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História Tomorrow - Um Lugar ao Sol


Escrita por: ddaeclipze

Notas do Autor


CHEGUEI CEDO HJ IRRA

Boa leitura <3

Capítulo 17 - Um Lugar ao Sol


Fanfic / Fanfiction Tomorrow - Um Lugar ao Sol

Oh Bonhwa 🐞 Point Of View 

A luminosidade machuca meus olhos recém despertos, e um grunhido arrastado escapa da minha boca sem que eu consiga pensar nele. Imediatamente, encolho as pernas, tentando parecer o menor possível debaixo das cobertas, enquanto escuto minha mãe gritar mais uma vez:

- Bonhwa, é sério, filha! Levanta logo!

Tento dizer "sai daqui, chata" mas o que sai é algo próximo de "nha-nhon-hum-hum" abafado contra o travesseiro macio. Ela bufa alto e eu mais ainda, virando os olhos sob as pálpebras e apertando os ouvidos quando ela começa a bater palmas. Bater palmas!

Sete. Horas. Da. Manhã!

- Para, mãe! - Dessa vez, consigo reclamar direito, embora minha voz esteja tão grave que nem parece minha. - Eu quero dormir!

- Vem, chata! - Insiste, e grito de raiva quando ela puxa a coberta, que agarro imediatamente. Revoltada, estala um tapa em minha coxa, mas mal consigo sentir por conta do edredom macio. 

O edredom macio e quentinho da minha cama macia e quentinha... 

- Você vai gostar quando chegar lá! - Quase choro de raiva quando ela continua falando e me tira de meus devaneios, insistindo na ideia maluca.

- É domingo, mãe... Vai dormir!

- Para de ser preguiçosa, menina, que saco!

- Mãe. - Falo seria, apertando as pálpebras fechadas com força. - Eu te amo muito, mas as vezes te odeio bastante.

- Você pode dormir no carro! - Ela insiste, ignorando minhas declarações. - E ir de pijama!

Puta merda...

- Para onde a gente vai, desse jeito? - Abro os olhos, resmungando alto quando o feixe de luz que escapa da cortina quase me cega. - Argh! Que ódio.

- Para um lugar legal! - Ela se anima, dando um gritinho no fim que chega a arrepiar minha nuca. Piradíssima em suas ideias, ela faz pior: pula na cama.

- Mããããe! - Arrasto o grito, lamentando com todas as minhas forças enquanto agarro o travesseiro, me deitando de bruços e escondendo o rosto ali. - Eu vou chamar a polícia!

- Chama! - Ela debocha, sacudindo toda a estrutura do quarto enquanto pula de um lado para o outro, errando minhas pernas por pouco.

- Eu vou chamar a sua mãe! - Corrijo, gritando alto contra a maciez que me cerca.

Ela para de repente.

- Você não ousaria.

- Me testa, para você ver!

- Chata! - Sinto a cama balançar mais uma vez quando ela deita do meu lado, esticando os braços e as pernas para cima de mim. Como é insuportável, meu pai... - Filha...

- O que foi, mãe?- Ela faz silêncio por longos segundos, e minhas pálpebras pesam deliciosamente enquanto o sono se arrasta devagarinho pelos meus músculos.

Quase grito quando ela afunda o dedo magro em minhas costelas, me cutucando sem pena e cortando a sensação gostosa de cair no sono.

- Levanta aí, faz o favor. - Ela chama, cutucando ainda mais. Me contorço para longe de seu toque, gemendo ao chegar na ponta gelada do colchão e odiando ainda mais quando ela começa a usar as duas mãos para fazer isso. - Filha...

- Tô não.

- "Tô não" o que, menina? 

- Ah, ok, ok... - Com a voz abafada, empurro suas mãos para longe e, sentindo uma leve tontura, me sento, empurrando a coberta até a cintura. - Eu vou! Pode descer que eu já chego lá.

Quando olho em seu rosto, não vejo a expressão vitoriosa que esperava, então deixo meus ombros caírem e bufo alto ao ver seus olhos estreitos em minha direção.

- Você não achou que eu ia cair nessa, não é, joaninha?

- Eu tô com sono, ok? - Empurro a coberta até os pés em chutes furiosos, e não deixo de grunhir a cada movimento que preciso fazer para me colocar de pé, ainda sob seu olhar irritado. - Não pode me culpar por estar idiota.

- Ah, tá... Que seja! - Ela estala tapas com força nas duas coxas simultaneamente, colocando-se de pé também. - Agora vamos indo que essa sua brincadeira aí já me custou meia hora!

- Ah, não... - Resmungo alto e ignorando sua indignação, apenas arrasto os pés em direção ao banheiro. - Eu vou tomar um banho e...

- Mas nem que você me pague! 

- Ei!

Em um pulo, agarra meu braço. Ela me arrasta em direção a porta do corredor, sem ligar para minhas reclamações enquanto resmunga alto:

- ... e vamos sem reclamar que nem você vai estragar meu dia hoje, chata!

- Mãe!

Ainda me ignorando, abre a porta do corredor e me puxa em direção ao primeiro andar. Tropeçando nos tapetes e escorregando com as meias no chão encerado, tento não levar um tombo ao esfregar os olhos e ser carregada por ela.

Sério... Nessa palhaçada que ela tem de ficar me acordando cedo no final de semana, ainda vai conseguir me matar!

- Entra aí. - Ela anuncia após abrir a porta da frente e, sob o olhar confuso da empregada, me empurrar em direção ao carro.

- Mãe...

- Não, você não pode tomar banho e nem café da manhã e nem arrumar esse cabelo horrível...

- Eu ia pedir se posso ir no banheiro ou você prefere que eu faça xixi no banco do seu ca... - De repente, me dou conta do que acabo de ouvir e aperto os olhos, firmando as mãos na cintura. - Como assim cabelo horrí...?

- Ahn... - Ela arregala os olhos, coçando a nunca e dando a volta no veículo. - Vai no banheiro logo, vai! Se demorar mais que fico minutos, te arrasto sem pena!

A mãe do ano, senhoras e senhores...

Não faço questão de ceder a ameaça, pior isso levo todo o tempo do mundo no percurso ao banheiro. Depois de me sentir aliviada e mais desperta ao lavar o rosto e escovar os dentes, procuro uma pantufa pela casa e só então retorno ao veículo, onde a patroa me espera furiosa.

- Se eu ganhasse um real para cada atraso seu... - Resmungando, espera que eu coloque o cinto e dá a partida, fazendo o motor ronronar e o ar-condicionado circular pelo espaço. - É foda.

Não resisto ao impulso de rir de seu mau humor ao que me aconchego um pouco mais, inclinando o banco para deitar mais confortavelmente. O cinto atrapalha, mas não é como se algo pudesse me impedir de dormir agora.

Depois de voltar para casa às quatro horas da manhã e cair na cama feito pedra, seria preciso mais do que essa encheção de saco para me manter acordada antes do meio dia.

Olhando para a cidade que passa em um borrão pelo vidro da janela, ignoro o cantarolar animado de Jeonghwa ao sorrir de leve, toda idiota ao lembrar da noite anterior.

Quer dizer... Foi gostoso ter Jimin esmagando minhas coxas e beijando meu pescoço com vontade, mas não é como se fosse a primeira vez que isso acontece. Aquele cara adora minhas coxas. Então o que me faz sorrir toda abobalhada enquanto quase caio de sono e sinto a cabeça latejar contra o vidro, logo cedo pela manhã de domingo, é outra coisa.

São outras coisas.

Uma delas, por exemplo, é lembrar de como foi bom ver a família amorosa que Jungkook e Jimin possuem, apesar de todos os empecilhos. 

É lembrar de Lisa me seguindo pelo salão, assumindo uma tarefa que não era sua ao me ajudar, quando podia estar apenas descansando... E também de como Namjoon botava o pé no caminho para ela tropeçar, e ela caía toda vez.

Sorrio um pouco mais ao lembrar das borboletas girando em meu estômago a cada olhar atento de Jimin, e de como tudo parece mais feliz quando ele sorri daquele jeito todo iluminado, e seus olhinhos se fecham por causa das bochechas fofinhas que só ele tem.

O que me deixa abobada é perceber que depois de toda aquela confusão, passei longos minutos escorada em um banco de carro, ouvindo Jimin falar sobre sua família ou qualquer outra coisa ao redor. E também sentada em uma pia gelada e muito dura de lavabo, finalmente podendo conhecer Min Yoongi porque ele quis que eu o fizesse.

Ainda sorrindo, fecho os olhos e sinto o ar quentinho me envolver com o balanço do veículo enquanto deixo as memórias me aquecem ainda mais.

E eu amo tudo isso, mas o que realmente me embala ao sono tranquilo é a imagem de minha mãe sorrindo emocionada ao ver a amiga realizando o sonho da filha e depois gargalhando alto na cozinha, massageando meu pé dolorido e enchendo a boca de massa verde.

Sorrindo ainda mais, adormeço ao ouví-la cantarolando alegre e ter a certeza de que, depois de toda aquela madrugada tenebrosa que vivemos após a morte de meu tio, finalmente estamos construindo nosso lugar ao sol.

E o "amanhã" que chegou com o nascer do sol não podia ser melhor até então.

🐞

- Mãe! - Grito, correndo até o centro do gramado que nos cerca dentro dos muros altos e gargalhando alto ao contemplar a estrutura da nossa casa nova. - Isso é sensacional!

- Eu disse que você ia gostar.

Eu devia ter escutado.

Os dois andares se estendem acima de mim em um glorioso tom de branco, que contrasta perfeitamente com a porta escura de mogno. O gramado não é gigantesco, mas é perfeito para reservar espaço para um banquinho e algumas decorações.

Girando sob os calcanhares, sinto meus olhos brilharem ao verem os pontos de luz em diversos lugares, indicando que a casa deve ser um espetáculo à noite, com tudo aceso. A cerca viva sobe até cobrir o muro alto, e me sinto meio triste ao saber que as belíssimas flores que decoram o espaço abaixo das janelas e acompanham o caminho até a entrada vão morrer em uma semana.

Nós somos péssimas com plantas, tadinhas...

- Você quer entrar ou vai morar no banquinho?

- Abre logo! 

Com meu pedido, Jeonghwa gargalha alto, abrindo a porta e revelando o cômodo de entrada com paredes amarelas. Sem conseguir conter, rio junto com ela. 

Eu já estava mesmo imaginando onde estavam todas as cores que ela sempre quer colocar em tudo.

Ela percebe do que estou rindo e ri ainda mais, e empurra meu ombro como provocação.

- Presta atenção! - Ela chama, e indica duas portas de vidro a nossa esquerda, na parede exposta às dos armários de calçado e casados que estão alí. - Esse é o meu escritório!

Animada, assisto-a abrindo ambas as portas de uma vez, exibindo as paredes verde água. Duas poltronas estão disponíveis ao redor de uma linda mesa de vidro com uma pilha de pastas no centro, que ela explica serem seus portfólios. 

A janela é gloriosa e ocupa quase toda a parede, e as lindas cortinas escuras combinam com a mesa de mogno ao fundo da sala, com duas poltronas adiante e uma maior ainda atrás.

Mal tenho tempo de comentar antes de ter o pulso dolorosamente apertado e ser carregada de volta para o hall de entrada. Dessa vez, ela abre as outras portas de vidro, que são de correr.

O que se estende diante de mim, agora, é a sala de estar mais bonita que o mundo já viu.

Paredes rosa pastel com estofados claros e mesa de centro escuro. A lareira de mármore e televisão de tela plana dão o toque moderno, mas o que realmente chama atenção é a prateleira enorme de livros que fica sob a escada, e o piano ao canto.

- Até parece que a gente toca alguma coisa.

- É chique, ok? - Ela defende a compra, e aponta para uma entrada diante. - Vem ver o resto logo!

Ela tagarela sobre cada tipo de madeira e a composição de todos os móveis ao me arrastar de cômodo para cômodo. O papel de parede da sala de jantar com uma mesa para doze lugares é lindo, e a cozinha de paredes laranja e armários escuros tem potencial para ser perfeitamente funcional, se a gente ao menos soubesse cozinhar.

Depois de conhecer os fundos, onde há uma grande piscina feita sob medida e mais grama para morrer sob nossos cuidados, quase choramos subindo a escada de vinte e poucos degraus (fala sério, cansei só de olhar!).

O segundo andar tem abertura para o primeiro, que parece ainda mais bonito visto de cima. As paredes têm a mesma cor rosada das da sala, e o banheiro é a primeira porta vista. 

Mármoreo, compacto, bonito. Fácil de limpar.

Tudo que um banheiro precisa ser, aleluia.

O quarto dela é a única outra porta vista, e tem o próprio closet e, de quebra, uma banheira. A cor é tão amarela que quase queima meus olhos, e a vista da sacada é da vizinhança pouco movimentada e do jardim da frente.

No fim do corredor, finalmente, outra escada.

Subo correndo pelos degraus polidos e escorrego no topo, mas não caio pela força de vontade.

No fundo, ela indica, é a porta do meu quarto.

- Mas antes... - Ela chama, apoiando a mão pálida na maçaneta da primeira porta a vista e sorrindo abertamente para mim. - Vem aqui.

Receosa, ando até ela, e sorrio de orelha a orelha ao ver o cômodo que se estende.

- Você fez mesmo...

Paredes verde escuras, espaço de sobra e um pequeno guarda-roupa diante da cama de cada um. Na cama da direita, cobertores grossos, e na da esquerda, apenas alguns edredons e vários travesseiros de diferentes formatos.

Exatamente como Taehyung e Hoseok, respectivamente, gostam de dormir.

- Você acha que eles vão gostar? - Ela pergunta, encolhendo os ombros e mordendo os lábios com força. - Não é nenhum tobogã com sala de cinema, mas enfim...

- Ei! - Chamo, cutucando sua costela para ter sua atenção. Receosa, levanta os olhos para mim, sorrindo em expectativa e nervosismo. - Eles vão amar, mãe.

- Ainda bem.

Finalmente, deixamos o cômodo para trás e seguimos para  o final do corredor. A outra porta no espaço leva a um banheiro idêntico ao do primeiro andar, mas mais espaçoso, que tem abertura para os dois quartos.

Para o meu, que está diante de mim agora.

Ela abre a porta e eu prendo a respiração, sem conseguir pensar em nada quando vejo o sonho de qualquer adulta bem alí.

A primeira parte, que é separada da segunda por uma parede que parece uma enorme estante feita de bloquinhos, tem paredes brancas e uma mesa enorme, que já contém meu computador, além de diversas canetas e cadernos novinhos. A cadeira redonda parece uma poltrona com rodas e tem almofadas fofas até o topo.

- Sei que você gosta de estudar confortavelmente. - Ela comenta ao me ver acariciando a poltrona ao encarar os quadros de avisos disponíveis, perfeitos para organização dos meus horários. A segunda parte é ainda melhor. - Ouvi dizer que paredes brancas ajudam a estudar, mas você não precisa disso aqui.

Ao contrário da cor anterior, as paredes do espaço com a cama são pretas, escuras como eu gosto, e parecem refletir tons de azul conforme a incidência do sol.  As cortinas cor de vinho são pesadas, e a televisão de tela plana só pode ser cortesia dos meus avós (quer dizer, além de todo o resto).

A cama é cheia de travesseiros e tem um edredom felpudo por cima. Bege, para destoar das paredes escuras. 

Já estou quase chorando quando ela apoia a mão em minhas costas e, com os olhos também lacrimejando, aponta para uma curva ao canto.

- A melhor parte vai estar no closet, amorzinho.

Confusa, franzo as sobrancelhas ao seguir para lá, e deixo as primeiras lágrimas rolarem ao ver o que tem ali, através da porta aberta 

O espaço é pequeno, e a porta é coberta um um lindo mural cheios de fotos dos meus amigos, tanto dos antigos, quanto a única selfie que tenho com Lalisa, além de dezenas de outras com Hobi e Tae.

Mas o que me faz chorar a ponto de soluçar não é isso. Tampouco é o espaço pequeno e bem organizado, que obviamente está vazio.

O que me faz debulhar em lágrimas é o sorridente motoqueiro que chora em meio ao sorriso, abrindo os braços cobertos em sua jaqueta de couro ao tirar os cabelos do rosto e anunciar, com os olhos verdes brilhando:

- Surpresa!

- Pai! - Correndo, me jogo em seus braços, e caímos de joelho quando ele solta uma gargalhada, puxando mamãe para nos abraçar também.

E é ali, no abraço acolhedor que apenas as duas pessoas mais importantes do meu mundo poderiam me oferecer, que choro de alívio.

De alívio porque, finalmente, depois de anos e anos viajando e vivendo em todos os lugares possíveis sem rumo definitivo, temos a nossa casa. 

Eu e minha mãe, com lugar para Tae e Hoseok e a inauguração com a visita do primeiro homem que eu amei.

Nossa.

Nesse exato momento, começo a rir em meios as lágrimas que escorrem sem parar, e me deixo ser esmagada em meio aos dois que fazem a mesma coisa, porque sei que nunca mais vou ter aquele pesadelo.

Finalmente, pude me livrar da mala.

Com isso na mente, em meio a minha tempestade de lágrimas, sorrio com minha euforia.

Acabo de encontrar o meu lugar ao sol, e o amanhã nunca foi tão bonito antes quanto pode ser agora.

🐞

Uma semana passou voando.

No mesmo dia em que conhecemos a casa, voltamos para buscar a parte final da mudança e meus avós trouxeram a cozinheira para fazer um jantar digno de rei. 

Meu pai ajudou a organizar o closet, a fazer as compras do mês e, depois de tudo, nos surpreendeu ao que se hospedou no quarto dos meninos, a mala esparramada na cama de um enquanto dormia todo esticado na do outro. Ele ficou durante todos os sete dias que se seguiram.

Visitou a universidade, almoçou todos os dias comigo e fez questão de conhecer cada um dos meus amigos nesse tempo. Ele estava em Seul para negociar um anexo da empresa do pai aqui, e pediu esse pequeno período de férias em Daegu para descansar conosco.

Sete dias parecem muito pouco, mas para quem está acostumada a algumas horas, foi uma pequena bênção do tamanho do universo.

Graças a ele, a grama e as flores sobreviveram... Por enquanto.

Infelizmente, ele teve que partir no fim do período dessa semana. 

- I'm walking on sunshine... Oh-oh!

Aumento o volume, deixando o clássico preencher meus pensamentos enquanto ando aos pulinhos pela casa, seguindo para a garagem, onde dois carros ainda estão.

Minha mãe tem o próprio escritório em casa agora e, como chegou ao fim de seu projeto principal (a casa em si), não precisa mais acordar cedo.

Sobrou para mim a missão de me levar a universidade.

Assim que entro no carro - que agora é um volvo (um modelo ainda muito caro, mas infinitamente mais barato do que o avião que tinha antes) -, solto o volume a toda, deixando o volume preencher o automóvel enquanto prendo o cinto e a garagem abre.

Dois dias atrás, meu avô decidiu me ajudar a dirigir. Meu pai ficou puto da vida, já que ele mesmo queria fazer o serviço. De qualquer forma, parou de reclamar quando levou ou tabefe na nuca - cortesia de minha mãe - e aceitou que era a vez de meu avô.

Dowon pareceu meio bolado ao ver que eu estava dirigindo bem melhor do que ele imaginava, mas acabou aceitando que, pelo menos, me ajudou a relembrar. Foi muito mais divertido do que eu imaginava que seria.

Conforme guio o carro pelas ruas de Daegu, não poderia estar sorrindo mais. Nos últimos dias, sinto que minhas bochechas estão doendo o tempo todo - dessa vez, não por estarem queimando de vergonha, não. Nunca estive tão feliz em toda a minha vida.

Então sim, meu humor combina perfeitamente com "Walking On Sunshine", que está em repetição enquanto me balanço e canto sem me conter. 

Estou andando ao sol... E a sensação é ótima!

Nesses últimos dias, pelo campus, mantive a rotina de antes: almoço com Lisa nas terças e quintas e com Jimin nos outros dias; estudo na biblioteca ao fim dos períodos e às vezes um pouco antes deles começarem, como hoje.

Ao chegar, estaciono próximo a biblioteca, vendo que apenas alguns carros já estão por ali. Depois de alisar o volante, ainda completamente apaixonada por meu veículo com cheirinho de novo (e de café, mas isso foi um acidente) antes de sair para a manhã ensolarada.

Sol, sol, sol...

Com a mochila às costas e chave girando na mão, sigo para o grande prédio de tijolos bonitos que brilha diante de mim.

Passo pelas portas grandes e, quando estou prestes a seguir para o segundo andar, onde fica o que me interessa, ouço alguém me chamar.

Sorrio abertamente assim que reconheço a voz que se tornou tão calorosa nesses dias.

- Yoongi! - Antes de alcançar o corrimão, giro para ele, vendo-o parado no meio do saguão, vindo da entrada. - Oi!

- Oi, sorriso. - Ele brinca, inclinando a cabeça ao andar até mim.

Diante de seu próprio sorriso e do apelido que recebi por estar radiante esses dias, preciso morder a boca para conter o sorriso retardado que estava prestes a se abrir.

Ele para diante de mim, exibindo as bochechas cheinhas que tem esse brilho saudável e os fios platinados, que estão com a raiz cada vez maior.

- O que faz aqui tão cedo? - Pergunto ao apoiar as costas no corrimão, tentando não corar com seu olhar que não deixa o meu.

- Estava na casa de Namjoon hoje, e ele é um rato de biblioteca. - Vira os olhos, dramatizando. - Então vim acompanhá-lo até aqui.

Aceno com a cabeça em compreensão. Então é por isso que, ao invés de usar um terno completo, está apenas com a camisa, o sapato social e a calça.

Lindo, é claro. O que não é novidade para ninguém.

- E vai para casa agora? - É o que pergunto, evitando deixar um elogio escapar.

- De jeito nenhum! -  Ele responde, balançando a cabeça e rindo de leve. - Vou tomar um café agora.

Fico meio idiota ao ver sua franja sacudir discretamente com o movimento. Corro a língua pela boca que parece seca, de repente.

Eu amo quando sua mãe não está por perto, por que ele só deixa a franja cobrir a testa quando isso acontece... E ele fica tão mais bonito assim.

Ele parece mais confortável, também.

- Ahn... Eu acho que vou depois, também. - Aperto os lábios e desvio o olhar, esperando que ele não tenha percebido minha demora para responder.

- Não quer ir agora, comigo?

- O que?!

Arregalo os olhos ao perceber que a pergunta saiu meio agressiva e de forma automática, completamente impulsionada pelo choque que tomou conta de mim ao receber o convite.

Meu deus...

- Ah... É que eu, bem... Eu estava pensando em ir a esse lugar a algum tempo... - Ele aperta os lábios, e quase choro ao perceber que suas bochechas começam a corar e ele se afasta um passo, apertando as mãos nas coxas. - Esquece, você deve estar ocupada e...

Droga. Mil vezes droga por ele ser a coisa mais fofinha que meus olhos já viram!

- Eu vou, Yoongi. - Sorrio de leve, encolhendo os ombros diante de seus olhinhos que se abrem com a surpresa. - Só não estava esperando pelo convite.

- Você não precisa ir se não quis...

- Eu quero. - Declaro firmemente, cortando sua frase ao avançar o passo que ele recuou, parando diante dele. - Vamos?

Que cheirinho gostoso, meu deus...

Não estou pensando direito quando ele sorri, então a única coisa que passa por minha cabeça ao vê-lo assentir uma vez e lamber os lábios rosados, seguindo para a porta, é que seu cheiro só não é mais gostoso do que vê-lo sorrir assim.

Meu deusinho...

O caminho até o café não é silencioso por completo, mas bastante quieto se comparado a nossas conversas anteriores. Enquanto ele dirige (insistiu que fossemos em seu carro) deixa a playlist rodando, e fico agitada o ver que ele escuta o mesmo que eu.

Rolling Stones, Bon Jovi, Queen...

Derretida no banco, apenas balanço a cabeça e bato os pés no ritmo das músicas, desviando o olhar para ele sempre que posso.

Minha barriga fica gelada durante o caminho todo, porque essa é a primeira vez que chego perto de seu carro. O cheiro é exatamente o dele, e preciso me conter ao máximo para não respirar fundo demais e mesmo assim aproveitar o aroma.

Sei que esse é um desejo estranho, mas acabo imaginando, no meio do caminho, se uma ida e volta até a universidade vai ser o bastante para o cheiro pegar em mim.

Tomara que seja.

- Sorriso... - Ele engole em seco e, após ser chamada assim, viro para olhá-lo, vendo-o desacelerar o veículo ao olhar para frente diretamente, parecendo tenso. - Acho que vamos perder uma aula.

Olhando para o ponto que encara, percebo o problema. Chegamos na avenida principal, que obviamente já está engarrafada.

- Poxa... - Encolho os ombros, inclinando a cabeça. - Que saco.

- Podemos voltar agora, mas você não comeu nada, não é? 

- Ahn... Não.

- Certo. - Ele diz, e aperto as sobrancelhas ao velo apoiar as mãos com firmeza no volante e respirar fundo, ainda sem me olhar. - Vou fazer o retorno aqui e...

- Ei! - Chamo e, num impulso, apoio a mão esquerda sobre seu pulso, impedindo seu movimento. 

Ele tenciona inteiro e, devagar, dirige o olhar ao contato que estabeleci, sem dizer uma palavra.

Arregalo os olhos diante de sua reação e, desconfortável, puxo a mão de volta, deitando-a sobre meu colo. 

Invadi o espaço dele? 

Mas já toquei nele antes, então qual é o problema, agora?

Será que ele ficou bravo?

Meu deus, meu deus...

Posso beijar a bochecha e quase cair em cima quando ele agarra minha cintura para me ajudar a descer de uma pia, mas o pulso é longe demais?

Assisto corada e de olhos arregalados quando ele, alheio ao meu desespero, relaxa devagar e tira a mão do volante, olhando em minha direção. Seu olhar é manso, sono se ele estivesse amolecido, e derrete meu interior por completo quando pisca devagar e fala:

- O que foi, Bonhwa?

Filho da puta...

Ele precisa arrastar a voz assim, desse jeitinho manhoso? Puta merda...

Eu tô toda retardada, de novo.

- Eu... Ahn... - Sacudo a cabeça, fingindo que é pelo cabelo que voou no rosto, e sorrio para ele, tentando parecer calma. - É que eu não quero voltar agora, não.

- Mas é que você não gosta de perder aula, Bon...

Ah, não. Me chamou de Bon.

- Eu sei, m-mas não tem problema. - Mentalmente, me dou um tapa na cara por atrapalhar a palavra, e sinto até minha garganta coçar com o calor que sobe meu pescoço. Que vergonha, meu pai. - Só uma, certo?

- Eu espero que sim. - Encolhe os ombros, inclinando a cabeça ao sorrir fraquinho.

Não trocamos mais palavras, apenas ficamos em silêncio ouvindo Pink Floyd preencher o veículo enquanto espero minha temperatura estabilizar. Para ajudar, o trânsito volta a andar logo e, em menos de quinze minutos, chegamos. 

Meu queixo cai com força quando ele estaciona e, para minha mais absoluta surpresa, estamos diante de um café simples.

É uma cafeteria de bairro, com fachada bonita e diversos docinhos no expositor. Ele deve perceber meu choque, porque encolhe os ombros assim que saímos do veículo e sorri pequeno, indicando a porta.

- Eu vinha aqui quando era pequeno. Namjoon e Jennie moravam perto... - Esclarece ao cruzar o pequeno gramado ao meu lado e abrir a porta para mim. - Sei que é simples, mas a torta é uma delícia e bem... É meio que  importante para mim. Achei que você ia gostar de conhecer.

Importante para ele... Meu deus.

Congelo na porta, sentindo a pele pinicar nas bochechas e formigar pelo corpo todo. Ele continua ali, na entrada, com as bochechas vermelhas e olhos bem abertos, brilhando como estrelas.

No fim das contas, tudo que consigo fazer para expressar o quanto isso me deixa absurdamente feliz é sorrir de leve. Na verdade, o sorriso abre tão genuinamente que nem percebo que o fiz até que ele sorri junto, relaxando devagar.

- Vamos sentar? - Ele convida, em resposta, apenas aceno com a cabeça e o acompanho.

O espaço é pequeno, se comparado ao local no qual trabalhava em Busan, mas é extremamente aconchegante. As paredes tem um tom suave de amarelo que lembra a entrada de minha casa nova, o que imediatamente aquece meu coração.

Na parede, quadros de flores completam a decoração, e combinam com os tons pastéis das mesas e cadeiras acolchoadas.

Assim que sentamos, um diante do outro na mesinha quadrada, somos abordados pela atendente.

- Oppa! - Ela sorri, afagando o ombro dele que, surpreendente, não se encolhe. - O de sempre?

- Para mim sim, Hee. - Responde, agindo todo cheio de liberdade ao estender a mão e puxar um dos cardápios que ela tem no bolso, estendendo para mim. - Mas pode deixar que eu busco no balcão quando minha amiga escolher. Certo?

Ela concorda e se retira. Aceito o que ele me estende, e não preciso de dois segundos para decidir.

- Torta de amora e um café com leite simples, sem açúcar.

Ele arregala os olhos e ri, balançando a cabeça.

- Quase a mesma coisa que eu. - Esclarece a graça que viu na situação. - Minha torta é de morango.

- Jura? - Levanto uma sobrancelha, apoiando o cotovelo na mesa e descansando o queixo na palma. - Você tem cara de quem gosta de limão.

- Limão? - Ele balança a cabeça em concordância, mas torce a boca antes de continuar. - É bom, mas só se for artificial.

- Tá brincando? Limão artificial é nojento.

- Tem gosto de bala! - Ele defende, cruzando os braços.

- Até parece que você come bastante bala. - Viro os olhos, imitando seu gesto ao cruzar os braços e apoiar as costas na cadeira. - Mousse de limão natural é infinitamente melhor, geleia também.

- Eu sabia que você tinha algum defeito... - Ele balança a cabeça, fingindo decepção ao colocar-se de pé. Indignada com sua afirmação, mostro a língua para ele, que quase engasga ao segurar a risada e me repreender com o olhar. - Já volto, sorriso.

Assisto, pacientemente, ele se apoiar no balcão e falar com a atendente que passou aqui antes. Sorrindo, faz os pedidos e continua ali, conversando com ela enquanto a observa preparar.

Sem conseguir me conter, acabo sorrindo de leve ao ver sua postura relaxada. A camisa está puxada até os cotovelos, enfiada de forma solta na calça e não está fechada até em cima. Os fios caem de forma natural e até meio amassadinha por sua nuca e o cinto não parece sufocar sua cintura, como é costume.

Ao falar, não faz questão de manter a postura perfeita e os gestos contidos, mas ri alto e sorri largo, bonito, natural...

Quando tira os cotovelos do balcão e espalma as mãos ali, afastando-se, viro para frente e puxo o celular, disfarçando da melhor forma possível.

A que ponto chegamos, meu deus...

- Caramba, eu já estava com saudade desse lugar...

- Você não vem aqui com frequência? - Diante de meu questionamento, nega com um sorriso triste. - Por que não?

- Min Yerim.

É só um nome, mas justifica tudo com tanta facilidade que chega a ser triste.

- Sinto muito. - É tudo que tenho a oferecer, mas parece suficiente para ele.

- Eu sei. - Sorrindo, tira as mãos da mesa quando a garçonete, que eu nem havia visto chegar, pede espaço para nos servir. 

Repito seu gesto, suspirando ao sentir o cheiro delicioso da geleia de amora escorrendo da massa para o prato. Imediatamente, meu estômago ronca alto, e Yoongi ri sem muita discrição, o que me motiva a rir também.

Enquanto comemos, continuamos conversando. Conforme seu riso se estende e ele me conta sobre as tardes em que escapava da aula de inglês, aqui perto, e corria para a casa de Namjoon, e ambos escapam juntos para comer essa mesma torta, me sinto cada vez mais leve.

Há algo de especial em ver alguém como Yoongi, que precisa sempre se conter e ser educado, se soltar assim. Cada sorriso e risadinha aguda dele faz o céu ficar mais azul, é como se ele estivesse.... Sei lá... Purificando o ar com essa risadinha esquisita e adorável.

Tão puro em gestos pequenos que chega a ser enlouquecedor.

- Ok, ok... - Me manifesto, agitando as mãos como se pudesse afastar a risada e me concentrar melhor. - The Cure ou Joy Division?

- Nossa... - Ele apoia uma palma no peito, arqueando as sobrancelhas e perdendo o olhar por alguns segundos, como se estivesse em uma batalha interna. - Os dois.

- Resposta certa. - Bato palmas rapidinhas, sem produzir muito som ao beber o último gole da segunda xícara de café que pedimos, apoiando o recipiente vazio na mesa. - Sua vez, agora.

- Certo... - Ele cruza os dedos sobre a superfície de madeira, vincando as sobrancelhas com o olhar fixo ao meu enquanto pensa em outra comparação. Ao chegar na que deseja, estala os dedos, sorrindo abertamente. - The Beatles ou Rolling Stones?

- Beatles! - Digo sem pensar duas vezes, e ele contorce a expressão em desgosto na mesma hora. - O que?

- Rolling é muito melhor, por favor...

- Nem vem! - Viro os olhos, apoiando as palmas na mesa. - Você é muito previsível.

- Você não conseguiu prever nenhuma resposta até agora! 

- Ah, tá... Eu sabia que sua cor favorita era preto. 

- Faça-me rir. - Ele debocha, cruzando os braços. - Você só chutou isso por causa das minhas roupas.

- O que importa é que eu acertei.

- Rolling continua melhor.

- Chato.

- Boazinha.

- O que?

- Por favor... - Ele vira os olhos outra vez, colocando-se de pé ao ver que nosso tempo está acabando. - Você é totalmente "paz e amor".

- E que culpa eu tenho se a era "Paz e Amor" foi melhor que a "Sexo, Drogas & Rock and Roll"?

- Boazinha... - Ele cantarola, me provocando. 

Indignada com seu último posicionamento, apenas o ignoro, seguindo para a porta de entrada enquanto ele se despede da amiga.

Na calçada, apenas paro do lado do conversível preto, e tento conter o sorriso que tenta se abrir ao perceber que, poxa... Uma hora passa voando na companhia certa.

Como mal paramos de falar além dos segundos em que estávamos mastigando, conseguimos conversar sobre tantas coisas que ainda não tive tempo de processar todas as informações.

Em algum momento, paramos de falar sobre infância e passamos para a adolescência, e foi quando chegamos a discussão de "esse ou aquele?" e a diversão começou.

Concordamos em várias coisas, como por exemplo, que Smallville sempre vai ser a melhor série de super-herói e que abacate se come doce, e não salgado.

Em outras discordamos, como na discussão das bandas e filmes. Mas, pelo amor de deus, quem é o psicopata que não gosta de "10 Coisas Que Eu Odeio em Você"?

Quando ele chega, decidimos ouvir Bruno Mars, o maior artista pop da década (felizmente outro tópico no qual concordamos), no caminho de volta.

Ele sorri ao que dirige, animadamente cantando 24K Magic ao guiar o carro pelas ruas. No primeiro verso que ele resmunga, quase caio do banco com o choque de tê-lo cantando naturalmente, como se eu nem estivesse ali.

Depois, apenas vou na onda, e ambos nós agitando e cantamos baixinho (para que a voz de Bruno possa prevalecer, obviamente) até alcançarmos os portões da universidade.

- Em que prédio você fica agora? - Ele pergunta, guiando o carro pelas ruas do centro universitário. - Dá tempo de entrar no início do segundo tempo.

Dou as orientações e ficamos em silêncio conforme The Other Side preenche o veículo tranquilamente. Quando carro para, ele olha para mim e sorri de leve, apertando o volante nos dedos magros.

- Então, acho que você fica aqui... - Ele aperta os lábios, correndo o olhar por minha expressão. 

- Sim. - Encolho os ombros ao soltar o cinto, que volta para o lugar rápido. - Obrigada pela carona e pelo café, Gi. Foi muito legal.

- Foi, certo? - Ele balança a cabeça, sorrindo abertamente ao encarar meus olhos. - Obrigado pela companhia, Bon.

O silêncio preenche o veículo de forma desconfortável com a troca de olhares intensa, então apenas murmuro um adeus e abro a porta, saindo na corrida em direção ao gramado, mesmo que não tenha pressa alguma. De qualquer forma, preciso encontrar alguém para me passar anotações da primeira aula, que deve ter tido conteúdo novo, com certeza.

No entanto...

- Bon!

Ah, merda.

Giro sob o calcanhar e quase caio no chão não ver Yoongi vindo em minha direção, tão rápido que deixou a porta do carro aberta para trás (provavelmente por estar tão atrasado quanto eu).

- Aqui, você deixou cair... - Em um primeiro momento, o que ele me estende balança tanto que mal posso ver. Quando para de sacudir, dou um gritinho e cubro a boca com a mão ao ver a pequena flor amarela pendurada na correntinha dourada. Imediatamente, agarro meu pulso, em um reflexo para garantir que ela não estava ali. Obviamente, não. 

- A pulseira! Meu deus... - Estendo a mão para que ele devolva, mas logo viro a palma, pedindo algo diferente. - Prende para mim?

- Ah... Sim, claro. 

Como isso foi cair, meu pai?

Aperto os lábios e logo paro de divagar, pois sua pele toca a minha e meu corpo trava no mesmo instante com a sensação gelada que isso me traz. Nem de longe é ruim, no entanto.

Só é muito diferente.

Com os pelos em pé, deixo o braço cair quando seus dedos soltam meu pulso, e a pulseirinha balança delicada ao vento.

- É bonita. - Ele elogia, colocando as mãos no bolso da calça escura. 

- Ahn...? - Balanço a cabeça, espantando a sensação esquisita. - Digo, ah, sim... Ganhei esses dias. Um presente de aniversário.

Imediatamente, sua expressão fecha e sua cabeça tomba para a esquerda.

- Aniversário?

Oh-oh.

Então, tem esse detalhe...

Ele não sabe que meu aniversário já passou.

- Ahn... Sim. - Digo, encolhendo os ombros sob seu olhar inquisidor. - Faz tempo, já.

- Quanto tempo, Bonhwa?

Vish.

- Sabe o jantar na sua casa? - O queixo dele cai instantaneamente. - Foi um dia antes...

- E porque você não me contou, Oh Bonhwa?

Chamar pelo nome inteiro é covardia.

- Eu não sei... - Como ele, escorrego as mão para os bolsos da calça jeans, encolhendo os ombros. - Não achei que era importante.

Aparentemente, foi a resposta errada.

- Bem, achou errado! - Sua expressão queima em pura ofensa ao que aperta a própria cintura e troca o peso de perna, com o queixo caído. - Eu gostaria de ter sabido.

- Por que?

- Para te dar parabéns, quem sabe?

Viro os olhos, debochando de toda essa comoção. 

- Bem, você me pagou um café hoje e eu me diverti muito. - Defendo meu ponto, maneando as mão como se dispensasse qualquer outra coisa. - Sendo assim...

- Nem vem! - Ele puxa as mãos para fora, gesticulando e falando mais alto. - Eu te levei hoje porque queria te mostrar a parte feliz que minha infância teve, não foi um presente.

O ar escapa de meus lábios entreabertos, e minha expressão suaviza no mesmo instante.

- Ah... Para com isso. - É tudo que consigo dizer, mesmo que um milhão de formas de dizer “poxa…” estejam cruzando meus pensamentos agora mesmo. - Uma torta daquelas sempre vai ser um presente!

- Bonhwa...

- Ok, foi mal… - Diante de seu tom estendido, me rendo, relaxando a postura por completo e tombando a cabeça. - Realmente não achei que faria diferença.

- Certo… - Ele assente, aprumando a pose e apoiando a mão no quadril. - Mas você sabe que vai ganhar um presente mesmo assim, não sabe?

- O que?! - Separo os lábios, arfando em contradição.

- Até dois, para aprender a não esconder as coisas de mim...

- Yoongi, não precisa me comprar nad...

- Eu ouvi quatro?

Recuo um passo, apontando o indicador direito em sua direção e levantando uma sobrancelha em desafio.

- Você não ousaria!

- Dez? - Ele apoia a mão no queixo, tentando esconder o sorrisinho divertido ao divagar em voz alta, me provocando de volta.

- Yoongi!

- Ok... - Ele sorri, finalmente se rendendo ao me ver cruzar os braços e bater o pé no chão. - Quinze, então?

- Palhaço!

Ele ri alto, balançando a cabeça em negação diante da minha irritação. É foda, mesmo...

- Tô brincando, Bon. - Sorri suave, com as bochechas vermelhas pela gargalhada contrastando os fios brancos que estão uma bagunça com o vento. - Eu tava pensando em vinte, mesmo.

- Yoongi, eu juro por d...

- Bon... Relaxa. - Se rende, estendendo as palmas ao pedir por uma trégua. - Só uma lembrancinha, certo?

Aperto os lábios, pensando se vale a pena resistir ou se ele vai acabar se rendendo diante da minha teimosia.

- Tá bom... - Me rendo, deixando os ombros caírem ao que seu sorriso de vitória se abre, iluminando tudo ao redor. No entanto, exijo: - Bem simples, ok?

- E bem bonita também. 

Não consigo conter o sorriso sereno que se abre naturalmente com sua última colocação. Por um segundo, quando seus olhos encontraram os meus e um sorriso igual se abriu em seus lábios finos, pude jurar que ele não estava falando apenas da lembrancinha.

- Bom, tenho que ir, agora... - Ele quebra o silêncio, balançando a cabeça em direção ao carro que - pelo amor dos meus santinhos - ainda está aberto na avenida. - Lembra de me chamar depois, ok?

- Certo. - Sorrio, lembrando que agora tenho seu contato salvo em meu telefone. - Até, Gi.

Com as mão outra vez escondidas nos bolsos macios, estou pronta para dar-lhe as costas e seguir adiante, mas sou impedida quando, contra todas as expectativas vigentes, vejo-o avançar em minha direção.

Inspiro fundo sem perceber quando seus pés param diante dos meus. Levantando os olhos para sua figura, deixo outro sorriso afetivo se abrir ao encontrar seus olhos nos meus. 

O sorriso morre, no entanto, ao que sua mão direita pousa de forma terna em meu cotovelo esquerdo, e ele se aproxima mais ao inclinar o rosto em minha direção.

Preciso prender a respiração com força para não suspirar de forma audível ao que, no caminho para beijar minha bochecha, me inebria com o cheirinho gostoso da torta que comeu mais cedo e, para desespero de todos os meus sentidos, roça seu nariz no meu antes de pousar os lábios na pele em chamas, logo abaixo da maçã do rosto.

Poxa...

- Até, sorriso.

Depois que consigo cair na realidade e usar as pernas outra vez, o resto da manhã passa voando. 

É claro que, talvez, se eu estivesse prestando um pouquinho mais de atenção na fala dos professores ao invés de anotar tudo no automático, teria visto o tempo passar mais devagar.

Infelizmente - ou talvez, nem tanto assim - minha mente continua me levando de volta aquela maldita cafeteria. 

Desta maneira, passo mais da metade do tempo vendo os olhos de Yoongi brilhando em uma gargalhada, ou sorrindo completamente surpreso por algo que eu disse. 

Mas, principalmente, me perco em devaneios em que praticamente sinto seu hálito acariciando meus lábios por apenas um milésimo de segundo antes de depositar aquele beijinho na minha bochecha. Tinha cheirinho de morango e café em uma mistura gostosa com aquele perfume suave que ele sempre usa, e deixou minha pele formigando de um jeito tão confortável que quase me fez cair no sono.

Meu deusinho....

Antes que eu perceba, a aula termina e todos começam a correr em direção ao refeitório. Nos outros dias, me uniria a cacofonia de estudantes famintos, mas hoje é quarta-feira, então sigo na direção oposta.

Logo me vejo diante das portas de madeira e vidro que dão abertura a sacada ampla de sempre. Antes mesmo de abri-las, consigo ver a figura de Jimin com as costas apoiadas no batente e sorrio ao ver que ele encara a entrada, esperando por mim.


Park Jimin 🎨 Point Of View

Eu não estou apaixonado.

Sei que não, porque depois de passar quase três anos apaixonado pela mesmo pessoa, estou bastante familiarizado com a sensação.

Também, é por isso que sei que, céus… Não estou apaixonado agora, mas o caminho que estou seguindo agora só pode me levar a um lugar.

Por que eu sei que, depois de tudo que esses meses tem me levado a viver, não posso negar o que está diante de meus olhos.

Se não estivesse caindo, não esperaria a noite inteira para beijá-la por dez minutos em um estacionamento vazio, e dormiria suspirando ao lembrar o jeito encantador com o qual ela sempre se aconchega em mim sem perceber. 

Acontece que ela chegou tão de mansinho, que mal consigo perceber quando deixei de apenas querer provocá-la para ver as bochechas tão macias pegando fogo, e comecei a pensar em maneiras de deixá-la ainda mais rendida por mim. 

Os apelidos em espanhol, o charme que não deixo de jogar, as mensagens antes de dormir, a escultura do tamanho de uma unha na qual trabalhei por horas, apenas para lhe dar um presente significativo.

Se não estivesse seguindo o mesmo caminho perigoso da última vez, não estaria me dando todo esse trabalho… Não estaria sentado com as costas apoiadas no batente frio e a bunda no chão duro, bem ao lado de uma bandeja com o almoço que sei que ela vai gostar, batucando os dedos no cimento enquanto não consigo pensar em nada além dos passos soando no corredor.

Se não estivesse caindo como estrelas pela maldita garota de olhinhos brilhantes, risada esquisita e bochecha vermelha, não teria aberto, sem nem parar para pensar, o maior sorriso possível ao ver sua silhueta se formar em borrões coloridos através dos vidros da porta.

- Oi, Ji

E, assim que meu apelido escapa por aquela boquinha de boneca, não consigo fazer nada além de relaxar como se estivesse anestesiado e aprumar o postura, batendo os dedos no espaço livre ao meu lado.

- Vem almoçar, cariño.

Enquanto mastigo a comida que, como de praxe, trago de casa, tento não pensar demais no fato de que, porra… Ela percebeu.

Não que estou todo idiota por ela (quer dizer, ela percebeu isso também), mas que tem algo me incomodando.

Tem alguém me incomodando.

Para comprovar minha tese, mal desvia o olhar do meu rosto durante toda a refeição, e não me dirige mais de duas palavras antes de esvaziar os pratos e, sorrateiramente, arrastar o corpo em minha direção. Quando sua coxa toca na minha e sua mão pousa em meu joelho, sei que estou completamente ferrado, porque vou contar tudo que ela me pedir sem exitar duas vezes.

- Ji… - Aperto os lábios ao ser chamado assim, e deixo minha cabeça tombar de leve, rendido como o idiota que sou ao guiar meu olhar ate o seu, e ver a marquinha de preocupação entre suas sobrancelhas vincadas. - O que aconteceu?

- Hm?

Tudo bem… Não era para ter dito isso, mas não consegui pensar em nada melhor enquanto me perco em suas íris reluzentes.

Caindo…. Caindo cada vez mais rápido.

- Você não está olhando para mim, Ji. - Para comprovar sua acusação, não consigo evitar desviar a visão ao que a palavra continua se repetindo dentro da minha cabeça. Caindo, caindo… - Fala comigo.

- Olha, Bon… - Decido abrir o jogo, sabendo que estou a dois passos de falar besteira. - Eu realmente não quero falar sobre isso.

- Porque não?

- Porque não é da minha conta, sabe? - Viro para ela, forçando meu melhor sorriso falso ao indicar a porta, dando dois tapinhas em sua coxa macia, que toca a minha. - Vamos descer?

- Ji…

- Bon. - Chamo, vendo seus olhos perderem um pouco da luz ao que percebe a repreensão em meu tom de voz. - Já passa, certo? Vamos só ficar quietinhos.

Ela torce a boca em reprovação, mas (assim como sempre tenta fazer) respeita meu silêncio. Assisto, com o peito mais pesado do que deveria, enquanto puxa as pernas até o peito e abraça os joelhos, ficando toda pequenina do meu lado, ainda me encarando com aqueles olhinhos de cervo.

Sinto vontade de bater a cabeça na parede até desmaiar quando umedeço os lábios, completamente entregue aos seus encantos, e sei que vou falar, mesmo que não deva.

Caindo, caindo, caindo…

- Eu vi você e Yoongi saindo do lavabo aquele dia.

Eu devia ter ficado quieto.

No entanto, já abri o bico, então tudo que me resta é ver seus lábios tão, tão bonitos se abrindo em compreensão com um toque de surpresa ao que afasta o rosto dos joelhos, apoiando a cabeça na mureta, assim como eu.

- Jimin, eu…

- Sei que não falei nada na hora, e nem durante essa semana, mas eu vi, Bonhwa.

Lembro perfeitamente da cara de taxo que fiz ao vê-lo vindo atrás dela, com as bochechas vermelhas e sorriso no rosto, que se desfez assim que me viu também. Naquele momento, pensei que gostaria de poder dar um soco nele.

- Nós só estávamos…

- Não. - Corto imediatamente, não me importando de usar um tom mais carregado em ordem de conseguir interrompê-la. - Não quero que me explique nada, certo? Você não me deve isso. Nós não temos nada sério.

Felizmente, sua expressão não expressa mágoa ou indignação diante de minhas frases atropeladas. Sei que isso se deve ao fato de estava apenas constatando aquilo tudo, e não acusando-a de algo.

Realmente, não temos nada. E, pelo amor de deus, por mais que a frase continue se repetindo no meu inconsciente (caindo, caindo…), não estou pronto para ter algo além disso.

Pelo menos, não agora.

- Ok… - É tudo que ela diz, estendendo a palavra como se me incentivasse a continuar falando, então é o que faço.

- Como disse, vi vocês aquele dia, mas ia ficar quieto. - Como ela, apoio os joelhos no peito, sentindo de repente a urgência de diminuir o espaço que ocupo no local. - Me incomodou um pouco, mas como eu também já disse: não é da minha conta. Então apenas lidei com isso.

Em silêncio, ela assente, refletindo minhas palavras antes de franzir o cenho e acariciar minha perna, pousando a mão ali outra vez.

- O que aconteceu, então?

Em seus olhos, sei que ela está perguntando porque ficar de birra agora, sendo que engoli tudo em silêncio durante os dias que se passaram até aqui. Respirando fundo, cubro as costas fofinhas de sua mão com a minha, e quase amoleço diante do calor gostoso que sua pele sempre emana. 

- Vi vocês chegando hoje de manhã, Bonhwa. - Admito. - Perdi a primeira aula e estava indo ligar para você me passar a matéria, quando vi o carro estacionar e você sair correndo. Ele veio atrás de você, Bon. - Com isso, respiro fundo uma vez mais, e ajo sem prestar atenção ao apertar sua palma e trazer o resto a tona: - Com a pulseira na mão.

- Jimin, não aconteceu...

- Realmente não importa, ok? - Me atropelo a dizer, tirando sua palma macia de mim ao me colocar de pé, devagar para não perder o equilíbrio. - Eu já disse que não quero explicações ou algo assim. 

No entanto, ao invés de apressar os passos e sair dali, o que faço é estacar no lugar e, de onde estou, encarar seus olhos escuros mais uma vez. 

- Mas eu preciso que você me prometa uma coisa. - Coloco, meu peito subindo e descendo rápido enquanto tento controlar a vontade de cair de joelhos e tocar seu rosto, implorando ao invés de perguntar apenas. - Não porque estamos ficando, mas porque você é minha amiga.

Sem exitar, responde:

- Fala, Ji.

- Você tem o direito de sair com quem quiser... - Começo, respirando fundo para controlar os batimentos desesperados de meu coração em pânico dentro de mim. Apertando as mãos nas coxas para conter o suor frio, engulo em seco antes de continuar. - Mas por favor, por favor mesmo, Bonhwa.... Se for se envolver com Min Yoongi, termina comigo primeiro.

Ela afasta a cabeça do apoio nos joelhos com tanta força que quase bate na mureta, e meu primeiro impulso é estender a mão para acariciar a área, mas não tenho tempo, pois ela se coloca de pé no mesmo instante, os olhos arregalados e lábios separados em choque.

- O que você quer dizer com isso, Jimin?

- Olha, eu sei que falar "terminar" é meio pesado… - Corrijo, me aproximando um passo para parar bem diante dela, a mercê de seu perfume suave e olhar carregado. -  O que eu quis dizer é que, caso isso aconteça, prefiro parar de me envolver de outra forma com você. - Esclareço, tocando sua bochecha quente e, sem resistir, suspirando com a forma como encaixa perfeitamente na palma da minha mão. Caindo tão depressa… - Mas ainda vou querer ser seu amigo, cariño.

Ela não diz nada, apenas continua parada, a expressão agora neutra e o olhar fixo nos meus, sem nem piscar conforme me aproximo e toco a ponta do nariz no seu.

Sorrio, entregue, ao sentir suas palmas pequenas aquecerem minhas costelas antes de esmagar minha camisa entre os dedos.

Nas outras vezes em que faz isso, está descarregando alguma sensação que eu a causo, agora, parece literalmente estar tentando me segurar aqui.

E é olhando fundo em seus olhos de cervo, que brilham mais do que qualquer noite estrelada e são tão sinceros quanto os de qualquer criança, que acaricio a ponta de seu nariz com o meu, dando-me conta de minha idiotice ao colocar:

- Só... De novo, não. - Sorrio fraco, fechando os olhos ao sentir seu hálito quente acariciando minha boca. - Eu não posso ficar no meio disso outra vez… Entende?

Aperto os olhos com força para não chorar de raiva quando a beijo carinhosamente, apenas para evitar de ouvir seu choque  com minha colocação, pois me dou conta de que, esse tempo todo, enquanto lutava para fazê-la se render por mim, acabei sendo rendido sem nem perceber.

E agora estou caindo, caindo, caindo


Notas Finais


[PASTA NO PINTEREST SOBRE COMO EU IMAGINEI DETALHES DA CASA NOVA AQUI: https://pin.it/7egekvk]

┗ MUSICAS CITADAS:
• Walking On Sunshine - Katrina & The Waves
• The Other Side e 24k Magic - Bruno Mars

Pensando em fazer uma playlist com as músicas que Yoonhwa gostam em comum 😳👉👈

OIIIIIIIII 🐞🎹

Se vocês lembram dos primeiros capítulos depois de todas essas semanas, sabem que Bonhwa ficou toda boba com a casa porque sempre teve medo de nunca ter uma moradia definitiva. Agora, ela tem! Realizar um sonho de infância, mesmo que pareça algo tão superficial, muda completamente a vida de alguém!

Ela encontrou seu cantinho ao sol, e não poderia estar mais feliz! <3

Sobre Yoongi... Vocês tão sentindo essa boiolagem crescendo, amados? Pq eu estou e estou toda doidinha com isso! Eheheheh.

Ele está, cada vez mais, se abrindo para a protagonista e para vocês. Seria esse o início de uma grande amizade?

E nosso pobre Ji segurou o que tanto incomodava por quase duas semanas antes de ter coragem de conversar sobre isso. Meu bebê :(

Espero vocês aqui na semana que vem para descobrirem comigo o que vai acontecer! Vejo vocês lá, amores <3

Obrigada pela paciência e pelo carinho! Se cuidem direitinho 👉👈💜


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