1. Spirit Fanfics >
  2. Tomorrow >
  3. O Canto da Sereia

História Tomorrow - O Canto da Sereia


Escrita por: ddaeclipze

Notas do Autor


Caros Tomorrowers,

Vocês odeiam avisos, mas esses são extremamente necessários:

1. Nenhum grande acontecimento da antiga Tomorrow mudou: Ela está apenas mais compreensível e sensata, não diferente. Todos os cenários, acontecimentos importantes e relacionamentos se mantiveram intactos.

2. Ela é parcialmente inspirada em Boys Over Flowers: Alguns pontos da história foram retirados do enredo do drama. Entretanto, se existe algo nesse drama que você não gosta, fique tranquilo e continue a leitura: Tomorrow talvez possa te surpreender! Eu torço para que sim!

3. Tomorrow é +18, mas o foco da história não é o sexo: em algum momento vai acontecer, ok? Mas saiba também que a história não é sobre isso.

4. O casal principal é hétero, mas a fanfic não é heteronormativa: a trama gira em torno do casal principal entre um homem e uma mulher cis, mas a Fanfic tem personagem transgênero, homossexual, pansexual, assexual, e por aí vai. Homofobia é crime e qualquer manifestação do tipo é abominável.

5. A personagem principal não tem um corpo "padrão" coreano, e nem vai tentar ter ao longo da fanfic. Se você tem algum problema com isso, não leia e lembre-se de guardar seu preconceito pra si mesmo!

6. Atualizações semanais: quintas-feiras, 20h.

7. A Fanfic tem uma TAG NO TWITTER: caso você leia, goste e queira me ajudar na divulgação, use a TAG #TomorrowFic ao falar sobre ela no TWITTER. Ajuda na divulgação e no processo de interação entre você e eu ♡

8. [IMPORTANTE!] O renascimento de Tomorrow é dedicado a vocês: muito obrigado por não terem desistido da fanfic que foi sonho da menina de quinze anos que eu fui! Hoje, aos meus quase vinte, dedico esse retorno a cada um de vocês! Muito obrigada, do fundo do meu coração ❤.

Boa leitura <3

Capítulo 1 - O Canto da Sereia


Fanfic / Fanfiction Tomorrow - O Canto da Sereia

Oh Bonhwa 🐞 Point Of View

Depois de deixar a bandeja vazia na cozinha, volto para o salão, amarrando melhor o avental na cintura enquanto dou uma olhada geral no local, que já está perto da hora de fechar.

- Movimentado pra uma quinta-feira, não é? - Jonghei, que estava limpando uma mesa, comenta quando eu paro perto dele. Confirmo um alguns movimentos de cabeça ao reparar que ele está certo.

Não está cheio, mas para um dia de semana ao final da tarde, a cafeteria está realmente movimentada: um senhor de idade bebendo chá e lendo o jornal, a mesma senhora de sempre comprando pão e doce para os netos, uma adolescente fazendo um trabalho escolar e bebendo mais café do que devia ser permitido por lei e um grupo de cinco ou seis crianças acompanhados por uma única adulta no caixa, brigando umas com as outras para escolher que doces iam levar.

Dou risada da cara apavorada da gerente ao ver os dedinhos grudentos no balcão, ouvindo Jong rir comigo da desgraça dela. Dou duas batidinhas em suas costas quando as crianças vão embora, em uma despedida, e sigo para o balcão, ainda atenta ao espaço.

- Porque esses monstrinhos sempre sujam tudo? - Byul (a gerente) pergunta irritada, esfregando um pano seco pelo mostruário de vidro no balcão, o que apenas piora tudo. - Ranhentinhos.

- Eles são só crianças, Byul. Eles fazem o que crianças fazem.

- Encher o saco e babar tudo?

- Sabe, você é bem amarga pra alguém do seu tamanho. - Comento, me apoiando na parte de madeira do balcão. - Precisa relaxar.

- Relaxar nesse calor? Impossível! - Ela se encolhe, levemente amuada. - Eu odeio esse clima, só queria uma chuvinha, mas vai demorar.

O sino que fica sobre a porta soa, mas acabo não dando atenção por conta de sua afirmação.

- Como assim "vai demorar"? - Franzo o cenho, realmente sem entender. - Vai chover ainda hoje, lá pelas 18h.

- Ah, tá. - Ela ri, como se eu estivesse contando uma piada, e se senta relaxada na cadeira acolchoada. Quando percebe que minha expressão não vacila, levanta as sobrancelhas, como se dissesse "o que?" - Você tá falando sério, Bonhwa?

- Sim, Moonbyul. - Dou de ombros. - É obvio que chove hoje.

- Mas o céu está azul! - Balança as mãos, exasperada.

- O céu é azul sempre, ora!

- Você me entendeu, engraçadinha. - Ela se inclina em minha direção, apoiando-se na madeira também. - Não tem uma nuvenzinha à vista!

- O vento sopra, tá bom? Vai chover hoje sim.

- Ok, garota do tempo. Vai logo atender sua mesa e para de me encher, tá? Eu tô tentando trabalhar.

- Foi você que começou a conversa!

- Eu sou sua chefe, menina! - Se senta ereta na cadeira e aponta em direção ao salão, onde, de fato, tem pessoas na minha mesa. - Obedeça quieta, por favor.

- O capitalismo é muito opressor mesmo. - Resmungo, vendo sua expressão "séria" vacilar enquanto ela da uma risadinha, e sigo em direção a mesa recém ocupada, com um bloquinho de papel em mãos.

- Olá, bem vindos à Magic Coffee Shop! O que posso servir para vocês hoje? - Cumprimento ainda sem olhar para eles, mas sorrindo de forma simpática, enquanto procuro uma página em branco naquela bugiganga.

- Na verdade, estamos esperando mais um amigo. - Uma voz incrivelmente aveludada chega até mim, mas ainda não achei a página, então não olho. - Podemos pedir quando ele chegar?

- Claro! Vou estar esperando. - Olho rapidamente e de forma geral, curvando a cabeça em respeito antes de virar as costas e seguir para o mostruário da padaria, onde posso ver quando precisarem de algo.

Mal alcanço meu destino quando Hwajin (outra garçonete) finca os dedos no meu braço e me faz contornar o balcão, puxando-me para o seu lado enquanto eu xingo por seu aperto.

- Por tudo que me é sagrado, o que tá acontecendo naquela mesa?! - Ela sussurra, abaixando-se atrás da balança do pão e escondendo a boca com as costas da mão, como se tivesse algo super-secreto a comentar. - A conferência dos homens mais bonitos de Busan?

- O que? - Pergunto, ainda esfregando o braço que foi beliscado. Aparentemente pergunto alto demais, pois levo outro tapa sobre o local, recendo também uma careta irritada enquanto ela leva o indicador a boca. - Ouch! - Fecho a cara em indignação, mas dessa vez sussurro. - O que foi, garota?!

- Você não tá vendo? - Ela questiona indignada. - Aquilo alí que "foi"! - Aponta, então, diretamente para a mesa de onde eu vim.

E, porra, eu entendo perfeitamente o que ela quer dizer quando olho para lá e vejo o cara sentado na ponta. Aparentemente alto, peito largo, pele dourada e perfeitamente lisa, olhos desenhados e cabelos platinados que destacam todo o resto. Meu queixo cai um pouquinho, mas mal tenho tempo de expressar minha admiração para ela quando o garoto platinado, o único dos três na mesa que eu consigo ver daqui, levanta a mão, chamando-me com um gesto discreto dos dedos e um olhar doce. Santa mãe.

Engulo em seco e sigo em direção a eles e, céus, a cada passo a situação fica mais complicada, por que aí consigo ver os outros dois e, meu santinho, devia ser crime andar por aí exibindo um rostinho desses. Se antes eu achava Taehyung (meu melhor amigo) o homem mais bonito do mundo, acabo de encontrar seus compatíveis.

- Desculpa a mudança repentina. - O platinado diz, os lábios grossos desenhando graciosamente cada palavra. - Mas nosso amigo já está chegando, então já vamos pedir as bebidas. - Murmuro em resposta algo que pode ter sido "ah, claro" ou "porra, me beija" e ele sorri, me deixando toda arrepiada. - Eu vou querer um expresso comum e, ah… Jungkook?

- Eu vou querer um suco de melancia gelado. - O chamado Jungkook responde, me dirigindo um olhar rápido e um sorriso educado, e caralho, que sorriso é esse? Que olhinhos são esses? E, tenha piedade, que cicatriz adorável é essa na maçã do rosto?

- E eu quero só uma água mesmo. Sem gás, por favor.

E se eu estava achando os lábios fininhos de Jungkook a coisa mais linda que eu já vi, os lábios cheios e desenhados do garoto que pediu por último quase me matam do coração.

- Ah, Jimin, nem vem. - O platinado fala. - A gente vai jantar tarde, então trata de comer bem aqui.

- Namjoon, eu vou me entupir de doces, a água é para ajudar a descer. - Namjoon, o platinado, ri da forma mais encantadora possível e eu não sei se estou boba por isso, pelos lindos olhos do moreno que, aparentemente, se chama Jimin, ou ainda pelos olhinhos redondos do tal Jungkook.

- Ahn… - Volto a mim quando eles me olham atentos, e trato de começar a anotar rápido. - Um expresso, um suco de melancia gelado e uma água sem gás, então?

- Isso. - Namjoon se manifesta por todos. - Pode trazer um chá gelado de maçã também. É disso que o Tae gosta, né? - Pergunta aos outros.

- Taehyung gosta é de reclamar. - Jimin responde e Jungkook dá uma risadinha. - Mas chá gelado está bom.

- Certo, com limão? - Pergunto e Namjoon confirma com um movimento de cabeça que balança seus fios claros de forma hipnotizante, e eu me esforço para conter os ânimos. - Volto já.

Dou-lhes as costas o mais normalmente possível, e tento não tropeçar no caminho de volta. Ao passar pelo caixa vejo Moonbyul "discretamente" espionando os garotos por cima de uma revista com Jonghei ao seu lado, não tão discretamente assim, fazendo o mesmo.

Passo rapidamente pelo mostruário lateral, encarando Hwajin com os olhos arregalados ao passar por ela enquanto a vejo levantar as sobrancelhas como se dissesse: "eu disse, não disse?".

Tento manter a voz sob controle quando ela levanta e vem correndo em minha direção, completamente agitada ao puxar outra bandeja e me ajudar com os pedidos.

- Lindos, certo? - Assenti rapidamente assim que ouvi seu sussurro discreto atrás de mim, junto com o som do café que ela arrumava preenchendo a xícara.

- Os mais bonitos que eu já vi. - Sussurro de volta, apavorada, e espio em direção a eles enquanto preparava o chá gelado. - Acha que eles são trainees de alguma empresa ou modelos, quem sabe?

- Qualquer empresa com esses rostos em treinamento seria estúpida por não debuta-los apenas pela carinha.

- Não é?! - Viro de frente pra ela após completar o pedido com uma rodela de limão que poderia estar melhor se eu não estivesse totalmente agitada. - Eu sinto que finalmente entendi a expressão "rosto de um milhão de dólares".

- Exatamente! - Ela pega a garrafinha de água que eu peço com um sinal de cabeça e me alcança. - Vai ter coragem de chegar perto de novo?

- Preciso, certo? É o meu trabalho.

- Bem, para a garota que é melhor amiga de Kim Taehyung, esses três devem ser moleza.

- Tá brincando? - Arregalo os olhos ao ajeitar as bebidas sobre a bandeja, buscando distribuir o peso de forma igual. Ao obter o resultado desejado, coloco-a por sobre a bancada livre, decidindo levar o café e a água por último. - Se um deles olhar nos meus olhos de novo, vou acabar derrubando todo esse café em mim mesma!

- Deus que te livre. - E com esse último desejo de Hwajin, ajeito a bandeja sobre o braço e volto a andar em direção a eles enquanto ela volta a ocupar seu lugar na padaria, de onde pode me observar melhor, a bandida.

Os suspeitos modelos, felizmente, estão entretidos na conversa e ao me ver chegar apenas retiram os braços de sobre a mesa, dando espaço para que eu sirva. Percebo que Jimin, que estava sentado ao lado de Jungkook, está agora ao lado de Namjoon, na ponta. Sirvo o suco de Jungkook, que agradece com um adorável sorriso com dentinhos salientes, e o chá no espaço vazio ao seu lado. Após isso, seguro firme a bandeja e volto, com as palmas das mãos suadas, para pegar o café e a água que ficaram para trás.

Sirvo a água de Jimin primeiro, já que ele está na ponta. Relaxo os ombros ao perceber que o pior havia passado e tranquilamente pego a alça da xícara que está equilibrada no centro da bandeja, pronta para posicioná-la diante de Namjoon.

Assim que meu dedos se fecham na alça da xícara, um latido alto, conhecido e muito animado ecoa pelas paredes do local bastante quieto e, quando viro confusa para ver de onde veio, sinto meu sangue gelar ao sentir algo roçando na minha perna.

Um grito agudo escapa da minha boca e a bandeja escorrega do meu braço, caindo diretamente no chão. Como se não fosse o bastante, no desespero de segurar a bandeja acabo derramando uma boa quantidade de café quente no peito do garoto que, obviamente, é o mais bonito de todos, Jimin.

Com o susto, ele levanta em um pulo e acaba acertando a minha mão, fazendo o conteúdo restante na xícara cair no meu próprio peito, bem na altura dos seios que, graças a deus, estão cobertos pelo sutiã.

Eu até teria gritado, pois o café estava realmente muito quente, mas tudo aconteceu tão depressa que os nem os meninos tiveram tempo de esboçar alguma reação, quem dirá eu mesma!

- Taenie! - Uma voz mais do que conhecida chega aos meus ouvidos e eu sinto vontade de gritar de raiva ao perceber de quem é o cachorro responsável por toda essa desgraça. - Meu Deus do céu! Eu sinto muito! Ele escapou da coleira e… Nossa, eu não tive intenção!

- Ah! A sua blusa! - Jimin, que estava com a blusa vermelha manchada de café, se faz ouvir, me deixando completamente desesperada ao perceber que ele está preocupado comigo e não com o próprio estado. - Eu te machuquei?

- O que? - Pergunto, ainda completamente desorientada, piscando rapidamente quando finalmente sinto meu peito arder pela temperatura da bebida espalhada ali, que agora está escorrendo para a barra da minha calça jeans.

E tudo só piora conforme todo mundo começa a falar ao mesmo tempo, cada um querendo interferir de alguma forma enquanto eu continuo parada feito uma idiota, a xícara ainda pendurada no indicador e a bandeja no chão.

- A sua camisa! Meu deus, isso deve tá doendo pra caralho! - Tae, meu melhor amigo que aparentemente é o cara que eles esperavam (e também o dono do bendito cachorro), fala novamente, parecendo muito arrependido.

- Jimin? Você tá bem? - O garoto alto, de olhos redondos e lábios finos (Jungkook, certo?) pergunta ao garoto parado na minha frente, que ainda me olha assustado, tentando se comunicar comigo.

E é apenas quando as mãos ossudas de Moonbyul tocam meus ombros que me dou conta do que aconteceu e pulo, levando as mãos ao rosto ao ver toda a bagunça que fiz.

- Meu Deus! - Dessa vez é minha amiga que se faz ouvir na conversa. - O senhor está todo manchado, eu sinto muito, de verdade! Vamos providenciar uma camiseta limpa para o senhor! Nada de muito refinado, infelizmente, mas melhor do que essa molhada. - Ela propõe, sempre diplomática e responsável, mas é completamente ignorada quando o Jimin apenas se abaixa, pegando a bandeja esquecida e a estendendo pra mim.

- Eu realmente sinto muito pela sua roupa. - É ele quem diz o que cabe a mim e, quando abro a boca para dispensar o gesto, deixa a bandeja em minhas mãos e completa: - Eu sou um desastrado mesmo, por favor, me perdoe.

Ao perceber que eu ia continuar agindo como uma desorientada, Byul agarra meu braço e me puxa pra mais perto.

- Vai se trocar logo e deixa que eu resolvo isso, ok? - Eu assinto rapidamente e, ainda assustada, seguro firme a bandeja e corro para a área dos funcionários, na porta atrás da registradora. - Por favor, senhor, o banheiro é por aqui. - É a última coisa que ouço Byul dizer antes de passar pela porta, largando a bandeja em um ponto aleatório pela cozinha e seguindo direto para o banheiro.

Encaro minha expressão pálida no espelho, ainda sem acreditar no que aconteceu. Claro que não parece nada demais, mas poxa! Esse não foi apenas um vexame que passei na frente de um cara lindo que é amigo de mais três caras lindos, sendo que um deles é meu melhor amigo! É também o meu primeiro deslize do gênero em seis meses trabalhando aqui!

E se ele der um surto depois de perceber o que aconteceu e exigir a minha demissão, ou que eu pague a camisa vermelha caríssima que ele usava? Ou pior: e se ele simplesmente decidir falar comigo de novo usando aquela voz doce enquanto me observa com aquele olhar hipnotizante? Eu me arrepio só de pensar.

Balanço a cabeça para os lados rapidamente, espantando a idiotice que aparentemente se apossou de mim momentos antes. Limpo a mancha do corpo, conformando-me com o fato de que não vai ser possível fazer o mesmo com a roupa. Jogo a camiseta manchada dentro da mochila e visto a extra que trazia sempre comigo: quando você é atrapalhada como eu, aprende a se manter prevenida.

Depois de reunir cada mísera e escassa gota de coragem que existe em mim, finalmente retorno para o salão, dez minutos depois. A primeira coisa que noto ao largar a mochila embaixo do balcão é que a bagunça foi limpa, outro café foi servido à Namjoon e que todos já estão envolvidos em outros assuntos.

A segunda é que Tae estava, de fato, junto com os garotos daquela mesa. 

A terceira e última coisa que notei foi que Jimin está escorado na outra ponta do balcão, mexendo distraidamente no celular enquanto os fios muito lisos e escuros de seu cabelo cobrem os olhos da forma mais delicada possível.

Quando viro as costas, pronta para me esconder na cozinha, sinto minha espinha gelar ao ouvir a voz doce:

- Ei, você! - Chama, bem humorado demais pra quem acabou de levar um banho de café fervente no peito. - Conseguiu se trocar?

- Oi? - Pergunto, como a mais perfeita idiota que sou, ao olhar em seus olhos, agora muito mais perto, já que ele se aproximou da minha ponta do balcão, ficando em frente a minha figura medrosa. - Ah, sim. - Respondo quando ele levanta uma sobrancelha e aponta para meu abdômen. - Eu tinha uma extra na mochila, e você?

- Um de meus amigos vai dormir fora de casa hoje e trouxe uma camiseta extra. - Sorriu, galanteador, ao apontar para o próprio peito, agora coberto com uma simples camiseta azul escura. - Você se queimou? Eu tenho essa pomada para queimadura na bolsa, sou um desastre, então preciso ter por perto. Posso te emprestar, se quiser.

- Ahn? - Percebo que estava distraída demais observando o movimento suave que os fios da sua franja fazem conforme ele se balança ao falar, como se não pudesse parar quieto. - Digo, não, não... Eu não me machuquei.

Na verdade havia uma leve ardência no meu peito, mas eu não conseguia prestar atenção nela enquanto estou ocupada tentando ignorar a ardência nas minhas bochechas, que esquentam gradativamente, ficando cada vez mais vermelhas toda vez que seu olhar encontra o meu.

- Ainda bem. - Ele sorri, exibindo duas fileiras perfeitas de dentes branquinhos e alinhados. - Eu também não machuquei, caso queira saber.

- Eu quero! - Praticamente grito, mesmo sabendo que ele estava apenas tentando descontrair. - Ainda não acredito que fui tão idiota, sinto muito de verdade.

- Você ficou chocada, foi muito mais engraçado do que doloroso.

- É claro que fiquei chocada! Joguei café fervendo em um cliente! - Lindo, eu quis completar. Joguei café fervendo em um cliente lindo demais, mas guardei esse detalhe apenas para mim. - Você devia ter feito um barraco!

- Um escândalo? - Usa um termo mais formal que o meu, o que me fez corar ainda mais por estar falando informalmente com ele.

Será que minhas bochechas podem esquentar o suficiente para me derreter até virar uma poça no chão? Espero que sim, para que eu me livre de mim mesma e dessas situações estúpidas em que me coloco o tempo todo.

- Não acho necessário. - Ele sorri doce ao continuar. - Como eu disse, foi muito mais engraçado do que doloroso, e o café nem estava tão quente assim.

Vai ver não sentiu a temperatura porque você mesmo já é quente como o inferno, penso, mas novamente guardo para mim.

Cada vez que meus olhos desviam e voltam pra ele, percebo algum detalhe que de alguma forma torna-o ainda mais bonito: a pinta charmosa no pescoço, não muito distante do Pomo de Adão, ou os brincos prateados reluzindo de forma atraente em suas orelhas, ou ainda a forma absolutamente adorável que seu nariz parece se espalhar na cara conforme seu sorriso magestoso se abre, como se ele estivesse sorrindo com cada pedacinho do rosto, e não só com a boca e os olhos.

- Bem, Bonhwa, agora sei que você não está machucada e vou voltar para meus amigos e minha água gelada. - Ele levanta o celular, mostrando um grupo de mensagens no Kakao. - Eles não param de me chamar e falar bobagens.

Olho por cima de seu ombro esguio, não muito mais alto que o meu, e vejo seus amigos sorrindo e acenando em nossa direção. Deixo uma risada nervosa escapar e aceno de volta timidamente, e quando Jimin dá duas batidinhas ritmadas na madeira, chamando minha atenção para se despedir, me dou conta de algo que ele não deveria saber.

- Ei! - Chamo, e ele vira pra mim novamente, com as sobrancelhas arqueadas em um questionamento silencioso. - Qual seu nome? - Pergunto só para confirmar, mesmo que eu saiba exatamente qual é depois de ver rapidamente seus amigos chamando-o no grupo. - E como você sabe o meu?

Ele volta graciosamente até o balcão, cada movimento como um passo de dança, e cruza os braços sobre a madeira, olhando-me dos pés a cabeça, o sorriso ladino nascendo lentamente em sua expressão tão angelical quanto perigosa.

- Meu nome é Park Jimin, adorável Oh Bonhwa. - E, após o anúncio, pisca de uma forma tão sedutora quanto possível, antes de se afastar dois passos, ainda olhando pra mim ao concluir: - E como eu sei seu nome, bem, é um mistério.

Antes de virar as costas ele olha sugestivamente para minha cintura fazendo-me olhar para baixo imediatamente, e assim que vejo meu nome escrito no crachá preso ao avental, ouço sua risada adorável e divertida enquanto coro até a raiz dos cabelos pela pergunta idiota.

O resto da tarde passa tão tranquilamente quanto é possível. Moonbyul e Hwajin dão risadinhas discretas toda vez que nossos olhares se encontram, provavelmente lutando contra a vontade de gargalhar de minhas trapalhadas ridículas enquanto continuo servindo outras mesas, ficando cada vez mais apavorada conforme os minutos passam, mas eles não vão embora de jeito nenhum.

Depois que uma pavorosa hora passa, hora na qual consegui sentir perfeitamente o peso do olhar de Park Jimin e seus amigos em minhas costas, Kim Taehyung finalmente se aproxima da mesa que estou limpando após a saída de um cliente.

- Eu juro por deus que se você der risada eu vou socar a sua cara na frente de todo mundo. - Aviso ao vê-lo abrir a boca, o olhar brilhando em divertimento.

- Por acaso já não deu show suficiente por hoje, querida?

- Taehyung!

Ele ri, completamente divertido com o olhar indignado que lhe dirijo antes de dar-lhe as costas e seguir para trás do balcão, jogando os papéis no lixo e separando a bandeja para ser higienizada mais tarde.

- Desculpa, já parei. - Se apoia no balcão e, depois que termino minha tarefa e passo a encara-lo, ele continua sem falar ou fazer nada, apenas me observa com aquele sorriso de lado no rosto.

- Se já parou, o que ainda faz aqui?

- Você sai em meia hora, né? - Confirmo com um movimento da cabeça, receosa com suas atitudes. - E lembra do que eu te falei mais cedo, quando te deixei aqui?

- Não, fala logo o que você quer.

- Ai, mas que garota insuportável. - Ele bufa, finalmente perdendo a pose. - Quer jantar no Hobi hoje? - E é ao citar o nome de meu outro melhor amigo que ele cativa 100% da minha atenção.

- Hobi não me falou sobre janta hoje. - Respondo, curiosa com o fato, também me apoiando no balcão entre nós.

- Ele não queria te convidar, mas eu te falei hoje antes de ir embora, lembra? - Meu queixo cai com a primeira parte da frase, mas ele esclarece: - Era uma janta apenas para nossos amigos de Daegu que vieram visitar. - E ali está o sorrisinho presunçoso outra vez. - Amigos esses que tiveram uma ótima primeira impressão de você, se quer saber.

- Não brinca! - Aponto assustada em direção a mesa ainda ocupada por seus amigos. - Vocês dois andam com eles?

- Sim. - Sorri malandro ao observar as unhas, fingindo desinteresse na minha reação. - Jungkook estudava aqui até concluir o ensino fundamental e Jimin e Namjoon, o bonitão do canto, conhecemos através das videochamadas com ele.

- Ah. - Balanço a cabeça em compreensão. - Mas porque eu iria nesse jantar? Você mesmo disse que não tinham planos de me convidar.

- Bem, eu não sei se devo contar por quê mudamos de idéia. - Ele fica sério de repente, então apenas dou de ombros e viro o rosto para achar o que fazer.

- Hum, se é assim…

- Ok, já que insiste tanto, vou te contar! - O fofoqueiro não aguenta e se inclina sobre o balcão, me puxando para chegar perto e fazer o mesmo. - Jimin ficou completamente fascinado com você, eu falei pro Hobi e ele mandou te convidar.

Meu queixo cai com tanta força que devo ter deslocado o maxilar. - O que?!

- É isso mesmo, você roubou o coração do coitado com uma queimadura de terceiro grau no peito. - Ele debocha, afastando-se para me ver melhor. - Bem original, se quiser saber.

- Eu não roubei coisa nenhuma. - Fechei a cara. - Eu sou só uma garçonete fazendo meu trabalho e…

- E Jimin é só mais uma pobre vítima de seu canto de sereia. - Ele dramatiza.

- Ah, tenha dó, Taehyung. - Viro os olhos e ele ri, completamente divertido com minhas bochechas queimando. - Não tem nada melhor para fazer, não?

- Na verdade, eu tenho sim. - Ele sorri, e quando estou para expulsa-lo, continua: - Uma janta no Hoseok mais tarde, ouviu falar?

- Eu não.

- Ah, Bonhwa, tenha você dó de mim. - Ele bufa, fazendo biquinho e cruzando os braços. E lá vem a cara de cachorro perdido. - A gente quase não te vê ultimamente porque você só trabalha e estuda! Se eu não aparecesse hoje na sua casa e aqui, você nem ia lembrar que eu existo!

- Eu preciso passar no vestibular, Kim Taehyung, e também preciso de dinheiro!

- Eu sei, mas poxa, troca os horários. Sai com a gente hoje e estuda amanhã. Eu até te ajudo, se você quiser!

- Tae…

- Bon, por favorzinho. Eu nunca te peço nada!

- Há! Essa é boa mesmo.

- Diz que sim, por favor, por favor, por fav…

- Ah, tá bom. - Ele grita em animação e logo tapa a boca quando é encarado mortalmente por Moonbyul. Ele murmura um "desculpa, aí" e ela vira os olhos, voltando ao seu trabalho. - Mas só porque eu realmente preciso descansar hoje.

- Graças! - Ele levanta as mãos, como de agradecesse aos céus. - Vou avisar os meninos. Te amo, Bon. Vai ser muito legal, você vai ver!

E, quando ele sai completamente animado por finalmente conseguir um rolezinho comigo, não posso evitar sorrir de leve, sentindo meu coração aquecer com todo o carinho dele.

Coração esse que esfria, alguns minutos depois quando percebo que, de fato, ele já havia me convidado mais cedo, antes de Jimin sequer saber que eu existo! Ele me enrolou com essa história de canto de sereia para ver qual seria minha reação e eu caí igual uma pata! Torço o pano com raiva ao ver que ele e os outros trocam risadinhas enquanto se levantavam, e fico pronta para socar a cara dele por toda a ousadia. Carinho é o caralho. Bandido.

Infelizmente, esqueço completamente minha raiva quando os outros meninos seguem em direção ao caixa e acenam pra mim de forma discreta, sendo que Jimin tem a coragem de piscar para mim ao me olhar por sobre o ombro e, vergonhosamente, me pegar encarando.

Mesmo depois que seus amigos partem, levando Taenie junto, Tae continua sentado em seu cantinho, indicando que ia me esperar sair (provavelmente para garantir que eu não vou furar a bendita janta). Suspiro derrotada, sabendo que vou ter que deixar aquela pilha de resumos para serem estudados amanhã à tarde, ao contrário do que planejei.

O que de qualquer forma compensa, pois eu ia estudar hoje para me divertir amanhã, e agora vou me divertir hoje para estudar amanhã. Tudo equilibrado. Tudo certo.

Ajudo Hwajin e Jonghei a limpar as mesas e as cadeiras enquanto Byul separa o dinheiro do caixa para colocar no cofre da sala dela. Depois disso, varremos o chão e deixamos Jonghei para trás, passando o pano, e seguimos pra trocar de roupa na sala dos funcionários, onde Tae nos espera depois de ser expulso do espaço principal que estava sendo higienizado.

Sigo meu caminho e paro em frente ao armário, quase perdendo as estribeiras ao ver Tae perfeitamente relaxado na cadeira enquanto mexe no celular e Hwajin apoiada na porta do banheiro, admirando ele descaradamente. Se eu fosse Taehyung, ficaria com ela só por agradecimento a toda essa admiração.

Quando eu entro, no entrando, ela corre para dentro do banheiro, querendo ser a primeira a usá-lo, a bandida. Tae percebe a movimentação quando fecho a porta do armário e tira os fones, relaxando ainda mais na cadeira.

- Nunca mais me deixa sozinho com essa menina, eu achei que ia ficar vermelho até desmaiar! - Dou risada em altas vozes, sem conseguir me controlar.

- Você nem tá vermelho, mentiroso!

- Jura? - Ele bota as mãos no rosto, relaxando ao sentir que não está quente. - Eu achei que já estava parecendo você falando com o Jimin.

- Demorou para tocar no assunto, não é? Sua cobra!

Dessa vez é ele quem gargalha, levantando-se de onde está e vindo em minha direção. - Você tava parecendo um pimentão, com os olhos desse tamanho, olha. - Ele arregala os olhos e cai na risada com a própria piada enquanto eu me encolho de lembrar do rosto de Jimin na minha frente.

- Você é idiota, Taehyung. - Ele ri mais ainda, e eu me encolho ainda mais, totalmente envergonhada por ter sido pega.

- Jimin achou uma gracinha, se quiser saber.

- Ah, cala a boca. - Resmungo, disposta a não cair em suas mentiras de novo. - Eu já saquei a sua, cupido. Pode parar por aí.

- Tá falando da janta? - Eu assinto, agora o olhando irritada. - Eu menti um pouquinho sim, mas bem que você gostou, não é?

E Hwajin, a santa que é, sai do banheiro bem na hora do meu aperto. Não perco um segundo sequer e corro em direção a porta aberta, quase derrubando ela no trajeto.

Troco de roupa o mais lentamente possivel, escovo os dentes e solto os cabelos, os escovando com os dedos com toda a tranquilidade do mundo. Se Taehyung quer me arrastar por aí, vai esperar meu tempo.

- Você 'tava presa no vaso, por acaso? - Ele questiona irritadiço ao me ver finalmente saindo do banheiro, e se levanta com a mochila em mãos. - Vamos rápido que o céu tá fechando e eu não quero me molhar.

- Mas a gente tem que passar lá em casa ainda! Eu preciso trocar de roupa! - Eu digo enquanto o sigo em direção a porta dos fundos, checando que apenas a luz do segundo andar está acesa, onde Byul ainda deve estar.

Quer dizer, Taehyung não pode estar realmente acreditando que eu vou jantar com Park Jimin usando esse moletom velho, ou pode?

- Ah, gracinha, você podia ter pensado nisso enquanto se enrolava lá no banheiro. - Abro a boca para xingá-lo enquanto encosto a porta de metal atrás de mim, mas ele logo continua. - E é a casa do Hoseok, ninguém lá vai estar usando terno e gravata.

- Ninguém lá vai estar com cheiro de café também, eu aposto.

- Jimin gosta de café.

- Taehyung!

E no exato momento que me preparo para bater nele ou manda-lo ir tomar lá naquele lugar, uma chuvarada começa a cair do nada! Exatamente como se alguém tivesse ligado um super chuveiro sobre nossas cabeças! E, droga, esse é o mal de morar em cidade praiana: a chuva vem e vai como quer e quando quer, e raramente é só um chuvisco ou garoa, vem logo uma tempestade de uma vez e ferra com tudo.

Antes que eu possa sequer pensar em pegar a capa que tenho vaga ideia de ter colocado na mochila, Taehyung berra a plenos pulmões e meu coração quase para com o susto, mas volta a bater a mil por hora quando ele agarra minha mão e sai correndo pelo beco lateral em direção a rua. E eu nem consigo odiar ele quando, ao invés de descer em direção a minha casa, ele sobe em direção a de Hoseok, que é mais perto.

A chuva cai desgraçadamente ao nosso redor, e a confusão de guarda-chuvas pela calçada por conta do horário de pico não ajuda em nada na nossa travessia. Tae segura firmemente em meu braço e corre ao meu lado, rindo como nem um outro conseguiria, sacudindo os cabelos molhados para fora do rosto e balançando a mochila nas costas.

Quando finalmente paramos em frente ao portão de madeira de Hoseok, dou graças por ver que o da garagem, mais abaixo, estava aberto, e puxo Tae naquela direção. Passamos pelo portão e subimos uns degraus até chegar no jardim. Chegamos na sacada coberta em frente a porta e, antes que toquemos a campainha, alguém nos chama da garagem.

- Ei! Eu 'tava indo buscar vocês agora! - Era Jimin, falando de dentro de um enorme carro branco estacionado na garagem do Hoseok. - Por que vieram na chuva?

- Quem sabe foi porque você não avisou que ia buscar eles? - É Hoseok, meu melhor amigo que é praticamente um raio de sol, quem diz isso, ao abrir a porta da frente para nós dois. - Fecha esse portão e entra logo! - Dá a ordem a Jimin e, vendo que nós ainda estamos esperando com as roupas pingando sem parar, dá um grito, virando para a casa em seguida. - Espera aí, vou achar umas toalhas!

- Toalha é o cu dele, eu vou tomar banho. - Taehyung anuncia antes de entrar molhado mesmo e, quando Jimin surge na escada da garagem, entro em pânico e o sigo casa adentro, fechando a porta atrás de mim. - Quer o banheiro de cima ou o de baixo?

- O de baixo! Sobe você lá molhando o carpete da mãe dele, se tiver coragem.

- Eu subo mesmo, a tia me ama. - E segue para a escada, completamente imperturbado. Eu corro pelo corredor na lateral da sala, em direção ao banheiro na última porta, e aperto o passo ainda mais ao ouvir os berros de Hoseok com Taehyung no segundo andar.

Tiro as roupas molhadas e frias o mais rápido possível, tremendo com a temperatura do banheiro gelado ao entrar no box, finalmente tendo água quente nas costas. Suspiro de forma prazerosa, sentindo meu corpo relaxar pouco a pouco.

Enfim, após um banho rápido, me rendo e saio do calor do box, indo em direção ao piso frio do banheiro, mas congelo ao ver minha imagem no enorme espelho acoplado a parede, que fica na lateral do mesmo. Paro sobre um tapetinho felpudo, e não consigo pensar muito sobre o fato de estar deixando ele todo molhado enquanto me olho alí.

Eu não sou muito alta, mas também não sou considera baixa. Meus cabelos hoje decidiram que estão lisos, mas talvez fiquem ondulados de novo por causa de toda essa água que levaram, e parecem ainda mais escuros por estarem molhados. Meus olhos são arredondados, apesar de possuírem um formato bastante oriental. Meus braços e pernas são cheios, assim como meus dedos gordinhos, bochechas fofas e a base macia do meu abdômen.

Meu peso nunca foi um problema nas outras cidades e países, mas quando viemos para a Coreia isso começou a me incomodar de uma forma mais delicada, por conta do padrão de beleza. No ocidente, de modo geral, eu seria a famosa "nem gorda, nem magra".

Estou apertando a camada notável de gordura na lateral do meu quadril quando batidas na porta me fazem dar um pulo e quase cair no piso molhado.

- Bonhwa? Você tá bem? - É Hobi quem pergunta, suave. - Eu deixei suas coisas aqui a uns quinze minutos, mas você ainda não pegou.

- Coisas? - Consigo perguntar, ainda atordoada pelo susto que interrompeu meus pensamentos.

- Isso, as que você deixa aqui, sabe…

- Ah, claro. Já pego. Obrigada, Hobi.

- Bon, você nunca demora no banho aqui em casa. - Ele pergunta delicadamente, e eu percebo que ele está preocupado pois raramente fala com tanto cuidado assim. - Você não tá se olhando no espelho de novo, tá?

- Eu me olho no espelho todo dia. - Falo e, antes que ele possa esclarecer a questão, dou duas batidinhas na porta indicando que vou abrí-la. Ouço ele se afastar alguns passos e abro um vão pequeno, me escondendo atrás da madeira ao pegar a mochila e uma toalha felpuda que ele me estendia. - Valeu.

- Você entendeu o que eu quis dizer, Bon. - Suspiro derrotada enquanto me seco as pressas por finalmente estar sentindo frio por estar molhada e sem roupa. - Você não tava se martirizando, ou…

- Não, Hobi. Só tava esperando as roupas, não precisa se preocupar. - Visto as roupas íntimas que deixei aqui a algumas semanas, para situações como essa, e puxo a camisa fina de mangas compridas pelo tronco enquanto falo.

- Você jura que tá bem?

- Sim, preocupadinho. - Visto as meias e uma calça de moletom e, enquanto esfrego a toalha nos cabelos úmidos, abro a porta, me separando com ele concentrado e de braços cruzados no corredor. - Eu estou bem.

- Bonhwa

- Me dá logo uma sacola, eu quero guardar a roupa molhada que tirei antes. - Ele ainda parece pensativo quando recua dois passos, pega uma sacola da dispensa aberta e me estende. - Obrigada.

Ele chuta também um par de chinelos de pano, já que meu tênis também molhou. Coloco tudo na sacola e pego minhas duas mochilas - a que veio comigo da rua e a que deixo aqui -, e saio do banheiro, fechando a porta.

- Os meninos estão na sala agora, vamos jogar alguma coisa e esperar a chuva baixar para pedir a pizza. - Ele diz enquanto me segue pelo corredor. - Vai dormir aqui hoje? - Percebo, pelo seu tom de voz extremamente cuidadoso, que ele ainda está preocupado, mas está tentando respeitar meu espaço e mudar de assunto.

Hoseok foi o primeiro amigo que fiz ao me mudar para Busan, a dez meses atrás. Consegui o emprego na cafeteria algum tempo depois, e viramos amigos por ele ser um cliente assíduo e gostar das mesmas bandas antigas ocidentais que eu.

E é por ter feito parte da minha adaptação aqui que ele sabe tudo sobre minhas inseguranças e a luta diária que travo pela aceitação do meu corpo por conta delas. E é, também, por saber disso, que eu largo tudo que estava carregando no chão e me viro, abraçando-o carinhosamente. Ele, que é pego de surpresa pela demonstração de carinho não usual e bastante repentina, demora alguns segundos para retribuir o gesto, acariciando minhas costas.

- Eu estou bem, Hobi. - Murmuro contra seu peito, sorrindo para ele. - Por favor, não se preocupe comigo.

Ele suspira audível e me afasta pelos ombros, apertando suavemente os mesmos. - Eu... Ah, ok. Eu vou tentar me acalmar.

- Obrigada. - Ele franze o cenho mediante minha afirmação.

- Pelo que?

- Por se preocupar comigo, e com o entregador de pizza que teria que sair na chuva, e por todo o resto. - Sorrio conforme ele fica vermelho e recua, afastando as mãos de mim e coçando a nuca. - E não ouse falar que não é nada demais, ok? Pega aí­ uma mochila e me ajuda a carregar isso.

Ele ri alto antes de pegar a mais pesada - sempre gentil - e me guiar em direção as escadas. Deixamos tudo ao lado da porta, já que sua cama e escrivaninha estão ocupadas por outras quatro bagagens, e descemos as escadas em direção a sala de estar.

- Mas que inferno, Jungkook! - Ouço a voz de Tae primeiro, acompanhada de diversas risadas. - Você não pode perder nem uma vezinha que seja, sei lá, por pena?

Quando chego na porta, vejo Namjoon esticado confortavelmente no sofá maior e Jimin de pé atrás do sofá menor, de dois lugares, no qual Taehyung e Jungkook estão sentados com consoles na mão.

- Eu não, você que se vire. - Jungkook dá de ombros, visivelmente orgulhoso pela vitória e, quando Tae vira para acertá-lo com uma almofada, me enxerga e larga tudo que segura, levantando em um pulo.

- Bon! Eu preciso da sua ajuda imediatamente! - Tento não me encolher quando todos olham pra mim e sorriem de forma receptiva.

- O que foi? - Pergunto quando ele me alcança e me abraça de lado, guiando-me em direção ao lugar que ele ocupava anteriormente.

- Jeon Jungkook não pode ser derrotado por forças humanas comuns, então, por favor, derrote ele com a força do seu ódio. - Hoseok cai na gargalhada com a afirmação de Tae, que coloca o console na minha mão e senta no encosto lateral do sofá.

- Mortal Kombat? Há! - Eu tiro os chinelos do pé, sentando-me com as pernas cruzadas e a postura mais relaxada. - Agora você tá ferrado.

- Pelo amor, cuida desse controle, Bonhwa. Eu não tenho grana para outro não.

- Vocês querem que o Jungkook perca ou não? - Pergunto, arqueando as sobrancelhas e abrindo os braços, esperando as respostas.

- Sim! - Todos respondem juntos, menos Jungkook, que solta um "não" perdido em meio as afirmações alheias.

- Então relaxa e deixa a magia acontecer. - Digo, e Jungkook, que estava levemente encolhido no sofá, relaxa um pouco a postura e segura firmemente seu controle, entrando na onda.

- Isso nós vamos ver. - Ele pega o próprio console e eu posso jurar que seus olhos brilham com animação quando o jogo começa.

Perco três partidas consecutivas de forma miserável.

No final até ganho uma, mas acho que foi por pena.

Depois disso, a pizza - que foi pedida entre minha segunda e terceira derrota - chegou e todos nos sentamos pelos sofás, dividindo a atenção entre comer, dar muita risada e gritar com as outras partidas, que continuavam acontecendo.

- Mas então, Bonhwa... - Namjoon começa, depois de limpar a gordura dos dedos em um guardanapo e deixá-lo sobre a mesa. - Você viaja muito, pelo que os meninos disseram.

- Ahn? - Murmuro, pois não estava muito atenta a conversa enquanto assistia a revanche de Tae e Jungkook, que ia muito mal pro lado de Taehyung.

- Antes estávamos conversando e eles disseram que você já viajou bastante.

- Ah, sim. - Viro-me para ele, vendo que Jimin, ao seu lado, também estava atento a conversa. - Não são exatamente "viagens". Eu já morei por curtos períodos de tempo em cidades diferentes, em alguns países.

- Jura? - É Jungkook que pergunta, tendo a audácia de mostrar que pode derrotar Taehyung e prestar atenção na conversa ao mesmo tempo. - Parece legal.

-É, tem seus lados difíceis, mas é uma vida muito boa.

- Lados difíceis? - Jimin decide tomar parte também, enquanto Hobi, sentando comigo no chão, apenas presta atenção silenciosamente. - Como quais?

- Bom, eu nunca tive muitos amigos. - Cito, me ajeitando no tapete, escorando as costas entre as pernas de Tae, que estava sentado no sofá, atrás de mim. - Por causa das mudanças, sabe? Nunca estive solitária por não ser exatamente antissocial, mas também não tinha tempo para amizades verdadeiras.

- E é por isso que, todos os dias antes de dormir, ela agradece ao papai do céu por ter conhecido a gente. - Tae comenta com um sorriso aberto, desviando os olhos da tela apenas para piscar em minha direção.

- É, depende do dia.

- Como é a história? - Hoseok pergunta e eu dou risada, acariciando sua mãos no tapete.

- Você não, meu bem.

- Ah, é? - Tae me chuta de leve na costela, apenas para chamar atenção, e resmunga alto ao perder - mais uma vez - para Jungkook, que nem comemora mais, apenas se inclina e pega a última fatia de pizza na mesa antes de deitar no sofá, preguiçoso.

- E quantas línguas você fala? - O vencedor pergunta entre uma dentada e outra na pizza que ganhou justamente.

- Ao todo eu falo cinco: inglês, italiano e coreano fluentemente, hindi e espanhol avançado.

- Ah, nem vem. - Taehyung dá um tapa em minha nuca debochado. - Teu coreano é uma gracinha, mas não é fluente porra nenhuma.

- Eu sou coreana, seu idiota. - Viro os olhos, retribuindo o tapa em sua coxa. - Eu só não conheço algumas gírias porque morei fora muito tempo.

- A vida toda não é "muito tempo", é "todo o tempo". - Hoseok contraria baixinho, e os outros dão risadinhas enquanto eu o olho indignada.

- Até tu, Brutus? - Ele ri ainda mais, e Namjoon intervém.

- Agora que vocês falaram, é bem fofinha mesmo. - Meu queixo cai e eu cruzo os braços. - A pronúncia, eu digo.

- Ah, ela também é fofinha. Olha só essas bochechas! - É Jimin quem fala, e Taehyung cai na gargalhada.

- Olha só quem fala! - Jungkook aponta, e Jimin fica indignado.

- Você é bem bochechudo mesmo, Minnie. - Hoseok declara de forma bastante séria, analisando atentamente o amigo.

- Quando foi que isso se tornou sobre mim?

- Quando você começou a atacar a Bon de graça. - Tae explica e eu concordo.

- Eu não ataquei ninguém, só disse que ela é fofa, e ela é!

- Me chamou de bochechuda! - Eu me indigno.

- Hm… - Jungkook murmura e, antes que eu vire para ver o que ele quer, aperta minha bochecha direita com força. - É bem bochechuda mesmo, hyung!

- Jungkook! - Eu repreendo e sinto minhas bochechas queimando enquanto eles caem na gargalhada e Jungkook se encolhe no sofá, tímido depois de tudo.

A conversa segue mais alguns minutos, até que desistimos de jogar e ficamos apenas rindo, bebendo refrigerante e conversando. Em certo ponto, Hoseok aparece com cerveja, aproveitando que seus pais não estão em casa para xingá-lo por beber durante a semana.

Descobri que Jimin e Jungkook são tão íntimos e confortáveis um com o outro pois seus pais estão casados. E quando digo pais, quero dizer pais mesmo, e não a mãe de um e o pai do outro. Foi por isso que eles saíram de Busan a alguns anos atrás: o pai de Jungkook, que já era divorciado a anos, casou novamente, dessa vez com o pai de Jimin, e todos foram morar em Daegu, onde fica a sede da empresa Park.

O celular de Namjoon toca enquanto ele e Hoseok estão discutindo sobre um outro amigo em comum deles, e ele sai da sala para atender.

Enquanto ele vai, pego o celular e vejo que perdi cinco chamas da minha mãe, e tem algumas mensagens não lidas no chat dela também:

Mãe <3

| E aí princesa, tá afim de voltar para casa ainda hoje?

| Você tem sorte que Taehyung se importa com minha vida e me avisou aonde você tava, pq se dependesse só da sua boa vontade eu morria de preocupação.

| Eu sou nova, mas sou cardíaca, ok?

| De qualquer forma, vem para casa logo que seu tio vem visitar amanhã e eu não vou arrumar o quarto sozinha.

| Obs: sim, é no seu quarto que ele vai ficar, e eu não tô nem aí­.

| Vai atender essa merda ou não, menina?

Oi, mãe. Tô indo. Hobi vai me levar agora, tá bom? Te amo.|

- Ah, mas não vou mesmo. - Mal tenho tempo de mandar a mensagem quando Hoseok declara. - Eu tô bêbado, vai com o Taehyung.

- Ah, não, Bonhwa. Dorme aí­, eu tô cansado.

- Cansado de que? De ser um folgado? - Jungkook pergunta, falsamente incomodado com Taehyung, que está deitado em seu peito, abraçando-o como se fosse um travesseiro.

- Shhh, fica na tua aí­.

- Ora, mas...

- Gente, eu me fodi. - Namjoon anuncia ao parar na porta, voltando com o celular na mão e expressão derrotada. - Esqueci que tinha que pegar Jin no aeroporto, e ele acabou de chegar de Daegu.

- Ué, vai buscar ele?

- Bêbado, Jimin? - Balanço a cabeça. - Ele tá vermelho até a orelha!

- Obrigada, viu, Bonhwa. Ajudou bastante.

- De nada.

- Faz o seguinte! - Hoseok levanta, esticando as costas. - Jimin vai buscar o Jin e já deixa Bonhwa em casa, aeroporto é caminho e ele já morou aqui, conhece a cidade!

- Jungkook também conhece! - Jimin reclama, jogado de forma preguiçosa no sofá.

- Não, não. - Tae se manifesta, apertando o coitado do garoto com ainda mais força. - Jungkook tá ocupado agora.

- Ah, tá bom. - Jimin suspira derrotado e se levanta. - Vamos logo antes que Seokjin apareça aqui e arranque nossa pele.

Enquanto ele calça os sapatos, eu subo correndo a escada, passando por Hoseok e Namjoon, que brigam pois Namjoon quer ir junto e Hoseok quer que ele tome um banho para não receber Jin com cheiro de cerveja. Aparentemente, esse tal Seokjin é o namorado que Namjoon comentou ter mais cedo.

Pego minhas mochilas e a sacola de roupas úmidas, e decido ir embora com o chinelo de Hoseok mesmo, já que ele tem vários. Quando chego na sala, Jimin já está parado me esperando. Ele indica que vai descer para a garagem, que é subterrânea, e eu confirmo, vendo ele sumir no corredor.

- Tchau, Tae. - Beijo a nuca do garoto, que finalmente conseguiu o que queria e está deitado completamente em cima de Jungkook, que acaricia as costas dele com uma mão e mexe no celular com a outra. Tae resmunga uma resposta e eu me despeço de Jeon apenas com um aceno, já que não somos íntimos.

Grito um "tchau" para os outros dois da base da escada e Namjoon responde algo que talvez seja um adeus e Hobi me manda um beijo.

Só quando desço as escadas e ajeito as mochilas no banco de trás é que percebo que vou ficar sozinha em um carro com Park Jimin, mesmo que seja apenas por poucos minutos até minha casa.

Deus, tenha misericórdia de mim.

Me sentindo muito nervosa e agitada, abro a porta da frente e me sento no banco do passageiro.

Ele, que já havia aberto a porta da garagem e o portão maior, sorri charmoso ao dar partida no carro e começar a dirigir.

E, com todo respeito, que tesão.

Park Jimin relaxado, usando apenas uma calça de moletom e a camiseta que trocou mais cedo, encostado no banco enquanto dirige tranquilamente de volta para a avenida, acaba de se tornar meu novo padrão de beleza e eu não aceito discussões no assunto.

Quando chega na avenida principal do bairro, praticamente deserta pela madrugada, relaxa ainda mais a postura e eu preciso segurar um gritinho quando ele desacelera ainda mais e vira o rosto para mim, sorrindo doce com os olhos pequenos pelo sono.

- Sigo reto até a padaria, e então desço a direita, certo? - Quando franzo o cenho, ele sorri. - Foi Hobi quem me disse isso, tá certo?

- Ah, sim. Claro. - Ele sorri e volta a prestar atenção na estrada, mas não acelera.

Apesar disso, também não fala. Apenas vai em silêncio, recebendo pequenas instruções para seguir até em casa. Quando estaciona, eu seguro o suspiro derrotado por perceber que, poxa, ele só dirigiu devagar pelo sono, e não porque queria falar comigo.

Abro a porta e saio, também em silêncio, até a porta dos bancos traseiros. Quase dou um pulo quando Jimin a abre antes de mim, pois estava tão emburrada que não vi quando ele saiu.

- Aqui, bonitinha. - Ele sorri charmoso e me entrega as mochilas. - Por que essa carinha, hm?

Merda, merda, merda...

- Deve ser sono. - Sorri forçado e ele nega, fechando a porta e virando-se para mim outra vez.

- Não, não. - Ele então se aproxima, tão adorável quando possível com o rostinho cansado, e coloca uma bendita mecha de cabelo atrás da minha orelha. - Sono é a única coisa que me impediu de dar em cima de você o caminho todo. - Meu coração dispara e eu fico congelada quando ele acaricia a mecha até o fim, e finalmente se afasta. Ele sorri. - Essa sua carinha é outra coisa, mas já mudou agora, então tudo bem.

- E-eu…

- Mas não vou ficar triste por perder a chance de te conquistar hoje. - Ele interrompe minha gagueira repentina e inconveniente. - Eu visito muito Busan, e bem, você é amiga dos meus amigos. - Pontua, e eu não tenho reação nenhuma além de apertar as mochilas e olhar apavorada para ele. - Além disso, eu sou um cara bastante sortudo, e vou te ver de novo, garçonete.

E com isso, como se não tivesse dito nada demais, entra no carro e vai embora.

- Tchau, para você também. - Murmuro para a traseira do carro que segue de volta para a avenida e continuo ali pela quantidade indefinida de tempo que leva para minha mãe me ver pela câmera e começar a gritar através do interfone, pedindo se eu estou vendo uma assombração ou algo assim.

Me rendo, por fim, aos seus gritos, e viro as costas para a rua, pegando a chave para destrancar o portão enquanto continuo arrepiada, pensando na forma bonita que os lábios de Jimin se movem enquanto ele fala.


Notas Finais


Olá, Tomorrowers!

Esse foi, enfim, o primeiro capítulo do renascimento de Tomorrow. O que vocês acharam? Comentem!

Muito obrigada por ter lido até aqui, espero que tenha valho seu tempo!

Stream em ON e se cuidem! São tempos complicados e eu espero que essa fanfic possa trazer um alívio para vocês nesses momentos difíceis! Até semana que vem (quinta-feira, 20h)!

LEMBRETES:
• Favorite a Fanfic! É importante para mim.。*♡

• Eu respondo mais rápido no Twitter e meu user é o mesmo que aqui: Confira tia₇ #TomorrowFic (@ddaeclipze): https://twitter.com/ddaeclipze?s=09

• Tomorrow tem uma playlist! Não deixe de conferir!
Spotify: https://open.spotify.com/playlist/6i9b48wBscH6vs9dRtVz6j?si=VDgl3vsnRQ2lPpjaIDrYJw

• Eu sou infinitamente grata a você ter lido até aqui!

Tchauzinho! 🎹🐞

(Caso encontre algum erro de português, me mande uma mensagem para que eu corrija o mais rápido possível! Agradeço a colaboração! ♡)


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...