História Tormento - A Grande Entrevista - Parte II

Todos olharam para as duas surpresas. As lágrimas invadiram o rosto de Camila, fazendo-a chorar compulsivamente. A garota fora amparada por Ally, que a abraçou com força acariciando seus cabelos. Lauren a encarava surpresa e de repente um remorso lhe tomou conta. Claro que a garota acreditava que não sentia nada por ela e que mentiu ao dizer que não havia ninguém, de repente aparecer ao lado de Lucy. Camila olhou para o lado e avistou Lucy de braços cruzados encarando-as concentrada. Não aparentava desconfiança nem nada, apenas observava como se quisesse saber tudo o que aconteceu lá.

- Como ambas já sabem - Ivan quebrou o silêncio - As duas foram declaradas como mortas pouco tempo após o desaparecimento - as duas confirmaram - E agora o mundo inteiro está vendo vocês duas ainda com vida. O que aconteceu lá?

- Nós estávamos sendo levadas para um vilarejo na saída do país. Nesse vilarejo aparentemente eles sacrificavam imigrantes, na realidade, ainda sacrificam, acreditando numa história que a terra se tornará amaldiçoada, caso jovens imigrantes não sejam sacrificadas. Então nós duas morreríamos sim - Camila respondeu com seriedade - Os corpos encontrados, com certeza são de vítimas que não tiveram a mesma sorte que nós tivemos. Acontece que a Lolo conseguiu abrir a porta do furgão e nós saltamos do veículo ainda em movimento. A partir daí se iniciou uma busca por parte deles e uma fuga da nossa parte. Nós não sabíamos para onde caminhar, então foi um percurso bastante longo, talvez estivessemos andando em círculos, mas ainda fugindo daqueles que nos queriam mortas. De certa forma, isso ajudou a nos manter vivas, pois os homens que nos procuravam, deixaram de ir atrás de nós.

- Nós vimos um policial nos procurar - disse Lauren - No vilarejo principal, onde com certeza nós estaríamos - de repente o rosto de Lauren se enfureceu - Os policiais americanos chegaram com duas militares brasileiras. Nossos americanos avistaram a quantidade de armas que os homens portavam e simplesmente não fizeram nada. Nós estávamos ali. Nós vimos tudo e não poderíamos simplesmente saltar em cima daqueles policiais, porque o número de criminosos era muito maior e suas armas eram muito mais fortes. Nós todos morreríamos.

- Acontece que o policial desistiu de investigar. As duas militares não. Elas insistiram até o fim - Camila replicou, demonstrando desapontamento com os policiais de seu país.

- O vídeo, chegou ao fim bruscamente por parte de Camila, em um momento de fraqueza, seguiu-se por uma mulher que respondeu por você, Camila. Seria ela uma das militares que insistiu nas buscas?

- Sim, aquela era Ellen. Sarah e Ellen não desistiram de nós e acamparam ao redor do vilarejo em busca da gente. Os corpos que foram encontrados, foram apresentados por elas para dar tempo e segurança. Foi um plano bem arriscado e muito corajoso. O tempo que levariam para coletar o sangue ou algo que pudesse realizar o exame de DNA seria suficiente para que elas descobrissem alguma pista que levasse até nós. Elas não imaginariam que nossas mortes seriam confirmadas e que o exame estaria correto. Se elas tivessem esperado mais e descoberto que nossa morte havia sido confirmada, talvez não insistissem mais nas buscas.

- O exame foi realizado?

- Não, não foi. O resultado do exame foi falsificado por nosso empresário, que estava mais preocupado em finalizar o caso e retornar com a agenda de shows. Infelizmente, uma irresponsabilidade que não esperaríamos do homem que confiamos.

- Houve algum momento que acharam que daria tudo errado? - perguntou para as duas.

- Sim - Lauren respondeu prontamente, sendo observada por Camila - A Camila já estava muito fraca, eu pensei que a perderia ali - os olhos claros, iluminados por um tom de vermelho vibrante, de repente encararam a amiga - Não tínhamos água, comida, nada. Ela não aguentaria muito tempo. Encontrar frutas e água foi sinceramente um milagre, dada nossa situação.

- E quando fomos pegas - Camila continuou - Fomos presas junto com a tenente, acreditei que morreríamos, não fosse Sarah nos resgatar novamente. Foi… a história é tão longa que só escrevendo um livro para saberem tudo certinho. A única coisa que temos a dizer a respeito, é que a presidência daquele país deveria dar mais atenção aos pequenos vilarejos. A polícia estadual sabe da existência daquelas pessoas, das armas e de suas intenções. Nós fugimos até mesmo das autoridades. O mundo inteiro deveria olhar para lá e perceber o que de errado tem naquela terra maldita. Aqueles homens deveriam estar presos ou mortos, pagando por todo o mal que fizeram até hoje. Quantas pessoas não morreram naquele lugar? Quantos estrangeiros não perderam seus filhos, seus maridos, suas esposas? Por que ninguém cuidou daquele lugar? Por que ninguém acabou com aquele inferno?

Jack fez sinal como se fosse desligar a câmera e Ivan consentiu com um movimento discreto. Camila novamente foi amparada pela amiga e o clima que até então era de curiosidade, tomou-se em um drama cruel. Lauren tinha lágrimas rígidas em seus olhos, lágrimas que até então evitavam serem liberadas pelos seus olhos.

- Vejo que já não estão mais em condição de continuar e devo pedir desculpas por tão cedo fazê-las falar - disse Ivan preocupado - Eu só gostaria de um pouco mais de vocês, uma última pergunta, para que possamos fechar temporariamente essas questões.

Camila e Lauren consentiram e Ivan acenou para que Jack continuasse com as filmagens.

- Em que momento, Lauren, recebeu o tiro e como isso aconteceu?

- Nós já havíamos sido resgatadas, mas precisávamos passar pelo pedágio e sair daquela zona. Todas nos escondemos, tanto a Camila e eu, quanto a Sarah e a Ellen. Quando os homens descobriram que nós estávamos indo embora, eles atacaram o carro. Eles atiraram contra nós e um desses tiros atingiu o veículo e atravessou a lataria, me atingindo por trás.

- Foi quando conseguiram escapar?

- Por pouco não cheguei aqui inteira - esboçou um sorriso.

- Ainda bem que chegou - Ivan sorriu em resposta - Respeitando as condições físicas e psicológicas das integrantes, finalizaremos nossa entrevista por aqui e voltamos com as notícias. Certamente ultrapassamos a lei e viemos antes mesmo da polícia, que com certeza desejará um testemunho a respeito de tudo o que ocorreu durante esses dias. Agradecemos o tempo e a entrevista das integrantes, desejamos uma ótima recuperação a Lauren e estaremos todos torcendo pelo retorno firme e forte do Fifth Harmony.

As garotas sorriram e agradeceram. O câmera desceu o equipamento e iniciou a retirada do restante, antes de deixar o quarto. Despediram-se formalmente, abriram a porta e partiram. O restante permaneceu no local, Lucy estava encostada a parede, olhando para Lauren e Camila desconfiada. Ally abraçou as garotas e informou que precisava ir e que qualquer coisa ligassem, as demais foram aos poucos fazendo o mesmo. Clara, a mãe de Lauren, beijou o rosto das duas e também deixou o quarto, permanecendo então apenas as três garotas. Lauren observou a namorada ou ex-namorada, o que fosse. Queria demonstrar a necessidade de ficar a sós com a colega de trabalho, mas a garota se fazia de difícil e insistia em demonstrar não entender as indiretas.

- Vocês passaram por muita coisa - disse ela quebrando o silêncio.

Camila virou para trás observando-a. Lucy deu a volta na cama, sentando-se nela, ao lado de Lauren e de costas para a latina. Tocou o rosto da cantora, afastando os fios desalinhados do cabelo dela, colocando-os por trás da orelha. Lauren sentia-se invadida e o que antes era um sentimento de amor e carinho, agora havia sido substituído por um sentimento de incômodo.

- Imagino o quanto devam ter ficado traumatizadas - continuou - E fico feliz em saber que tenho uma heroína ao meu lado.

- Tinha - disse Lauren secamente.

- O que?

- Tinha. Nós terminamos antes desse show, Lucy, pelo amor de Deus não finja que isso não aconteceu.

Camila sentiu-se deslocada e caminhou em direção a porta, a fim de deixá-las a sós. Lauren estava bastante arrogante, um comportamento que vinha sendo rotineiro após o resgate.

- Camila, fique aqui - Lauren chamou - Eu disse que precisava conversar com você e não vou adiar mais esse momento, então você fica.

- Lauren, eu sei que não está passando por bons momentos e que…

- Lucy - interrompeu ela - Pelo amor de Deus, cale essa boca. Sabe o quanto gosto e respeito você. Foi você mesma que achou que nosso relacionamento seria muito difícil porque muitos fãs me assediam e você não saberia como lidar com isso.

Lucy olhou envergonhada para Camila, uma indireta para que Lauren pudesse se recompor e tratá-la com o mínimo de respeito que a ocasião exigia. A jovem afastou-se da cama com o rosto rubro, encarou a latina novamente, voltando a olhar para Lauren com tristeza.

- Eu jamais esperei que tudo isso acontecesse e jamais a deixaria sozinha em um momento como esse. Torci para que estivesse viva, deixei de dormir enquanto estava desaparecida. Ainda que houvesse terminado por uma razão vaga, e sinceramente, que você mesma havia compreendido, estive aqui no primeiro segundo que soube, porque você jamais me avisaria. Eu não vou embora, porque verei esse tratamento arrogante e mal educado como sintomas dos traumas ao qual se sujeitou. Já que precisa conversar com Camila, não vejo razão para interromper, então irei a sala de espera e quando quiser, basta me chamar, Lauren.

Lucy ainda esperou alguma reação de Lauren, mas a garota, bastante arredia, fixava o olhar na janela fechada, fazendo-a caminhar lentamente em direção a porta e abri-la com delicadeza, fechando-a logo atrás de si. Camila havia acompanhado-a com o olhar, tímida por ela, por não saber que atitude tomar. Sentiu-se impulsionada a interferir, dar um carão em Lauren, afinal, havia sido desnecessário. Ao menos sabia que a colega não mentira, que estava realmente solteira e que jamais fora amante. Aquilo havia confortado seu coração e a necessidade daquilo sempre foi eminente.

Camila caminhou aproximando-se da cama, Lauren mantinha o olhar fixo na janela, os olhos enchendo-se de lágrimas. Sabia que tudo o que havia acontecido até então parecia estar sendo mais difícil para ela, que para Camila e entendia isso. Sentou-se na cama, ao seu lado, segurou sua mão em uma atitude de apoio e a cantora finalmente afastou seu olhar da janela e passou a encarar seus olhos.

- Vamos conversar - disse Camila em um tom aveludado.