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História Tormento - A última chance


Escrita por: trishakarin

Notas do Autor


Eu não tenho uma boa notícia. Na sexta possivelmente eu não consiga postar um novo capítulo.
Na noite de ontem, meu irmão sofreu um acidente e teve a perna amputada, o que nos dará bastante trabalho e me impossibilita de escrever um novo capítulo. Vou pedir só um pouquinho de paciência e na terça irei fazer o possível para enviar um novo capítulo para vocês!
Obrigada por me acompanharem até aqui e continuarem lendo. Torço sempre pra que todas vocês estejam curtindo a Fic, se emocionando e se envolvendo como eu ando enquanto escrevo.
Sintam-se abraçadas e até o mais breve possível :*

Capítulo 10 - A última chance


O homem irritou-se com a insistência de Lauren em apontar o rifle diretamente em seu rosto. Ele ergueu-se da pedra onde obediente sentava e apontou o dedo para as garotas, que por puro reflexo também ficaram de pé. Lauren segurava a madeira da arma sob seu braço, enquanto seu dedo tremia insistentemente sobre o gatilho, prestes a atirar naquele estranho.

- Eu já mandei parar de mirar essa merda na minha cara, sua vadia - ele bravejou furioso.

- E eu já avisei para ficar sentado, ou eu dou um tiro.

- Um tiro? Uma filhinha de papai feito você? Acha mesmo que seria párea para um homem como eu?

- Um homem? Onde está esse homem? Só vejo um idiota com as calças mijadas e um bafo que nem o mais sujo dos porcos têm.

- Ora sua…

Ele ameaçou avançar em sua direção, mas Lauren apertou a arma com ainda mais força, fazendo-o estancar o passo e enrijecer seu corpo temendo que a jovem atirasse acidentalmente. Sim, aquela arma não seria capaz de matá-lo, mas tinha força suficiente para deixá-lo gravemente ferido e Lauren sabia que não pararia de atirar até que a própria arma alertasse o fim de sua munição. Claro que sabia que talvez não passassem de dois cartuchos. Henrique deu um passo para trás, sabia que o medo das garotas a faria disparar e não podia arriscar perdê-las de vista. Ficou de frente para elas, afastado, encarando-as com certo temor.

- Fique paradinho aí, rapaz - Lauren disse rispidamente - Eu não tenho qualquer receio em puxar esse gatilho, tendo em vista todo o mal que já nos fizeram. Te matar seria um a menos e isso me basta.

- Me matar? Com isso aí? - bradou com desdém.

- Não subestime minha mira. Não sei se lembra, sou americana e é comum termos treinamento, ainda que seja por diversão.

Não era verdade, Lauren sabia disso. Mas a fama dos americanos e suas armas eram grandes e sabia que aquela mentira passaria facilmente por uma verdade. Henrique a encarou procurando ver a mentira em seus olhos, mas aquele rapaz parecia estúpido demais para isso. Ele balançou a cabeça negativamente e agora tinham uma situação bastante complicada. Elas tinham a arma, uma arma ruim, que não as livraria do perigo, mas daria uma boa chance de sobreviverem. Ele nada tinha além de sua força de homem, ainda que esguio e desastrado. Estavam praticamente empatados. O único problema seria que, não era uma situação de apenas saírem correndo e estariam livres. Se o deixassem ali, ele iria voltar ao vilarejo e as chances dela diminuiriam quase 100%.

Henrique não poderia sair dali com vida e isso começou a ficar cada vez mais claro na cabeça de Lauren. Camila continuava a apertar suas vestes e aquele gesto impensado a deixou nervosa, como se forçada a fazer alguma coisa. Mas não sabia o que fazer. Nunca matara ninguém, nem mesmo agredira, como poderia naquele instante, matar uma pessoa? Mas não poderia deixá-lo partir com vida, pois isso arriscaria sua própria e a da pessoa que até aquele momento, ganhara uma importância ainda maior em sua vida. Não tinham mais forças para continuar fugindo, tinham que acabar com aquele homem.

- Não faça isso - disse ele nervoso.

Parecia conseguir ver por entre os olhos claros de Lauren o que a garota havia pensado. Seu olhar que até aquele instante era calculista e agressivo tomara uma proporção diferente, agora ocupava-se com a incerteza sobre a insegurança da garota indefesa a sua frente. Ele ergueu as mãos mais uma vez, em um sinal de paz. Mas Lauren não acreditava naquela atitude, sabia que havia algo mais por trás daquela ação.

- Não faça isso, garota.

- Eu que te digo isso, roncador - Lauren disse com os olhos gélidos.

- Eu não te farei mal.

- Eu não acreditarei nisso.

- E o que pretende fazer?

- Não temos cordas para amarrá-lo e não poderíamos deixá-lo solto para avisar os demais.

- Eu não faria isso.

- Eu não o conheço, rapaz. Eu não posso confiar em alguém que trabalha para aquele que encomendou nossas cabeças e ainda aguarda por nossos corpos. Você faz a menor ideia do que isso significa?

- Eu não faria mal a vocês, eu já…

Mas o que ele dizia não encaixava com o que ele planejava fazer. Naquele instante, Henrique não queria mais esperar para ver se levaria ou não um tiro, avançou sobre Lauren com toda sua força de homem. O susto não deixou a garota reagir e o corpo rígido de seu agressor caiu sobre si. Camila afastou-se assustada, e ver aquele Ogro sobre o corpo de Lauren, fez com que um misto de ódio e repulsa tomassem conta de repente de sua sanidade. O rifle ao qual Lauren empunhava, havia sido lançado para longe. Foi o instinto e reflexo que a garota tivera no momento do ataque.

Ela ainda lutava insistentemente contra Henrique, que segurava seus pulsos com força, juntando suas mãos sobre sua cabeça e ele era forte, ah como era forte. Segurou suas mãos com apenas uma e com a outra bofeteou seu rosto com força. Lauren sentiu o leve gosto de sangue invadir sua boca e seus olhos imediatamente se encheram de lágrimas. Seu coração, que batia apressado, parecia poder ser ouvido e um sorriso malicioso nos lábios daquele homem, surgiram como deboche. Lauren irritou-se, cerrou os olhos e gritou. Gritou tão alto que temia ser ouvida pela gangue que se escondia em um vilarejo abandonado no meio do nada. Mas qual o temor? Se mais alguém aparecesse, talvez aquilo acabasse mais rápido.

Nesse breve instante, ao qual em sua mente moviam-se momentos felizes, ouviu-se um estrondo. Um estrondo tão alto que seus tímpanos pareciam ter vibrado com força, causando uma agonia momentânea. O rifle. Lauren abriu os olhos quase que no mesmo instante que se ouviu o som ensurdecedor da arma, bem a tempo de gotas quentes de sangue caírem sobre seu rosto já aquecido pelo tapa forte que Henrique lhe dera. O líquido viscoso, escorreu rapidamente, pingando sobre sua pele. O asco que sentira, o arrepio de nojo fora tão grande, que o impulso de virar seu rosto fora maior, e naquele instante, as mãos de seu agressor foram levadas ao seu rosto. Lauren se desvencilhou do rapaz, engatinhou para longe e olhou para trás. Ele tinha a mão em um lado do rosto, cobrindo desde a maçã do rosto até seus olhos.

Lauren olhou para trás, tentando entender o que havia acontecido e avistou Camila, mais a frente, com o rifle nas mãos, já baixo, com uma suave fumaça deixando o cano longo da arma. Ela havia disparado, em um ato de desespero ao ver que estavam claramente encrencadas. O descuido do roncador fora ameaçador, ele simplesmente esquecera da presença única da outra garota e avistara na mais ativa, o risco sobre si. Talvez não acreditasse que aquela garota esguia, de corpo magro e aparência indefesa, fosse capaz de raciocinar em um momento assustado e conseguir puxar o gatilho. Ainda que conseguisse fazer tudo aquilo, o tremor em suas mãos não permitiria que acertasse a mira.

Estava enganado. E como estava enganado. Camila havia conseguido fazer aquilo com maestria e mais que isso, havia conseguido acertar a parte mais delicada daquele homem que até então parecia estar em vantagem. Uma coisa ele havia sido bastante honesto. A arma não fora capaz de matá-lo, mesmo com um tiro certeiro em seu rosto. Ele permanecia ajoelhado, em um choro infantil. Sua mão pousada em seu rosto, já banhado com o próprio sangue. O líquido que atravessava a brecha de seus dedos, escorrendo por seu antebraço até pingar lentamente sobre o chão de areia daquela mata fechada.

- Suas putas - ele esboçou.

O coração de Lauren disparava, sua respiração estava ofegante e o medo daquela situação parecia transbordar. O que fariam? A coragem para livrar a amiga da agressão que estava sofrendo fizera Camila agir por impulso, mas matar aquele homem a sangue frio, parecia uma tarefa distante.

- O que vamos fazer?

Camila parecia estar lendo seus pensamentos. Lauren a encarou, sabendo o que ela queria dizer com aquela pergunta. Mas não sabia. Suas mãos ainda tremiam e isso a fez se perguntar como a latina conseguira disparar certeira no olho do rapaz. balançou a cabeça como se afastasse pensamentos ruins da mente e agarrou o rifle que a garota ainda segurava. Empunhou-o a sua frente, com tanta força, ao que neste momento não cometeria o  mesmo erro.

- O que você pretende? - Henrique perguntou ainda segurando seu rosto.

- Eu não sei… o que você acha? - Lauren perguntou friamente, engolindo o remorso por vê-lo sangrar tanto.

- Eu acho que você vai morrer, garota - ele disse grunhindo de ódio - Você vai morrer bem lento.

Lauren sabia que se o deixasse ali, realmente isso aconteceria. Provocara a ira do homem e isso já fora demasiadamente arriscado. Talvez se o amarrasse ao redor de uma árvore. Não, isso não funcionaria. Estavam ainda próximas ao vilarejo e talvez um guarda que fosse ao seu encontro o visse ali. Em um rompante de luz, Lauren teve uma ideia. Agachou-se frente ao homem, puxando sua camisa com força até rasgar. Ele, ainda dolorido por conta do disparo que parecia ter se espalhado entre diversos pontos pequenos, havia sido atingido como se ficasse em uma chuva de granizo. O tecido envelhecido e sujo se rasgou, na largura suficiente para criar uma espécie de algema. Sabia dar nós muito bem, e agarrou as mãos do rapaz.

Ele a impediu quando puxou sua mão que lhe cobria o rosto. Ele não a tirara dali, mas Lauren não se preocuparia com ele. Se o olho caísse, que ele ficasse no chão. Não era esse tipo de pessoa, sentia o coração dilacerar com a imagem que tinha, mas engolia sua pena, pois aquele homem não merecia sua compaixão. Se estavam naquela situação lastimável, ele tinha sua parcela de culpa.

Além disso, sabiam que ele tinha planos para ela e esses planos não eram nada bons. Com um pouco mais de força, Lauren conseguiu tirar sua mão do rosto. A ânsia de vômito foi imediata, subiu-lhe a garganta amargando a boca e saindo em um jorro nojento que estatelou-se no chão. A imagem que tivera não era boa, nem um pouco boa. O disparo havia acertado o canto do rosto de Henrique e arrancado toda a pele desde a maçã do rosto até o centro de sua testa. Seu olho direito já não estava mais ali, talvez havia estourado dentro da sua órbita ocular e se reduzido apenas a globos de sangue. Era nojento. Era horrível. Ele ainda sangrava e tinha consciência que ele sangraria até a morte.

Lauren rasgou mais um pedaço de pano da roupa de Henrique, dessa vez maior e sua roupa agora estava rasgada até a altura das costelas, mas apenas de um lado. Segurando a vontade de vomitar, envolveu o rosto do rapaz com o pano sujo, cobrindo o buraco causado pelo rifle que Camila atirara. Ele gemeu de dor, quase gritando ao sentir o pedaço de pano tocar seu ferimento. Mas ele estava preso, suas mãos amarradas em um trapo sujo que vestia o impediam até de reagir com socos contra Lauren. Feito! Aquele buraco horrível em seu rosto agora fora coberto pela própria roupa. Agora se tornava úmida e vermelha, pelo sangue que insistia em jorrar. Henrique estava ficando fraco, mas se elas não tinham alimento, que dirá medicação para evitar uma infecção causada pelo curativo mal feito.

Com o cano frio do rifle, Lauren pediu para que o homem levantasse. Ele não o fez, permaneceu sentado ao chão, com as mãos amarradas e encarando o chão com o único olho que parecia ainda enxergar alguma coisa. Ele chorava baixinho, como um garoto de dez anos que apanhara da mãe. Lauren comoveu-se e ao olhar para trás, percebeu que Camila chorava instintivamente. As lágrimas era grossas e escorriam pelo seu rosto, percorrendo o pescoço até se perderem em sua blusa.

- Vamos, levante-se.

- Me deixe em paz, garota… eu logo estarei morto, não se preocupe - ele grunhiu de dor.

- Assim como nós duas estaríamos, não se engane. Agora se levante, você virá conosco.

- Eu não consigo andar… - reclamou ele.

Lauren irritou-se. Ele tinha que se levantar, teria que segui-las para longe do vilarejo. Com certeza poderiam ter ouvido os gritos e o disparo do rifle. Ou talvez não. Talvez estavam longe o suficiente para que não houvessem sequer percebido a ausência de um bêbado irresponsável, que carregava um rifle que nem mesmo era capaz de protegê-lo de tudo o que estava acontecendo. Lauren chutou sua perna, tentando causar a impressão que não estava para brincadeira. Seu coração doeu ao fazê-lo. Mas ele parecia ter entendido o recado e logo estava de pé.

Lauren estava satisfeita e o empurrou para frente. Caminhou logo atrás, em direção a Camila que estava poucos passos de distância. Ela soluçava entristecida, não conseguia nem mesmo olhar para o homem que passou a sua frente, caminhando quase sobre um arrastar de pernas. Parecia uma espécie de zumbi caminhando por entre as árvores, o som de seu choro até mesmo se assemelhava a um. Lauren ergueu o braço, trazendo Camila para um abraço carinhoso. A garota se aninhou sobre o braço da amiga e continuaram caminhando a passos suaves, seguindo o zumbi a sua frente.

- Nos leve até a cidade mais próxima, roncador - Lauren ordenou - Lá te deixaremos em um hospital e a polícia se responsabilizará por você. E nem tente alguma gracinha, não estou no meu melhor dia.

Camila gemeu em um choro que não cessava, mas parecia mais segura sob o toque suave da pele de Lauren sobre seus ombros. Sentia a amiga respirar ao seu lado, segurando o rifle com a mão direita, ainda apontando para o prisioneiro que caminhava com dificuldade a sua frente. Naquele momento, as suas vidas haviam mudado completamente. Camila disparou diretamente no rosto de homem e quase o matara. Lauren havia engolido todo o remorso e o transformara em uma bússola humana e esperava que ele as levassem para um lugar seguro.



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