe, sentada em uma cadeira do meu outro lado, inclinou-se para a frente com a
habitual empolgação juvenil com que falava sobre homens ricos e bonitos.
Marichelo: É claro, eu o conheço. É um dos homens mais ricos do mundo. Número vinte e cinco
na lista da Forbes, se bem me lembro. Um jovem muito determinado, é claro, e um doador
generoso para diversas instituições de caridade que eu ajudo. E tem fama de ser mulherengo.
Azar o meu. Christian sorriu e ignorou o modo como eu sacudia a cabeça violentamente.
Christian: Mas seria um caso perdido, de qualquer forma, porque ele está muito a fim de Anahí.
Marichelo: Anahí! Não acredito que você não disse nada. Como pôde esconder uma coisa
dessas de mim?
Olhei para minha mãe, cujo rosto bem cuidado parecia jovem, sem rugas, e muito parecido com
o meu. Não havia como negar que éramos mãe e filha, o que já ficava claro pelo sobrenome. A
única concessão que ela fez ao meu pai foi me dar o mesmo nome da mãe dele.
Anahí:Christian cale essa boca, seu fofoqueiro e não tem nada pra falar mamãe. - insisti. -
Somos apenas... amigos.
Marichelo: Mas não precisa ser assim. - disse mamãe, com um olhar calculista que me deixou
assustada. - Não sei como fui esquecer que vocês trabalham no mesmo prédio. Tenho certeza
de que ele ficou encantado assim que pôs os olhos em você. Apesar de dizerem que ele prefere
as loiras... Humm... Enfim. Ele também é conhecido pelo bom gosto. Obviamente isso falou
mais alto no seu caso.
Anahí: Não é nada disso. Por favor, não comece. Você vai me fazer passar vergonha.
Marichelo: Que bobagem. Se tem alguém que entende de homens aqui, esse alguém sou eu.
Encolhi os ombros. Quando minha massagem começou, eu estava precisando dela mais do que
nunca. Deitei na maca e fechei os olhos, planejando tirar um cochilo a fim de me preparar para
a longa noite que viria.
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