História Tormentos - O pesadelo

Após eu ter saído do carro, Callie vai embora.

Fico uns minutos parada em frente de casa, eu não estava conseguindo aceitar o fato de estar sendo enganada por minha própria mente. Parecia tão real. Era real. Eu estava disposta a encarar isso, eu sei o que eu vi, e não estava ficando louca. Aquela cor...Me sufocava. Como se fosse alguém, eu acreditei que a cor formava a silhueta de alguém, e este alguém estava disposto a me atacar.

Resolvo interromper meu devaneio e entro em casa. Ótimo. Ficar sozinha, uma das melhores coisas que gosto. Não ter ninguém para me estressar com falações, não ter o barulho de carros buzinando no trânsito, pessoas correndo de um lado para outro por tantas pressas...Em casa só tenho a mim. 

O relógio indicava que já se passara das 3 horas da manhã. "Eu fiquei desacordada por todo esse tempo?" -penso comigo. Subo no andar de cima gemendo de dor, minhas pernas estão bambas e meu corpo está mole. Faço um esforço para me equilibrar enquanto subo os degraus. Já lá em cima, vou direto ao banheiro pra tomar um banho. Gosto quando a água quente cai sob minhas costas, elas fazem um efeito que me deixa relaxada e em paz. Enquanto estou me esfregando noto que há uma cicatriz em meu pulso, que antes de ter desmaiado ela não estava lá. Passo com a mão por cima da cicatriz, só que logo percebo que a cicatriz está na parte de dentro do meu pulso, como se tivesse uma tatuagem interna. Me lembro de pessoas que já foram usadas a colocarem chip nelas para rastreamento, mas logo tiro o pensamento bizarro da cabeça.

- Que droga é essa? -digo alto mas em tom confuso

Desligo o chuveiro e vou direto para meu quarto, penso em ligar para Callie mas ela já deveria estar cansada com tudo que aconteceu hoje. Sem entender nada resolvo deitar na cama. "Deve ser o remédio, o remédio que tomei no hospital pode me dar alucinações, devo estar grogue ainda." -penso. Sem minha vontade acabo caindo em um sono profundo. 

Estou em uma sala. As luzes estão apagadas, mas pela cortina consigo ver o clarão que estava lá fora. Ouço vozes vindo de algum lugar da casa. "Essa não é minha casa" -pensei. As vozes continuam se aproximando, quando olho para o lado vejo uma sombra de alguém vindo para onde eu estava deitada. "Será que fui sequestrada?" -tento não ter que pensar nisso. A pessoa entra na sala, eu me assusto e dou um pulo do sofá, correndo em direção à porta.

- SOCORRO! Alguém me ajude! SOCORRO! -grito desesperadamente, batendo com minhas mãos na porta.

A pessoa que acabara de entrar na sala, senta no sofá, logo em seguida entra outra. Eles estão falando sobre algo.

- Não sei quem são vocês, mas me levem agora mesmo para casa! Se não fizerem isso eu ligo para a polícia -digo tentando não parecer nervosa, mas em tom desesperado.

Eles continuam falando, como se não notasse minha presença naquele lugar. Vou em direção onde eles estavam. Depois que meus olhos se acostumaram com a escuridão do local, percebo que era um homem e uma mulher.

- Escutem aqui, não se façam de surdos...-digo com a voz trêmula. - Eu quero ir pra casa! Onde estou? Quem são vocês?- completo a frase.

Nada. Nenhum sinal de que estavam me vendo. Nenhum sinal de que eles estavam fingindo não prestar atenção em mim. Eles realmente não me viam. Mas o que poderia ser? Que lugar era esse? Que pessoas são essas?. Quando estou distraída fazendo perguntas sem respostas a mim mesma, um deles fala:

- Se acabarmos com ela será mais um ponto para gente. Não podemos deixar que suspeite de nada. -diz a pessoa em um tom firme mas com o vocal grave

Percebo que quem diz é um homem. A mulher continua sentada no sofá.

- Se algo der errado, Nora. Tudo vai por água abaixo. O nosso esforço será em vão, não podemos deixar que isso aconteça - diz o homem em um tom firme mas noto seu medo dito por cada palavra.

"Nora..." -digo baixinho

Nora continua sentada, mas vejo sua aflição. Ela passa com as mãos no rosto e tapa os ouvidos, em um gesto como se não quisesse mais ter que ouvir isso.

- Eu sei, eu sei! Já estou cansada de saber, Trevor. -disse irritada.

- Então se sabe disso, por que continua fazendo errado? Nós não podemos dar pistas, não podemos deixar rastros. Precisamos mata-la, antes que Marcie tire ela de nós. -disse o homem em um tom alto e áspero.

- Não vamos conseguir protege-la de Marcie. Não vamos ter escolhas, se quisermos salvar nossa reputação e manter nossos aliados teremos que entrega-la. -Nora diz decidida.

- Nós nunca deixamos nada escapar, se eles descobrem que cedemos para um que não é de nós. Você já sabe o que acontece...-disse Trevor sem continuar com a frase.

"Eles? Aliados? Quem são estas pessoas? E o que estou fazendo aqui? Como eles não conseguem notar minha presença?" -meus pensamentos gritam dentro de minha cabeça. Coloco as mãos na cabeça e aperto meus cabelos. 

- ME TIREM DAQUI!!!! -grito com as mãos no cabelo.

A sala se escurece, não enxergo nada. Tento ir até a porta mas não consigo distinguir em que lugar do cômodo estou. Nervosa e ainda ouvindo as vozes abafadas de Trevor e Nora, fico zonza e caio no chão. Estou suando, não de ansiedade e insegurança...Era medo. Tento me levantar mas sinto algo cortando meu braço. Dou um grito abafado, a coisa está tapando minha boca.

Minha visão se clareia. Não entendo. Será que desmaiei novamente?. Estou conseguindo respirar, não sinto aquele peso que estava sob mim, não ouço mais as vozes de Trevor e Nora. Quando minha visão se acostuma com o clarão, percebo que não estava mais naquela sala. Estava em casa. Era um pesadelo. Tudo não passou de um sonho.