História Touch Me - Ten

YOUNGJAE

— Jae, pega o meu celular na estante, por favor? — meu namorado pediu e eu levantei da mesa indo até a estante da sala. Olhei a estante e não consegui lembrar o que ele havia me pedido, então me sentei no sofá e respirei fundo, tentando lembrar o que ele havia falado a uns 40 segundos atrás.

Liguei a televisão em algum drama que passava na hora e sorri, era um dos meus favoritos, eu já não lembrava o que eu tinha ido fazer ali. Jaebum veio da cozinha rindo e se sentando ao meu lado.

— Por que não pegou o que eu pedi? — ele riu, passando um braço ao redor dos meus ombros.

— Você me pediu alguma coisa, hyung? — perguntei.

— Pedi pra você pegar meu celular na estante.

— Verdade. — eu ri. — Eu vou me lembrar da próxima vez.

— Preste mais atenção no hyung, ok? — ele perguntou, mais como uma ordem.

— Ok. — sorri pra ele e o mesmo me deu um selinho, se levantando e indo até a cozinha com o celular em mãos.

Alguns minutos se passaram e eu fui até Jaebum na cozinha, que olhava atentamente seu celular em busca de alguma receita.

— Bummie hyung, eu vou passar na casa do Yugyeom mais tarde, tudo bem? Não se preocupe se eu demorar a chegar.

— Tudo bem, amor. — ele sorriu e me deu um selinho.

— O que quer comer hoje? — ele perguntou.

— Hum... — pensei. — Hyung, eu quero comer ramén. Eu gosto de como você prepara.

— Tudo bem, vou fazer. — ele sorriu bonito, como sempre e eu me sentei no balcão mais distante, para vê-lo preparar a comida.

— Woah! — falei enchendo a boca. — Bummie... Woah. Está tão gostoso.

— Realmente, eu sou muito talentoso.

— Não posso discordar dessa vez, hyung. — eu ri.

— Vai fazer o que na casa do Yugyeom? — ele perguntou.

— Só passear. Você vai trabalhar então vou ficar lá conversando e fazendo coisas de dongsaeng. — ele riu com o apelido que eu havia usado.

— Tudo bem, dongsaeng. — ele sorriu. — Não demore muito pra voltar, estou carente hoje, quero ficar com você a noite todinha depois do trabalho.

— Ah, hyung. Nós parecemos que estamos casados. — eu ri. — Você está parecendo um marido hoje.

— Você tá sempre parecendo meu marido. Vamos nos casar no futuro, certo? — ele disse e comeu mais um pouco da comida. Em seguida pegou um pedacinho da carne que ele mesmo havia feito e dado na minha boca.

— Uhum. — assenti. — Vamos nos casar. Eu vou ser um bom marido pra você, Bummie.

— Você já é. — ele sorriu e deu uma piscadinha, me arrancando um suspiro. Como era possível um ser humano ser tão bonito? Eu o amava tanto.

...

JAEBUM

Horas mais tarde.

Depois do trabalho, fui pra casa e como o esperado, Youngjae ainda não havia chegado. Preparei algo pra comer e me sentei na sala, enquanto assistia um programa de variedades aleatório que passava no momento. Adormeci no sofá momentos depois, enquanto esperava meu namorado.

Quando acordei, todo dolorido por ter dormido de mal-jeito, meu namorado ainda não havia chego, suspirei olhando seu celular na mesinha de centro, ele esqueceu o celular de novo.

"Yugyeom, o Jae já saiu daí?" digitei para o meu novo dongsaeng no Kakaotalk.

"Hyung, Jae vai ficar aqui hoje. Ele não está muito bem." recebi e fiquei automaticamente preocupado.

"Como assim, Kim Yugyeom? Ele estava bem quando eu saí."

"Hyung, por favor, ele só está um pouco... Indisposto."

Não respondi, apenas peguei meu casaco e um moletom para Youngjae, lembrei que ele havia saído com pouca roupa, deve ter ficado doente por isso. Ele levaria uma bronca depois.

Me dirigi até a casa do Yugyeom, que não era muito longe. Bati na porta e ela foi aberta pela empregada dele, uma mulher de idade que sorriu pra mim, mesmo parecendo preocupada.

— Posso entrar? — perguntei, ela assentiu, me dando passagem.

— Eles estão no quarto, Yugyeom saiu faz um tempinho. Jinyoung e Youngjae estão lá em cima, não se assuste com a bagunça, as vezes Youngjae... Enfim. — ela saiu e foi até a cozinha.

— Ok. — sorri em agradecimento e subi, já no corredor senti um cheiro forte de bebida, eu os mataria caso estivessem fazendo uma festinha.

Ao abrir a porta, senti minhas pernas falharem. Eu definitivamente não estava vendo aquilo.

— Hyung, eu disse pra não se preocu... — Yugyeom parou de falar ao ver a cena. Encarei o chão e ri ironicamente. Youngjae e Jinyoung estavam se beijando e o pior é que os dois pareciam estar gostando muito daquilo. Meu namorado e meu melhor amigo.

— Yugyeom... — Jinyoung falou ao se afastar. — Yugyeom ele...

— Eu sei, Park Jinyoung, já vi essa cena antes. — Yugyeom parecia triste e Youngjae aparentava estar confuso.

— Ele esque... — Jinyoung foi interrompido.

— Eu já sei! — Yugyeom gritou, fazendo Youngjae dar um pulo de susto. Eu continuava parado no mesmo lugar, eu não sabia o que falar. Eu obviamente queria bater na cara dos dois e exigir que me dissessem que merda estava acontecendo ali. Mas eu só conseguia sentir meu coração doer e uma lágrima descer de um dos meus olhos.

Yugyeom saiu de perto de mim e pegou Youngjae pelos ombros.

— Quem eu sou? — ele disse olhando nos olhos do amigo, mas ainda parecia muito triste.

— Kim Yugyeom. — Youngjae sorriu.

— Quem é ele? — apontou para Jinyoung.

— Meu namorado, Park Jinyoung, porque está me fazendo essas perguntas? — ele ria.

Suspirei enquanto encarava aquela situação, eu sentia vontade de gritar, bater em alguém. Mas não conseguia fazer nada.

— E quem é... — Yugyeom suspirou. — Quem é ele? — apontou em minha direção.

— Só um cara. — ele deu de ombros e parecia irônico, como se quisesse que eu soubesse que estava atrapalhando por estar ali. — E ele não foi convidado.

Me virei e saí dali apressado e atordoado tentando entender pelo menos 1% do que estava acontecendo.

Como ele poderia ter feito algo assim comigo?

— Fique aqui, Youngjae. Nós já voltamos, ok? — ouvi a voz de Yugyeom dizer.

Senti uma mão me segurando pelo ombro e tremi me afastando.

— Desculpa. — o mais novo disse. — Achei que ele havia melhorado.

— Do que você está falando? — elevei a voz. — E porque ele está aqui? — me referia a Park Jinyoung.

— Eu sinto muito, Jaebum, não queria que isso tivess... — foi interrompido por Yugyeom que o olhou de forma fria.

— Cale a boca, porra! — Yugyeom disse — Você só está aqui porque não posso te deixar com o Jae enquanto ele está desse jeito. — Jinyoung respirou fundo. Yugyeom estava nervoso e não deixaria aquilo quieto, acho que ele preferiu não contrariar. — Jaebum hyung, o Youngjae está muito doente.

— Ah sim. — ri ironicamente. — Eu vi bem o quão doente ele está.

— Ele tem um problema de memória. Ele fica meio confuso as vezes e acaba fazendo essas coisas, ele está assim a algum tempo. A depressão acabou afetando a cabeça dele, depois de ter brigado com os pais. — ele respirou fundo. — Jae estava esquecendo coisas pequenas como se já havia almoçado e confundido nomes, mas nunca chegou a esquecer uma pessoa antes.

Fechei os olhos, sentindo o resto do meu coração ser pisoteado. Ele havia se esquecido de mim. Logo de mim.

— O que... — eu já chorava, sem vergonha de demonstrar fraqueza na frente de ninguém. — O que nós faremos?

— Temos que mandá-lo de volta pro hospital. — Jinyoung disse.

— De volta?

— Eu conheci ele lá. Sou filho de uma médica, um dia fui visitar ela no trabalho e ele estava lá. — Yugyeom sorriu com a lembrança. — Youngjae sempre foi um raio de sol, ele iluminava aquele hospital frio e triste. Ele não lembrava das coisas, foi por causa do trauma que sofreu pelos pais. Ele disse que fugiu de casa depois de se assumir, certo? — assenti, ainda chorando. — Ele fugiu do hospital. Youngjae ficou na casa do Jinyoung hyung escondido. Eu o escondi lá, um dia quando cheguei, ele estava grudado no hyung, ele pensava que eram namorados. Jinyoung nunca deu bola, claro. Mas ainda assim quero quebrar a cara dele por beijar Youngjae. — suspirou, contando tudo de uma vez, como se eu não estivesse morrendo por dentro.

— Eu nunca te contei porque nunca achei que chegariamos a esse ponto, a gente mal se falava na época. — ele disse e olhou para Kim Yugyeom — E eu não o beijei, ele me beijou. Você sabe que não se pode contrariá-lo, ele ficaria pior.

— Eu sei o que eu vi, cale a boca. — ele disse nervoso. — Jaebum hyung... Eu te peço que não o abandone agora, eu sei que é difícil mas ele precisa de todos nós agora.

— Yugyeom, esse homem ainda está aqui? Ele não foi convidado para a festa. — Youngjae cruzou os braços e sorriu assim que viu Jinyoung, e correu na direção dele, o abraçando de lado. Eu sentia meu corpo arder de raiva, por não poder fazer nada. Por vê-lo pensar que amava outro cara. E talvez amasse.

— Ele é o seu novo colega de quarto, lembra que eu disse que arrumaria um lugar pra você ficar? — Jinyoung falou, sorrindo, obviamente tentando disfarçar a preocupação. Yugyeom puxou Youngjae, o tirando de perto do Park.

— Ah, claro. — ele sorriu pra mim e meu coração disparou, como sempre. — Olá, hyungnim. — ele fez uma reverência e eu senti saudades dos apelidos que ele usava pra falar comigo. — Espero que a gente se dê muito bem.

Assenti, tentando segurar as lágrimas de caírem novamente.

— Hyungnim, você está chorando? — vi lágrimas se formarem em seus olhinhos. — Porque eu me sinto tão triste, hyung? — ele se aproximou e limpou uma das minhas lágrimas. — Eu acabei de te conhecer... — ele derramou uma lágrima, seu rostinho estava vermelho. — Eu me sinto tão mal em vê-lo chorar, por favor, não chore mais.

Eu não conseguia falar nada, apenas me aproximei ainda mais dele e o abracei o mais forte que podia. Como se aquela pudesse ser a última vez. Senti seu corpo ficando fraco, enquanto ele chorava.

— Eu estou tão confuso... — ele disse em meio a soluços. — Bummie... — ele suspirou e ficou quieto. Meu coração disparado. A sala toda quieta, ninguém falava nada. Segurei seu corpo e o peguei no colo, desmaiado.

Olhei para Yugyeom, suplicando por ajuda.

— Vamos levá-lo de volta para o hospital, Jaebum. — os olhos do garoto estavam vermelhos.

Assenti, seguindo Jinyoung para o carro dele, com Yugyeom vindo logo atrás segurando o moletom que eu havia trazido para meu namorado.

— Ele vai ficar bem, Jaebum. — meu amigo disse dirigindo para o hospital. — Ele não está desmaiado, ele apenas dormiu. Nós demos remédio pra ele dormir um pouco antes de você chegar, aquelas bebidas eram minhas e do Yug.

Assenti em resposta, abraçando meu Youngjae no banco de trás do carro, enquanto ouvia Yugyeom chorar no banco do passageiro.

— Ele lembrou seu nome, Jaebum. — Yugyeom disse. — Ele irá lembrar de você.

Não respondi, porque eu não sabia o que dizer. Eu estava sem palavras, mas aos poucos tudo estava começando a fazer sentido. Youngjae esquecia coisas demais e isso era muito estranho, claro. Ele havia ficado doente quando nos conhecemos e eu me lembro bem de Yugyeom ter dito "eu sei que ele está doente" no telefone. Todos sabiam, menos eu. Eu me sentia um idiota que não foi capaz de cuidar do próprio namorado, um inútil que não percebeu que o amor da minha vida tinha um problema de memória, um tipo de depressão. E ele estava tão focado em me ajudar, que preferiu não me contar sobre sua condição. Ele pensou em mim, antes de pensar nele e isso quebrou seu lindo coração.

Mas eu não o abandonaria agora, não como fizeram comigo, eu não deixaria nada acontecer com ele, não como eles deixaram acontecer comigo. Ninguém queimaria a personalidade maravilhosa que ele tinha, como fizeram com a minha. Ninguém o isolaria do mundo, como eu fiz.

Eu salvaria Choi Youngjae, assim como ele fez comigo.