História Todos os sonhos do mundo - Capítulo XII

As letras dançavam na frente de Luciana. Ela piscou algumas vezes, esfregando os olhos e tentando combater o embaçamento das vistas. Queria terminar a última revisão naquela noite, afinal tinha separado a sexta-feira para isso. Mas o cansaço lançava o peso sobre o corpo de Luciana, que lutava para não perder a batalha.

Só mais dez páginas. O final estava perto.

Ela respirou fundo, tentando tirar as forças que precisava do oxigênio. Estabeleceu uma meta: faria cinco páginas naquele momento, pararia para comer e então terminaria o resto. Mas, antes que ela começasse mais essa tarefa, ouviu a vibração do aparelho celular. Luciana pegou o aparelho em mãos e sorriu ao ver o nome que piscava na tela.

— Ei! Achei que estava se preparando pra prova de domingo.

Ela ouviu um suspiro do outro lado da linha.

— E se eu não passar, Lu?

O som do medo de fracassar era bem familiar a Luciana e ela pode perceber que isso pesava na voz de Marina.

— Eu tenho certeza que você vai passar.

— E se eu não passar?

A voz de Marina soou um tom mais alto e Luciana fechou os olhos.

— Essa não é sua única chance. Você não pode esquecer isso. Tente quantas vezes forem necessárias.

Outro suspiro fez Luciana abrir os olhos e sentir o estremecer de seu coração.

— Não sei se tenho forças pra tentar de novo.

Luciana abriu os olhos.

— Se faltar as forças, eu tenho suficiente pra você.

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O tempo por vezes flui como as águas e não há como segurá-lo entre os dedos.

Luciana ficava perdida entre os vários processos que envolviam a transformação de sua história em um livro publicado. Eram muitas etapas, todas longas e minuciosas, e que pareciam não ter fim. Quando ela achava que não, lá surgiu mais alguma coisa a ser feita, verificada ou aprovada. E, por isso mesmo, ela não conseguiu ver como os meses correram feito loucos.

No decorrer desse tempo, outras notícias agradáveis vieram adoçar seus dias.

Foi com um sorriso largo e um abraço demorado que ela felicitou Marina por ter passado na faculdade e assegurado a entrada no curso de Direito. Luciana sentiu a alegria da amiga pulsar contra seu corpo, enquanto se emocionava junto a ela.

— Você mereceu demais, Marina — Luciana disse, quando elas se separaram do abraço. — E vai arrasar nesse curso.

O coração de Luciana não cessava suas batidas aceleradas e tudo o que ela queria era voltar a abraçar Marina.

— Obrigada, Lu — Marina enxugou uma pequena lágrima que estava estacionada no canto de seu olho esquerdo. — E obrigada por ter me ajudado a tentar de novo.

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— Que tal?

Luciana tinha colocado uma imagem em tela cheia em seu computador, de modo que ela ficasse bem visível e possível de ser analisada. Então sorriu, olhando para o lado, para o rosto de Marina. Ela gostava de ter a moça tão perto de si, à distância de um suspiro, de uma batida de coração, de uma palavra.

— Essa é a capa? — perguntou Marina.

— Pode ser. Se eu aprovar.

— E você já aprovou?

— Na verdade queria saber o que você acha, antes de dizer qualquer coisa.

Marina mordeu o lábio inferior e Luciana achou que aquele seria um bom momento para voltar a olhar a imagem na tela.

— Acho que funciona bem. Combina com a história e chama a atenção pro livro.

— Também acho a mesma coisa que você.

Marina se afastou alguns passos, como se estivesse apreciando um quadro no museu.

— Então?

Luciana suspirou, tirando a imagem da tela cheia e abrindo uma nova aba em seu navegador.

— Vou mandar e-mail aprovando então.

Enquanto escrevia o endereço de seu servidor de e-mail, Luciana percebeu quando Marina voltou a se aproximar, colocando as mãos sobre seu ombro. A velocidade da digitação de Luciana se reduziu e ela achou que poderia errar a mensagem para a editora. Ela quase tocou as mãos de Marina, mas resistiu e tentou retomar a concentração.

— O que mais falta? — Marina perguntou, interrompendo o silêncio entre elas.

— Bem, eles me falaram que, com a escolha dessa capa, dá pra começar a divulgação. Enquanto isso, eles vão fazer a capa completa e me mandar a última diagramação pra aprovar. Então é ficha catalográfica, último PDF e gráfica. Pelo menos eu espero que não tenha mais nada além disso, porque já ‘tô tonta com tanta coisa pra fazer.

Marina riu baixinho.

— Pelo menos você sabe que seu livro sairá perfeito.

Luciana apertou o ícone de enviar a mensagem e se levantou, ficando de frente para Marina.

— Bem, perfeito é um conceito complicado. Li muitos artigos sobre isso, e um deles fala que um livro nunca está finalizado. Sempre tem coisa pra arrumar e melhorar. Então não quero pirar com isso, sabe? Ele vai ficar o melhor que puder ser.

Marina apertou os lábios, segurando a mão de Luciana. O toque era como o fogo se espalhando por toda sua pele.

— Ok, não vamos pensar em perfeição. Mas vamos pensar que ele vai ficar incrível, do jeito que você merece.

Luciana sorriu, perdendo-se nos olhos de Marina, como se eles fossem um abismo sem fim.

— Certo.

Elas ficaram se olhando por um bom tempo, até que o celular de Luciana tocou e ela o buscou em algum lugar perto do computador.

— Mas o quê…?

Marina se aproximou.

— Que foi?

— É a Sabrina.

Os olhos de Marina foram ao chão.

— Vocês tem se falado desde…?

— Não, por isso ‘tô estranhando ela me ligar.

— Atende.

Luciana abriu a boca, tentando dizer algo, mas sem achar o que. Então colocou o telefone no ouvido, não sem antes clicar na tecla de atender.

— Ei.

— Luciana? ‘Tá ocupada?

— Não, ‘tava só ajeitando algumas coisas do trabalho.

— De qual deles?

Luciana cruzou os braços.

— Sempre tem alguém pra tagarelar, não é?

Ela ouviu uma risada e olhou para Marina, que no momento observava a coleção de livros na sala.

— Você me conhece e sabe que gosto de saber das coisas.

Luciana suspirou, virando de costas para Marina.

— O que você quer?

— Voltar com você.

Rolando os olhos, Luciana colocou as mãos na cintura.

— ‘Tá brincando, né?

— Nem um pouco.

— Olha, eu vou ignorar o que você disse e educadamente informar que vou desligar esse telefone antes de desligar esse telefone.

Luciana não pensou dois segundos antes de derrubar a ligação. Então olhou para Marina, não encontrando palavras para contar o que tinha acabado de ouvir de sua ex.