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História Tomorrow - Um Desentendimento de Cada Vez, Por Favor


Escrita por: ddaeclipze

Notas do Autor


Opa, opa! olha só quem chegou com 350 views? ehehehehe <3

Att supercedo pq tenho que trabalhar em dobro hoje! Desculpa qualquer coisa <3

Boa Leitura, amores!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Capítulo 14 - Um Desentendimento de Cada Vez, Por Favor


Fanfic / Fanfiction Tomorrow - Um Desentendimento de Cada Vez, Por Favor

Oh Bonhwa 🐞 Point Of View

A alguns passos de mim, apoiada na ilha central da enorme cozinha iluminada (em uma postura que certamente não condiz com a imagem de uma portadora de bilhões de wons), está minha avó. Ela, alegremente, come sua pratada diária de frutas frescas sem se abalar nem por um segundo com meus relatos trágicos, espetando as fatias com o garfo prata.

Na pia, minha mãe assume uma posição analítica (com mão no queixo, sobrancelhas franzidas e tudo mais) enquanto devora minhas palavras atentamente. Na tela do notebook, em uma chamada de vídeo, Taehyung também está bastante atento aos meus relatos - mesmo que devesse estar estudando as matérias que já deixou acumular em menos de dois meses de aula.

Pelos últimos quinze minutos, tenho relatado sem pausa o que aconteceu entre Jimin, Yoongi e eu, desde a história da traição à briga na festa, encerrando com os acontecimentos de ontem envolvendo Jimin e a carona.

Assim que concluo o monólogo, seguem-se longos minutos de silêncio enquanto todos digerem e pensam cuidadosamente no assunto. Batucando os pés no chão da cozinha muito branca e mordendo a pontinha dos dedos, tento controlar a ânsia por respostas.

A primeira que se manifesta, dando fim a minha tortura, é minha avó, que diz

- Quanta besteira.

Meus ombros murcham imediatamente. - Eu contei cinco histórias diferentes e é isso que você tem pra me dizer?

- Você não, mal educada. A senhora. - Corrige, paciente, enquanto agita o garfo em minha direção. - E sim, é isso mesmo.

Tae tenta abafar uma risadinha que soa alto do mesmo jeito. O repreendo com o olhar enquanto minha avó sorri de canto, discretamente satisfeita com a reação, e minha mãe continua pensando.

- Bem, eu acho…- Tae começa, passando a língua pelos lábios antes de falar.

- Não, não. - Corto imediatamente, estendendo a mão em sinal de "pare" à ele. - Você não pode achar nada.

- Ora, porque não? - Vovó questiona, comendo um pedaço de melão.

- É, porquê não? - Ele reforça, cruzando os braços e fazendo bico. 

- Porque você é amigo de Jimin e vai ser parcial na decisão. - Declaro o óbvio, virando os olhos dramaticamente.

- Besteira. - A mais velha repete, ficando em seu favor, por fim. Agitando a mão como se apagasse o que eu disse, come maçã e declara: - Essa é a minha casa e ele pode opinar sim, isso é uma democracia. - Ouço minha mãe soltar uma risadinha e penso estar sendo discreta até que ela completa: - E você não vira esses olhos para mim, Oh Bonhwa!

- Desculpa.- Coloco, assustada. Tae ri um pouquinho, também, e minha avó aponta para a tela onde o rosto dele é exibido, exigindo minha correção. Dessa vez, virando os olhos com gosto mesmo, arrasto a voz em um grunhido insatisfeito, dizendo: - O que você acha, Tae?

- Que ninguém tá errado. - Dá de ombros enquanto meu queixo cai. - Ponto, falei.

- Como assim “ninguém tá errado”?

Minha mãe finalmente esboça uma reação, mas esta não passa de um franzir de sobrancelhas, resmungando contra a decisão de Tae (pelo menos eu espero).

- Eu acho que o garoto tá certo. - Serim coloca, dando de ombros. - Ninguém está errado de verdade, a não ser o Jimin.

- Ei! - Tae  se ofende, espalmando a mão no peito. - Por que o Jiminie?

- Finalmente, o fim dessa aliança entre vocês chegou! - Comemoro, recebendo uma carranca dos dois. Jeonghwa ainda pensa, quieta em seu cantinho. - Para mim, tá todo mundo errado. Foda-se.

- Olha a boca, Bonhwa! 

- Desculpa, vó.

- Esclareça seu ponto. - Tae sugere.

- Certo. Vejamos, ahn…- Pensativa, puxo um banquinho posicionado ao redor da ilha, sentando-me onde posso ver todos. Levanto um dedo, iniciando a contagem: - Yoongi brigou com Jimin: errado. - Levanto outro, recebendo um acenar de Tae, que acompanha. Vovó come mais uma laranja e nem me olha, Jeonghwa pensa ainda mais. - Jimin beijou a namorada do “melhor amigo” e usou outra garota para provocá-lo sobre isso um ano depois: errado também.

- E você?

- Ah, eu tô certa em tudo. - Respondo. Tae franze o cenho e minha avó gargalha alto, engarfando um pedaço de pera: “essa é a minha neta!”.

-Por que? - Sem se importar com a reação exagerada de minha avó, Tae insiste, arqueando a sobrancelha bonita.

- Porque a história é minha, eu que sei.

- Ah, bom. - Provoca, virando os olhos. - Ainda bem que estamos sendo imparciais, não é?

- Esclarece a sua opinião de uma vez e não me enche, senão eu te desligo!

- Argh! Ok… - Sob minha ameaça de desligá-lo como se fizesse parte da máquina, apoia os cotovelos na mesa, aproximando-se da câmera enquanto pensa. - Jimin está errado pelo motivo que você citou, e Yoongi também…

- Você acaba de dizer que ninguém está errado. - Interrompo, acusando-o ao apontar o dedo para a tela. Dessa vez, minha avó concorda comigo.

- Eu ‘tô falando aqui, me dá licença. - Ele pede, inabalado. Serim concorda com isso também (provavelmente porque nem está ouvindo mais). Jeonghwa para de pensar, atenta a Tae, agora. - Eles estão errados, mas você também está, e isso alivia um pouco o erro deles.

- O que?! - Engasgo, pulando do banquinho e agitando as mãos no ar. 

- Eu também acho, amor… 

Dessa vez, a traição descarada vem diretamente de onde dói mais: minha própria mãe.

- Mãe!

- Valeu, tia! - Tae coloca, agitando os braços ao comemorar, girando as rodinhas da cadeira no chão. Minha avó com certeza não está mais ouvindo.

- E essa reviravolta toda se deve a que? - Exijo saber, batendo o pé e cruzando os braços.

- Ao fato de que você está considerando os acontecimentos da perspectiva do seu próprio umbigo? - Ele dá de ombros e cruza os braços atrás da cabeça em seguida, agindo com naturalidade. Preciso piscar algumas vezes enquanto deixo a frase se assentar, processando lentamente pelo impacto da situação de virando para mim.

- Como é a história? - Pergunto, genuinamente confusa (meio ofendida, também, depois de entender). Minha mãe muda de posição, olhando-me de forma amorosa ao intervir:

- O que Tae está tentando dizer, usando palavras péssimas, é que você não está considerando todos os lados, amor…

- Ou seja… - Vovó começa, finalmente posicionando o garfo no prato vazio. Depois de alongar as costas, apoia os cotovelos no mármore, finalmente olhando para nós. - Você está sendo egoísta, querida.

Durante longos segundos, não consigo nem me pronunciar. Apenas pisco, estática, passando os olhos de um para o outro. Quando penso em falar algo, minha mãe interfere novamente:

- Olha, filha… - Fala, andando devagar até mim, os olhos cobertos de pena ao passar um braço por meus ombros, puxando-me para si carinhosamente. - Tae falou, antes, que ninguém está errado. Ele disse isso porque todas as reações são compreensíveis ou justificáveis, e não porque ninguém errou.

- Como assim? - Pergunto em um fio de voz, aceitando o abraço enquanto sei que carrego um bico na boca, magoada pela conclusão inesperada dessa conversa. Eu queria apoio, poxa...

- Jimin e Yoongi tem uma longa história antes de você, amor. - Acaricia meu braço de forma vagarosa, confortando-me enquanto esclarece seu ponto. - É complicado, porque envolve mágoa e intrigas que você não pode controlar, e pode ter certeza que todas as áreas da vida deles são afetadas por isso, não somente o relacionamento dos dois com você, entende? - Assinto, e os outros dois escutam atentamente enquanto meu coração se aperta a cada palavra. - O que aconteceu sábado aconteceria mais cedo ou mais tarde. Ninguém devia sufocar intrigas por tanto tempo.

Tudo parece infinitamente pior por conta dessa atitude mais carinhosa/protetora de minha mãe. Ela agia exatamente dessa forma, na minha infância, quando eu fazia algo estúpido sem me dar conta, como raspar as sobrancelhas ou algo assim (não que eu já tenha feito isso, obviamente). Lembro de sempre sentir vontade de chorar, porque ela sempre agia com tanta pena que eu me sentia bastante idiota. Está fazendo isso, agora, ao aliviar a fala de Tae e me abraçar. Que ódio...

- Meninos tão doces, os dois… - Vovó coloca, brincando com as mangas do próprio casaco felpudo ao divagar, falando distraidamente. Quando olha em meu rosto, percebo o mesmo olhar de minha mãe, o que me fragiliza infinitamente mais. Agora elas são duas, meu deus... - Você não teve tempo de descobrir isso ainda, querida. Não pode odiá-los por dois meses de convívio.

- Olha… Eu não conheço Yoongi, mas conheço Namjoon, que adora ele, e sei que o cara parece legal mesmo.. - Tae dá de ombros, também entrando no movimento “vamos usar uma voz mansa para ela não chorar na nossa frente”. Ele exibe um sorrisinho fraco, inclinando a cabeça como se dissesse “sei lá”, todo fofinho. - Ele brigou, sim, mas isso não quer dizer que ele seja um bárbaro ou algo assim. Só que é um ser humano e que atingiu um limite

- E ao mesmo tempo, dá pra entender Jimin, também. - Minha mãe acompanha seu raciocínio, me balançando de leve. - Ele nunca teve a chance de explicar seu ponto… É normal que queira expressar a raiva e a mágoa, mesmo que de forma idiota.

- E você não tem culpa de ficar assustada ao cair no meio dessa desgraça toda. - Serim coloca, encolhendo os ombros esguios. - Suas reações são aceitáveis.

- Sua avó está certa, Bonbon. - Tae chama, sorrindo doce ao me olhar com tanta ternura. - Eu fui duro ao falar, mas não acho que você seja culpada, também.

Isso é tão confuso…

Passei as últimas vinte e quatro horas pegando fogo pelas atitudes de Jimin e extremamente confusa em relação a Min Yoongi, agora… Argh!

Resmungo ao ser abraçada com mais força, me encolhendo no aperto confortável enquanto tento sumir. É tudo tão estranho porque, ao mesmo tempo que consigo perceber a razão no ponto deles, continuo me sentindo abatida e irritada por tudo que aconteceu, bem no fundo.

Quero organizar os pensamentos, mas não quero continuar debatendo o fato de que fui mesquinha no meu comportamento, mesmo que sem intenção. Por isso, ainda encolhida, afasto o aconchego de minha mãe, estendendo os passos até a bancada e pegando o notebook em mãos. Vendo o olhar preocupado de Tae na tela, vinco as sobrancelhas ao anunciar, amuada:

- Vou para o meu quarto.

Ninguém protesta, e vovó é a única a se manifestar, dizendo que vai me chamar para um café mais tarde. Carregando o aparelho, sigo para as escadas, e estou pronta para me despedir de Tae quando sou impedida, na metade.

- Filha, olha aqui pra mamãe um segundinho…

Vejo Tae sorrir divertido e carinhoso ao ouvir isso, e paro nos degraus, girando com cuidado para encarar minha mãe que sobe até mim. 

- Amor.. - Ela chama uma vez mais, acariciando meu rosto antes de continuar. - Sei que você quer ficar sozinha agora, mas quero que saiba que: ninguém te acha uma pessoa egoísta só porque agiu assim, uma vez na vida. Assim como não achamos Yoongi violento por uma briguinha ou Jimin talarico por beijar aquela garot...

- Olha, na verdade...

- Calado, Kim Taehyung. - Não consigo conter a risadinha divertida que me escapa quando a vejo interromper ele imediatamente, antes que possa discordar. Ela me olha carinhosamente depois, sorrindo doce ao encolher os ombros, colocando as mão no bolso do suéter canguru que usa agora. - Enfim… Saiba também que, dessa mesma forma, ninguém vai te achar errada caso decida que, mesmo entendendo eles, não quer ter nada a ver com essa bagunça. - Aperto as sobrancelhas, pressionando os lábios ao encará-la, em silêncio. - Se quiser se afastar, é um direito seu, meu amor.

E com isso, beija minha testa antes de descer as escadas, agitando o rabo de cavalo em sua corridinha ritmada. Distraída em pensamentos, não sei exatamente quanto tempo passa até ouvir Tae dizer, condescendente:

- Ela tá certa, Bon…

- Achei que vocês queriam que eu entendesse eles. - Dou de ombros, voltando a seguir meu caminho até os corredores amplos do segundo andar.

- Só porque isso estava te deixando agoniada. - Ele responde, falando enquanto eu caminho. - Você tem que pensar em si mesma, também… Se não quer ser amiga deles, não precisa, entende?

Assinto, fechando a porta com o pé ao entrar no quarto e deitar na cama, deixando o notebook ao meu lado enquanto encaro o teto, apreciando a companhia silenciosa que Tae me oferece.

Ontem, quando falei com Jimin, lhe confidenciei que queria ser sua amiga, pois gosto muito dele, e por isso não queria ouvir a história: tinha medo da verdade.

Essa sensação mudou? Eu não quero mais ser amiga dele?

E de Yoongi? Eu quero me aproximar dele?

Ser racional assim é um inferno, ver as coisas como preto ou branco é um milhão de vezes mais fácil. Os tons de cinza podem ser muito confusos.

- Eu não sei, Tae… - Murmuro, fechando os olhos e cobrindo as pálpebras com o antebraço estendido sobre o rosto. - Que confusão...

É estranho porque, assim como disse minha avó, não conheço nenhum dos dois o bastante para julgá-los. Tenho, para basear meus julgamentos, apenas histórias e dois meses de convívio aleatório, o que não pode ser suficiente, de forma alguma.

Sendo assim, o que eu faço?

- Olha, Bon… - O garoto começa, fazendo seu timbre grave invadir meus pensamentos suavemente. -  Você não conhece eles, mas conhece pessoas que sim. - Ao abrir os olhos, vejo-o deitado também, encarando o próprio notebook ao torcer a boca, pensativo. - Se uma pessoa defende alguém que dez acusam, ela deve estar errada. Mas se dez defendem, talvez haja algo ali que valha a pena defender, entende? 

Assinto, abraçando meu próprio corpo ao deitar de lado e atentar em seu rosto pensativo. Ao invés de vasculhar minha memória em busca de pessoas que defendem cada um deles, decido me basear na que eu mais confio para isso, e me apoio no cotovelo esquerdo ao perguntar, receosa:

- Você acredita na história de Jimin? - Tae franze o cenho e abre a boca para questionar, mas me apresso em esclarecer logo: - Sobre Taeyeon, eu digo…

- Sim. - Sem exitar, responde.

- Por que? - Questiono. Tae pensa por alguns segundos. - Sabe, pode ser apenas o ponto de vista dele, alí…

- Eu conheço Park Jimin a quatro anos agora. - Começa, então deito de novo para escutar seu relato. - Ele ajudou Jungkook, que está comigo desde que me conheço por gente, em momentos que nenhum de ninguém mais pode. Eu poderia viver mil vidas e nunca agradecê-lo o bastante por isso. 

Meus peito se aquece e meus lábios se separam com o relato, sem saber realmente o que sinto ao ouvi-lo. Antes que eu precise pensar nisso, no entanto, prossegue:

- Em quatro anos, ele nunca fez nada que me fizesse acreditar que ele não é uma pessoa boa demais para esse mundo. No entanto, ainda é só isso: uma pessoa. - Continua, em um tom tão suave que parece estar acariciando meus tímpanos. - Já errou até aqui, e vai errar muito antes de morrer. E tá tudo bem, sabe? No final do dia, o que realmente importa é o que você faz com esses erros… Quem você é além deles. 

No silêncio que se segue, me sinto pequena e amuada outra vez, como na cozinha. Quando acho que finalmente vou começar a chorar, ele conclui seu relato, amolecendo de vez meu coração:

- Sei que disse que sua mãe está certa em dizer que você tem o direito de se afastar, e você tem, sabe? Ela ta certíssima nisso… Mas se quiser minha opinião, bem… - Inclina-se para perto, deitando na palma da própria mão contra o travesseiro. - Sei lá... Park Jimin conquistou minha confiança, e a de Hobi e Namjoon também. E olha que o cara é primo do Yoongi! - Coloca, animado, sobre o último garoto citado antes de sorrir doce e se aconchegar melhor na cama. - Talvez mereça uma chance de conquistar a sua, também.

Encarando sua imagem em silêncio, reflito sobre tudo que ouvi hoje. 

Minutos se arrastam enquanto pensamentos correm por minha mente, se embaralhando e dando nó antes de serem organizados, cuidadosamente, por minha consciência. Depois de quase vinte minutos inteirinhos (percebo pelo relógio do aparelho) sei que ainda resta muito para se pensar. 

Surpresa ao encontrar Taehyung de olhos abertos, ainda atento a minha imagem pensativa, parecendo meio preocupado, decido que talvez seja hora de agir um pouco e pensar menos. Guiada pela certeza leve que se enrola em meu peito, levanto o corpo, apoiando o peso no cotovelo outra vez ao colocar, subitamente agitada por uma ideia específica:

- Taehyung… - Chamo, mordiscando os lábios. Confuso pelo comportamento repentino, apoia-se da mesma forma que eu ao pedir que eu prossiga. - Você por acaso sabe o endereço de Jimin?

Um sorriso satisfeito e travesso é tudo que consigo ver antes que ele levante em um pulo, agitando os pés pelo quarto bagunçado.

- Vou pegar pra você.

Satisfeita com a decisão, por hora, deito-me outra vez, sorrindo de leve ao lembrar de suas palavras carinhosas. Talvez Jimin mereça essa chance, por fim.

Para o resto, preciso de mais tempo para pensar. Um desentendimento impensado de cada vez.

🐞

O final de semana passa se espremendo entre voltar atrás na minha decisão e então voltar atrás na decisão de voltar, também. Não saberia nem dizer quantas vezes fiz isso (parei de contar na décima).

Só sei que me peguei no caminho da garagem, pronta para pedir o carro emprestado e acabar logo com isso, em mais de uma ocasião. Mesmo assim, a segunda-feira chegou sem que eu saísse de casa.

Tae ficou furioso e Hobi, ao saber de tudo por meio desse fofoqueiro, disse que em meu lugar apenas deixaria tudo como está e seguiria em frente. Isso não ajudou em nada no meu balançar entre vou-resolver-essa-coisa-toda-agora-mesmo e vamos-ver-no-que-vai-dar

Então, no último minuto restante de domingo, decidi apenas deixar para falar com Jimin na universidade durante o dia seguinte, já que temos aula juntos logo no primeiro período. Ledo engano. Jimin não apareceu para esta aula.

Digo que não apareceu para esta pois, na hora do almoço, avistei seus cabelos escuros brilhando entre as cabeças no corredor. Mesmo assim, não tive coragem de fazer algo sobre isso.

Também não tive coragem de falar com Min Yoongi quando o avistei descendo a avenida. 

Nem mesmo quando ele congelou e separou os lábios várias vezes, fechando em seguida, ainda olhando para mim. Guiada pelo medo, juntei todas as minhas forças para não sucumbir ao seu olhar entristecido ao me ver seguindo na direção oposta.

Eu quero, de verdade, me resolver com ele também, mas existem muitas coisas para colocar no lugar antes que tome uma atitude.

Eu não sei como me sinto em relação a briga de sábado, e nem sobre tudo que sei sobre ele (que são coisas sérias demais para saber de alguém que nem mesmo tenho o número, ou algo assim).

A situação com Jimin se resume a um mal entendido, enquanto a de Yoongi se enrola em um milhão de outras cordas que exigem mais do que uma conversinha rápida para se alinharem.

Passo a tarde toda com o coração na mão e um nó na garganta. Anoto os detalhes de cada aula sem realmente prestar atenção nelas e ando de prédio para prédio no automático, também.

Ao anoitecer, estou pendendo a cabeça. 

Divago sobre o que fazer com o endereço de Jimin pesando no bolso traseiro em minha calça e tudo aquilo que Yoongi me faz sentir apertando meu coração.

Isso é normal, meu deus? Não pode ser...

Sem conseguir tirar nada daquilo da mente por mais de trinta segundos (sabendo que estou a, no máximo, alguns metros de distância deles), desisto de enrolar. Preciso fazer algo agora, ou vou ficar piradíssima. Que inferno!

No meio do estacionamento, solto o ar com força contra a brisa fria de inverno, vendo a vaga daquela moto vazia e nem um esportivo vermelho cintilando sob os postes. Decepcionada, aperto os lábios e pego o celular do bolso. Saindo do caminho dos carros, digito uma mensagem a minha mãe, avisando sobre a mudança de planos.

Meu polegar paira sobre o botão de enviar, e meus dedos tremem com a mistura de sentimentos que me sufoca.

Talvez por estar tão ansiosa ou talvez por não aguentar mais ficar sendo assombrada por essa coisa toda, apenas apago a mensagem, digitando outra em cima:

Me encontra no endereço que te mandei antes em 30 minutos, ok? |

Aproveitando o surto de coragem, mordo a boca com força ao colar a dita localização no aplicativo do Uber, chamando o carro antes de possa amarelar mais uma vez.

Dou um pulo na calçada quando o carro aparece a dois minutos de mim, provavelmente vindo de trazer alguém para as aulas noturnas. Desesperada, penso em cancelar, mas um segundo de excitação é o suficiente para a mensagem do motorista chegar: você é a garota de azul?

Tremendo, respondo que estou de vermelho, do lado esquerdo. Vejo o carro fazer a manobra mais a frente no mesmo momento. Merda.

Porque eu estou surtando mesmo, meu deus?

Mordendo a ponta dos dedos outra vez, balanço o corpo em um movimento rápido antes de acenar para o motorista, que encosta o carro diante de mim. 

Irritada com minhas próprias reações exageradas, entro na porta de trás, colocando o cinto e confirmando o endereço ao moço educado. O coitado provavelmente percebe meu desespero e pede se está tudo bem. Me limito a balançar a cabeça e dizer que sim, claro, estou ótima. Ele não aparenta cair nessa, mas também não questiona ao prestar atenção nas ruas.

A cada semáforo, sinto o destino se aproximando como uma sentença e meus pés batem ainda mais no chão. Quando o GPS indica que faltam apenas duas quadras, estou praticamente sacudindo as coxas e engolindo os dedos sem pena, gelada até os ossos.

Assim que as rodas param, meu coração para junto. Saio do veículo depois de me despedir. Antes que feche a porta, o moço pede, outra vez, se eu estou bem mesmo. Ele até pede se não quero que ele espere um pouco, por precaução.

Por sua gentileza, mesmo em meio a uma síncope nervosa, avalio a viagem como “5 estrelas”. Se todo Uber fosse assim…

O carro se afasta devagar, imagino que enquanto ele pensa se deve ou não me deixar aqui, nesse estado. Secando as palmas frias na calça jeans, atravesso a rua, gelando ao ver a pintura amarela na bonita casa com a numeração indicada.

Antes de pisar nas pedras que guiam até a entrada, respiro fundo e checo a hora, constatando que faltam apenas quinze minutos para ser socorrida por minha mãe (se é que ela não vai se atrasar).

As janelas grandes e iluminadas lembram olhos acompanhando minha aproximação, e minha espinha esfria quando, em um surto de coragem, fecho os olhos com força e toco a campainha ao lado da porta clara.

Por um segundo, nada acontece. Posso jurar que até mesmo a grama verde e as tulipas coloridas sob a janela pararam de se agitar sob o vento. Até que…

- Jieun! - Arrepiada, arregalo os olhos diante do nome feminino que é chamado por uma voz desconhecida. - É a sua vez de abrir a porta!

E se for a casa errada, meu deus do céu?

Consigo recuar um passo antes que outros ecoem, soando altos e rápidos dentro da casa.

- Não acredito que você tá sentado do lado da porta e me fez descer até aqui! - Uma voz feminina, bastante doce e infantil, soa pela madeira. - Francamente, pai…

- Tenho filhos para que?

- Doyoung! - Outra voz masculina, mais harmoniosa, repreende. - Não fala assim com a Ji!

- Isso aí, papai, me defende!

Opa… Dois papais?

Talvez eu esteja na casa certa, mesmo…

- Ei, vocês três… - Mais passos soam contra a madeira, e meu sangue explode contra as veias ao disparar enlouquecido pelo meu corpo, todo de uma vez. Recuo outro passo ao reconhecer a voz em um piscar de olhos. - Quem era, na porta?

Ah, mas que inferno.

- A gente não atendeu ainda. - A primeira voz masculina responde. - Já que está aí... 

- Eu mereço. - Jimin fala, e consigo ouvir meu coração batendo em meus ouvidos quando o som de uma chave girando soa.

Pelo amor de deus, vou cair mortinha antes de conseguir dizer qualquer coisa…

Antes que consiga pensar em correr ou enfrentar, a porta se abre, e a luz branca quase me cega enquanto meus olhos tentam focar em Jimin.

Lindo, é claro. Bonito como o próprio paraíso em cada detalhe.

Respirando rápido, abro os olhos com força quando seus lábios se separam e ele recua um passo, abrindo mais a porta ao me encarar com as íris brilhando.

- Bonhwa?

Meu peito sobe e desce rápido enquanto minhas mãos torcem o moletom, tentando controlar o suor frio. Meu deus, meu deus…

- Quem? - Mal consigo processar a nova voz que se une a cacofonia em meus pensamentos, fazendo Jimin dar um pulinho, fechando a boca também. Engasgo, limpando a garganta ao focar em Jungkook, que aparece atrás do irmão com um pano de prato no ombro largo. - Nossa! Oi, Bon!

Meus batimentos aliviam e meus ombros relaxam um pouco quando, como de praxe, sou puxada para um abraço carinhoso, sendo envolvida pelos braços firmes de Jeon. Pode parecer ridículo que apenas isso me ajude tanto, mas aperto ele com força ao respirar fundo, fechando os olhos firmemente e aceitando o toque.

- Faz tempo, né? - Ele questiona, acariciando minha nuca. A tranquilidade que isso trás quase me anestesia, então sorrio fraco, acariciando suas costas ao me afastar. - Você tá bem?

- Ahn… Tô sim. - Soltando seu corpo, sinto sua mão pesar em minha lombar, confortante. - E você?

- Também. - Fechando os olhinhos redondos, sorri docemente ao responder. - Mas vamos entrando, 'tá um vento gelado aqui fora.

Estaco no lugar, tensionando outra vez ao olhar, de novo, nos olhos bonitos de seu irmão, que continua parado na mesma posição. Segurando a porta, não parece nem respirar enquanto me encara, inexpressivo.

- Na verdade… - Limpo a garganta, torcendo os dedos mais uma vez ao sustentar seu olhar. - Preciso falar com Jimin.

- Oh… - Entendimento ilumina as íris escuras de Jungkook, que repuxa os lábios em um sorriso estranho que só pode dizer “vish, deu ruim”. - Entendi… Jimin?

Ao ser chamado, bate os cílios rapidamente e encara o irmão, agitando a cabeça ao soltar a porta.

- O que? - Fala alto demais, e meus ombros encolhem antes que eu perceba. Mas ele nota, é claro, e se arrepende na hora. - Quer dizer, sim… Claro. Vamos conversar na calçada?

A pressão em meu peito se desfaz apenas o bastante para que eu alivie a postura, assentindo devagar.

- Por mim, tudo bem…

- Ok. Certo. - Ele se balança, tirando o cabelo do rosto quando Jungkook me solta, seguindo para dentro. - Só deixa eu… ‘Pera aí!

Aponta para os próprios pés, mostrando as meias brancas contra o piso. Entendendo que ele quer um calçado, assinto outra vez, aguardando.

Assim que ele sai da porta, consigo ver seus dois pais empilhados no sofá com a irmã mais nova (que é maior do que eu esperava), olhando para mim como quem assiste uma novela. Minhas bochechas queimam e a garota arregala os olhos, estapeando o pai da ponta para parar de olhar. Contendo o riso de puro pânico, apenas entrelaço os dedos quando este se levanta em um pulo, seguido do outro, e vem até a entrada.

- Oi… - Cumprimento, em um fio de voz. 

- Oi, querida! - O de pele mais bronzeada e nariz impossível de confundir se a pronúncia primeiro, sorrindo de forma receptiva. - Tudo bem? Eu sou Jeon Daehyug, o pai número 1!

- Só na sua cabeça delirante. - O outro manifesta, exibindo a pele clara sob a luz branca, os olhos afiados como o do filho biológico virando em deboche. Cumprimento o primeiro enquanto isso, contendo a risadinha que sobe em minha garganta. - Prazer, querida. Eu sou Park Wooyoung.

- O outro pai. - Daehyung sorri, provocando o parceiro. Dessa vez, não consigo conter o sorriso ao vê-lo levar um beliscão por isso, e cumprimento Wooyoung em um aperto de mãos suave. - Ouch!

- O prazer é meu. - Escondo as mão nas costas ao me curvar educadamente. - Eu sou Oh Bonhwa.

- A gente sabe. - Daehyung sorri esperto, piscando um olho para mim. Arregalo os olhos enquanto Jungkook, que assiste tudo de perto, dá risada ao passar entre os dois, me estendendo uma mantinha peluda ao parar diante de mim.

- Aqui, Bon. - Ele sorri, colocando o tecido escuro em meus dedos. - Cobre as pernas se for sentar. A calçada é fria.

Sorrindo, me perco um pouco no ambiente ao encarar seus olhos fofinhos e agradecer baixo, aceitando a gentileza.

É incrível como algumas pessoas, mesmo sem tanta intimidade, são tão genuinamente confortáveis que conseguem acalmar todos os seus monstros em um piscar de olhos, ainda que sem intenção. Jungkook é uma dessas pessoas.

- Ok, galera. Acabou o show, certo? - Sem que eu queria, sinto meu sorriso sumir quando Jimin aparece tropeçando nas pantufas pretas, passando entre os pais ao vir até mim. - Já volto. Saiam daqui. Tchau.

- Esse aí é o mal-educado que você criou. - Daehyun reclama quando Jimin o empurra, tentando fechar a porta.

- Ah, é! - Wooyoung reclama, puxando Jungkook para entrar com eles também. Do sofá, a garotinha assiste tudo com os olhos brilhando. - Até parece que não é você que mima eles!

- Eles não, meu filho é um anjo.

- Eu sou mesmo. - Jungkook concorda e Jimin resmunga alto, empurrando-os outra vez ao jogá-los para dentro e bater a porta com força, sob ameaça de apanhar de Wooyoung mais tarde.

- O que eu fiz para merecer isso? - Ele reclama, descontraído, mas enrijece outra vez ao me encarar. Eu, que estava rindo de nervoso mediante a situação inusitada, travo também, apertando os lábios.

Por alguns segundos, nenhum de nós faz algo além de encarar o outro e piscar devagar. Jimin limpa a garganta, e juro que o som arranha minhas costas frias, então apenas me encolho enquanto o vejo colocar as mãos no bolso da calça cinza e inclinar a cabeça para a calçada adiante.

- Vamos sentar?

Sentar? Certo.

- Pode ser… - Murmuro, apertando o cobertor fofinho entre os dedos gelados. Sentar na calçada fria seria ruim em qualquer outro momento, mas levando em conta que minhas pernas estão tremendo como duas varinhas fracas, parece ótimo.

Sem trocar mais palavras, percorremos o curto caminho até a beira da rua. Jimin senta primeiro, esfregando as palmas nas coxas ao fazê-lo. Quando seus olhos pesam em mim, atrapalho-me em deixar o tecido que carrego entre nós e me sentar também.

- Sei que está frio aqui fora, mas eles não iam deixar a gente conversar em paz lá dentro. - Ele esclarece, sorrindo de lado, envergonhado. 

- Sem problemas. - Digo baixinho, encantada por seu comportamento tímido. No entanto, torço o rosto de leve ao sentir meus pelos em pé conforme a calçada esfria minhas pernas.

Que coisa mais gelada, meu pai…

Jimin parece perceber minha careta, pois arregala os olhos ao estender as mãos e desdobrar o pano, cobrindo minhas pernas antes que eu possa dizer qualquer coisa. Enquanto minas bochechas esquentam e fico de boca aberta, feito uma idiota, ele ajeita o tecido com cuidado, enrolando de leve em meus pés calçados.

- Assim deve melhorar. - No final da frase, pressiona os lábios e continua olhando para mim, agora mais de perto, ainda fora do cobertor. Engulo em seco sob seu olhar analítico e solto o ar devagar, apertando a barra da mantinha ao assentir.

- Obrigada, Ji.

Diante do apelido, sorri tão docemente que aquece meu peito.

- De nada. - Declara, de forma simples. A quietude se estende conforme continua olhando em meus olhos, ainda com certa ansiedade, mas aparentando mais calma.

Sem saber o que quero dizer, mordo os lábios, soltando-os devagar enquanto tento acumular coragem suficiente para falar. Abro a boca para quebrar aquela tensão enlouquecedora de uma vez só, lembrando que meu tempo não é ilimitado, no entanto, sou barrada por Jimin, que declama:

- Bonhwa… 

Entretanto, não diz mais nada, o que me dá espaço para me fazer ouvir de uma vez por todas. Esfregando as mãos, chamo:

- Jimin…

- O que você faz aqui, Bon? - No entanto, sou interrompida novamente. Encolhendo os ombros, torço os dedos, desviando o olhar do seu.

- Na verdade, eu não sei bem… - Corro a língua pelos lábios secos, umedecendo-os antes de relaxar os braços e abrir o bico de vez. - Olha, eu não vim pedir desculpas por quinta-feira...

- E nem deve. - Ele concorda, mas antes que possa desenvolver, atropelo a fala.

- Você foi um grande babaca. Não tinha o direito de me usar para atingir Yoongi e, se eu pudesse, te trataria mal outra vez. - Concluo, olhando-o nos olhos por fim. - Você mereceu.

Ao invés de raiva ou revolta, o que encontro em suas íris é conformismo.

- Eu sei, Bon. - Ele admite, sorrindo torto, envergonhado por outra razão agora. - Me arrependi antes mesmo de apanhar por isso. Sinto muito.

- Não vim aqui exigir suas desculpas, também. - Inclino a cabeça, dispensando seu gesto. - Tá tudo bem.

- Hm… Certo. - Ele torce a boca, e parece meio surpreso, também, olhando-me por entre os cílios finos. - Então…

- O que eu vim fazer é, bem… - Puxo o ar para dentro devagar, enchendo os pulmões antes de soltar rápido, suspirando. - Pensei bastante sobre o que sei a seu respeito. Uma decisão impulsiva na hora da raiva não é o suficiente para anular todas as boas coisas que você fez. Você é uma pessoa muito boa, Jimin, e cometeu um erro. Eu sei que não faria de novo.

Eu acredito que não faria, pelo menos. Estou apostando todas as minhas fichas que não. 

É tudo o que penso enquanto encaro a cerca viva da casa do outro lado do asfalto, sem pronunciar mais nada. Em silêncio, espero que Jimin diga algo, mas ele não o faz pelos longos segundos que se seguem. Confusa, viro a cabeça para ele e tomo um breve susto ao ver sua expressão.

Ele parece estar prestes a chorar. Os olhinhos brilham e os lábios estão separados em choque. 

Diante de meu olhar, engole em seco e pisca rápido, afastando aquele brilho suspeito das pálpebras.

- Você… - Abre e fecha a boca, lambendo os lábios antes de inclinar a cabeça na mais adorável falta de compreensão enquanto pensa. - Você acredita em mim, então?

E quando diz isso, sei que está falando sobre Yoongi e Taeyeon e a suposta traição.

- Sim, Ji. - Sorrio de leve, ao mesmo tempo tímida e fascinada por sua surpresa fofinha. - Não acho o que você fez certo, mas também não seria certo te odiar por isso.

- Você é a primeira pessoa que não me conhecia antes e pensa assim. - Confessa, sorrindo doce. - Eu tô muito feliz agora, Bonhwa…

Para ilustrar sua declaração, inclina a cabeça ainda mais ao passo que seu sorriso se abre como o sol surgindo por entre as nuvens depois de uma tempestade. Com as bochechas rosadas, fecha os olhos, completando o gráfico do sorriso mais encantador do mundo inteiro.

É impossível para mim, agorinha, pensar que não tomei a decisão certa. Como ele pode não merecer essa chance? Como pode não ser a pessoa mais amável do planeta Terra?

Jimin é encantador em cada mínimo pedacinho do seu ser. Por isso, sorrio de volta, inclinando-me em sua direção ao empurrá-lo de leve com o cotovelo, descontraindo.

- Emocionado. - Provoco, brincando com sua reação deslumbrada por algo tão leve quanto “ok, ainda quero ser sua amiga”. Ele ri alto.

- Se me acha emocionado agora, imagina quando souber que dormi sorrindo mesmo depois de levar um soco na cara, só porque beijei você.

- O que disse? - Arregalo os olhos, me afastando de leve, mas voltando quando seu braço envolve meus ombros, mantendo-me alí. 

- É isso aí que você ouviu. - Sorri, abobado, ao me olhar daquele jeito esperto. - Jungkook riu de mim a noite toda, porque eu tava todo idiota.

- Se ele acha graça da sua idiotice, deve rir o tempo todo, morando com você. 

- Ei! - Exclama, cutucando minha barriga com a mão livre. - Que complô é esse contra mim?

Com as cócegas, me inclino em sua direção, rindo baixinho. Paro, no entanto, ao que ele continua no mesmo lugar, e nossos rostos se aproximam com isso. Percebendo quando travo, assustada, sorri esperto, e o movimento faz com que meus olhos pousem em sua boca.

Leva um segundo para seu sorriso sumir e ele se inclinar para mim.

A última coisa que vejo antes de suspirar pesado, recebendo seus lábios nos meus, é sua franja escura escorregando sobre os olhos fechadinhos.

Eletrizada dos pés a cabeça, suspiro outra vez ao levar a mão ao seu pescoço, tocando a pele sedosa e encolhendo os ombros em agonia ao que sua mão toca minha nuca, sorrateiramente. Seus dedos frios eriçam os pelos da região e aperto sua pele ao inclinar a cabeça, deslizando os lábios nos seus. Satisfeito com a reação, massageia a pele sensível ao suspirar de volta, correndo a língua por meus lábios fechados.

O toque macio me faz separá-los imediatamente, recebendo o beijo com minha própria língua. Nisso, seu aperto se fecha de vez em minha nuca, prendendo os fios ao puxar minha cabeça para ter ainda mais espaço, esfregando a língua na minha com devoção.

Minha própria palma sobe a seus cabelos, e sorrio ao que sua pele arrepia e ele murmura em aprovação.

Sua boca tem gosto de pasta de dente, e o hálito refrescante consegue ser uma mistura deliciosa se somado ao seu beijo carinhoso e devoto. Contudo, consigo sentir sua delicadeza excessiva ao chupar minha boca, puxando o lábio entre os seus cheinhos e macios.

A sensação me desespera ao que sinto, por seu aperto e seus movimentos firmes, que ele não queria isso. Sem me segurar, chupo sua língua para minha boca, acariciando com meus lábios ao puxar seu cabelos e, sem exitar, chupar também seu lábio inferior.

E é somente quando seu suspiro se torna em um grunhido agoniado que entendo o porque do controle excessivo.

- Desculpa! - Digo imediatamente, descolando nossas bocas em um som estalado. E ele ri em seguida, tocando o lábio cortado com os dedos ao balançar a cabeça, divertido.

- Vai com calma, vampirinha. - Estreia os olhos, beijando meus lábios pressionados em receio ao sorrir uma vez mais. - Tá afim de beber sangue, hoje?

- Você é ridículo mesmo, sabia? - Me solto dele, apoiando a mão em seu ombro. Com os lábios vermelhinhos reluzindo e os olhos brilhando assim, consegue ser ainda mais bonito. Desgraçado.

- Você gosta, lembra?

- Lembro não. 

- Ah, não? - Provoca, sorrindo galanteador ao inclinar a cabeça, pensativo. - Porque eu lembro muito bem de você dizendo que gosta de mim e quer ser minha “amiga” e…

- Eu retiro tudo! - Belisco sua barriga ao ouvir seu descarado deboche com a palavra “amiga”. 

Não se pode mais beijar os amigos, não? Eu, hein.

- Ei, vampirinha… - Acaricia minha mão, ficando pensativo de repente ao olhar em meus olhos, sorrindo docemente. - Obrigada por vir até aqui. Eu tava muito nervoso, mas quis te dar um espaço.

- Você sempre vem atrás de mim, Ji. - Dou de ombros, arrepiando um pouco com o toque gostosinho se seus dedos cobrindo minha mão. - Foi Justo.

- Mesmo assim… - Encosta o nariz no meu, tão carinhoso que nem parece ser o mesmo Jimin que me grudou na parede de Johnny e agarrou minhas coxas com vontade. - Obrigada.

- De nada, Ji.

Ele continua sorrindo um pouco até que uma luz clara acende atrás de nós e apaga rapidamente. Assustada, viro para ver, e aperto os olhos quando vejo uma sombra se mexer na janela.

- Jimin, eu acho que…

- Eles estavam empilhados na janela e esbarraram no interruptor? - Ele coloca, parecendo decepcionado com a própria família quando caio na gargalhada. - Pois é.

- Eles são engraçados. - Digo, tentando aliviar a sua timidez que brilha escarlate nas bochechas fofinhas.

- Eles são terríveis! - Contradiz, rindo comigo ao virar-se para a rua outra vez. - Mas eu amo eles.

- Eu sei. - Sorrio, e então me lembro de uma coisinha. - Ei, quem é a garotinha?

- Jieun? - Pergunta. Confirmo, entretida. - Eu não diria que é uma “garotinha”, ela já tem 14 anos.

- É sua irmã? - Ele confirma. - Por isso é tão pequena.

- Ei! Você também não é gigante, ok? - Cutuca minha barriga outra vez, parecendo estar se divertindo com isso. - E ela nem poderia ter puxado a altura de mim, já que não é biológica.

- Ah… - Minhas sobrancelha sobem em compreensão. - Seus pais adotaram ela?

- Aham… - Ele sorri, completamente feliz com o assunto. - Faz um ano de forma oficial, agora.

- Uau! - Exclamo, sem conseguir me conter. - Ela foi adotada aos treze anos?

- Aham. A esperta conquistou meus pais  por ser tão educada e fofinha. - Sorriu divertido, balançando a cabeça. - Eles olharam para ela e não quiseram saber de idade e nem nada.

- Ela se adaptou bem? - Ele encolhe os ombros, pensativo.

- Tivemos cinco meses de adaptação antes de oficializar os papéis, sabe? Visitando o orfanato e saindo com ela. - Assinto, prestando atenção enquanto seus olhos vagam enquanto explica. - No início, ela resistia muito a nós, acho que por pensar que íamos trocá-la por um bebê.

- Tadinha… - Baixinho, deixo escapar. - Dá pra entender ela.

- Pois é, ela cresceu naquele lugar. Não devia ter mais esperanças. - Divaga, entristecido. - Quando viu que era sério, e só queríamos saber de ver ela, começou a se soltar. Ela levou quase um ano pra me chamar de mano. - Seus olhos brilham quando pousam em mim, e ele sorri deslumbrante ao tocar o nariz no meu, outra vez. - Foi o dia mais feliz da minha vida, eu acho.

- Mas porque ela é tão pequena? - Mudo de assunto, tentando conter a vontade absurda de beijar sua boca com força. Ele é tão fofinho. Desgraçado. 

Quer dizer, ela não é tão pequena assim, mas deve ter menos de 1,50cm, o que é relativamente pouco para uma menina à beira dos 15 anos. 

- Ela nasceu prematura, por isso foi abandonada. - Declara, tranquilamente.

Meu coração quase sai pela boca ao que arregalo os olhos, me afastando em um impulso forte.

- Jimin?

Para meu desespero, ele ri.

- Calma, Bon. - Acaricia meu braço, tentando me tranquilizar. - Eu sei que é horrível, mas isso é o passado dela. Jieun tem a nós todos agora. Nunca mais vai saber o que é estar sozinha no mundo.

- Eu sei, mas nossa… - Encolho os ombros, aceitando seu carinho. - É triste.

- Eu sei. - Ele concorda, e continua acariciando meu braço quando meu celular vibra no bolso.

Tenho vontade de xingar alto ao que percebo que minha mãe demorou muito mais do que meia hora para ligar. Bandida.

- Jimin, tá na minha hora. - Encolhida, me levanto, puxando a cobertinha para os braços ao fazê-lo.

- O que? Não! - Exclama, colocando-se de pé ao meu lado em um pulo. - Você não pode ficar para jantar? Te deixo em casa depois…

Diante de seu desespero para me manter aqui mais um pouco, me pego sorrindo abobada e balanço a cabeça devagar, negando, mesmo que não queira.

No mesmo momento, um carro vira a esquina adiante, iluminando as ruas com os faróis altos.

- Minha carona já chegou.

- Será que ela não quer jantar aqui também? - Tenta, sorrindo esperto ao piscar um olho em um careta engraçada. Sorrindo, enrolo o tecido e coloco-o em suas mãos, sentindo minhas pernas começarem a esfriar.

- Engraçadinho. - Por instinto, olho para a calçada em busca de algo que possa ter derrubado. Ao vê-la limpa, esfrego as palmas nas calças, e caio na gargalhada ao ver o biquinho irritado de Jimin.

- Eu queria ficar mais um pouquinho com você. - Ele confessa, falando baixinho ao cruzar os braços. - Quase não te vi essa semana.

- Emocionado… - Cantarolo, e ele rola os olhos ao avançar um passo e, em um piscar de olhos, grudar o biquinho fofo na minha boca.

Não passa de um toque carinhoso de despedida, mas agita cada pedacinho de mim em milhões de borboletas nervosas. Sorrindo, se afasta, e toca a ponta do nariz na minha pele uma última vez hoje ao recuar um passo e piscar, provocativo:

- Bobinha

Nervosa por ter sido descoberta em minha estupidez causada por sua presença, rolo os olhos também, e aceno para ele ao me afastar, de costas. 

- Manda um abraço pros seus pais.

- Se cuida, Bon. - Ele assente e pisca, observando a distância entre nós se estender. - Te vejo amanhã, vampirinha.

- E a lista de apelidos só aumenta. - Reclamo dramaticamente, sem realmente me incomodar com isso, agora.

Ele ri gostosamente conforme lhe dou as costas, seguindo para o automóvel. Ao ver minha aproximação, Jeonghwa avança com o carro, estacionando-o diante de mim.

- Bonhwa! 

No entanto, sou interrompida por outro chamado do garoto. Assustada, viro-me para ele que corre mais alguns passos até parar perto.

- O que foi, Ji?

- Olha… - Começa, tirando os fios sedosos da testa. - Não sei se você vai querer falar com Yoongi também, mas se for… Seja paciente com ele, ok? - E, para colocar a cereja no topo do bolo da conversa mais aleatória do mundo, completa: - Eu sei que temos essa relação complicada, e eu nunca vou perdoá-lo por não ter me dado a chance de me explicar. No entanto, não acho que ele seja uma pessoa ruim.

Perplexa pela declaração repentina e inesperada, pisco algumas vezes antes de me situar e responder, devagar.

- Eu também não acho, Jimin…

Ele sorri abertamente, confirmando com a cabeça.

- Ok, certo. Que bom.

- No entanto… - Sua expressão satisfeita derrete diante de minha colocação, e me olha ansioso por isso. - Não posso só ignorar que, além de te bater, foi muito estúpido comigo sem razão alguma e...

- Espera… - Me interrompe,avançando um passo e me olhando com a sobrancelha vincada, genuinamente confuso. - Como assim “me bater”?

Oh-oh.

- No sábado, Jimin. - Tento, inclinando a cabeça e franzindo o cenho, também. - Na festa.

- Sim, Bonhwa. Nós discutimos. - Coloca, arqueando a sobrancelha e apoiando as mãos na cintura. - O que tem isso?

- Jimin, vocês brigaram! - Exclamo, irritada com sua pose esquisita enquanto minha mãe espera. - Todo mundo viu! Sua boca tá cortada!

Ele me encara em silêncio, ainda contorcendo a expressão enquanto interpreta minhas acusações.

- Bonhwa… - Com cuidado, chama. - Minha boca tá cortada sim, mas por quê você acha que Yoongi é o responsável por isso?

Que porra de história é essa, meu deus?

- Jimin, vocês brigaram. - Agito os braços realmente perdendo a paciência enquanto o vento frio agita meus cabelos com força. Inferno - Ele admitiu para mim! Ele disse que perdeu a cabeça e te bateu.

A buzina soa alto, indicando a impaciência de minha mãe. Coitada, deve estar louca para deitar na sua cama. Infelizmente, não posso sair sem entender, então apenas me viro para o carro e peço mais dois minutos. Ela vira os olhos, mas não se move.

- Ele admitiu ter me batido?

- Sim, Jimin! - Exaspero, revirando as memórias em busca das palavras exatas. Ele disse, não disse? - Eu acho que sim…

- Bonhwa, eu não sei porque Yoongi faria uma coisa dessas. - Ele encolhe os ombros, inclinando a cabeça ao pensar. - Levando em conta que ele não fez isso.

O choque arrepia meus pelos e congela meus sangue nas veias. O apito soa em meus ouvido enquanto meus pensamentos se amarram todos em uma enorme bola sem começo nem fim, e tudo que consigo dizer, ainda travada, é:

- O que disse?

- Bon… Não foi Yoongi que me bateu. - Repete, e meus olhos se arregalam quando minha boca seca, os lábios separados em descrença e confusão. Como assim? 

- Quem fez isso, então?

- Foi a prima dele. - Esclarece, como se não fosse nada demais. E me deixa completamente desesperada ao lembrar a forma como tratei o garoto nos últimos dias. Meu deus... - Kim Jennie.

A última coisa que atravessa minha mente embaralhada quando disparo em direção ao carro, tropeçando entre meus próprios pés, é a imagem de Min Yoongi entristecido ao ser ignorado por mim ao longo da semana inteira.

Meu deus do céu, o que foi que eu fiz?


Notas Finais


PEGA FOGO, CABARÉ?

IRRAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA

UHSSUSUHUSAUSHASUHSAUUAS

Primeiro: Vocês acham que Bon tomou a decisão certa? Ela pensou com cuidadinho, mas todo mundo tem direto de errar, certo?

O que vocês fariam no lugar dela?

Hoje também tivemos uma apariçãozinha do Teco que amamos (<3) e muuuuuuita boiolagem JiHwa. Quem gostou comenta e quem não gostou também, a mamãe ta curiosa rsrrsrsrsrsr

E, POR FIM..........

O que vocês acharam dessa revelação no final?

Se quem deu a porrada no Jimin foi a Jennie, porque Yoongi não disse isso? E porque, afinal de contas, ela decidiu socar a cara dele?

APOSTEM SUAS FICHAS <3

Semana que vem a treta começa a ficar cabulosa (ou será que o certo seria dizer que piora ainda mais?)

Até quinta, meus bebês. Eu queria muito fazer umas atts duplas, mas troquei de cursinho e esse tá me comendo viva heheh :(

Depois do ENEM vou mimar muito vocês em compensação, eu juro <3

Vejo vocês na quinta-feira as 20h. SE CUIDEM!!!!!!!!! <3


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