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História Tormento - Não a levem, por favor


Escrita por: trishakarin

Capítulo 26 - Não a levem, por favor


As três foram empurradas a força para uma das cabanas improvisadas. O cheiro de barro era forte, aqueles homens já não pareciam mais sentir. Jogado em um dos sofás, assistindo televisão com péssimo sinal, dificultando o reconhecimento da imagem, um homem levantou-se imediatamente ao vê-los entrar com as garotas. Ele suava feito um porco, o rosto sujo de areia, como se houvesse trabalhado na roça durante todo o dia. Ele sorriu, igual os demais fizeram, colocou as mãos na cintura e olhava para as três visivelmente orgulhoso.

- O chefe vai amar isso - sorriu radiante - Onde acharam?

- Nem precisamos ir longe - Manoel disse gargalhando - Acredita que essas idiotas estavam rondando o acampamento? Só sendo muito burro pra fazer isso.

Ellen parecia irritar-se, mas não procurava demonstrar. Lauren estava firme, o rosto rígido, sem qualquer expressão, seja de medo ou ira. Camila pelo contrário, estava visivelmente apavorada. Permanecia perto de Lauren, com o corpo colado ao seu.

- José - chamou Manoel.

O rapaz que estava do lado de fora e as recebeu com alegria respondeu prontamente, postando-se frente ao homem que o chamava.

- Prende as duas - ordenou.

José rapidamente obedeceu, puxou cuidadosamente os braços de Lauren para trás, prendendo em uma algema semelhante a que prenderam Ellen. A tenente observava tudo atentamente, era como se em sua cabeça tramasse um novo plano que as tirariam de lá. Lauren sentia-se aliviada e segura, sabia que ela daria um jeito em tudo. Sempre parecia dar. E onde estaria Sarah? Será que também a pegaram? Perguntou-se Lauren.

Repetiram a ação em Camila e logo as três estavam algemadas e incapazes de sair dali daquela forma. Manoel atravessou a minúscula sala em direção a um baú velho largado ao chão, abriu e dele retirou um novo fuzil. Não bastava um, agora eles tinham dois. Ellen percebera a quantidade de armas que eles tinham. Com certeza dava para armar todo um exército e a dúvida era como eles haviam conseguido armas tão potentes, em uma cidade tão pequena. Manoel entregou para José e com um sorriso olhou para as duas cantoras.

- Eu fiquei tão puto com o que vocês me aprontaram, que nem imaginam o prazer que sinto em saber que corrigi meu erro - gargalhou.

- Manoel!

Um garoto esguio, de aproximadamente dezesseis anos entrou na sala suando bastante. Manoel olhou para ele com uma expressão de insatisfação e o garoto ignorou, continuando a falar.

- Mandaram dizer que o patrão só chegará amanhã.

Manoel o encarou visivelmente desapontado. Encucado, parecendo pensar em alguma coisa, encarou as três que ainda o observavam esperando qualquer coisa que ele dissesse. Não sabiam se continuariam ali ou se sairiam. Se seriam presas em alguma espécie de cela ou mesmo um cativeiro.

- Que merda - disse ele baixo - Mas que MERDA - berrou de repente assustando o garoto - Quem mandou você me dizer isso? - ele perguntou curioso.

- O Juliano - ele respondeu apreensivo - Ele já tá sabendo que o senhor achou as gurias e mandou avisar. Ele disse…

Claramente o garoto estava nervoso em dar a notícia. Lauren riu de como ele era desajeitado e apesar da situação ao qual se encontravam, quando o rapazinho olhou para a cantora, desconcertou-se. Camila fechou o cenho, não que estivesse enciumada, mas impaciente com toda aquela movimentação desnecessária. Ficar ali sem saber o que aconteceria era horrível.

- Diz logo, moleque - Manoel pressionou.

- Ele disse pro senhor não perder elas de novo - baixou o rosto enquanto Manoel ficava enfurecido.

- Ah, aquele safado disse isso?

Nesse momento Manoel virou-se para as garotas com o rosto avermelhado de ódio. Seus olhos pareciam que iriam saltar das órbitas e saliva se acumulavam no canto dos lábios. Ele bateu com força em uma mesa perto da janela, a força fez com que a perna de madeira pendesse e caísse ao chão fazendo um estouro de barulho. O garoto afastou-se, receoso que logo poderia sobrar para si. Percebendo que não teria utilidade mais nenhuma ali, além de tomar as dores do homem para si, recolheu-se e saiu correndo, com a mesma velocidade que entrou.

- Eu era respeitado nessa porcaria de lugar. Tão respeitado que fui designado a buscar vocês duas. Primeiro achei uma tarefa tão idiota, que nem pensei o quão espertinhas vocês poderiam ser - ele disse cerrando os dentes - Depois me pego nessa merda de situação ao qual vocês me deixaram. Virei chacota nessa droga de lugar, esses idiotas que ainda fazem xixi nas calças rindo e perdendo o respeito que tinham por mim e de quem é a culpa? - ele riu maliciosamente - De vocês duas.

Ele aproximou-se e Lauren juntamente a Camila deu um passo para trás, encarando-o com temor. Ele segurou o braço de Lauren com força, puxando-a para perto de si com um sorriso macabro no rosto e olhou para as outras duas com prazer.

- Leve as duas pro abrigo - ele disse pausadamente e José obedeceu imediatamente.

- O que pretende fazer com ela? - Ellen apressou-se enquanto o homem segurava seu braço puxando-a - O QUE PRETENDE FAZER COM ELA, SEU PORCO - gritou ao notar que não obteve resposta alguma.

- Calma, eu só vou me divertir um pouquinho - o sorriso amarelo causou desespero a todas elas.

Ellen se debatia enfurecida, as lágrimas nos olhos, o coração acelerado. Ela gritava e esperneava chamando a atenção dos demais guardas que caminhavam na área externa. Camila estava em estado de choque, tentando entender o que acontecia ali e não conseguia. O olhar amedrontado de Lauren lhe causava dor na alma e o estado desesperador de Ellen lhe dava medo.

José, assustado com o estado de Ellen, empurrou-a com força contra a parede de barro, que balançou toda a estrutura da cabana. A mulher surpresa com a atitude do rapaz, parou e olhou-o. Ele agora segurava o fuzil a sua frente, pressionando o cano contra seu queixo com os olhos furiosos.

- Tu continua com essa gracinha e eu estouro as duas na sua frente, pra ver se você continua com isso.

- O que vocês vão fazer com ela?

- O que a gente quiser, patroa - ele respondeu cerrando os dentes - E vai ficar quietinha esperando as ordens, caso contrário, já sabe o que a gente faz.

- Camila - Lauren tremeu e olhou para Manoel em desespero - Não a levem, por favor.

- Vocês não tem ordens para nos matar - Ellen disse sorrindo.

- A primeira ordem era matar essas duas, pra evitar que vocês aprontem, tá mais do que certo matar vocês todas. Agora cale a sua boca e caminhe, qualquer gracinha eu meto bala nas duas.

Ellen silenciou-se e olhou-o surpresa. Calada, seguiu para fora da cabana, desceu a escada de pedra de apenas dois degraus e entre os olhares de todos os outros caminhou até uma casa baixa. Era de pedra, os muros deveriam ter cerca de um metro, baixo demais para ser algum local de acampamento. Camila caminhava colada a Ellen, o medo lhe invadindo, as lágrimas subindo aos seus olhos. Olhou para trás, mas já não avistava mais o casebre onde Lauren ficara e estar longe dela lhe causava pânico. Frente ao pequeno abrigo, José apressou-se a frente e abriu uma espécie de cerca de ferro, que prendia-se as pedras. Era uma caverna improvisada, desceram cerca de dez degraus a um local pequeno, aproximadamente dois metros quadrados. O cheiro de terra chegava a ser insuportável e o sorriso nos lábios de José confirmavam o inferno que passariam ali.

- Aqui é meio quente - ele riu - Mas vamos cuidar bem de vocês duas. Dois caras vão estar aqui com fuzis nas mãos, se vocês tentarem qualquer gracinha eles estão autorizados a mandar bala em vocês! Espero que tenham uma boa estadia.

José trancou a grade com três cadeados e sumiu de vista. Um rapaz de aparentes vinte anos segurava uma arma de grande porte e olhou curioso para as duas, logo em seguida deu as costas e continuou a vigília.

- O que pretende? - Lauren perguntou apavorada.

Manoel a encarou de cima a baixo, com um sorriso malicioso nos lábios e aproximou-se da garota, tocou seu cabelo, cheirou-o e logo se afastou fechando a cara.

- Fique tranquila que o que está pensando que farei, não é minha intenção - disse ele dando as costas e pegando um molho de chaves - Eu tenho uma filha da sua idade, garota. Eu jamais faria isso - ele disse respirando fundo - Se Deus olhasse para vocês, nunca estariam aqui. Deus amaldiçoou essa terra e somos obrigados a fazer isso.

- Se seu país nunca tivesse nos convidado, jamais teríamos vindo - Lauren disse receosa.

- Talvez, mas poderiam ficar somente na terra de vocês. Para que ir para outros lugares? Talvez depois do que aconteceu aqui, seu grupinho pare com isso.

- Como saberão que foi isso? Para meu povo fomos sequestradas por malucos e assassinadas. Esse tipo de coisa acontece em qualquer país. Se vocês nos deixarem voltar, poderemos alertar os demais e nunca mais precisarão fazer isso.

- Você acha que entende das coisas, né? Anda, caminhe pra dentro.

Lauren atravessou a pequena sala em direção a um corredor com abertura de menos de oitenta centímetros. O cheiro era insuportável. Chegou a uma porta de madeira velha, Manoel empurrou e mandou que entrasse, sendo obedecido prontamente. Havia um colchonete velho no chão, a janela de quarenta centímetros estava gradeada e havia apenas uma garrafa de água vazia no canto.

- Não se preocupe que hoje será alimentada - disse ele seriamente - Pode pensar que meu povo não passa de pessoas cruéis. Mas fomos bastante castigados até conseguirmos uma solução.

- Por que não posso ficar com as outras? - Lauren perguntou assustada.

- Porque quero que pense que somos monstros - disse ele deixando o quarto pequeno - Dessa forma elas podem temer por algo.

- Mas elas já podem… nós podemos. Estaremos mortas amanhã.

- Deus as quer com ele.

- Como é?

- Deus mandou vocês para nós… ele as quer. Acha mesmo que matamos por puro prazer? Nós não matamos, nós fazemos o que Ele quer.

- Do que está falando?

- Os imigrantes serão mortos… essa foi a maldição. Eles sujam nossas terras, matam nossos filhos e estupram nossas mulheres. Todo e qualquer imigrante deverá ser morto.

- Mas nem todos querem o mal.

- MAS O SANGUE DE VOCÊS É SUJO - gritou ele furioso - Para que vieram? Para tomar nosso dinheiro? Para envenenar nosso povo com essas músicas e danças ofensivas? Não, garota, qualquer um que pisar em nosso solo deverá morrer. É o julgamento da maldição que caiu sobre nós.

- Nos mandem embora, nos proíbam a entrada, mas para que quer nos matar?

- Quando Deus nos lança uma maldição, tem algum propósito. Se devemos matar, é porque nossa terra é a porta de Deus. Ele vos chama e nós a mandamos. Dessa forma nossa terra sempre dará frutos, água, comida, bons filhos. É a lei dos céus, garota.

Lauren o encarou chocada. Os olhos arregalados e a boca entreaberta. Ele acreditava com tanta força em sua crença que não haveriam formas de tentar mudar seu pensamento. Nada poderiam fazer mais por aquele povo.

- Me conte… - Lauren pediu.

Manoel que já estava na porta, estancou o passo e olhou para ela. A curiosidade nos olhos da garota encheram o homem de orgulho.

- Me conte a sua história.



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