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História Torre de Névoa - Os Olhos Verdes.


Escrita por: aloritsor

Notas do Autor


Olá Cupcakes!

Falha na memória, eu me esqueci de que estava postando essa fanfic aqui também. De qualquer forma, ela está postada até o capítulo 5 no Nyah, se for do desejo de alguém.

Obrigada a todos que comentaram o capítulo anterior.

Sem mais delongas, boa leitura.

Capítulo 2 - Os Olhos Verdes.


 

Storybrooke, março de 2015.

Regina abriu os olhos, protestando contra a claridade da manhã que aos poucos invadia o quarto. Ela esticou os braços e aprumou os ombros, acostumando-se a sensação de estar acordada. Deslizou os dedos pelos curtos cabelos negros que um dia foram longos, mas que agora mantinham-se cortados à altura do ombro. Ela se pôs de pé e sentiu o toque do piso gélido contra a sua pele enquanto caminhava em direção ao banheiro, na esperança de um banho quente que a livrasse do desejo de permanecer deitada. Fechou os olhos e buscou pelo registro, à espera da água morna que lhe relaxaria os músculos, mas tudo o que recebeu foi um jato de água fria, fazendo com que pulasse para fora, tal como um felino assustado.

— Eu não acredito que você ainda cai nessa! — Zelena entrou no banheiro. Sua mão cobria a boca em uma tentativa falha de conter a crise de risos que a dominava.

— Você parece uma adolescente imatura! — esbravejou. A morena balançou seu corpo, fazendo com que gotas de água se espalhassem, antes de procurar o calor de uma toalha seca. — Céus! Você tem trinta e quatro anos!

— E você é uma gatinha que tem medo de água gelada. — gargalhando por uma última vez, conteve-se diante do olhar furioso da irmã. — Além disso, vovó está nos esperando lá em baixo.

— Ela fez biscoitos? — um sorriso ganhou seus lábios.

— Céus! É a vovó! É claro que ela fez biscoitos. — ela beijou o rosto da irmã e saiu do banheiro.

Regina voltou-se para o chuveiro e respirou fundo algumas vezes. Levou uma das mãos até o registro e deixou que a água caísse aos poucos. Ela encarou as gotas transparentes e levou o indicador até lá, hesitando antes colocar sua mão em baixo d’água. Os seus olhos se fecharam fortemente e ela deixou que a água morna lhe tocasse a pele. O olho esquerdo foi aberto e, logo depois, o direito. A morena retirou a mão e coloco-a de novo. Esperou alguns segundos antes de entregar-se ao banho que não foi, nem de longe, como planejava. 

Os cheiros de café fresco e biscoitos recém-assados se espalhavam pela cozinha. A grande janela deixava que a claridade da manhã desse a todos um belo “bom dia”. As vasilhas, todas muito bem ariadas, estavam devidamente organizadas nos armários, e os diversos conjuntos de porcelana, muitas vezes quase quebrados pelas irmãs Mills, mantinham-se posicionados com perfeição. Perpétua Mills, com suas roupas bem passadas e os cabelos prateados alinhados, batia com fiel dedicação a massa do que viriam a ser perfeitos biscoitos. Ela olhou ao seu redor, buscando por algo que não estava por ali. Sua mão se ergueu e, no estante seguinte, a primeira gaveta do grande armário de madeira foi aberta e uma colher de pau levitou até ela.

— Vocês estão atrasadas. — a voz imponente soou, ecoando pelas paredes de pedra, segundos antes de Regina e Zelena entrarem pela porta da cozinha. 

— Bom dia para você também, vovó. — Zelena sorriu, beijando o rosto da mulher que mais se assemelhava a uma mãe. Ela se aproveitou da distração da senhora e meteu o indicador na massa, levando-o até os lábios e recebendo um olhar reprovador. 

— Bom dia, vovó. — Regina espelhou o gesto da irmã, dando à avó um beijo rápido e sentando-se à mesa.

— Comam logo, pois nós já estamos atrasadas! — ela colocou a massa em porções pequenas sobre o tabuleiro e levou ao forno, sentando-se junto às netas e buscando por seu café forte.

— Por que a senhora cozinha se basta estalar os dedos para ter comida pronta? — a ruiva repetiu a pergunta que fazia desde a infância, mas que nunca se cansava da resposta.

— Mágica não produz amor, querida. — a senhora girou seu indicador e o botão do vestido de Zelena se fechou. — Toda comida, para ser bem feita, precisa de amor.

— Certo, me parece uma boa justificativa. — Zelena assentiu e Perpétua negou com a cabeça, levando sua xícara à boca.

— Eu realmente não sei o porquê dessa claridade toda. — Regina cobriu o rosto, apoiando-se à mesa.

— Tire os cotovelos da mesa, Regina Mills. — a avó lhe chamou a atenção e ela se aprumou, mas manteve os olhos semicerrados. — Além disso, não devemos reclamar da luz, ela é sempre bem vinda. Não há encantamento que purifique mais do que a energia da luz matinal.

— Vamos com isso, vovó. Eu preciso chegar cedo ao museu. — Zelena se preparou para levantar e Regina conteve o próprio riso, sabendo o que viria.

— Sente-se e coma direito, menina! — a mulher esbravejou, sem perder o tom materno que lhe era tão característico quando se dirigia às netas.

— Você disse que deveríamos comer logo. — a morena provocou, apenas para ter o prazer de desassossegar a avó.

— E agora eu estou dizendo para comerem direito. Nós ainda temos tempo. — ela encarou o relógio de madeira que possuía uma coruja de olhos rubi entalhada em seu topo e ficava, há anos, posicionado acima da porta de acesso ao corredor.

A Família Mills era conhecida por toda a cidade. Sua imponência era respeitada e jamais fora posta à dúvida. E nem poderia. Perpétua Mills morava ali há anos, há mais tempo do que a maioria dos moradores era capaz de se lembrar. Os mais antigos a conheciam pelos eficientes remédios naturais que produzia. Dizia-se, de boca em boca, que milagres eram feitos com seus chás e que suas ervas eram, sem dúvidas, as mais bem cultivadas. Perpétua era constantemente procurada, mas somente era encontrada quando de seu desejo. Há décadas não era vista na cidade, limitava-se a permanecer em sua casa. Ao menos era o que pensavam os leigos. A Mansão Mills, escondida pela floresta e protegida pelos céus. A experiente senhora sentia até mesmo quando pequenos roedores aproximavam-se, quem dirá quando moradores em busca de ajuda adentravam a floresta e procuravam pelos caminhos que os levassem até ela. Mal sabiam que o verdadeiro caminho só seria encontrado por aqueles que eram esperados. Qualquer desventurado que andasse por ali sem ser convidado seria confundido pelas trilhas e pelas árvores. A natureza protege os que a respeitam.

Ao final do café da manhã, as louças foram lavadas e guardadas em seus devidos lugares, como em todos os dias. A cozinha estava limpa e organizada. As três mulheres caminharam para o jardim que rodeava a grande mansão e cada uma buscou por sua posição. Perpétua encarou o céu e certificou-se de que o sol estava na posição certa. Assentiu para as duas netas, que prepararam-se para o sinal que viria a seguir. Zelena estava posicionada à Oeste. Ela sentiu a corrente de energia visitar cada parte de seu corpo e sorriu com aquilo. Os seus olhos se fecharam e quando se abriram, suas belas íris verdes já não estavam mais ali, eles estavam completamente brancos. Regina estava voltada para o Sul. Ela espaçou suas pernas e respirou fundo. Suas mãos estavam voltadas para baixo, ambas abertas. Ela, lentamente, as virou para cima, erguendo-as aos poucos. Uma brisa lhe tocou os cabelos, fazendo com que lhe cobrissem o rosto. A morena não se importou. Quando os mesmos voltaram ao seu lugar e sua face foi exposta, os seus olhos também estavam brancos. Perpétua estava ao Leste. Ela se abaixou e tocou a terra. Sentiu a textura dos pequenos grãos em seus dedos e os apertou junto a palma. Quando se ergueu, os seus olhos se assemelhavam aos das netas. A terra foi solta aos poucos e os grãos foram levados pelo vento, até que não restasse nenhum. Ela segurou o pingente de ônix que usava em seu cordão e ergueu a mão para o céu.

— Venire ventus venire, sinere solus sentire.— uma forte corrente de ar se iniciou no momento em que as palavras foram ditas pela mulher mais velha.

As folhas das árvores balançavam-se, batendo uma contra as outras. Regina sentiu a conexão ser estabelecida dentro de si. Zelena estava ali e sua avó também, aquele era o sinal. Três pares de mãos mantinham-se voltados para a imensidão celeste. O vento formava pequenos redemoinhos ao chão e qualquer um se assustaria com sua intensidade, mas não elas. Elas já estavam acostumadas e, mais ainda, sabiam que aquilo significava a ligação da natureza ao encantamento que estava sendo feito.

— Et protectio aeterna naturam. — as três vozes se tornavam únicas, entoando a frase que tantas vezes fora dita. — Et protectio aeterna naturam.

O verde que predominava pela floresta se tornou mais intenso. Os galhos cresceram em direção à casa, como se a abraçassem em resposta ao pedido feito. A forte luz do sol se tornou mais presente e, aos poucos, a luz predominou por entre as nuvens. As três mulheres se abaixaram, como em uma coreografia ensaiada. Suas mãos se espalmaram sobre a terra, mas os olhos mantiveram-se voltados para o alto, em um infinito enxergado somente por elas.

— Ab initio ad finem. — silenciaram quando as últimas palavras foram recitadas.

Uma forte corrente de energia se libertou dos três pares de mãos, unindo-se ao Norte da casa. Da terra, um fraco feixe luminoso emergiu. Ela seria ignorada por qualquer leigo, mas era vista pelas mulheres que caminhavam em sua direção. A fina corrente de luz subiu, alto o bastante para que se perdesse em meio ao azul. Um trovão forte foi escutado e as grossas gotas de chuva marcaram o solo. O incrível contraste entre a beleza do sol e a chuva deu origem a um sublime arco-íris, brilhando ao alto com todo o seu esplendor. Um olhar cúmplice foi trocado entre elas. Estava feito. Aquela, sem dúvidas, era a confirmação da natureza de que o laço mantinha-se vivo.

Zelena encarou a própria roupa, agora encharcada. Perguntou-se o motivo de ter se arrumado antes do ritual, tendo conhecimento do resultado final. A ruiva, que valorizava a beleza e adorava vestir-se bem, ponderou atrasar-se alguns poucos minutos, apenas para que pudesse se arrumar novamente, mas desistiu quando notou o horário. Espalmou sua mão frente o tecido e não demorou até que o mesmo voltasse à perfeição.

— Regina, querida, você vai comigo? — ela entrou no quarto da irmã, que parecia acabar de organizar sua bolsa.

— Sim, claro. — a morena se voltou para o espelho e certificou-se de que o batom vermelho estava em perfeito estado. — Espere-me lá em baixo. — ela olhou de relance para a irmã, mas segurou o braço da ruiva, impedindo-a de sair. — Onde está o seu amuleto? — Zelena encarou o próprio pescoço, só então dando-se conta de que não estava ali.

— Oh não! — os olhos verdes se arregalaram no pânico espelhado pelo rosto de Regina.

— Você perdeu!? Zelena, vovó vai te matar e o dia está horrível para um enterro. — a ruiva foi puxada para fora do quarto.

— Calma, nós podemos encontrar. É claro que nós podemos encontrar! Nós somos bruxas, como não poderíamos encontrar? — as palavras se atropelavam, denotando o nervosismo já evidente. Elas entraram em seu quarto e iniciaram uma busca que deveria ser atenciosa, mas fora nublada pelo desespero.

As roupas foram reviradas e as bolsas foram postas ao avesso. Regina vasculhou cada canto do chão e Zelena se ocupou em tentar conjurar um feitiço para atraí-lo, mesmo sabendo que não funcionaria. A pedra era protegida para que ninguém a roubasse por meio da magia. Por fim, desistiram. Desceram as escadas com cuidado, como duas crianças que se escondem para roubar doces da cozinha. A avó mantinha-se sentada, concentrada em seu tricô. Passaram por trás da sala e tocaram a maçaneta, certas de que, ao menos por hora, não teriam problemas.

— O seu cordão está pendurado na cabeceira da sua cama. Não ouse sair sem ele. — a voz da mulher foi ouvida e fez com que Zelena parasse de supetão e Regina trombasse em suas costas. — As vezes eu me pergunto se vocês ainda são aquelas duas adolescentes que fugiam durante a noite e achavam que eu não saberia. — uma risada baixa foi dada ao final da frase.

A ruiva levou a mão ao peito e soltou o ar que nem ao menos sabia estar prendendo. Encarou a irmã que mantinha sobre ela um olhar furioso. “Suba logo, antes que ela venha até aqui!”. As palavras pensadas por Regina brilharam na mente de Zelena e ela moveu os lábios em deboche. Voltou alguns minutos depois com o quartzo branco brilhando em seu cordão.

— Já estamos indo, vovó. Tenha um bom dia. — gritou, antes de empurrar a irmã para fora.

— Você sabe que não pode tirar o maldito cordão, Zelena! — a morena esbravejou quando entraram no carro. — Vovó fica louca todas as vezes que você perde. Eu ainda lembro muito bem do quase terremoto que ela causou quando você o esqueceu na escola! — a ruiva gargalhou, mas Regina se manteve impassível.

— Não foi tão grave assim... — ela argumentou, enquanto dirigia para fora da floresta. A morena a olhou de canto e Zelena assentiu. — Certo, ela causou um leve tremor na terra, mas não foi nada demais.— a ruiva encarou o cordão no pescoço de Regina que era diferente de qualquer outro já visto por ela.

Ele possuía sete pedras, sendo seis do mesmo tamanho e uma maior ao centro. Seis pedras possuíam uma coloração azul escura, mas uma delas estava negra. Ela voltou-se para frente, sabendo o que aquilo representava. Regina preocupava-se tanto com a proteção de Zelena, pois carregava a própria sentença em seu pescoço. As sete pedras eram um lembrete constante da sua maldição.

***          

A movimentação já conhecida trazia vida à cidade que mantinha-se tão silenciosa durante a noite. O vai e vem e o falatório iniciavam-se aos poucos. As manhãs ganhavam as ruas e as ruas, por sua vez, ganhavam as pessoas. Um jornaleiro ocupava-se de organizar sua vitrine, preocupando-se em chamar a atenção dos seus já habituais fregueses e dos novos que poderiam surgir. Um carro parou em frente à sua banca e ele se abaixou à altura da janela.

— Bom dia! — a mulher lhe sorriu amistosa e ele retribuiu o gesto. — Desculpe o incômodo, mas estou um pouco perdida. Você poderia dizer aonde fica esse lugar? — buscou por um pequeno cartão em seu porta-luvas e entregou a ele.

O homem olhou com atenção, mas pareceu desistir de forçar sua vista e cedeu aos óculos. Assentiu ao reconhecer o local procurado pela mulher, não seria difícil ajudá-la.

— É a pensão da vovó! Está de passagem, senhorita? — o cartão foi devolvido, mas o homem não deixou de demonstrar a sua curiosidade.

— Pode-se dizer que sim. — tentou responder da forma mais animada possível, ainda que a receptividade a assustasse.

— Bom, não me deixe atrasá-la! Siga em frente e vire à esquerda. Você encontrará uma lanchonete e, ao lado, uma pensão. Granny é dona dos dois, não será difícil achá-la por lá.

Ela o agradeceu e seguiu em frente. Realmente, não fora difícil encontrar o lugar e minutos depois o seu carro estava parado em frente à pensão. Encarou o espelho retrovisor e analisou sua feição cansada. Precisava de algumas horas de sono, mas estava ansiosa pelas descobertas que faria em Storybrooke. Trocou os óculos de grau por óculos escuros, uma tentativa de esconder as olheiras que lhe marcavam o rosto, e seguiu até a porta principal.

Não tardou para que seu quarto lhe fosse mostrado. Ela se jogou sobre a cama e descansou o corpo. O som de um trovão a roubou da sonolência. Podia jurar que o dia estava limpo e que não havia sinais de chuva quando cruzou a placa que sinalizava o início de Storybrooke. Encarou o céu por trás do vidro transparente da janela que possuía algumas pequenas manchas. As árvores balançavam com fervor, mas não havia muitas nuvens no céu. Pingos grossos marcavam as pedras das ruas e uma chuva mais pesada se iniciou. Ainda assim, ela não pode ignorar o belo arco-íris que se formou em contraste com o azul celeste.

Mal teve tempo para recuperar suas energias ou acalmar os turbilhões de pensamentos quando levantou e buscou por suas chaves. As malas continuavam pelo meio do quarto, não se importou em desfazê-las. A chuva se resumira a um sereno tranquilo, mas, ainda assim, ela vestiu sua jaqueta vermelha. Encarou o espelho, mais por um costume bobo do que por verdadeiro vaidade. Saiu do quarto e pensou em pegar seu carro. Já tinha seu destino escolhido, tudo iria começar agora e ela estava ansiosa. Não podia conter a ansiedade em descobrir os detalhes, em desvendar as lendas e os segredos encobertos por elas. Optou por ir andando. Ela observava os detalhes das casas e a forma como as pessoas se cumprimentavam quando passavam uma do lado das outras, como algo simples que não merece atenção. Ainda assim, ganhara a dela. Não estava acostumada com gentilezas simples. Passou a vida sendo habituada a algo mais rígido, a uma frieza construída com pequenos detalhes, mas que lutava por não deixá-la dominar. Escrevia como uma fuga da própria realidade, para um caminho em fantasias não alcançadas aqui.

Olhou ao redor, certa de que chegara aonde queria. Por ironia do destino, ou por simples coincidência, a biblioteca ficava bem em frente à banca de jornal, aonde havia parado para questionar o simpático jornaleiro sobre o caminho até a pensão. Subiu as escadas e se deparou com as portas fechadas. Olhou seu relógio e percebeu que já se passava um pouco das sete da manhã. Talvez a biblioteca abrisse em um horário diferente do que a da cidade de onde veio.

Um garoto estava sentado alguns degraus abaixo. Seus cabelos negros estavam devidamente penteados e ele se vestia bem. Um livro estava em seu colo e parecia grande demais para um garotinho tão pequeno. Ela se sentou ao seu lado, mas ele não a olhou. Estava concentrado no que lia, ela pode notar. A mulher limpou a garganta, mas ele se manteve sério. Ela forçou uma tosse e ele riu com o canto dos lábios, antes de erguer a cabeça e lhe encarar.

— Você não é daqui, certo? — o garoto perguntou, semicerrando os olhos para conseguir enxergar o rosto da mulher.

— Não, mas eu já estive aqui. Também está esperando a biblioteca abrir? — apoiou os cotovelos nas coxas e ponderou ir buscar de um café. Talvez um chocolate quente.

— Sim! A Senhorita Mills está atrasada. Isso é estranho, ela nunca se atrasa. — ele fechou seu livro, desistindo da leitura e voltando sua atenção à mulher.

— Acontece. — comentou, observando, ao longe, um cachorro perseguir um pequeno felino que mantinha-se escondido em baixo do carro.

— Não mesmo. Ela é muito pontual. — o garoto passou as mãos sobre os olhos, retirando alguns fios do cabelo que caíam por ali. — Ah, olha só. É ela!

Ela acompanhou o olhar do menino a tempo de ver um carro negro estacionar. As portas se abriram e duas mulheres saíram, caminhando lado a lado. A ruiva trajava um vestido verde musgo, junto a um sobretudo preto. O seu rosto não lhe era estranho e ela se esforçou para tentar se lembrar de onde a conhecia. A morena vestia calças pretas e uma belíssima blusa de ceda vermelha, tal como a cor do batom que lhe cobria os lábios. A ruiva pareceu encará-la e sorrir, mas a mulher não teve tempo de retribuir o gesto. Ela estava presa demais nos olhos castanhos da outra.

— Eu gosto delas. — o garoto interrompeu seus pensamentos. — Quer dizer, Zelena é mais divertida, a Senhorita Mills é mais séria. Zelena disse que eu posso chamá-la assim e meu pai disse que não tem problema se foi ela quem autorizou. — Zelena? Aquele nome não lhe era estranho. Sua mente iniciava uma batalha interna em busca de lembranças que pareciam perdidas. — As pessoas as acham um pouco estranhas, mas eu não acho, eu realmente não acho. Elas só são diferentes, você não acha? — a mulher piscou algumas vezes até dar-se conta de que a pergunta era dirigida à ela.

— Sim, elas podem ser diferentes. — ela tentou conter sua curiosidade, mas convenceu-se de que não era crime tirar algumas dúvidas. — Mas por que falam que elas são estranhas?

— Eu não sei. — ele deu de ombros. — Vai ver é por elas morarem na floresta. Na verdade, eu acho muito legal. Eu gostaria de morar lá também. — ele pegou sua mochila e se levantou. — Você não vai entrar? — apontou para as portas da biblioteca, que já estavam abertas.

— Ah claro, vou sim! — ela se levantou e limpou a parte traseira da calça com as mãos.

— Não olhe diretamente nos olhos dela. — o garoto lhe sussurrou quando passaram pela porta.

— Dela quem? — perguntou, mas ele já não estava ali.

Olhou em volta, buscando pelo menino, mas ele havia desaparecido. Quando virou-se para frente, decidida a entrar mais a fundo no âmbito, deparou-se com a mulher morena. Os olhos castanhos lhe chamaram a atenção, ela não conseguiu desviar o olhar. Ela nem sequer tentava. A mulher limpou a garganta e lhe ofereceu um sorriso sínico.

— Eu posso ajudá-la? — a voz rouca fez com que um arrepio lhe tomasse o corpo. Ela piscou, em uma tentativa de despertar a própria mente. O que diabos estava acontecendo?

— Ah sim... Não! — embolou-se nas palavras e suas bochechas coraram levemente. — Quer dizer, — respirou fundo antes de continuar. — acredito que ainda não. Mas a Senhorita... — ela esperou que a mulher confirmasse o nome, ainda que o jovem garoto já houvesse lhe dito.

— Mills. Regina Mills. — assentiu, ainda absorvendo o estranho impacto que aquilo lhe causava.

— Certo, Senhorita Mills! — ela buscou uma abordagem mais leve e tentou não demonstrar tanto do seu nervosismo. — Então, eu preciso fazer algumas pesquisas. Por hora, pretendo ler algumas coisas, mas posso lhe perguntar caso tenha alguma dúvida?

— Eu acredito que sim, querida. Afinal, esse é o meu trabalho. — a mulher assentiu antes de abrir espaço para que a outra pudesse entrar.

Zelena observava de longe. Estava decidida a ir direto para o museu, mas mal pode acreditar quando estacionou o carro e sentiu aquela mente que já lhe era conhecida. Uma mente antiga. Não costumava lembrar-se de rostos, mas ela reconhecia pensamentos como ninguém. Os cabelos loiros, os olhos verdes e a voz. Ela considerou estar delirando quando deparou-se com a mulher sentada nos degraus da biblioteca, mas não poderia. As pessoas podem mentir, rostos podem mudar, mas a mente e os olhos de cada um possuem um toque único e a ruiva era ótima para reconhecê-los. Zelena caminhou até a irmã, que arrumava alguns livros atrás de um grande balcão de madeira.

— E então? O que ela quer? — questionou por mera formalidade. Ela havia se segurado para não rir diante do nervosismo da loira enquanto falava com Regina.  

— Está fazendo algumas pesquisas. — a morena anotou algo no interior de um dos livros, só então dando-se conta daquilo que havia lhe passado despercebido. — Céus, eu nem ao menos perguntei o nome dela! O seu maldito atraso quebrou a minha rotina e me tirou dos eixos. — ela apontou para a irmã.

— A culpa não é minha! Vovó podia ter dito antes que sabia onde o cordão estava! — Zelena segurou o pingente entre os dedos.

— Você poderia não ter perdido! — a morena passou por ela, carregando uma pequena pilha de livros. Deparou-se com a mulher loira a algumas prateleiras de distância, deslizando os dedos sobre títulos, perdida entre as coisas que lia. A mulher ergueu a cabeça e os seus olhos se prenderam aos dela. Aquele verde que lhe era estranhamente familiar. — Os olhos dela. — ela sussurrou e Zelena se aproximou, mas a mulher já não estava lá. Regina continuava a encarar o vazio. — Os olhos verdes... Eu conheço aqueles olhos.

— É claro que você conhece aqueles olhos, Regina. — a ruiva tomou um dos livros de suas mãos. — E ela também conhece os seus. Quer dizer, os seus outros olhos. — ela apontou para o colar da morena.

— O que você está dizendo? — Regina acordou de seu transe e se voltou para a irmã. A curiosidade lhe consumia os olhos e Zelena não precisava invadir sua mente para saber os diversos questionamentos que estavam por ali.

— É claro que você reconheceria os olhos dela. Os olhos não mudam, ainda que tenham se passado quinze anos. — a ruiva sorriu. — Ela é Emma Swan. — Zelena verbalizou os pensamentos da irmã. — E acredite, ela também está interessada em você, embora não se recorde exatamente de você. — ela se aproximou da morena para que pudesse sussurrar em seu ouvido. — Quem sabe ela lembre se você virar uma gatinha e for até lá dar um “oi”?

— Você não estava atrasada para ir até o museu? — a morena ergueu uma das sobrancelhas e a ruiva ergueu as mãos em redenção.

— Faça perguntas. Não consegui olhar muito a fundo, mas os pensamentos dela estão me preocupando. — ela falou baixo antes de sair, sem dar tempo para que Regina a questionasse.

A morena voltou para trás de sua mesa e manteve-se atenta ao que fazia. Olhava os registros e certificava-se de que todos estavam em dia. Um e-mail lhe informou que uma nova entrega de livros seria feita. Isso significava novas prateleiras, uma série de trocas. Ela suspirou e se recostou à cadeira. Os seus olhos se perderam na loira que estava sentada em uma das mesas do fundo. Os óculos de graus estavam apoiados na ponta de seu nariz e os cabelos loiros foram presos desajeitadamente. A jaqueta vermelha foi deixada de lado e, agora, ela vestia apenas uma regata branca.

Emma Swan.

O nome lhe invadiu a mente. Ainda se lembrava da noite em que encontrou a loira pela primeira vez. Tanto tempo se passara, mas Regina ainda podia ver o olhar assustado, agora escondido pela feição adulta. A adolescente que ela conheceu ainda vivia ali. Como Zelena bem disse, os olhos se mantinham os mesmos. Talvez por serem os espelhos da alma.

Depois daquela noite, Regina questionou-se sobre a menina durante um longo tempo. Ela jamais a encontrara outra vez. Não que tenha procurado, ao menos não tão descaradamente. Era uma jovem adolescente com curiosidades demais. Curiosidades sobre o mundo e sobre as pessoas. Pessoas que eram tão diferentes dela e que desconheciam a sua verdadeira origem. O sangue que lhe corriam pelas veias e a marcava como aquilo que, durante tanto tempo, fora odiado: uma bruxa.

— Senhorita Mills? — a voz fora reconhecida antes mesmo que Regina voltasse à realidade. Emma a encarava, achando graça da forma como a mulher parecia perdida.

— Olá, — ela se acomodou na cadeira, aprumando os ombros. — desculpe-me. Acabei divagando em pensamentos.

— Espero que sejam bons pensamentos. — ela se apoiou sobre o balcão de madeira e tamborilou com os dedos.

— Talvez sejam. — a morena respondeu, incapaz de desviar o olhar. Os olhos verdes a prendiam. — Eu vi que estava pesquisando. Posso ajudar em algo?

— Talvez sim, talvez não. — ela sorriu fraco. Emma tentava de todas as formas lutar contra o próprio nervosismo. Afinal, ela o considerava infundado.

— Vamos descobrir. — a morena se levantou e contornou o balcão, colocando-se de frente à loira. — Você não é de Storybrooke. O que a trouxe até aqui, Senhorita Swan? — Emma ergueu uma das sobrancelhas e Regina arrependeu-se de imediato, sabendo o que viria a seguir.

— Eu não me recordo de ter lhe dito o meu nome. — a morena pensou rápido e esticou-se, buscando um dos papéis que estava sobre seus registros. — Ah claro. — Emma encarou sua própria assinatura no termo de compromisso da biblioteca. — Bom, eu estou fazendo pesquisas. — Regina relaxou diante daquilo, certa de que a loira havia confiado em sua razão para saber o nome. Ela nem ao menos havia olhado o maldito termo antes daquele momento.

— Pesquisas? Algum trabalho de faculdade? — ela palpitou, tomando cuidado para não demonstrar sua curiosidade em saber mais sobre Emma.

— Não, não mesmo. — ela sorriu. — Eu sou escritora. Estou fazendo pesquisas para um novo livro. — um frio se instalou no estômago de Regina, ainda que ela não soubesse ao certo o motivo.

— Ah é mesmo? E sobre o que você escreve?

— Romances. — suas bochechas coraram e Regina sorriu.

— Então a Senhorita é responsável por espalhar um pouco mais de amor pelo mundo?

— Eu procuro fazê-lo. Já vivemos em meio a tanto caos. Parece-me justo proporcionar uma escapatória para as pessoas. — ela encarou os olhos castanhos que lhe pareciam tão concentrados.

— Uma escapatória para as pessoas, ou uma escapatória para você? — a pergunta pegou Emma de surpresa, fazendo com que sua boca se abrisse, para logo depois se fechar, sem que nenhum som fosse emitido.

— Para ambos. — admitiu. — Ainda que nem todos os meus romances tenham um final feliz.

— Eu acredito que a ideia de final feliz seja subjetiva. — Regina piscou e Emma pareceu despertar.

— Qual é a sua concepção de final feliz? — a morena lhe sorriu.

— Eu nunca pensei sobre isso, acho que terei que descobrir. — ela cruzou seus braços. — Sobre o que é o seu novo romance? — o estranho frio lhe invadiu mais uma vez. Ela o ignorou.

— Bem, — Emma aprumou-se. — eu estou pesquisando sobre bruxas.


Notas Finais


Espero que tenham gostado. Nós nos vemos logo.
Um beijo!


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