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História Tomorrow - Adrenalina


Escrita por: ddaeclipze

Notas do Autor


Boa leitura! ♡

Capítulo 2 - Adrenalina


Fanfic / Fanfiction Tomorrow - Adrenalina

Oh Bonhwa 🐞 Point Of View

Minha mãe tem dois irmãos: Jeongeun e Jeongho.

Jeongho é o filho mais velho e também o herdeiro da empresa dos meus avós. Responsável, centrado, casado e pai de uma adorável garotinha de seis anos. O orgulho da família.

Minha mãe, Jeonghwa, é arquiteta e designer de interiores. Engravidou muito nova e se recusou a casar quando isso aconteceu. Bonita, inteligente, meio retardada. Uma decepção parcial, mas que podia ser pior.

Tio Eun é o mais novo do trio e, assim como minha mãe, recusou-se a seguir carreira na empresa dos pais; entretanto, ao contrário dela, está muito bem casado desde seus vinte anos de idade com Sori, o sonho de nora dos meus avós. Bonito, bastante desleixado, pagava de badboy até minha tia colocar ele na linha. Um bom filho, um bom tio, um bom irmão. O orgulho número 2.

Por conta de nossas infinitas mudanças, o relacionamento de minha mãe com meus tios é meio desleixado. Ela só vê seu irmão mais velho no Natal e Ano Novo, muito raramente na páscoa, e as vezes no Dia dos Pais/Dia das Mães, quando todos se reúnem na casa de meus avós em Daegu, mas não é assim com Jeongeun.

Tio Eun nos visita, sem falta, a cada 5 meses mais datas comemorativas de qualquer tipo e em nossos aniversários. Nunca importa se estamos morando em outro país ou em outro continente, ele nunca falha. É ele que está vindo nos visitar hoje, no fim do prazo dos 5 meses.

Portando, é culpa dele que não pude posar no Hoseok ontem e que tive que acordar seis horas da manhã para limpar a casa e preparar meu quarto para sua estadia. Mas vou perdoá-lo depois que ele fizer o que sempre faz em suas visitas (pular a janela comigo de madrugada e escapar para uma festa no lugar mais remoto possível, que deixa até minha mãe de cabelo em pé).

- Bonbon, você viu a minha blusa de lavar janela? - Minha mãe pergunta de algum lugar dentro da casa, provavelmente seu quarto.

Dou risada. - A sua blusa de que?

- Você sabe qual é, engraçadinha. - Ela aparece no corredor, usando apenas um sutiã azul de bolinhas, com os braços cruzados. - Bob Esponja, toda furada, dois números maiores que o meu?

- Joguei fora, né. - Relaxo novamente no sofá em que estou deitada, esperando o tempo passar e comendo pipoca. - Aquele pano velho.

- Você fez o que?

- Você ouviu, senhora.

- Ouvi sim, eu só não sei porquê você faria uma coisa dessas! - Ela balança os braços, vindo até mim e tirando a bacia das minhas mãos, passando a comer indignada. - Agora nossas janelas vão apodrecer e sumir.

- É só você lavar elas usando uma camiseta normal.

- E desrespeitar todo o ritual de lavar a janela que sigo desde que você nasceu? Nunca!

- Tio Eun está vindo...

- Eu sei.

- Ele gosta de criticar…

- Eu sei.

- Essa janela está tão suja que eu não saberia te dizer se o céu é azul ou verde…

- Você é muito chata, sabia? - Ela larga a bacia na minha barriga, e eu alegremente volto a comer quando a vejo sumindo no corredor. - Eu vou estar nos fundos, lavando a janela com uma camiseta que não é apropriada para a ocasião. - Ela volta irritada, usando uma camiseta preta comum e um boné azul virado para trás, tirando os fios escuros do rosto bonito. - Se precisar de alguma coisa, não me peça.

- Valeu, mãe.

Ouço seus passos irritados até a área de serviço, de onde ela volta com esponjas e um balde enorme, cheio de produtos de limpeza. Ela abre a porta da sala sem desfazer a carranca até enxergar algo no gramado à frente e suspirar indignada.

- Ah, e chegou quem não faltava. - Olho por cima do encosto do sofá, vendo Tae com os fios loiros quase brilhando na tarde ensolarada dessa sexta-feira. - Entra aí, bonitinho.

- A Bonhwa tá no quarto?

- Siga o cheio de cinismo e cara de pau que você encontra ela rapidinho. - E passa por ele, que fica para trás com o cenho franzido e um sorrisinho nos lábios.

- E aí, gatinho. - Chamo enquanto ele fecha a porta. Ele sorri quadrado e me olha animado.

Eu poderia perguntar o que ele faz aqui, mas chocante seria ele não estar na minha casa. Desde que sua irmã mais velha parou de trabalhar e passou a ficar mais tempo em casa, Tae passa todo o tempo livre aqui, tentando se livrar da presença dela.

- E aí, cínica-cara de pau. - Tira o casaco e joga na poltrona antes de vir até mim e deitar no chão ao lado do sofá, a cabeça escorada na parede e as mãos apoiadas no abdômen. - O que você fez contra sua mãe hoje?

- Joguei a camiseta feia do Bob Esponja fora.

- A camiseta de lavar janela? - Ele pergunta indignado enquanto rouba pipocas de mim. - Por que você fez isso?

- Porque tava feia e velha e... - Franzo o cenho em uma expressão confusa. - Ei, como você sabe qual é a camiseta de lavar janela?

- Porque ela me contou, ora. - Ele pega o controle da mesinha e começa a trocar os canais, ainda roubando pipoca com a outra mão. - Somos melhores amigos, lembra? Eu e sua mãe.

- Quem aguenta vocês dois? - Dou como resposta e e passo a bacia para ele, já me sentindo cheia. Ele pega a bacia e da de ombros para mim, como se dissesse "e eu tenho culpa?".

- Já fez a sua parte da limpeza? - Ele pergunta enquanto passa os canais e enche a boca de comida.

- Fiz sim. - Tiro o controle dele, e volto um canal antes de escondê-lo atrás de mim para que Tae não troque. - Arrumei o quarto, puxei o colchão extra…

- Jogou a camiseta da sua mãe fora...

- E aparentemente nunca serei perdoada por tamanha grosseria. - Concluo, apoiando as costas no sofá e abrindo os braços. - Um dia produtivo.

Ele sorri, cruzando os calcanhares e largando a bacia vazia ao lado. - Mas me conta… Como foi ontem com Jimin?

Desgraçado.

- O que com o Jimin?

- A carona para casa… - Ele insinua. - Só vocês dois… - E continua com esse tom debochado ao falar. - No carro… - Ele levanta uma sobrancelha. - De madrugada…

- Primeiro me fala como foi com o Jungkook, engraçadinho.

Ele ri em altas vozes. - Jungkook é um amigo de infância, Bonhwa. - Cruza os braços atrás de cabeça, completamente relaxado. - Um amigo de infância com quem já transei várias vezes, mas nada mais que isso.

- Eu sabia! - Dou um pulinho e fico sentada, olhando para ele de forma acusatória. - E aquela boiolagem toda ontem foi o que?

- Ué, foi carinho. - Tae continua imperturbado. - A gente já se pegou e tal, por isso temos toda aquela intimidade, mas faz anos que nada além disso acontece entre a gente.

- Alguma razão especial?

- Ele namorou, ela terminou com ele, ele ficou de coração partido e não quer saber de mais ninguém desde então.

- Ah, tadinho. - Me encolho um pouco, incapaz de imaginar aquela coisinha fofa tendo o coração partido. - Ele é tão amável.

- Relacionamentos são complicados, envolvem mais do que só gostar de alguém. - Ele dá de ombros. - Não há muito a ser feito sobre isso.

- Sim…

- Bonhwa? - Murmuro um "hm" em resposta, já sabendo o que está por vir. - E você e Jimin?

Duas vezes desgraçado.

- Não aconteceu nada… - Ele levanta a sobrancelha, me desafiando a continuar aquela frase. - Ah, ok. Ele disse que espera me ver outra vez, só isso.

Seus ombros caíram com tanta força que podiam muito bem ter sido deslocados. - Nem uma bitoquinha?

- Eu conheci ele ontem!

- Ah, para. Até parece que já não fez pior. - Fecha a cara, emburrado. - Jimin também, não serve pra nada.

- Para com isso. - Viro os olhos. - Você tem que parar de tentar ser meu cupido, ok? Já é bastante difícil sem você atrapalhando.

- Ouch, você...

- ESSA CAMISETA É UMA MERDA!

Ambos olhamos para a entrada de minha casa, de onde soou o grito furioso da minha mãe. Ou melhor, o grito furioso da minha mãe completamente encharcada.

- Mas o que é que… - Tae pergunta, antes que eu possa fazê-lo.

- Eu tava lavando a porcaria da janela e fui lavar a outra e escorreguei e caí com o balde na mão. - Ela fala tão rápido que quase não consigo entender, então bufa e leva as mãos aos cabelos, torcendo e fazendo água escorrer pelo chãozinho que eu recém encerei.

- Ei! Para de estragar meu trabalho! - Reclamo.

- E você cala a boca! - Ela resmunga, jogando o balde vazio no canto e seguindo irritada para o corredor. - Nada disso teria acontecido se você não tivesse jogado minha camiseta fora!

- Eu tenho certeza que a gravidade ainda estaria funcionando se você estivesse vestindo aquele pano feio.

- ARGH! - Ela grunhe qualquer coisa sem sentido e bate a porta do seu quarto com tudo.

Assim que o som da batida ecoa pelo corredor, Tae cai na gargalhada e eu não posso evitar rir também das trapalhadas da minha mãe.

Quando finalmente paramos de rir, Tae começa a prestar atenção no que passa na TV e me olha indignado.

- É por isso que você escondeu o controle? - Se levanta então, limpa o sal que a pipoca deixou em suas mãos na própria calça e aponta para a porta. - Pois eu vou embora, mas não assisto Crepúsculo com você!

- Você é chato demais, Kim Taehyung.

- Ah, eu prefiro encarar Kim Taehye do que assistir isso aí.

- Então vai lá, vamos ver quanto tempo você dura nas mãos da sua irmã.

Ele continua com a brincadeira de ir embora; segue para a porta, fingindo uma expressão magoada e gira a maçaneta.

Depois disso, tudo acontece muito rápido.

Minha mãe vem pelo corredor, já com outra roupa, usando uma toalha de banho para secar o cabelo úmido e perguntando aonde Tae está indo. Nisso, Taehyung termina de abrir a porta e dá um pulo para trás, gritando de susto quando uma pequena menina em um vestido branco passa correndo por ele, rápida como um foguete, e eu mal tenho tempo de ver que aquela é Youngmei, minha sobrinha, antes que ela me veja e venha em minha direção, pulando nos meus braços.

Chorando. Ela está chorando.

Assim que a pego no colo e me dou conta disso, uma figura masculina aparece na porta, bloqueando quase toda a entrada do sol. Alto, impotente e, por tudo que é mais sagrado, chorando também.

O rosto de Jeongho, meu tio mais velho, estava vermelho pelas lágrimas. Seu maxilar estava travado, e ele ignora completamente Taehyung em seu caminho ao entrar na casa, parar bem no centro, e dar a notícia que mudou minha vida da forma mais negativa possível:

- Ele morreu, Jeonghwa. - Ele puxa o ar com força pelos dentes, e eu acho que não entendi direito quando ele continua e Mei se encolhe em meus braços ao ouvir sua reafirmação: - Jeongeun morreu em um acidente de carro durante a madrugada.

Sabe aquela cena de filme em que tudo acontece muito rápido e então desacelera de repente, te dando um choque de informação?

É isso que acaba de acontecer aqui, na vida real.

Tae gruda as costas na parede e leva a mão na boca, os olhos arregalados em horror. Mei soluça alto em meu colo, e meus braços parecem feitos de pedra quando seguro ela com mais força. Meu tio começa a chorar, e cambaleia até apoiar a lateral do corpo no sofá, como se tivesse levado um soco na costela.

E ver tudo isso foi horrível, mas nada foi tão ruim quanto ver minha mãe soltar todo ar em uma lufada audível e, como se perdesse completamente a força dos membros, caísse de joelhos no chão, depois espalmando a mão direita alí, a esquerda segurando sua barriga na altura no estômago. Quando pensei que ela ia começar a chorar, ela gritou, e isso foi ainda pior.

Quando o som de seu grito aterrorizado ecoou pela sala, algo estalou dentro de mim, meu olhos encheram de água e eu parei de sentir tudo. Não senti quando passei correndo por meu tio, depois por Taehyung, nem quando segui correndo pelo pátio afora. Mal me dei conta de quando estendi Mei para sua mãe, que estava escorada no carro estacionado na calçada, e não parei para ver se ela havia tido tempo de pegar a menina antes que eu a soltasse e mudasse de direção. Tive a sensação de que alguém me chama com uma voz grave, mas não percebi isso também.

Assim como não percebi quando comecei a chorar, nem quando comecei a correr em direção a avenida.

Duas quadras e eu estava nela. Mais duas e eu estava em frente a cafeteria.

Três quadras depois disso e eu estava virando a esquina com força, e minhas pernas queimando tanto que comecei a chorar de dor também.

Minha visão, que estava turva pelas lágrimas, se tornou escura de repente, e meu peito parecia estar encolhendo até o tamanho de um botão. A respiração doía, e eu não sabia se estava gritando ou se o apito no meu ouvido era outra coisa.

Assim que cheguei em frente ao portão aberto da casa de Hoseok o apito ficou mais alto, e eu mal tive tempo de ver seu sorriso receptivo virar uma careta apavorada quando tudo escureceu, e então eu realmente não senti mais nada.


🐞


Abro os olhos lentamente, e por alguns segundos não consigo ver nada além de um borrão de cores e luz e sombras. Então os fecho outra vez, e na terceira tentativa finalmente consigo entender onde estou.

Esse é o quarto de Hoseok, que fica no segundo andar de sua casa, no bairro que é vizinho ao meu, mas não consigo lembrar de como vim parar aqui.

Pisco lentamente, me sento em sua cama de solteiro e, quando estou prestes a chamá-lo, vejo-o saíndo da porra do banheiro, esfregando as mãos no rosto e parecendo frustrado. Tento chamar sua atenção, mas meu "hey" acaba saindo como um grunhido, e ele vira assutado, mas suspira aliviado ao olhar em minha direção.

- Bonhwa? Graças a Deus. - Ele corre a curta distância entre nós, e se senta na cama, de frente para mim. Os olhos arregalados, ainda preocupado. - Achei que você não ia acordar nunca.

- O-O que? - Tusso com força, porque o som sai de um jeito estranho, e minha garganta coça muito, como se estivesse seca. - Porque eu não iria acordar mais?

Ele pressiona os lábios, me olhando preocupado.

- Do que você se lembra, Bon?

Dou de ombros, ainda me sentindo desorientada e estranha, como se estivesse sonolenta e desperta ao mesmo tempo, se é que isso é possível.

- Eu não sei eu… - Tusso outra vez, tentando limpar a garganta. - Eu lembro que jantei aqui, mas… - Franzo o cenho e me encolho contra a cabeceira, sentindo frio de repente. - Eu não lembro de dormir aqui.

- É que… - Ele tenta explicar, e eu ouço o som da porta se abrindo quando me dou conta de uma coisa e o interrompo.

- Não, eu não dormi aqui. - Concluo. - Não, eu tenho certeza que não. Eu dormir em casa porque meu ti…

E então, conforme penso no resto da frase, tudo cai em cima de mim como uma bigorna cai na cabeça de um personagem de desenho animado. E dói, céus, como dói.

- Bonhwa, calma. - Hoseok deve ter percebido meu desespero, porque é a primeira coisa que ele me diz.

- Ei, respira. - É Taehyung que fala. Ele está com o rosto vermelho e inchado, e talvez eu ficasse confusa se não tivesse lembrado, mas porra, eu lembro. - Fica calma, Bon, fala com a gente...

- Ficar calma? - Repito baixinho, só para mim, não gostando de como a frase soa absurda na minha boca ainda mais do que soou na dele. - Ficar calma?

O som sai mais alto, e minha respiração acelera. Tae e Hobi trocam um olhar desesperado, mas nem todo o pânico do mundo pode se igualar ao caos acontecendo dentro de mim agora.

- Eu tenho que ir pra casa, eu… - Tento me levantar, mas Tae me segura pelos ombros, e isso me deixa absurdamente irritada. - Eu tenho que achar minha mãe, ela… Meu tio e… E a Mei, ela também… A gente, meu deus!

Empurro Taehyung com toda a minha força, mas ele não se mexe, e então percebo que não tenho mais força nenhuma. Tento mais uma vez, mas tudo que ele faz é soltar meus ombros e segurar minhas mãos.

- Calma Bon, você teve uma descarga de adrenalina gigante. Se ficar se forçando agora, vai acabar desmaiando mais uma vez.

- Eu tive... - Tento respirar mais devagar, mas não consigo porque eles estão falando sobre mim enquanto minha mãe… Céus, minha mãe! - Eu tive o que?

- Uma descarga de adrenalina, acontece quando…

- Eu sei como acontece, eu sei o que é uma descarga de adrenalina! - Grito, e meus olhos enchem de lágrimas com a ardência na minha garganta. - Por que estamos falando disso? Cadê a minha m…

- Hwa, você tem que se acalmar e…

- Se você quer que eu fique calma, deixa eu ver a minha mãe!

- Você não pode, inferno! - Taehyung xinga, mas fala ainda baixo, sem perder a cabeça com minha raiva. - Ela não está em Busan!

Não está em Busan, ela não está em..

- O que? - Cada vez mais coisas perdem o sentido, cada vez menos coisas parecem reais. - Eu estou em Busan, porque ela não está?

- Ela foi para Ilsan, sabe. - Tae se encolhe levemente, e meus braços tremem dentro do pijama fino. - Para o velório.

- Velório. - Eu repito, mas quase não consigo ouvir minha voz quando meu corpo parece perder a firmeza e eu solto o peso contra a parede atrás de mim.

Viajamos a vida inteira, mas minha mãe nunca, nunca, saiu de uma cidade sem mim. Não faz sentido. Não faz sentido!

- O velório é hoje? Eu estou perdendo o…

- Não, Bon. - É Tae quem fala, acariciando minha mão que está jogada na cama. - O velório é amanhã, sua mãe foi mais cedo com seu tio para não ter que ficar sozinha na casa.

Sozinha. Ela não queria ficar sozinha.

E ela teria que ficar sozinha porque eu fugi.

Eu vi ela gritando de dor e fugi!

- Não, não, não, não

- Hey, calma! - Hoseok se inclina e me abraça, impedindo que eu agarre meus cabelos como planejava, e acaricia minha nuca devagar. - Eu e Tae vamos te levar amanhã, meus pais vão ir também. Vamos sair cedo, você vai chegar a tempo e…

- Eu não queria ter que chegar a tempo, Hobi. - Abraço ele, fracamente, a seguro a mão de Tae com o braço livre. - Eu queria estar lá. Eu devia estar lá. Eu não podia ter fugido, eu…

- Shhh, eu sei. - Hobi murmura docemente, e o carinho dele me deixa ainda mais fraca. - Não pensa nisso agora, ok? Sua mãe tá bem, tá todo mundo ok, certo?

Mas não estava. Ninguém está.

Ninguém tem como estar, não porque eu fugi, mas por que ele morreu.

O filho mais novo, o tio mais carinhoso, o irmão mais querido.

Ele morreu.

Tae se levanta e ouço o som de algo caindo no chão quando Hobi me puxa para mais perto. Tae passa uma perna por trás do meu corpo e desliza até estar sentado atrás de mim. Hoseok apoia minhas costas no peito de Tae, que me abraça imediatamente e passa a acariciar meu cabelo quando eu viro o corpo, enterrando o rosto no seu peito macio e cheiroso.

Hobi murmura alguns avisos antes de beijar minha nuca e sair do quarto, e quando Taehyung puxa o cobertor fino pelas minhas costas, eu começo a chorar outra vez.


🐞


Depois de chorar até ficar com dor de cabeça e os olhos inchados, finalmente chegamos ao estágio do silêncio. Aquele momento em que você já chorou tanto e lamentou tanto que fica neutro. Fica quieto e encolhido.

A mãe de Hoseok entrou no quarto com sopa, mas eu não consegui comer, então ela me acompanhou até o banheiro do corredor, que tem abertura para o quarto de Hoseok. Ela ficou sentada no vaso, em silêncio, enquanto eu lavava o corpo, mas se levantou para me ajudar a lavar os cabelos.

Depois de me deixar no quarto outra vez, já de pijamas e pantufas, veio até mim e secou meus cabelos carinhosamente. Ela preparou a cama de Taehyung no chão, e ele a ajudou a colocar mais um colchão ali, para que dormíssemos os três juntos.

Normalmente essa ideia seria descartada antes mesmo de ser dita, mas vendo meu estado, ela acabou por concordar. Tae deitou-se de um lado e Hoseok do outro, e eu me ajeitei no meio.

Abracei as costas de Hoseok, e Tae se aninhou as minhas, acariciando meu braço enquanto eu me encolhia entre eles. Não comi nada antes de deitar, mesmo depois de vê-los jantar, mesmo depois da terceira tigela de sopa que sua mãe levou para mim.

Estava me sentindo mal pela desfeita, mas estava me sentindo mal por muitas outras coisas, então não fez diferença.

Eu consegui apenas me encolher mais ainda, me sentindo triste, mas sem conseguir chorar mais, enquanto pensava em minha mãe nesse momento, provavelmente fingindo que está dormindo, ou talvez dormindo com auxílio de remédios, dentro de um carro a caminho de Ilsan.

A caminho do velório de seu irmão.

Seu irmão que ela viu nascer, crescer, fazer besteira e se encontrar. Gastar montes e pilhas de dinheiro dos meus avós, mas cuidar deles com todo o carinho possível. O irmão que ela viu me carregar no colo, me levar em parques de diversão e me ajudar a roubar champanhe da ceia de Natal. O irmão que me levou para casa depois de me levar para a primeira festa da qual voltei completamente embriagada.

O irmão que quebrou as janelas do carro da minha primeira decepção amorosa, como se isso fosse completamente aceitável e racional. O irmão que nos visita a cada cinco meses. O irmão que nunca mais vai nos visitar a cada cinco meses.

O tio que eu nunca mais vou ver.

Antes que consiga chorar de novo, o remédio que tomei para dor de cabeça faz efeito, e pela segunda vez no dia, eu apago antes de ter que lidar com as minhas emoções.


Notas Finais


Esse foi um capítulo extremamente emotivo e delicado para mim. Espero ter conseguido transmitir todas as emoções. Espero que vocês tenham sentido elas com os personagens.

Por favor, me diga o que achou!!!! É tão importante para mim <3


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