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História Todos os sonhos do mundo - Capítulo X


Escrita por: marcialitman

Notas do Autor


Obs. 1: Fiz um bookrailer para essa história aqui https://www.youtube.com/watch?v=fCrng3WrTaM

Obs. 2: Nesse capítulo aparece uma personagem do meu livro Reescrevendo Sonhos.

Capítulo 10 - Capítulo X


— Você pode criar uma história pra mim sobre como se realiza um sonho, Luciana?

Marina deixou o copo de café sobre a mesa daquela cafeteria que se transformara no ponto de encontro habitual dela e Luciana. Havia em seu rosto um meio sorriso, como uma expectativa invisível que enchia a atmosfera do estabelecimento.

— De onde você tirou essa ideia? — Luciana tinha um sorriso divertido.

Dando de ombros, Marina voltou a dar mais um gole no café, retornando-o ao lugar anterior e deixando o silêncio ficar entre elas como uma questão não feita. Então ela resolveu prosseguir no desenvolvimento da ideia que estava em sua cabeça.

— Você cria histórias. É isso o que você faz. Eu quero uma que realize sonhos.

Luciana franziu a testa, mas sem perder o sorriso.

— Ok, deixa eu pensar — Luciana se ajeitou na cadeira, olhando para a amiga. — Não é uma história na verdade, é algo que acontece mais do a gente gostaria que acontecesse. Há várias coisas que afetam o modo que a gente se relaciona com sonhos e transformá-los em realidades, e uma delas é acreditar que a gente consegue. E isso é muito definido pelo que fazem a gente pensar sobre nós mesmas.

— Você quer dizer o que exatamente?

— Sobre sermos mulheres e não sermos preparadas pra ser bem sucedidas. Nossa cultura não incentiva isso. Todas as pessoas ao nosso redor acreditam que essa não é uma coisa que a gente tenha que fazer. E, mesmo quando alguma de nós consegue, sempre perguntam quando nossas vidas pessoais estarão acertadas, porque esse deveria ser nosso objetivo de acordo com o que nos ensinaram desde sempre.

Marina mexeu em alguma mancha invisível sobre a mesa, processando cada uma daquelas palavras ditas por Luciana.

— Isso é verdade.

— Agora pensa em uma moça que acabou encarando uma situação em que ela achou que era isso mesmo, que não tinha porque dar certo no que era seu sonho. Alguém lhe disse isso tantas vezes que ela acabou acreditando e desistindo. Deixou pra lá, dá pra viver sem sonhos, não é?

Luciana deixou a história no ar e Marina sentiu o estômago se remexer diante do que era narrado pela amiga.

— Como ela pode sair dessa crença que ela criou então?

— Isso é difícil — Luciana mexeu a cabeça para cima e para baixo. — Às vezes essa ideia não se desfaz. Mas, algumas vezes, ela pode se ver diante da possibilidade de tentar de novo. Claro, ela tem mais medo. Qualquer coisa que der errado pode enterrar esse sonho de vez pra ela, afinal essa moça está frágil e completamente insegura. Mas também pode ser que ela encontre em um pequeno sucesso a motivação pra continuar.

Marina deu um meio sorriso.

— Como você acha que vai ser o seu?

Luciana abriu um largo sorriso e seus olhos adquiriram brilho.

— Alguém em alguma editora vai buscar por talentos novos. Vai cansar de publicar livro que gente famosa escreve com ghost writer ou de subcelebridades e vai dar uma olhada nos concursos literários. Meu original estará lá, no e-mail de alguém, e esse alguém vai ser justamente essa pessoa disposta a me dar uma chance. Vai abrir o original, olhar, ver que sou finalista do concurso e vai apostar. Vai começar assim.

Marina encontrou os olhos de Luciana e sorriu com o cenário imaginado pela escritora. Era contagiante vê-la com tanta esperança.

— Eu fiz minha inscrição pro curso de Direito na faculdade onde eu estudava.

As bochechas de Marina logo ganharam um fervor não esperado, devido à expectativa diante daquela revelação. Ela tinha passado a noite em claro, a animação da novidade mesclada com a expectativa de compartilhar a notícia com Luciana.

— Você… voltou pra faculdade?

O sorriso de Luciana aumentou ainda mais as batidas do coração de Marina.

— Sim! Quer dizer, — Marina colocou a mecha de cabelo atrás da orelha, a respiração pesada e acelerada. — Ainda preciso passar no vestibular, então não é certeza…

— Você vai passar, com certeza!

Marina sentiu o abraço de Luciana e a apertou contra si, desmanchando-se diante do conforto oferecido pela amiga. Era um grande momento e ela queria que fosse celebrado bem ali, ao lado dela. Quando elas se separaram do abraço, Marina percebeu que não era a única que tinha o rosto repentinamente coberto por lágrimas não planejadas.

— Dessa vez vai dar tudo certo — disse Luciana.

— Sim, vai dar tudo certo.

As batidas do coração de Marina se acalmaram mas, de alguma forma, o sangue em suas veias não parava de circular a toda velocidade. A respiração continuava pesada e ela não conseguia parar de olhar para Luciana. Havia algo no ar que a deixava agitada e ansiosa por abraçar a escritora mais um pouco, embora não conseguisse achar a coragem para fazê-lo, então apenas continuou sorrindo.

— Isso é bom — Luciana comentou depois de um tempo, desviando o olhar e buscando o copo de café na mesa. — Estamos as duas tentando coisas novas.

— Sim… — Marina disse mais para si mesma que para a moça ao seu lado.

Olhando de soslaio para Luciana, Marina viu que alguns pensamentos que povoavam sua mente há algum tempo ganharam novos contornos. Coisas que ela tentou fingir que não existiam, sentimentos que pareciam proibidos a ela. Mas naquele momento, diante daquela decisão fundamental que tinha tomado, era possível colocar tudo isso em perspectiva e ver que o que acontecia em seu coração era algo inevitável. Não adiantava camuflar certas verdades.

— Lu…

Uma voz feminina ressoou antes que Marina colocasse sua mão sobre a da amiga. Marina não chegou a processar o que a desconhecida disse, apenas prestando atenção no cenho franzido de Luciana, que se mexia na cadeira.

— Oi, Sabrina.

.::.

Talvez a imaginação de Luciana não estivesse tão longe da realidade. Havia algo de fantasioso no modo que ela imaginava como as coisas seriam para ela, claro. A mente de uma escritora é assim, cheia de floreios. Mas, no fundo, algo sobre seu sonho casava com a realidade de quando seu livro foi aceito pela primeira vez por uma editora.

Ela não conhecia Bárbara Lima, funcionária da Editora Palavra Mágica, e que vivia examinando as listas e editais dos concursos literários mais famosos do Brasil. Ela gostava de acompanhar e, de vez em quando, saber um pouco da carreira dessas pessoas que tentavam chegar o mais longe possível no mercado literário brasileiro.

Foi no mesmo dia em que Luciana contava seu sonho para Marina. Bárbara esbarrou com o e-mail que continha o original finalista de um desses concursos de literatura. Bárbara olhou para o nome da escritora e o título, lembrando-se de tê-lo visto em uma das várias listas que costumava ler e acompanhar. Resolveu conferir, procurando por algumas daquelas listas, até que achou o que procurava, sorrindo ao saber que estava certa.

Bárbara leu a sinopse enviada pela autora, coçando o queixo. Achou interessante e intrigante. A Palavra Mágica gostava daquele tipo de livro e talvez eles pudessem ver potencial em colocar as fichas em uma escritora finalista de um concurso como aqueles. Então resolveu redigir um relatório para o seu chefe, pedindo que o original de Luciana Monteiro fosse considerado para análise.



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