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História Tormento - Tem água aqui


Escrita por: trishakarin

Notas do Autor


Olha o capítulo aí minha geeeeeeente!!!! Surpresinha no próximoooo (e não é Hot ainda ¬¬' antes que façam aquelas carinhas nos comentários).

Beijo e boa leitura!

Capítulo 7 - Tem água aqui


As duas já perderam as contas de quanto estavam caminhando, sabiam apenas que o sol sobre suas cabeças parecia se dissipar. Apesar da cor avermelhada em suas peles, podiam notar a palidez em seus rostos, os lábios ressecados se abriam já sangrando, e as mãos sujas, assim como seus corpos, agora cobertos por uma camada de terra, devido o último esconderijo. Estavam incapazes de continuar, caminhavam por distâncias que nem mesmo nas academias teriam caminhado e o cansaço tomava conta. Não, o cansaço não, as garotas estavam entregues a completa exaustão.

- Eu não aguento mais… - Camila murmurou ajoelhando-se ao chão.

Lauren correu ao seu encontro, segurando-a para que não estatelasse com seu rosto na grossa camada de terra seca que cobria o solo. A garota estava ruim, os olhos fechavam-se, e o medo percorreu seu corpo como se aquilo se apoderasse de si. Sentia que perderia a latina. Ela não poderia desistir, não ainda, não antes de saírem ilesas dali, não antes de dizer tudo o que se passava em sua mente antes de chegarem até aquela situação que até aquele instante acreditava ser quase impossível, tamanho cuidado e segurança pela qual passavam.

- Cam, por favor - pediu aos prantos.

Camila cerrou os olhos, visivelmente cansada. Naquele instante, tudo ao redor de Lauren pareceu perder a razão. O silêncio tomou conta, as lágrimas lhe invadiram os lábios e a angústia tomou conta de seu peito. Ela estava muito fraca, fraca demais para continuar qualquer caminho. Tinha que encontrar alguma coisa, olhou em volta, para as árvores que cobriam o solo com densas sombras. Alguma delas tinham que ter frutas, como não havia pensado nisso antes? Podiam ter saciado a fome com algo, não precisavam ter um prato denso de comida, mas qualquer coisa que inibisse o roncar do estômago.

Deixou Camila descansando sobre o solo quente e correu em volta ás árvores, olhava para cima como se pedisse a Deus alguma luz. Não conhecia nada de vegetação, sequer entendia sobre frutas venenosas ou não. Mas alguma teria que ajudar, ainda que prejudicasse mais, precisava tentar. Vasculhando tudo, quase desistindo, avistou algo que assemelhava-se a uma fruta, parecia uma espécie de folha grossa, mas grossa demais para ser apenas isso. Estavam entre tamanhos variados, que se diferenciavam entre laranja e melões. Por isso jamais percebera sua presença, nascia por entre os troncos e era de um verde muito semelhante ao de suas folhas, meio que camuflando-se na vasta vegetação. Agarrou uma das frutas com ferocidade, a maior delas, a que por conta de seu tamanho, caia pelo tronco ao lado. Jogou no chão para que conseguisse abri-la e por dentro, branco como leite, entre pontos negros compostos por suas sementes. Era uma espécie de pinha, mas originada de sua terra.

Levou um dos pedaços da carne aos lábios, era bem doce e sua textura, ainda um pouco rígida. Talvez o açúcar daquela fruta pudesse oferecer mais energia para que pudessem continuar. Mas tinha sede, maior que a vontade de comer, era a sede. E como se Deus ouvisse suas preces, o som delicado de água correndo soou alguns metros a frente. Olhou para trás, onde havia deixado a latina e a mesma continuava imóvel, na mesma posição deixada minutos antes. Apertou os olhos olhando mais a frente e não havia sinal de nenhum veículo que sorrateiro se aproximasse. Resolveu correr em direção ao som de água corrente, na esperança de encontrar o líquido que tanto desejava.

Cada passo parecia ser decisivo e cada metro percorrido era coberto de esperança. Em uma fresta na mata, encontrou um cano quebrado e água escorrendo caminho esgueirando-se em direção a um pequeno barranco a frente. Um cano? Se havia um cano ali, possivelmente estavam próximas a alguma cidade, caso contrário não haveria um cano no meio do nada, ligando a nada. A água era clara, não parecia ser de esgoto, levou as mãos ao líquido, deixou enchê-las e levou ao nariz, um cheiro distante de cloro cobriu suas narinas, sugou um pouco e pôde comprovar então, se tratar de água, ainda que com excesso de cloro para ser ingerida, era água limpa. Mas como levaria aquele ouro para Camila? A fruta em suas mãos parecia ser a resposta. A casca grossa poderia ser um excelente recipiente para guardar a água, ao menos para levá-la até sua amiga. Lavou as mãos com a água corrente e puxou uma grande folha na árvore mais próxima. Com a mão, cravou nas paredes da fruta, agarrando seu conteúdo e puxando todo para fora. Colocou sobre a folha, para que não perdesse muito e com as unhas limpava o máximo que podia, deixando o verde de sua casca ficar a mostra. Depois, levou até a abertura no cano e colocou na casca. Levou aos lábios, para saber se o gosto não ficaria muito ruim, mas ainda que o gosto do fruto se confundisse com a água, o prazer em hidratar-se mantinha-se superior ao incômodo do sabor.

Lauren rapidamente encheu o restante e com cuidado colocou em uma mão, levando com a outra, o interior do fruto. Com pressa levou em direção a Camila, que com um suspiro aliviado ainda a via mais a frente, deitada em sua mesma posição. Aproximou-se da garota com delicadeza, não queria assustá-la naquele momento. Pousou a casca com a água em um lado e o fruto no outro. Com as mãos livres, tocou o rosto da amiga, que com dificuldade abriu os olhos delicadamente.

- Lolo…

- Oi Cam. Como se sente?

- Fraca… muito fraca.

- Eu encontrei uma fruta lá embaixo - Lauren disse suavemente - Sente-se para poder comê-la, acredito que se sentirá melhor após isso.

Camila arregalou os olhos e esforçou-se em sentar, Lauren riu do sobressalto da amiga e a recuperação quase imediata ao saber que havia algo para comer. Olhou ao lado, aquele fruto aberto, com água em seu interior e os olhos que até então estavam arregalados, agora se preenchem com um brilho intenso. Lauren sorriu satisfeita, pegou a casca e entregou a latina.

- Também encontrei um cano rachado, talvez ainda tenha um gosto da fruta, mas melhor do que nada.

Camila não pareceu se importar. A golada desesperada que dera, fora tão grande, que todo seu conteúdo desapareceu. O olhar culpado sobre Lauren, fez a cantora rir, não havia pegado nada para si, mas não se importava na latina tendo bebido todo seu conteúdo.

- Você queria? - perguntou preocupada.

- Tem mais lá, não se preocupe, posso pegar mais para mim. O importante é que você agora.

- E isso aí?

Perguntou para o conteúdo branco sobre as folhas. Lauren pegou um pouco e entregou para amiga, que com as mãos ainda muito sujas, decidiu pegar o fruto sobre a folha que a garota trouxera. Regalias e higiêne que cada vez menos precisavam. Cerrou os olhos ao sentir o doce do fruto explodir em sua língua. O alívio era eminente e o sorriso após saciar seu desejo de mastigar algo ficou nítido em seu rosto.

- Meu Deus.

- Doce não é?

- Muito. O que é isso aqui? - perguntou olhando mais uma vez para o fruto.

- Não faço a menor ideia, mas virou minha fruta predileta - riu radiante, ainda observando Camila com tanto carinho, que sentia seu coração disparar.

Lauren olhou sobre suas cabeças e percebia que o sol aos poucos deixava o céu, dando lugar a lua. Em breve teriam a sua segunda noite longe de casa. Lauren olhou para o chão decepcionada. Queria estar em casa naquele momento, em seu aconchego na cama, assistindo seus seriados ou se divertindo na internet. Seu coração disparou no medo que sentia em ficar ali até morrerem, sem que jamais soubessem o que havia acontecido ou onde estavam. Mas não podia entregar-se daquela maneira, não só não podia, como não iria. Precisava proteger Camila de alguma forma e o faria com todas as suas forças. Ela era a fonte infinita de força que nascia dentro de si, caso contrário já teria entregue as pontas.

- Você consegue se levantar, Cam?

- Consigo… eu acho.

- Vamos até a árvore onde peguei isso aqui. É perto até do cano que tem água. Vamos ficar por lá essa noite - disse pensativa - Vai ser melhor, descansamos e comemos mais.

- Certo.

Lauren deu a volta no corpo da amiga e ajudou-a a se levantar assim que comeu o último pedaço. Ela estava bastante debilitada, seus músculos reclamavam do esforço exagerado. Mas logo voltou a pegar o pique, seguindo caminho. Não demoraram mais que dez minutos para ficarem entre a água e a fruta. Lauren pegou diversas folhas, o que levou cerca de uma hora para que conseguisse cobrir todo o chão com folhas verdes das árvores, deixando-o menos desconfortável possível para que pudesse descansar sobre eles.

Camila ainda ocupava-se em pegar os frutos que julgava estarem maduros, juntou aproximadamente dez deles, até onde conseguiu pegar. A água parecia uma tarefa mais difícil para armazenar. Camila tentava criar uma espécie de garrafa com as folhas, mas nada parecia estar dando certo, claramente o líquido passaria direto pelo recipiente mal elaborado.

- Que droga - Camila irritou-se.

Lauren que já voltava, olhou animada para a amiga que procurava com tanto empenho ajudar a juntar tudo o que precisavam para continuar o trajeto. A garota ajoelhou-se frente a ela e pegou com cuidado o fruto, com uma pedra, desferiu pequenos golpes sobre o fruto até que abrisse um vão. Abriu mais com cuidado e com o dedo introduziu puxando o que conseguisse do fruto. Mas para que pudesse limpar com mais exatidão era necessário abrir um pouco mais. Fez isso com três das frutas que a jovem havia trazido, sempre procurando abrir o menos possível.

- Pronto. Teremos apenas que tomar cuidado para não cair - Lauren disse mostrando seu grande feito.

Camila riu e pegou um deles, seguindo a amiga em direção a água. Caminharam por aproximadamente dois a três minutos, até alcançarem o cano rompido. A noite tomou conta completamente, mas seus olhos, já acostumaram-se a escuridão com facilidade e a lua, que ainda encontrava-se cheia, iluminava grande parte da vegetação em seus arredores.

Agacharam-se sobre o cano e começaram a encher os cascos dos frutos recolhidos. Com cuidado levaram de volta ao pequeno acampamento improvisado. A alegria era nítida nas feições de ambas, tendo em vista que a fome e a sede estavam naquele instante controladas. Camila sentou no colchão de folhas, deixando o líquido ao lado, apoiado em um um monte de terra. Lauren fez o mesmo, ao lado da amiga.

- Um fio de esperança no meio do nada - ela disse sorrindo.

- Um fio? - Camila riu - Isso é quase toda a corda, até eu me animei mais.

- Ao menos dá pra segurar um pouco.

- Como levaremos água?

- Eu não faço a menor ideia ainda, mas vamos dar um jeito com o que temos - riu mostrando as cascas.

- Como encontrou isso tudo?

- Eu acho que nós passamos por essas frutas durante todo o percurso que fizemos e não notamos elas ali - Lauren disse envergonhada - Mas a água, sinceramente, temos bons anjos da guarda.

- Acho que o seu é melhor que o meu.

- Tá louca, só encontrei porque você praticamente desmaiou. Mas eu não sei se foi uma coisa boa ou algo ruim ter encontrado ela.

- Por que?

- Claramente este cano leva água para alguma cidade.

- Isso é ruim? Poderemos pedir para usar o telefone e sair dessa desgraça.

- Ou, encontrar a vila que aqueles dois falavam.

- Ai meu Deus - Camila levou as mãos aos lábios.

- Pois é. Precisamos ficar bem atentas - Lauren disse pensativa deitando-se de costas e olhando para o céu estrelado por trás dos ramos de folhas.

Camila fez o mesmo, encostando seu ombro ao de Lauren com delicadeza e repetindo o ato de encarar os pontos brilhantes espalhados pelo imenso vão negro. As coisas pareciam melhorar, ainda que não estivessem nada bem para o lado das duas. Seria mais uma noite sobre aquele vento gélido e o ar pesado. O belo céu sobre suas cabeças era bastante convidativo, talvez o observassem com outros olhos em uma outra situação, distante da que tinham nas mãos. Não queriam ficar ali, não daquele jeito.

E se houvesse mesmo uma vila repleta de criminosos que procuravam por elas a fim de matá-las? O quão longe estariam daquele perigo absurdo? Lauren e Camila não sabiam. Não sabiam quando poderiam voltar pra casa, nem mesmo se algum dia voltariam para casa. Aquela imagem agradável, de seus sofás, do casaco de veludo ou até mesmo da calça de moletom, os pés calçados com meias macias, o cobertor quente e uma ampla TV passando seus programas preferidos. A imagem que parecia se distanciar cada vez mais, quando comparadas ao colchão improvisado com folhagem das árvores e uma casca de fruto que simulavam copos.

Lauren cerrou os olhos respirando fundo e ergueu o braço, ao que Camila imediatamente deitou sua cabeça ao seu ombro e aconchegou-se, esquentando-se em sua pele. Fechou os olhos e se entregou a completa exaustão, após mais um dia difícil. Desejava mais que qualquer coisa, que tudo aquilo que estavam vivendo, desaparecesse junto ao sol da manhã, como um péssimo pesadelo.



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