Bati a porta com força e saí andando sem pensar duas vezes, sabendo que tinha todo o direito
de estar revoltada. Eu havia feito um esforço hercúleo para dominar meu ciúme e o que
ganhava em troca? Um Alfonso furioso e totalmente irracional.
Alfonso: Anahí. Pare agora.
Fiz um gesto ofensivo para ele por cima do ombro e subi correndo os degraus do Bryant Park,
um oásis luxuosamente verde e tranquilo bem no meio da cidade. Cruzar aquela entrada era
como ser transportada para outro mundo. Escondido entre os arranha céus ao redor, o
parque ficava no jardim dos fundos de uma belíssima biblioteca antiga. Um lugar onde o
tempo corria mais devagar, onde as crianças sorriam com o prazer inocente de andar no
carrossel, e os livros eram valorizados como bons companheiros.
Infelizmente para mim, um ogro maravilhoso do mundo real havia me seguido até lá. Alfonso
me agarrou pelo punho.
Alfonso: Não corra. - ele sussurrou na minha orelha.
Anahí: Você está dando uma de maluco.
Alfonso: Deve ser porque você está me deixando louco. - Seus braços se contraíram como
garras de aço. - Você é minha. Diga que Christian sabe disso.
Anahí: Sabe. Da mesma forma como Amanda sabe que você é meu. - Queria que ele
estivesse ao alcance da minha boca, para poder mordê-lo. - Você está dando vexame.
Alfonso: Poderíamos ter feito isso no escritório se você não fosse tão teimosa.
Anahí: Eu já tinha compromisso. Que você está arruinando, aliás. - Minha voz sucumbiu ao
choro, e as lágrimas rolaram só de pensar na quantidade de pessoas que deveriam estar
vendo aquela cena. Eu seria demitida por não saber me comportar em público. - Você
estragou tudo.
Alfonso me soltou por um instante, forçando-me a olhar para ele. Suas mãos nos meus
ombros eram um sinal de que eu ainda não estava livre.
Alfonso: Minha nossa. - Ele me puxou para perto dele, e meus lábios roçaram seus cabelos. -
Não chore. Desculpe.
Dei um soco no peito dele, um golpe tão eficiente como tentar derrubar uma parede de
concreto a tapa.
Anahí: Qual é o seu problema? Você pode sair com uma piranha arrogante que
me chama de vagabunda e acha que ainda vai ser sua mulher, mas não posso almoçar com um
amigo que sempre fez tudo por mim?
Alfonso: Anahí. - Ele agarrou minha nuca com uma das mãos e apertou seu rosto contra o
meu. - Por acaso Mandy estava no mesmo restaurante em que estava ocorrendo o tal jantar
de negócios.
Anahí: Não me interessa. E você ainda vem falar sobre o olhar no rosto dos outros. O jeito
como você olha pra ela... Como você pode fazer isso depois de tudo o que ela disse pra mim?
Alfonso: Meu anjo... - Os lábios dele beijavam ardentemente todo o meu rosto. - Aquele
olhar era pra você. Mandy foi conversar comigo lá fora e eu disse que estava indo pra sua
casa. Não consigo evitar esse olhar no meu rosto quando penso em nós dois.
Anahí: E você quer que eu acredite que ela abriu um sorrisão ao ouvir isso?
Alfonso: Ela me pediu para mandar um oi, mas eu achei que isso não pegaria muito bem, e
não queria de jeito nenhum estragar nossa noite por causa dela.
Abracei a cintura dele por baixo do paletó.
Anahí: Precisamos conversar. Hoje à noite, Alfonso. Preciso contar algumas coisas pra você.
Se um repórter souber onde procurar e der um pouco de sorte... Nossa relação tem que ficar
restrita a nós dois, ou então terminar. Seja como for, vai ser melhor pra você.
Alfonso envolveu meu rosto com as mãos e apertou sua testa contra a minha.
Alfonso: Não vai ser uma coisa nem outra. Vamos dar um jeito de contornar isso, seja o que
for.
Fiquei na ponta dos pés e encontrei sua boca. Nossas línguas se encontraram e se acariciaram
em um beijo apaixonado. Eu estava consciente, até certo ponto, da multidão ao nosso redor,
do rumor das diversas conversas, do ruído constante do trânsito ininterrupto, mas, nos braços
de Alfonso, sob sua proteção, nada disso importava. Ele era ao mesmo tempo um tormento e
um prazer, um homem cujas mudanças de humor só rivalizavam com as minhas.
Alfonso: Pronto, - ele sussurrou, acariciando meu rosto com os dedos. - Vamos deixar esta
imagem se espalhar pela internet.
Anahí: Você não está levando a sério o que eu digo, seu teimoso. Preciso ir.
Alfonso: Vamos pra casa juntos depois do trabalho. - Ele se afastou, segurando a minha mão
até a distância enfim separar nossos dedos.
Quando me virei para o restaurante com paredes cobertas por trepadeiras, vi Aarón e Ana
Brenda esperando por mim logo na entrada. Eles formavam um casal muito bonito.
Aarón estava com as mãos nos bolsos e um enorme sorriso em seu lindo rosto.
Aarón: Acho que eu deveria aplaudir. Foi mais legal que ver uma comédia romântica.
Fiquei vermelha de vergonha e me encolhi toda.
Aarón abriu a porta e fez sinal para que eu entrasse.
Aarón: Acho que você pode esquecer o que falei sobre Herrera ser um cafajeste.
Anahí: Obrigada por não me demitir, - eu disse em tom de brincadeira antes que a hostess
aparecesse para confirmar nossa reserva. Apesar de ter achado graça naquilo, eu sabia que
também tinha minhas verdades ocultas. E que estava chegando a hora de elas virem à tona.
Quando chegaram as cinco horas, ainda não me sentia pronta para revelar meus segredos.
Estava tensa e séria quando Alfonso e eu entramos no Bentley, e minha inquietação só
aumentou quando percebi que ele estava observando atentamente a expressão do meu rosto.
Ele pegou minha mão e a beijou, e eu senti vontade de chorar. Ainda estava me recuperando da
nossa discussão, e aquela na verdade era a menor das nossas preocupações.
Não conversamos até chegar ao apartamento.
Quando entramos em sua casa, ele me guiou pela linda e luxuosa sala até o corredor que levava
a seu quarto. Sobre a cama, havia um lindo vestido da cor dos olhos de Alfonso e um robe de
seda longo
Alfonso: Tirei um tempinho pra fazer umas compras antes do jantar de ontem, ele
explicou.
Minha apreensão deu uma leve trégua, amenizada por aquela demonstração de gentileza.
Anahí: Obrigada.
Ele deixou minha bolsa em uma cadeira perto da cômoda.
Alfonso: Queria que você ficasse à vontade. Pode usar o robe ou alguma roupa minha. Vou abrir
uma garrafa de vinho e já volto. Quando quiser, podemos conversar.
Anahí: Eu queria tomar um banho rápido antes. - Desejei que fosse possível separar o que
aconteceu no parque do que eu tinha para contar, de modo que uma coisa não se misturasse
com a outra, mas não havia escolha. Cada dia que passasse seria uma nova oportunidade de
Alfonso descobrir através de outra pessoa algo que precisava ser dito por mim.
Alfonso: Como quiser, meu anjo. Sinta—se em casa.
Quando desci dos saltos e fui para o banheiro, senti o peso de sua preocupação, mas minhas
revelações teriam que esperar até eu conseguir me recompor. Em uma tentativa de retomar o
controle, passei um bom tempo no chuveiro. Infelizmente, aquilo só me fez lembrar do banho
que tomamos juntos naquela manhã. Teria sido o primeiro e último da nossa vida de casal?
Quando senti que estava pronta, encontrei Alfonso sentado no sofá da sala. Estava com uma
calça de pijama de seda preta, bem folgada e baixa nos quadris. E nada mais. Uma pequena
chama crepitava na lareira e havia uma garrafa de vinho branco mergulhada num balde de gelo
em cima da mesa de centro. A luz dourada das velas ao redor era a única fonte de iluminação
além da lareira.
Anahí: Com licença, - eu disse, parada na entrada do cômodo. - Estou procurando por Alfonso
Herrera, o homem que não tem o romance no seu repertório.
Ele sorriu, um tanto envergonhado, um sorriso de menino que contrastava com a sexualidade
madura do seu corpo seminu.
Alfonso: Não vejo isso como romance. Estou só tentando agradar. Simplesmente penso em uma
coisa e torço para dar certo.
Anahí: O que me agrada é você. - Fui até ele com o robe de seda flutuando em torno das
minhas pernas. Adorei ver que ele tinha vestido uma roupa que combinava com aquela que
havia comprado para mim.
Alfonso: É o que eu quero, - ele disse num tom bem sério. - Estou tentando.
Parei na frente dele e admirei a beleza do seu rosto . Percorri seus bíceps com as palmas das
mãos, apertando suavemente sua musculatura rígida antes de colocar meu rosto contra seu
peito.
Alfonso: Ei, - ele murmurou, envolvendo-me em seus braços. - Isso é porque fui um babaca na
hora do almoço? Ou por causa daquilo que você quer me contar? Fale comigo, Anahí, pra que
eu possa dizer que vai ficar tudo bem.
Esfreguei o nariz no peitoral dele, sentindo seus pelos roçarem no meu rosto, sua respiração e o
cheiro familiar e reconfortante de sua pele.
Anahí: Acho melhor você sentar. Tenho umas coisas sobre mim pra contar. Coisas pesadas.
Um tanto relutante, Alfonso me soltou quando me afastei dele. Aninhei—me no sofá, sentando
sobre os calcanhares, e ele serviu duas taças de vinho antes de sentar. Inclinado na minha
direção, ele apoiou um dos braços sobre o encosto do sofá e segurou a taça com a outra mão,
concedendo a mim toda a sua atenção.
Anahí: Muito bem. Lá vai.
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