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História Tomorrow - Pianos São Delicados


Escrita por: ddaeclipze

Notas do Autor


shining through the city with a little funk and soul

IMMA LIGHT IT UP LIKE DYNAMITE!!!!!!!!!!!!!!

IAHAUABAISANAINAUSAHUS TO MUITO ANIMADA PRO COMEBACK AAAAAA

BOA LEITURA! 💥

Capítulo 9 - Pianos São Delicados


Fanfic / Fanfiction Tomorrow - Pianos São Delicados

Oh Bonhwa 🐞 Point Of View

As primeiras duas semanas de aula passaram em um piscar de olhos.

Minhas folhas de anotação dobraram em questão de dias, e agora já tenho mais resumos do que consigo me lembrar. Os trabalhos começaram também, embora sejam apenas pesquisas para aula - nada preocupante.

Descobri, através de meus almoços com Lalisa, que Yoongi raramente é visto pelo refeitório porque não estuda nessa Área. Sendo assim, não o vi nenhuma vez depois do estacionamento.

Deito de costas na minha cama macia, sentindo meu corpo afundar no tecido felpudo e escuro.

Nesses catorze dias, Park Jimin fingiu que o episódio do estacionamento não aconteceu.

Quando percebi que ele havia me deixado na mão, fiquei chocada. Depois, confusa. Por fim, furiosa.

Minha mãe conseguiu me buscar, no final das contas, e essa é provavelmente a única razão pela qual não soquei a cara dele quando apareceu diante de mim, no outro dia, e agiu como se nem tivesse me visto depois das aulas.

Me deu bom dia, falou sobre o tempo e teve até mesmo coragem de flertar comigo antes de seguir seu caminho. Essa rotina se seguiu por todos os outros dias, também.

Agora, em pleno sábado à tarde, jogada em minha cama após estudar por horas a fio, continuo sem saber o que aconteceu.

Não é como se tivesse importância, também.

- Querida?

Levanto a cabeça, ainda como corpo largado na cama, e olho em direção a porta, de onde sou chamada.

- Oi, vovó.

Ela sorri doce, e entra no quarto ao ver que não estou dormindo.

- Vim avisar que seu vestido chegou.

Vinco as sobrancelhas, sentando-me por fim.

- Ahn? - Encarando sua figura esguia. A primeira coisa que percebo é que está usando um lindo vestido social azul e um salto combinando. A segunda é que ela carrega uma enorme sacola bege em suas mãos delicadas. - Que vestido?

Ela inclina a cabeça, avaliando minha pergunta.

- Como assim "que vestido"? - Se aproxima, colocando a sacola na cama e tirando a peça de lá. - O vestido que você vai usar hoje a noite, obviamente. Eu falei que ia comprar um pra você.

O vestido que ela exibe é lindo. Tem alças finas e comprimento mediano. É preto, e o tecido reluz, de certa forma (cetim ou seda, talvez). Pisco algumas vezes, ainda sem entender.

- Hoje a noite, aonde?

- No aniversário do seu avô. - Estende o tecido na cama e tira um belo par de sapatos escuros de dentro da caixa, posicionando-os aos meus pés. Quando levanta os olhos e se depara com meu queixo caído, trinca o maxilar. - Você esqueceu do aniversário do seu avô, não é, Oh Bonhwa?

Opa. Me chamou pelo nome completo.

- Não?

Os ombros dela caem.

- Você é a pior neta do mundo. - Me encolho na cama, aceitando meu fardo. Ela vira os olhos, e joga o vestido no meu rosto. - Esteja pronta em duas horas e desça para me ajudar a receber os convidados.

Em duas horas, às 18h.

Então não será um jantar, será apenas uma comemoração breve com alguns petiscos. Para jantares, recebemos os convidados às 19h.

- Sim, senhora.

- E tente não deixar seu avô descobrir que você esqueceu um dos dias mais importantes da vida dele.

Me encolho quando a porta estoura contra a parede, demarcando sua fúria, e encaro o tecido frio e fino que agora descansa em minhas pernas. Pelo menos tenho uma desculpa para usar um vestido bonito e beber champanhe caro.

🐞

- Bem que você podia ter trançado melhor, não é?

Viro os olhos, prendendo a longa trança escura de minha mãe (que fiz com todo o carinho, inclusive) em um coque bonito em sua nuca. A encaro pelo espelho, vendo-a me observar enquanto coloca os brincos brilhantes.

- Eu te ajudo para não se atrasar é isso que eu ganho?

- Eu sou a sua mãe, garota! - Coloca o outro brinco e se levanta, zanzando pelo cômodo em busca dos sapatos perdidos. - Você 'tá só me pagando toda a ajuda que já te dei!

- De nada, mãe!

Ela ri alto, finalmente colocando os sapatos transparentes nos pés bonitos. O vestido vermelho destaca sua maquiagem dourada, e as mechas soltas na franja emolduram seu rosto magro.

As vezes, quando vejo minha mãe assim, sorrindo e completamente produzida, entendo perfeitamente o que fez o Christopher de 16 anos estar disposto a largar tudo para casar com ela.

- Você está linda, meu amor. - Ela sorri, ajeitando um dos cachos atrás da presilha prateada na minha cabeça. - Obrigada por me ajudar.

Confirmo e ela se afasta, voltando a revirar as jóias espalhadas pelas caixas de sua cômoda.

Se minha avó vê isso, meu deus...

- Aqui! - Comemora alto, e volta para mim, balançando algo em suas mão. - Esses são melhores.

Assisto a nossa imagem refletida no espelho enquanto ela tira os brincos compridos que uso, colocando pequenas pérolas no lugar. Quando termina, puxa meus cabelos para trás dos ombros, e passa um lindo colar pelo meu pescoço. É uma peça simples, com uma única pedrinha brilhante pendurada no centro, e se destaca perfeitamente contra a pele pouco bronzeada e vestido escuro.

- Obrigada, mãe.

- De nada. - Ela sorri, deixa um beijo em minha bochecha e se afasta. - Vou descer para receber os convidados. Não demora!

- Pode deixar! - Rolo os olhos em uma expressão dramática, como se já estivesse cansada de ouvir isso. Ela fecha a cara para mim, tentando parecer séria em meio aos sorrisos, e sai do cômodo.

Sento na cama, suspirando, e ajusto o fecho da sandália, que estava me machucando. É um lindo salto preto que eu não usaria em nenhum outro lugar além de uma festa na casa de Oh Serim.

O vestido preto é solto em minhas coxas quando me levanto, e mostra apenas uma pequena faixa de pele acima do joelho. O decote é fechado, e o delicado cinto que adorna a peça parece uma cordinha de brilhantes. No espelho, minhas bochechas parecem coradas e vivas, e meu cabelo, cheio e quase preto.

Tento, mas não consigo evitar sorrir ao lembrar dos comentários de Jimin sobre as mudanças de cor que as mechas tem no sol.

Retoco o gloss antes de seguir para o corredor, ajeitando os anéis prateados nos dedos no caminho para o primeiro andar.

A música clássica ecoa suavemente pelas paredes, e o ritmo gostoso me faz ter vontade de andar dançando. Balanço o corpo ao som do piano, murmurando qualquer som no ritmo na música, completamente relaxada.

No entanto, quando chego no "deque" que dá vista para a entrada no andar inferior, congelo dos pés a cabeça.

Aquela mulher é de tirar o fôlego!

Ao lado de minha avó, mamãe recebe os convidados educadamente. Ela mesma é impressionante o bastante para parar um trem, mas a garota diante dela consegue ser cinco vezes mais.

As longas pernas bronzeadas se estendem sobre lindos saltos de sola vermelha, e o vestido azul marinho se abre em um delicado véu cravejado de cristais ao redor de seu quadril. Ela é alta, certamente maior que eu, e tem um ar tão elegante que me deixa sem fôlego.

Continuo estática aqui, encarando as ondas suaves que seus longos fios escuros fazem sobre seus ombros, enquanto ela agradece os elogios de minha avó e espera seu acompanhante.

E, quando consigo tirar os olhos do lindo sorriso com bochechas salientes que ela exibe, sinto que vou desmaiar ao ver o homem ao seu lado.

Min Yoongi é, sem dúvida, o favorito de todos os deuses na Terra.

- Puta que pariu... - É tudo que consigo murmurar antes de me esconder atrás de uma das pilastras perto do corrimão, encarando-o pela lateral.

Ele sorri e cumprimenta minha mãe, que sorri abertamente para ele, curvando-se em agradecimento. Obviamente, foi elogiada por ele também.

Ele está de terno, assim como na universidade, mas se aqueles são caros, esse poderia pagar minha formação completa e um apartamento mobiliado, também.

O paletó com gola de couro reluz nas luzes do lustre, e as mechas claras de seu cabelo combinam perfeitamente com a camisa branca e impecável. A calça preta é tão escura quanto o belíssimo sapato que ele usa, e combina com o colete que aparece discretamente em seu abdômen.

O que me deixa estagnada, no entanto, é a gravata azul que ele usa.

Azul marinho, exatamente como o vestido da garota que assume o espaço ao seu lado, encaixando o braço no dele, chamando-o para entrar.

Assisto hipnotizada enquanto eles seguem seu caminho, conversando e esbanjando elegância.

Definitivamente, o casal mais lindo que eu já vi em toda a minha vida.

Não saberia nem dizer de qual deles eu sinto inveja.

Pisco algumas vezes, tentando recuperar o foco. Ajeito a saia do vestido, descendo as escadas, ainda meio retardada pelo show de boa aparência que tive agora mesmo. Na metade da escada, sou chamada, mas não é por alguém da minha família:

- Garçonete!

Arregalo os olhos, e meu sangue esfria nas veias. Quando levanto o olhar e encontro os olhos dele, sinto que finalmente vou desmaiar.

Jimin usa uma linda camisa de cetim vermelha, soltinha em seu abdômen, com uma calça preta adornada por um lindo cinto escuro. Ele joga os fios escuros para longe dos olhos, e meu coração dispara quando ele sorri, a expressão e a mão estendida em minha direção, para me ajudar a descer os degraus que faltam.

- Jimin...

Ele sorri ao ouvir seu nome, e agita dos dedinhos em minha direção. Tremendo dos pés a cabeça, aceito seu toque, e seus dedos frios me fazem pegar fogo. A contradição mais eletrizante de todos os tempos.

- Bonhwa!

Diante dele, ainda perdida em seus olhos maquiados e profundos, ouço quando outra pessoa me chama. Infelizmente, não sou capaz de desviar o olhar quando Jimin levanta minha mão a altura do peito e acaricia meus dedos, sorrindo docemente só para mim.

- Oi, princesa.

Eu sei que ele me chama assim para debochar do vestido e da descida na escada, mas mesmo assim, minhas pálpebras tremem e minha bochecha esquenta na mesma hora. Bobinha, bobinha...

- Oi. - É tudo que consigo dizer. Ele sorri e (para meu completo desespero) beija meus dedos antes de soltar minha mão, afastando-se um passo.

- Ok... Agora é já a minha vez?

Dou um pulo quando viro para o lado e vejo Jungkook ali, apoiado no corrimão com um sorriso esperto nos lábios.

É óbvio que ele me viu sendo toda idiota pelo irmão dele. Meu deus do céu...

- Oi, Koo.

Ele abre os braços.

- Oi, coisinha. - Aceito seu abraço quentinho, tomando cuidado para não amassar sua camisa bonita. - Você 'tá tão bonita!

Dou uma risadinha nervosa, encolhendo os ombros antes de me afastar de seu aperto.

- Olha só quem fala! Você parece um modelo!

- O que um pouco de maquiagem não faz, certo? - Dou risada, relaxando aos poucos, e concordo com sua colocação. - Mas o que você faz aqui?

Pisco algumas vezes, tentando ignorar a presença quente de Jimin bem ao meu lado, e me concentro eu sua pergunta.

- Eu moro aqui, Jungkook. - Dou de ombros e o queixo dele cai. - É o aniversário de meu avô.

- Não brinca! - Ele praticamente grita, agitando os braços. Jimin se encolhe em um sorriso divertido, fascinado pela falta de amarras do irmão. - Isso é muito foda!

Não consigo segurar a risada, também encantada pelo jeito dele. Apenas Jungkook pode entrar em uma casa que ocupa um quarteirão inteiro e gritar "foda!" em plena recepção da festa de um milionário.

- Eu também acho! - Digo, ainda sorrindo por conta de seu jeito único. - E vocês são conhecidos da minha avó, certo?

- Sim. - Jimin coloca, me fazendo olhar para ele. - Minha mãe e ela trabalharam juntas por muitos anos.

Não cora, não cora, não cora...

- Entendi. - Pressiono os lábios em um sorriso discreto, tentando ser o mais natural possível sob seu olhar afiado. - Isso é legal também, nossas famílias se gostam!

Jimin abre um sorriso de lado, olhando fundo em meus olhos.

- Uma situação extremamente favorável à nossa amizade, certo?

E o plano vai pelos ares: minhas bochechas queimam imediatamente diante de seu tom debochado.

- Certamente... - Jungkook responde, rindo outra vez de minha falta de jeito. - Vamos sair da entrada? Eu quero sentar.

Sorrio e indico o corredor.

- Sigam a música. Eu vou ficar para recepcionar os outros.

Jungkook confirma e sorri, seguindo seu caminho. Jimin vai atrás, mas não antes de parar bem ao meu lado e estender a mão, murmurando um até logo enquanto acaricia minha bochecha quente com as costas dos dedos delicados.

O bendito sabe que é gostoso.

Depois que os irmãos partem, paro ao lado de minha mãe, que me olha sugestivamente antes de sorrir gentil para o próximo convidado.

Durante a - aproximadamente - meia hora que ficamos alí, chega apenas mais um conhecido: Kim Namjoon. Ele sorri surpreso ao me ver, e eu não preciso nem de dois minutos para reconhecê-lo como o bonitão de covinhas adoráveis que conheci em Busan, tantos dias atrás.

Com ele, além de seus pais (amigos de longa data de meu avô), chega um homem alto e extremamente elegante.

Os lábios cheios, a pele clara, os olhos amendoados e os sedosos fios escuros são uma imagem provida pelos deuses, certamente.

- Prazer, eu sou Kim Seokjin. - Ele se apresenta, sorrindo docemente para mim. - Namorado de Namjoon.

Eles seguem festa adentro, e alguns minutos depois os acompanhamos para circular entre os convidados presentes. A governanta nos substituí a porta, para a recepção dos atrasados, e vovó está furiosa porque meu tio mais velho vai, aparentemente, ser um deles.

Nenhum de nós falou sobre meu tio falecido, o dia todo.

Vovô passou a manhã toda meio cabisbaixo, mas agora parece animado, aproveitando o surgir da noite com seus amigos, falando de negócios como se fosse algo muito divertido.

Mamãe comentou, mais cedo, que a falta de Jeongeun faz não pode ser descrita, mas é melhor que não seja comentada, para evitar maiores dores. Concordei, mas agora sigo meio cabisbaixa pelos corredores, pensando que isso tudo seria muito melhor com tio Eun aqui.

Quando passo pela porta do banheiro no caminho para o pátio, quase cuspo o coração ao ser empurrada para o lado quando a porta abre com força.

- Opa...

- Ah, não! Você?

Caio na gargalhada com a frase da pessoa que me empurrou. Olho para a direção de onde veio, e encontro Yoongi, que coloca as mãos na cintura indignado ao olhar para mim.

- A gente não se encontra de outro jeito, não é? - Comento, e ele balança a cabeça em uma negativa desacreditada.

- Parece loucura. - Coloca, e eu sorrio, estendendo a mão para cumprimentá-lo. Ele sorri e aceita, e seu toque gelado me deixa arrepiada. - Você é alguma conhecida da família Oh?

- Sou a neta do patrão. - Brinco. - E você?

- Ah... - Ele parece surpreso, e me observa durante alguns segundos. - Parece mesmo, você é a cara da sua mãe. - Conclui, e seguimos lado a lado para o enorme salão de festa, onde está a comoção.

O salão onde a festa acontece de verdade é o último cômodo aos fundos da gloriosa casa, e se abre em uma enorme parede de vidro para o pátio, que também recebe os convidados.

Todos vestem roupas caras enquanto bebem o champanhe oferecido pelos garçons de terno. Jóias brilham debaixo das luzes do candelabro, e diversos olhares curiosos se viram para acompanhar os passos de Min Yoongi e da neta de Oh Dowoon.

- Mas, ei! - Estendo a mão, segurando seu braço e impedindo sua caminhada. Por baixo do tecido macio de suas roupas, consigo sentir sua estrutura magra, mas surpreendentemente firme. Tento não prestar atenção nisso ao solta-lo, sob seu olhar inquisidor, e continuar a fala: - O que você faz aqui?

Ele pisca devagar algumas vezes, mudando o peso de perna ao aceitar duas taças do garçom que passa discretamente ao nosso lado. Estende uma para mim ao questionar:

- O que você quer dizer com isso?

- Que meu avô odeia seu pai e você parece bem confortável nessa casa. - Aceito a taça e cruzo um braço sobre o peito, arqueando uma sobrancelha em deboche.

Para minha surpresa, ele dá risada.

- Se está me achando confortável, deveria ver meu tão odiado pai.

- O que?

Ele avança um passo, equilibrando a taça na pálida mão direita ao guiar o braço esquerdo por sobre meus ombros.

O ar se perde dentro de mim, e meus lábios se separam com a surpresa. Como se não estivesse me desregulando por completo, apenas pressiona o braço contra minhas costas, fazendo com que eu gire levemente sobre os calcanhares, acompanhando seu movimento.

O toque de sua mão contra a pele nua de seu braço me deixa eletrizada.

- Está vendo?

Completamente desorientada, desvio o olhar de seu maxilar marcado e acompanho o discreto movimento de seus dedos: ele pronta para meu avô, do outro lado do espaço.

Meu avô, que está gargalhando alto enquanto é abraçado por Min Ronwoo, o homem que ele jura odiar.

- Que? - Pisco algumas vezes, inclinando a cabeça para o lado. O movimento não intencional faz o perfume de Yoongi chegar até mim, e tento não suspirar enquanto respiro fundo, sentindo-o melhor. - Não entendo...

Ele sorri e (infelizmente) desliza a mão por meu braço, afastando-se de mim. A pele fica formigando, e meu estômago gela com a sensação.

- No mercado, são inimigos, e por isso se odeiam. - Ele dá de ombros, explicando com a voz discreta. - Fora deste, são apenas bons e velhos amigos.

Meu queixo cai enquanto assisto Ronwoo estalar um tapa descontraído nas costas de meu avô, e minha avó, ao lado dele, gargalha com a piada que acabaram de compartilhar. Meu nariz torce quando digo, desacreditada:

- Gente rica é tão estranha.

Yoongi abre um sorriso enorme, exibindo sua gengiva rosa em contraste com os dentes clarinhos, e sua risada discreta soa quando toca meu cotovelo, guiando-me para fora do centro.

- Eu não discordo nem um pouco.

Seguimos andando para a entrada lateral, que abre para uma área de convivência bastante desocupada agora.

- Sua família gosta de antiguidades. - Ele observa, e eu concordo em silêncio.

As paredes são cobertas por estantes com livros e alguns álbuns de família, além de muitas pequenas esculturas e vasos de porcelana. Há poltronas escuras pelo espaço, um carpete vermelho cobrindo o chão e, ao fundo, um belíssimo piano de cauda branco.

- Meu quarto é o único cômodo que não está coberto até o topo com essas quinquilharias.

Ele sorri, mas seu lábio treme no ato.

- Suponho que você tenha decorado sozinha.

- Não. - Pisco, dando de ombros. - Minha avó só fez o possível para me agradar. - Ele anda pelo espaço, observando as esculturas e as lombadas de couro nos livros mais caros da coleção. - Acho que ela quer que desistamos da mudança.

- Mudança? - Ele vira, olhando-me rapidamente antes de desviar para a estante. Percebo que ele se mantém a uma distância discreta do fundo da sala, e isso me deixa intrigada.

- Sim... - Aperto os olhos, observando seus movimentos. - Minha mãe sente que está grandinha demais para morar com os pais.

Ele assente, agitando o líquido transparente na taça antes de levá-la aos lábios, esvaziando-a por completo.

- Entendo...

Pressiono os lábios, e quando ele troca para o outro lado da sala, percebo que seus olhos flutuam discretamente para o instrumento que está a exatos seis passos dele. Suas mãos tremem quando ele estende os dedos para tocar a lombada de outro exemplar.

- Sim... - Digo, ainda analisando seu comportamento estranho.

Ele apoia o ombro na estante, levantando os olhos bonitos para mim. Engulo em seco.

Sinceramente? Preferia quando ele estava encarando os livros.

- Mas, diga-me, Bonhwa... - Agita a taça vazia, como se ainda houvesse espumante ali. - Você está gostando de Daegu?

Encolho os ombros, e me atrapalho com a taça ao engolir em seco, queimando sobre seus olhos.

- É cedo demais para dizer, mas não desgosto, até agora.

Ele sorri.

- Já é alguma coisa.

Confirmo, tentando fugir de sua atenção. Com isso, sigo até o piano, e me sento ao banco acolchoado diante dele.

Yoongi me encara nervoso.

- V... - Ele respira fundo, afrouxando a gravata. -Você toca?

Levanto a sobrancelha. Min Yoongi acaba de exitar?

- Não, nunca tive a chance de aprender. - Enquanto falo, ele se afasta de prateleira, apertando os lábios enquanto seus olhos quicam de mim para o instrumento atrás tão rapidamente que deve ser impossível que ele esteja vendo algo. - E você, toca?

Foi a pergunta errada a se fazer.

Ele engasga com o ar e se afasta dois passos, cambaleando. A taça balança perigosamente em sua mão, e seus dedos tremem ao apertá-la com força, evitando a queda.

- Yoongi?

Ele sobressalta, e pisca com força ao focar em mim.

- Desculpa, eu... - Ele passa a língua sobre os lábios subitamente pálidos, e recuando mais dois passos. - Eu preciso ir.

Com isso, me dá as costas e sai do cômodo. Não tenho reação além de ficar parada ali, segurando minha taça ainda pela metade, enquanto o vejo sumir por entre os convidados do salão adiante.

Quando me dou conta do que aconteceu, pisco rapidamente e apresso os passos, me precipitando para o espaço movimentado. No entanto, minha dedicação em encontrá-lo morre quando vejo um pequeno vulto dourado correndo por entre os convidados.

Meu coração se ilumina e tudo desaparece ao meu redor quando a pequena garotinha voa em meus braços, gritando em altas vozes, sem se importar com o ambiente ao redor:

- Bonbon! Olha meu vestido!

Youngmei pula para o piso e gira animada sobre os calcanhares, fazendo o tecido esvoaçante de seu vestido branco e dourado brilhar ao seu redor.

- Você está linda, meu amor!

E, num passe de mágica, esqueço completamente de Min Yoongi e sua fuga confusa enquanto sou arrastada pelo salão, sendo levada em direção aos pais da animada garotinha de seis anos que se diverte ao correr por entre as luzes.

🐞

As semanas que passei sem ver Mei foram compensadas em quase duas horas de monólogo puro por parte da garota, que eu ouvi com toda a atenção que pude juntar para os assuntos que variavam entre princesas da Disney e amigos da escolinha.

Sinto que estou prestes a desmaiar de cansaço quando, finalmente, outra família com criança chega e Mei, curiosa como sempre foi, imediatamente dispara em direção a eles, querendo descobrir quem é.

Em menos de dois minutos, estão deixando os convidados de cabelo em pé ao correr por entre os sapatos chiques, gritando "TE PEGUEI" e "NÃO, EU QUE TE PEGUEI" a cada vinte segundos. Crianças são rápidas.

Relaxo as costas contra o banco de madeira polida na área externa, que está mais vazia agora por conta da brisa fria que chega com a noite.

As árvores estão decoradas com lindos pisca-pisca brancos, parecendo cheias de pequenos vagalumes dourados.

Distraída, ajeito o fecho da sandália quando uma das garçonetes para ao meu lado e diz, discretamente:

- Com licença, senhora Bonhwa...

Levanto os olhos assustada, pedindo para que prossiga ao ver suas bochechas coradas e exitação na voz doce.

- Pode segurar para mim, por gentileza? - Estende a bandeja com uma única taça de champanhe, e força um sorriso assustado. - Preciso ajeitar o sapato.

Percebo que a conheci mais cedo, quando recebemos os garçons. Sorrio e aceito a bandeja. Ela se inclina e ajeita os cadarços do lindo sapato de couro enquanto eu olho ao redor, temendo ser vista por minha avó.

Se ela me pega segurando uma bandeja, me faz engolir ela rapidinho.

Ao invés de minha avó, no entanto, vejo outra pessoa. Sinto meu sangue gelar diante do sorriso esperto.

- Uma vez garçonete, sempre garçonete.

Observo confusa enquanto Jimin estende os dedos bonitos e pega a taça única na bandeja, sorrindo ladino para mim. Imediatamente, a mulher uniformizada ajeita a postura e tira o objeto de minha mão, seguindo para a cozinha com as bochechas pegando fogo.

Meu queixo cai conforme o sorriso dele fica maior.

- Você pediu para ela fazer isso, não é?

Ele cai na gargalhada, sentando-se ao meu lado sem pedir permissão.

- Eu não podia perder a chance. - Confessa. - Desculpe.

Viro os olhos.

- Você é impossível.

Ele respira fundo, apoiando o queixo na mão e sorrindo para mim.

- E você, Oh Bonhwa, é linda.

Separo os lábios, olhando em sua direção. Em meio às luzes e música tranquila, Jimin parece ainda mais com um anjo do que normalmente.

Fico sem palavras, mas ele não exige respostas ao se levantar e estender a mão para mim. Assim como antes, continua impecável com a camisa vermelha contrastando a pele bronzeada e cabelos escuros.

Hipnotizada pela imagem, aceito sua mão e me levanto sem pensar duas vezes. Ele me guia até um espaço mais vazio, ao canto, e caio na realidade quando sua voz doce soa perto de mim:

- Você sabe dançar?

Pisco devagar, resistindo contra o cheiro cítrico de sua fragrância. Sua mão desliza até a minha, e a palma quente de seus dedos faz meus braço formigar quando ele delicadamente envolve minha mão.

- Oi?

Seu sorriso se abre de forma preguiçosa diante de mim, e as luzes da árvore atrás dele reluzem em seus fios escuros. Sua outra mão está em minha cintura, mais próxima de minhas costelas, e sinto que estou flutuando com ele, sem realmente entender o que acontece ao meu redor.

- Dançar, Bonhwa. - Esclarece. - Eu quero saber se você sabe dançar, entende?

- É claro que não. - Respondo, apertando os olhos em busca de concentração. - Por que pergunta?

- Bem.. eu queria saber se devíamos parar antes de você aprender, então.

Vinco as sobrancelhas, inclinando a cabeça em confusão.

- O que?

Seu sorriso preguiçoso ganha espaço, e sinto que vou vomitar quando ele se inclina em minha direção. Seu hálito quente faz meu rosto formigar, e seu nariz toca minha bochecha quando ele guia os lábios em direção a meu ouvido.

- Nós já estamos dançando, princesinha.

Penso em rir de sua colocação, mas então ele se afasta e percebo que paisagem está oscilando sobre seus ombros.

Confusa, olho ao redor.

De fato, estamos dançando.

Não como profissionais, obviamente. Mas suas mãos contra minha palma e em minha cintura me guiam em um leve balançar em nosso cantinho. Arregalo os olhos ao perceber, e ele dá uma de suas risadas engraçadas, deslizando a mão por minhas costas.

Agora, uma de suas mãos apoia minha lombar, e a outra acaricia as costas de minha mão.

- Você é tão adorável. - Comenta, e percebo que estamos muito próximo quando meu peito toca o seu. - Tem noção do quanto?

- Hm... - Pisco algumas vezes, incapaz de raciocinar enquanto observo os movimentos suaves de sua boca cheinha. - Acho que não.

Seu abdômen treme contra o meu quando ele ri outra vez.

- É, eu também acho que não.

Ele continua olhando em meus olhos, e um arrepio deixa minha nuca formigando quando seu olhar desce, encontrando meus lábios, e paramos de nos mover.

Ele respira fundo, com seu peito subindo e descendo devagar, enquanto o meu acompanha o movimento. Sua mão pressiona a base de minhas costas, e seu toque suaviza em minha mão.

Meu coração está praticamente lutando contra minhas costelas, e é impossível que ele não sinta como meu batimento dispara quando seus lábios se separam, e seus fios caem sobre os olhos quando ele se inclina para mim.

- Todos juntos para o brinde ao aniversariante no salão principal!

A voz de minha mãe me atinge como um balde de água fria na nuca, e Jimin não me impede quando me afasto um passo, e então dois e mais dois, ainda olhando em seus olhos.

Ele ia... Meu deus, ele ia...

- Eu preciso ir. - Escorrego na grama quando disparo para a porta, sentindo meu rosto queimar com força durante minha corrida.

Passo por minha mãe como uma bala, e aceito a taça que minha avó estende diante de mim.

Minha respiração está desregulada, e sinto que posso cuspir meu coração se precisar abrir a boca ainda hoje.

Céus, até meus olhos parecem estar queimando de vergonha agora.

O calor me desconcentra, e dou um pulo quando os dedos frios como gelo tocam minhas costas.

- Filha, você está bem?

Levanto os olhos, soltando o ar lentamente pela boca antes de falar:

- Sim, claro.

Minha mãe não parece convencida, mas fica em silêncio quando meu avô toca a taça, fazendo o tilintar silenciar os convidados para iniciar seu discurso.

Enquanto ele agradece a presença de todos, meus olhos encaram a multidão.

Grande erro.

Ali, diante de todos, como se tivesse se posicionado de propósito, está Jimin, bem ao lado de Jungkook. E está olhando fixamente em minha direção.

Engulo em seco diante de sua atenção, e desvio os olhos quando meu avô passa a falar sobre o ano que passou. Ainda encarando a multidão, meus olhos esbarram em outra pessoa que me encara.

A garota que chegou com Min Yoongi. Minha avó contou que seu nome é Kim Jennie, e que ela é irmã de Namjoon. Este está ao lado dela, com seu namorado.

O olhar da garota me analisa friamente, e um arrepio deixa os pelos do meu braço em pé diante de seu julgamento. Desconfortável, vago com o olhar outra vez. Meu avô agora fala da empresa.

Finalmente, encontro Min Yoongi. Ele não olha para mim. No lugar, encara meu avô tediosamente, mas parecendo atento à sua própria maneira.

O que realmente chama minha atenção é a mulher mais velha ao seu lado. Ela parece atenta ao discurso, e sorri docemente nos momentos certos. Seus movimentos parecem calculados, e suas roupas caras são discretas na medida certa, também.

Tudo nela parece falso e superficial. Como se ela tivesse planejado a posição de cada fio de cabelo minuciosamente antes de deixar sua casa.

Meu avô fala sobre como é gratificante estar próximo da família, e o olhar da mulher encontra o meu quando ele cita meu nome.

Cada pelo de meu corpo fica em pé, e meu estômago gela de uma forma terrível.

Felizmente, o olhar amoroso de meu avô neutraliza aqueles olhos de cobra, e finalmente consigo entender o que minha avó quer dizer ao chamar aquela mulher de monstro.

O brinde termina com uma inesperada homenagem ao meu tio, Jeongeun, e a falta que fará até o último dia de nossas vidas.

Esvazio o gole único da taça o mais rápido possível, e tento me perder em meio a multidão antes que mais alguém decida me encarar.

Tento, mas falho miseravelmente ao sentir os dedos de minha mãe se fecharem em meu braço.

- Você vem comigo agora, espertinha.

Ah, droga.

Ela me guia para o pátio da frente, e cumprimenta educadamente cada um dos empregados que encontramos no caminho. Chegando diante de um banco no jardim, me solta e me encara com os olhos brilhando.

Ai, meu deus...

- Ok, pode me contar tudo agora.

Se eu fingir que não sei o que ela quer, ela desiste?

Duvidoso, mas vale a tentativa.

- Contar o que, doida?

Ela põe as mãos na cintura, e seu sorriso se abre assustadoramente.

- Contar sobre o garoto saído de uma revista da Vogue que estava te secando a dois minutos atrás.

- Oi?

Ela ri, batendo os pés no chão, toda agitada.

- Fala logo, filha! Eu tô doida pra saber! - Declara, perdendo de vez a compostura. - Vi vocês lá fora, também...

- Ele é um amigo.

Levanta a sobrancelha.

- Aham.

- Eu tô te dizendo, ué! - Cruzo os braços. - Se não vai acreditar no que digo, por que perguntou?

- Porque achei que você já tinha passado da idade de tentar me enganar.

Bufo, soltando os braços com força.

- É só um amigo!

- Um amigo bem interessado...

- Mãe...

- e bonito...

- Mãe.

- e atraente...

- Mãe!

- Ah, tá bom, então. - Ela vira os olhos, cruzando os braços como uma criança emburrada. Ela faz até um beicinho! - Mas ele dá em cima de você, né?

- Não!

Ela ri.

- Não?

Bufo.

- Não de verdade.

- Ahá! - Grita em altas vozes, dando pulinhos desordenados e apontando para mim como uma louca. - Eu sabia, eu sabia, eu sabia!

- Tá bom, tá bom. - Concordo, tentando abaixar seus braços e fazê-la parar antes que atraia a atenção das pessoas dentro da casa. - Shhh, para quieta!

- Ele é legal?

- O que?

Seus olhos se arregalam, e o sorriso de lado que surge em seu rosto me deixa em alerta imediatamente.

- É bom que seja, porque ele tá vindo para cá agorinha.

- Ah, tá sim. - Viro os olhos, mas perco toda a confiança quando ouço passos atrás de mim.

Filha da puta!

- Atrapalho?

A voz sedosa me agita e me acalma ao mesmo tempo. E não consigo dizer nada enquanto arregalo os olhos e não digo nada.

Talvez, se eu ignorá-lo...

- Não atrapalha de jeito nenhum. - Ela responde por mim. - Vou deixar vocês a sós.

E, com uma piscadela nada discreta, se vai.

O silêncio se estende enquanto a brisa gelada me deixa ainda mais arrepiada, e penso em sair correndo quando ele tosse atrás de mim.

- A sua mãe não te ensinou a olhar para as pessoas enquanto fala com elas?

- Eu não estou falando com... - Minha voz falha quando minha resposta esperta entala na garganta. Aperto os olhos fechados e solto o ar pela boca ao sentir o tecido quente cobrir meus braços.

Giro sobre os calcanhares, e Jimin aproveita para ajeitar o casaco macio que acaba de colocar sobre meus ombros.

- Você estava gelada mais cedo. - Explica ao ajeitar a peça para que não escorregue, e suas mãos pousam em meus ombros quando termina. - Eu tinha esse no carro.

Meu olhar encontra o seu e meus pés se encolhem dentro do sapato apertado com a sensação enlouquecedora que toma conta de mim.

O que acontece comigo, meu deus...

- Obrigada.

Ele sorri.

- De nada. - Então desliza a mão pelo meu braço direito, me fazendo estremecer de leve ao tocar minha mão, indicando o lado oposto com a cabeça. - Quer sentar?

Confirmo, e tento manter a concentração ao acompanhá-lo. Dessa vez, quando sentamos, ele se mantém perto.

Suas pernas não tocam as minhas, mas seu braço descansa sobre meus ombros, preguiçosamente.

- Sabe, Bonhwa... Você me deixa confuso.

Aperto os lábios, sem querer falar. Eu não tinha exatamente o que dizer, de qualquer forma. Como se soubesse disso, ele apenas continua seu monólogo:

- Você me deixa chegar perto e não recusa meus toques ou minha atenção. - Para exemplificar, sua mão, antes apoiada no banco, sobe e toca meus cabelos. A eletricidade corre pelo pescoço e pela minha bochecha, e meu olhar sobe até o seu involuntariamente.

Ele está olhando para minha boca.

- Mas sempre que algo está prestes a acontecer... - Ele se inclina, e sua outra mão toca meu queixo. - você foge.

Solto o ar devagar, mas com força, e tento lamber os lábios secos ao buscar uma resposta. Com isso, Jimin morde o lábio inferior, e posso jurar que chegou mais perto enquanto isso.

- Eu não fujo de você.

Ele nega, e um sorriso debochado se abre em seu rosto.

- Fugiu hoje, enquanto dançávamos.

- Minha mãe estava chamando. - Defendo. Ele inclina a cabeça para o outro lado, e sua mãos solta meu cabelo ao que seus dedos passam a desenhar a curva do meu pescoço.

Ele não desvia o olhar um segundo sequer.

- Fugiu na escada, mais cedo. - Diz. - Quando te ajudei a descer.

- Fui cumprimentar seu irmão.

Ele ri de leve, e o ar quente que sai de seus lábios acaricia a ponta do meu nariz gelado.

- Sempre com uma resposta na ponta da língua. - Ele balança a cabeça, desacreditado. - Qual vai ser a próxima desculpa?

- Você também foge. - É tudo que consigo dizer. Ele ri outra vez.

- Não estou fugindo agora.

- Mas fugiu no estacionamento, na terça-feira.

E com isso, joguei o clima todo ao vento.

Ele se afasta, e seus dedos param de acariciar meu pescoço arrepiado.

- Você realmente não esqueceu, não é?

- Você me deixou sozinha!

Ele tira o braço de meus ombros, e apoia os cotovelos nas coxas.

- Achei que tinha encontrado outra carona.

- Eu te falei que ia de táxi.

- Você disse isso antes de Min Yoongi aparecer.

Meu queixo cai.

- E o que Min Yoongi tem a ver com isso?

- Me diz você.

Seu olhar encontra o meu, mas está tão frio que quase não posso reconhecer.

- O que você quer que eu diga? - Fecho a cara e, sem conseguir conter o impulso, me levanto, encarando-o de cima. - Ele estava apenas falando comigo.

- Uma longa conversa.

Caio na gargalhada.

- E desde quando você tem o direito de se incomodar com as minhas conversas? - Os olhos dele se arregalam, e ele se levanta imediatamente, agitando as mãos em negativa.

- Não foi o que eu quis dizer! - Recuo um passo, e ele parece estar perto de chorar ao perceber isso. - Eu... Olha. - Passa a mão pelos cabelos, e então a esconde nos bolsos da calça. - Eu não me dou bem com Min Yoongi, e ver você entre nós dois me trouxe lembranças ruins.

- Entre vocês dois? - Abro os braços, levantando o tom de voz. - O que isso quer dizer?

Ele suspira, e seus ombros caem.

- Quer dizer que eu sou um idiota e não devia ter te tratado assim. - Conclui, apertando os lábios. - Eu sinto muito por ter sido infantil antes e agora.

Cruzo os braços.

- Por que você não gosta dele? - Ainda estou brava, mas minha curiosidade fala mais alto.

- De Yoongi? - Confirmo. Ele encolhe os ombros. - Longa história.

- Tenho tempo.

- Desculpa, Bonhwa. - Ele recua, se sentando outra vez. - Não somos próximos o bastante ainda.

Ai. Essa doeu.

Penso em demonstrar minha "mágoa", mas a verdade é que ele não está errado, então apenas relaxo a postura, apertando os ombros.

- Vocês são muito amigos? - Ele quebra o silêncio.

- Não. - Dou de ombros, ainda em pé. - Mal nos falamos.

- É por isso que ele correu de você mais cedo?

Meu queixo cai outra vez.

- Você anda me espionando, Park Jimin?

Ele ri, mas não parece natural.

- E eu preciso estar espionando para ver o cara correr de uma sala que só tem você dentro? - Pergunta, e minha sobrancelha sobe em confusão. - Ele esbarrou em mim no caminho, e eu vi que você estava vindo atrás.

- Certo.

O silêncio pesa outra vez, e ele abre os braços, gesticulando para que eu continue.

- Mas e aí, o que aconteceu?

- Nada. - Dou de ombros, percebendo que realmente fiquei magoada com a atitude repentina de Yoongi. - Eu pedi se ele toca piano e ele saiu correndo.

- Ah.

Opa. Esse "ah" foi estranho.

- O que foi?

Ele aperta os lábios, abrindo os olhos em minha direção.

- Nada. - Esclarece. - É só que Yoongi não gosta de pianos.

Dou risada.

- Por que? Um piano matou a mãe dele?

Ele ri alto, balançando a cabeça.

- Quase isso.

- O que?!

Ele ri ainda mais, e balança as mãos em "x", negando.

- Não literalmente, mas enfim... É complicado.

- Eu sou bem esperta.

Os olhos dele se arregalam imediatamente.

- Não. Nem vem, Bonhwa. - Passa a mão no pescoço, como se me pedisse para cortar essa. - Eu não te conto a história.

Bato o pé no chão, abrindo os braços.

- Porquê não?

- Porque essa não é uma história que você deveria ouvir de alguém que não gosta do Yoongi.

Aperto os lábios.

- Você vai distorcer o acontecimento?

- O que?! - Seu tom de voz se eleva, e ele aperta as costas contra o banco, exasperado. - Claro que não.

- Então... - Gesticulo, balançando o corpo com a ansiedade. A curiosidade vai me matar, meu deus! - Por que não?

- É um negócio pessoal, ok?

- Ji...

- Bon... Não.

- Eu não vou espalhar ou algo assim!

- Eu sei que não vai. - Estende as mãos, pedindo calma. - Mas... sei lá, é melhor não, meu bem.

Meu lábio inferior treme mediante o apelido, mas sei que ele está tentando me enrolar.

- Jimin...

- Ai, que droga. - Bate as mãos na coxa, irritado. - Você pretende ser amiga dele?

- O que?

- Eu só vou contar essa história se você não pretende se aproximar dele.

- Porquê?! - Me exaspero, arregalando os olhos. - O que isso tem a ver?

- É a minha condição, Oh Bonhwa.

- Porquê?!

- Porque, se vai se aproximar dele, deixe que conte quando se sentir à vontade. - Fala, como se fosse óbvio. - É o mais justo.

Penso em reclamar, mas o desgraçado está certo.

De qualquer forma, ele nunca vai saber que menti ao dizer:

- Não vou. Me conta.

Seu olhar estreita, me analisando cuidadosamente. Engulo em seco, achando que ele vai negar. Não consigo parar de balançar os dedos com a adrenalina que me impele a saber a verdade. Eu preciso saber o que é!

Agora que começou, não vou conseguir dormir até saber.

Quando penso que vou acabar ficando na mão mesmo, ele se ajeita no banco, e com uma expressão derrotada, começa:

- Você sabe que algumas famílias mais abastadas tendem a colocar os filhos para fazer vários cursos, certo? - Pergunta, gesticulando com os dedos. - Para mantê-los ocupados enquanto os adultos trabalham.

- Sei. - É claro que sei, essa foi a infância da minha mãe. - Prossiga.

- Com Yoongi não foi diferente. - Ele ajeita a postura, tirando os fios que insistem em cair sobre seus olhos. - Ele fazia aulas de desenho, pintura e... Bem, música.

Ele faz silêncio, mordendo os lábios enquanto me encara receoso. Está pensando em desistir de contar.

- Continua, Jimin.

Ele suspira e agita os cabelos outra vez, nervoso com minha insistência.

- Ele também tinha algumas aulas de inglês e etiqueta. Coisas que seriam úteis para a vida adulta.

- A criança devia adorar. - Debocho. Jimin concorda, sorrindo de lado.

- De qualquer forma... - Seu olhar é insinuador, e entendo aonde quer chegar. - Com o tempo, Yoongi passou a apreciar uma aula em específico.

- As aulas de música. - Concluo, já que a conversa toda começou por causa do piano. Jimin concorda outra vez.

- Yoongi amava aquele piano. - Relembra, e fico confusa com o brilho em seus olhos ao falar de uma pessoa com quem "não se dá bem". - Era uma peça linda, branca como a neve, exibida no centro da recepção da casa. Quando ele tocava, podia-se ouvir em qualquer comodo.

- Você parece conhecer bem a história. - Comento, esperando alguma reação defensiva.

Ele apenas me ignora.

- Um dia, sua mãe cancelou as aulas de piano da semana para que ele se empenhasse mais em inglês. - Ele respira fundo, chegando perto do final. - Ele enlouqueceu com ela.

- O que ele fez?

- Gritou, fez um escândalo dizendo que não queria ir para as aulas extras de inglês. Ele queria ir para as aulas de piano. - Ele torce os dedos, e seu olhar encontra o meu mais uma vez. - Ele queria ir para as aulas de piano porque... Bem, porque... - Puxa o ar com força, e quando solta, seu rosto parece perder um pouco da luz. - Porque queria ser músico quando crescer.

- Oh-Oh. - É tudo que consigo responder.

- É. - Aperta os lábios, agitando as pernas cruzadas. - Oh-Oh.

- E o que ela fez?

- Obrigou ele a ir para a aula de inglês.

Pisco duas vezes, insatisfeita com sua resposta vaga.

- E aí?

- Bonhwa...

- Jimin... - Interrompo, cruzando os braços. - Já me contou até aqui. Termina a história.

Ele exita. Seus olhos se apertam em minha direção, como se tentasse ler minhas intenções sob a pele. Por fim, decide:

- Tá.

Seu olhar me repreende assim como seu tom, mas mesmo assim me sinto satisfeita quando ele continua:

- Quando ele chegou da aula, pronto para passar o dia todo no amado piano, bem...

Puxa o ar devagar mais uma vez, dando-me tempo para respirar ou dando-se tempo para criar coragem para continuar. Infelizmente, nem todas as pausas do mundo seriam o suficiente para me preparar para o que ele diz a seguir:

- Quando Yoongi chegou, encontrou o piano pegando fogo no centro do pátio.

- O que?

Digo a esmo, sem saber exatamente se quero ouvir a explicação. O impacto da frase me atinge direto no peito, e de repente minhas pernas parecem fracas demais para me manter de pé. De olhos arregalados, não consigo acreditar no que acabo de ouvir.

- Não pode ser o que estou pensando que é...

Jimin se levanta devagar e anda até mim. Receoso, estende a mão até minha cabeça e, enquanto acaricia de leve meus cabelos, tenta em vão me confortar mediante suas seguintes palavras:

- Min Yerim queimou o piano de Yoongi até às cinzas, diante dos olhos dele, quando ele tinha apenas oito anos de idade.


Notas Finais


Oi, galera! Não esqueçam que o comeback dos nossos meninos é HOJE a uma hora da manhã! FALTA SÓ CINCO HORAS SISHSUAHSUAHS TO TREMENDO TODA

Espero que vocês tenham gostado do capítulo. Saiu como eu esperava, embora um pouco atrasado pq hoje foi tudo uma loucura!

Espero que vocês tenham gostado, e me perdoem pela bomba no final rsrsrs

Comentem bastante para aquecer meu coraçãozinho antes do comeback ❤️😔

BEIJOS E ATÉ SEMANA QUE VEM NHONHONHO


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