História Tormento - Completamente Perdidas

As duas haviam caminhado por horas, quando ouviram o motor de um veículo ao longe. Lauren imediatamente olhou para trás e viu um carro grande, provavelmente o caminhão voltar.

- Droga… corre pra dentro da mata fechada, Cam.

Correu como jamais havia corrido na vida e Camila logo atrás dela. Aceleraram o máximo que puderam até uma área onde a vegetação era mais densa. Esconderam-se dentro dela e Lauren sentiu uma fisgada em seu braço, ao olhar viu que um dos galhos abriu um corte no braço. Engoliu a dor e encostou-se por trás da árvore, pegando Camila pelo braço e colando seu corpo ao dela.

O som do carro passou lentamente. Eles andavam devagar, foi quando Lauren esticou o pescoço e olhou o caminhão. Era um caminhãozinho pequeno e o slogan era de uma loja de Tacos. Restaurante, não sabia dizer. Mas a palavra Tacos era enorme. Eles estavam em velocidade reduzida e pôde ver o motorista olhar para os lados procurando por elas.

- Meu Deus, eles vão ver a gente - Camila chorava.

- Quieta - Lauren pediu em um sussurro.

O veículo desligou o motor cerca de quinze metros de onde estavam e apenas um dos homens desceu do caminhão olhando atentamente para a mata. Ele devia saber que era o único lugar possível para que se escondessem e naquele momento um frio percorreu a espinha das garotas. Tinham que se esconder melhor, se naquele momento iriam procurá-las, teriam que estar bem escondidas.

- A gente precisa se afastar daqui - Lauren sussurrou.

- Pra onde?

- Precisamos nos esconder, senão eles vão encontrar a gente.

O homem ainda estava distante, olhava cuidadoso para todos os lados e mirava a lanterna em direção às áreas com mais vegetação. Lauren adiantou-se e cuidadosamente se afastou da árvore onde estava, procurando não fazer o menor ruído. Camila a seguiu, com o mesmo cuidado. Caminharam levemente acocoradas, com medo da iluminação da lanterna e seguiram para o lado oposto onde o caminhão estacionou. O homem não ouviu nada, ao menos não demonstrava. Havia uma árvore imensa mais a frente e fácil de escalar, talvez a única opção que restava era subir por ela e esperar que ele não optasse por iluminar a parte de cima da mata.

- Suba primeiro - Lauren pediu olhando para trás.

- Subir? Ele vai encontrar a gente e não teremos como correr dali - Camila disse insegura.

- Ele talvez não veja, mas se estivermos aqui embaixo, as chances dele nos ver vai ser maior. Suba o mais alto que puder, sem fazer barulho, pelo amor de Deus.

Lauren ficou ao lado da latina, esperando-a começar a subir. Seu coração disparava, nervosa com qualquer coisa que poderia acontecer a partir dali. Camila levantou uma perna e se apoiou na perna da amiga, que colocou ali para auxiliá-la. Com um pouco de esforço, já que era em dobro, pois não poderia provocar nenhum ruído, a cantora alcançou os galhos principais. Lauren foi mais difícil, pois não tinha nenhuma ajuda. O pulo que daria, teria que ser certeiro, pois se caísse, chamaria a atenção dos sequestradores com certeza. Por sorte, agarrou com toda força o tronco e juntando todo esforço do mundo, conseguiu levar seu corpo para cima e ficar ao lado de Camila, que como podia, ajudou a colega. Continuaram a subida, pisando de galho em galho, a medida que iam afinando, iam tentando se certificar que não cairiam. Cair naquela altura do campeonato, era a forca.

Finalmente alcançaram uma área mais isolada, coberta por galhos finos e a folhagem mais densa. Talvez ele mirasse sua lanterna para o alto, mas teria que enxergar muito bem a ponto de vê-las ali. Optaram por ficar ali, pois mais acima voltava a ficar mais perigoso. Aproximadamente vinte minutos depois que aconchegaram-se ali mesmo, ouviram os passos do homem se aproximarem. A respiração de ambas tornou-se ofegante e um leve desespero lhe tomou conta.

- E aí?

O grito do outro que ainda ficou na altura do veículo soou distante.

- Cale a boca, idiota - o homem berrou de volta irritado - Agora se elas estivessem dormindo, acordaram, imbecil.

- Foi mal, cara.

- Vai a merda - gritou - Playboyzinho do caralho - resmungou mais baixo - Eu tenho que entrar nessa porcaria, procurar por aquelas vadias, enquanto aquele idiota fica esperando.

Camila olhou para Lauren com os olhos arregalados. Na altura onde estavam podia ver a sombra do homem se aproximando e o espaço iluminado pela lanterna. Ele parecia apressar o passo e estar impaciente com a demora em encontrar qualquer coisa.

- Esse caralho… elas só podem ter morrido, não tem outra explicação.

- E aí?

- Puta que pariu, moleque - o homem já estavam bastante alterado - Não tem merda alguma nessa porcaria, pra que caralho eu estou procurando?

- Por que você que não fechou aquela merda direito.

- Você que tinha que ter olhado isso, eu só dirijo, lembra?

- Deixa de ser preguiçoso.

Nesse momento o homem parecia ter jogado algo a frente irritado. Deu a volta e seguiu caminho de volta ao caminhão. Bufava como um velho irritado, cada passo era pesado e furioso. Camila estava com as mãos na boca, procurando fazer silêncio. Lauren apenas atenta, olhava cada passo e só desceriam quando tivesse toda certeza que os homens haviam ido para bem longe. A procura dele havia tranquilizado parcialmente a garota. Não por ele ter desistido, mas naquela área talvez não investiriam mais e ele acreditava na morte das garotas, o que dava um bom adiantamento às duas.

Ouviram o motor do carro se ligar novamente e aos poucos se afastar, assim como a luz do carro. Esperaram por mais alguns minutos, até que se tornou desgastante continuarem ali no alto, pois o desconforto da madeira estava causando dormência nas pernas e dificultava a estabilidade ali. Lauren foi a primeira, queria garantir que Camila descesse com segurança, antes mesmo que ela o fizesse. A cada espécie de degrau feita com galhos, Lauren se apoiava e auxiliava a amiga a descer. Mas não precisava de muito cuidado, pois a latina parecia bem dissimulada em escalar.

Demorou um pouco para que descessem toda a árvore e quando chegaram na parte de baixo, procuraram por uma área mais fechada, onde pudessem deitar sem medo. O receio de animais ou qualquer ameaça era grande, mas não podiam ficar acordadas por muito tempo. Mais a frente, a lona estava no chão e imediatamente as duas se entreolharam assustadas. Por pouco o homem não encontrou aquilo e entendeu que as duas estariam bem perto. Naquele instante, após tanto caminharem, não tinham mais forças para continuar. Sentiam fome e sede, queriam sair logo dali, mas parecia muito longe.

- E agora?

- Vamos dormir aqui - Lauren disse.

- Aqui? E se eles voltarem?

- Eles vão achar que não paramos hora nenhuma, talvez nem voltem. Aqui é a última parte com mata fechada que dá para ficarmos. Lá na frente parece deserto, não teríamos onde nos esconder caso eles voltassem. Me dá sua lona - Camila entregou-a e Lauren estendeu no chão - Agora vem cá, pode deitar.

A garota obedeceu e deitou na lona, enquanto Lauren deitou-se ao seu lado, pegando o outro pedaço de lona e cobrindo-se com ela. Camila estava de costas para ela, quando percebeu que a amiga deitou-se ao seu lado, virou-se para ficar de frente para ela. As duas se olharam por longos minutos até que carinhosamente a latina aproximou-se e a abraçou docemente, aninhando seu rosto ao peito de Lauren, que suspirou ao toque.

- Vai ficar tudo bem, Cam.

- Eu sei que vai - ela levantou o rosto, voltando a olhá-la diretamente nos olhos - Eu confio em você.

- Amanhã iremos até a estrada e com sorte alguém passará para nos levar em casa.

- Certo.

Camila ainda a olhava intensamente, Lauren silenciou-se e olhou para ela da mesma forma. O carinho que ambas olhavam uma para outra era eminente. Havia algo muito mais forte que amizade entre elas, uma conversa silenciosa através da suavidade do olhar uma da outra. O sorriso no canto dos lábios superava todo o medo que sentia dentro de si, Camila aproximou-se com delicadeza e beijou o rosto de Lauren com doçura.

Lauren afagava os cabelos da latina. Silenciosamente as duas ouviam a respiração uma da outra, dando discretos carinhos.

- Eu estou com medo, Lolo - Camila disse em um suspiro assustado.

- Eu também, Cam. Mas estou feliz por estar com você. Nunca me perdoaria de ter deixado você ser levada sem fazer nada - disse entristecida.

Sabia que se não houvesse ido atrás, talvez houvesse alguma chance. Ninguém sabia de nada, ninguém fazia a menor ideia de onde estavam. Se ao menos tivesse ficado, dito quem haviam levado-a. Mas pelo que ouviu-os dizer, eles queriam todas, mas apenas as duas tinham ficado mais afastadas da área de maior segurança.

- Ainda bem que está aqui… eu não conseguiriam sequer sair daquele caminhão. Talvez estivesse morta agora, pois estava apavorada o suficiente para ter um ataque.

Lauren riu suavemente. Camila era bastante eufórica, sonhadora. Sabia que se algo grave acontecesse com ela, ela saberia se virar, não era novidade. Mas a doçura e a delicadeza dela impediam-a de tomar qualquer atitude maior.

- E quando o sol nascer, estaremos expostas demais, não acha?

- Quando amanhecer, talvez aqueles ogros sequer estejam nos procurando.

- Não é possível que não enviem algum resgate para nós.

- Talvez enviem, mas onde vão procurar? Nós simplesmente desaparecemos, Cam. Eu entenderia se eles não soubessem por onde começar. Eu sinceramente não saberia por onde começar.

- E nossos fãs, esperaram tanto por aquele show, como deve ter ficado?

- Eles com certeza entenderão. Até porque eu duvido muito que tenham avisado algo como se estivéssemos doentes ou até mesmo suposições simples. Devem ter alertado o pessoal sobre o desaparecimento e procurando dentro do público.

- Eu espero que nos procurem, só isso.

- Eu não duvido que o façam.

O silêncio era incômodo. As estrelas piscavam intensamente no imenso céu. A lua estava cheia, iluminando tudo ao redor e nenhuma nuvem cobria os céu naquela noite. Lauren puxou a lona para colocá-la sobre o seu corpo, ainda que ela ficasse mais fria por conta do clima, ao menos o contato com a friagem não era direta a sua pele e acabava causando um conforto maior.

Fechou os olhos suavemente, entregando-se aos sonhos que esperava que ao menos fossem agradáveis. Que distanciassem daquela realidade um tanto quanto assustadora. Tudo aquilo preocupavam as duas, não sabiam como sair daquela situação, estavam longe, o deserto parecia não ter fim, a estrada parecia longa e que não acabava em lugar algum. Foram abandonadas numa rota deserta, que as chances que teriam de sobreviverem pareciam mínimas.

Lauren parecia se preocupar mais com a segurança de Camila, que com sua própria. Respirou fundo enquanto a garota parecia se apertar ainda mais sobre seu corpo e fechou os olhos mais uma vez, sabendo que enquanto estivesse viva, protegeria a garota com todas as suas forças.